Friday, August 28, 2020

Frei Luís de Sousa & canção pelo 11.º 3.ª

 

Andrea

Após certo tempo de pesquisa da canção que ia usar para comentar a obra teatral Frei Luís de Sousa, escrita por Almeida Garrett, consegui esta canção que me recordou o trágico final deste texto dramático.

“Say something, I'm giving up on you (Diz algo, que te estou abandonando) /I'm sorry that I couldn't get to you (Desculpa-me por não haver chegado a ti)/ Anywhere, I would've followed you (Eu te houvesse seguido a qualquer lado)” me lembra á decisão que Manuel tomou de o casal se fazer frei e freira: Manuel decide separar-se de Madalena para que ambos ainda mantenham certa dignidade frente a Deus depois do seu “desonroso” casamento, embora, no fundo, Manuel só se esteja a separar de Madalena para a proteger e dar-lhe a melhor vida possível  após o ocorrido com o Romeiro.

Posteriormente, a canção diz que “And I will swallow my pride (e vou tragar o meu orgulho) / You're the one that I love (és o único/a que amo) /And I'm saying goodbye (e estou a dizer adeus)”, o que me lembra a fala de Manuel entre as linhas 211 e 217 e como este se despede da sua esposa pela última vez para assim poderem viver ambos com dignidade, reservando ambos o seu orgulho, mas baixo da mordaça de separar-se e seguir uma vida religiosa como frei/freira pelo resto das suas vidas embora ainda se amem muito.

Além disso, esta parte da canção também pode remeter, mas de outra forma, para Maria e para seus pais: “Que Deus é este que quer roubar o pai e a mãe a sua filha?” (Cena XII e Ato III) é o que diz a obra, para simplificar o final, e sinto que a Maria é a quem os pais cantariam esta canção: estão-na abandonando, mas a amam com o seu coração e esse é o motivo do seu abandono, mas, igualmente, o remetente da canção (ou seja, a Maria), alucinada, não vai dizer nada porque está triste e não quer que, no final, os seus pais a deixem para manterem a sua “dignidade” e seguirem uma vida religiosa.

Também poderia corresponder a canção ao que sente o Romeiro, ou, melhor dito, o D. João de Portugal, na cena IX do ato III, mas este sentimento não é correspondido por Madalena, a qual ama muito mais ao Manuel de Sousa, embora respeite ao seu primeiro esposo, pelo que João não obtém respostas positivas por parte da Madalena.

Finalmente, o triste e saudoso da canção é que há alguém que abandona outro que ama, e este quer tentar desculpar-se com quem a pessoa acredita ser a sua “alma gémea” ou “pessoa amada”, por abandoná-la, embora, no fundo, sinta remorso pela sua decisão e nem entenda por que está deixando ao amor da sua vida, pelo que aguarda uma reação, embora negativa, da pessoa a quem deu a notícia. Na obra, acredito que, tanto o Manuel, como Madalena e o Romeiro, estão a deixar o amor importante das suas vidas, já seja fraterno ou romântico, embora isso pese e tenha consequências negativas nas pessoas que amam e estas, muitas vezes, pelo seu enfado, digam coisas tristes ou magoadas após a despedida, ou, simplesmente, não digam nada.

 

Eduardo

A música que escolhi é capaz de se relacionar com vários aspetos da obra Frei Luís de Sousa. No entanto, através da palavra “Afraid”, que, traduzida para português, significa ‘medo’, podemos concluir que a letra desta canção se enquadra mais no ponto de vista de Madalena, personagem que vivia constantemente com medo do passado.

I've spent the last two years of my life, / Trying to find a way back”[Passei os últimos dois anos da minha vida, a tentar encontrar o caminho de volta] são os dois primeiros versos da letra, falam sobre a tentativa de tentar encontrar algo perdido durante muito tempo, ponto de vista que caía bem em Madalena, pois esta procurou por D. João durante sete anos quando este desapareceu na batalha de Alcácer Quibir. Os dois últimos versos, da primeira quadra desta canção,”I've been looking in the mirror, / And tryin' to face facts”[Tenho olhado no espelho, para tentar enfrentar os factos], pretendem demonstrar que ocorreu um período de reflexão e confronto emocional com a realidade, que lembra Madalena, que, de modo a tentar resolver o seu conflito interior, lê Os Lusíadas e tenta comparar-se com Inês de Castro, dando-se conta das semelhanças deste episódio com a trágica relação amorosa de si mesma.

Alguns anos depois de ter casado com Manuel de Sousa, Madalena ainda teme o regresso de D. João pois acha que significaria a destruição da felicidade da sua família no momento ”Cause I never thought that I'd be hurting; / And I never thought that you deserved it; / It's not as if the world stopped turning; / So what am I afraid of?”[Porque eu nunca pensei que me magoaria; E nunca pensei que tu mereceste;Não é como se o mundo tivesse parado de rodar; Então, estou com medo do que?] , é uma quadra que se pode relacionar com este medo de Madalena que tanto a assombra, pois fala de um sofrimento inesperado e incerto de algo do passado que é persistente apesar de tudo. “I'm afraid of the night, afraid of it all” [Tenho medo da noite, medo de tudo] é outro verso da música que realça a intensidade do medo que se pode relacionar com aquilo que Madalena está a ultrapassar.

Com o regresso de D. João, Maria morre e Madalena separa-se de Manuel de Sousa. Com estes acontecimentos, ela procura expiar os seus pecados e consolação, ingressando num convento, tal como Manuel de Sousa, terminando assim a tragédia daquela família. Os versos “I'll spend the next two years of my life; / Tryna find the right path”[Vou passar os próximos dois anos da minha vida; A tentar encontrar o caminho certo] indicam o início de uma longa  procura de uma redenção à procura do “caminho correto”, algo facilmente relacionado com o desfecho final de D. Madalena.

 

Fabiana

Tal como na peça Frei Luís de Sousa, a canção “Someone like you”, escrita e interpretada por Adele, remete-nos para um romance que já acabou. O sujeito poético da música é como se fosse o D. João de Portugal, agora mais conhecido como Romeiro, que estaria a falar para D. Madalena.

Depois de ter supostamente morrido na batalha de Alcácer Quibir, D. João deixou sozinha D.Madalena, que, mais tarde, se casou com Manuel de Sousa Coutinho. Fruto desta relação, nasceu Maria. No início da canção podemos relacionar a letra com estes acontecimentos – “That you found a girl and you’re married now/ I heard that you your dreams came true/ Guess she gave you things I didn’t give to you” (Que tu encontraste uma rapariga e agora estás casado/ Ouvi dizer que os teus sonhos se tornaram realidade/ Acho que ela  deu-te coisas que eu não dei). Na penúltima cena do ato II, o Romeiro aparece depois de vinte e um anos de ausência e não é reconhecido por ninguém, apenas por Jorge - “Romeiro, Romeiro! Quem és tu?!”, “Ninguém! (Frei Jorge cai postrado no chão...)” – podemos comparar esta parte da peça com a canção – “I hate to turn up out of the blue univinted / But I couldn’t stay away, I couldn’t fight it/ I had hoped you’d see my face/ And that you’d be reminded that for me / It isn’t over” (Eu odeio aparecer do nada sem ser convidado / Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar/ Eu estava à espera que tu verias a minha cara / E que te lembrarias de que para mim / Não acabou). Depois do primeiro refrão na canção, podemos encontrar uma parte que se associa a esta situação – “Who would have known how bitter-sweet / This would taste?” (Quem poderia ter adivinhado o gosto amargo / que isto teria?) – o “Ninguém” dito por D. João de Portugal transmite uma sensação de tristeza e vazio: julgaram que estava morto – “Parentes!... Os mais chegados , os que eu me importava achar... contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela; hão de jurar que não me conhecem.”; a sua mulher e Manuel de Sousa tinham-se mudado para o seu palácio e esta mistura de acontecimentos fez com que sentisse que teria perdido a sua própria identidade. Esta parte da canção remete-nos também para quando, no ato III, Madalena reconhece D. João. Isso fez com que Manuel de Sousa quisesse “vestir o hábito” pois percebeu que o seu casamento com D. Madalena era ilícito e que a filha Maria era ilegítima.

 

Filipa

A canção “Recomeçar” de Fernando Daniel, podia ser também um desabafo de D. João de Portugal, na altura em que este regressou ao seu país, como romeiro, e se deparou com uma realidade distinta daquela a que estava habituado antes de partir para fora durante alguns anos.

Muitas mudanças aconteceram neste tempo. Uma delas foi que a sua mulher, Madalena, já não contava com o seu regresso e, passados alguns anos, casara com Manuel de Sousa Coutinho, homem que ela amava verdadeiramente. Vivia com receio de que D. João regressasse, fazendo com que o seu casamento com Manuel se tornasse um pecado, pois o seu primeiro casamento ainda era válido perante a igreja e Manuel já o tinha  aceitado (“Crê-me, que to juro na presença de Deus: a nossa união, o nosso amor é impossível”).

O desabafo de D. João podia ser também “Nem sempre o que fizeste foi o melhor / Dei-te tudo o que querias e tive o teu pior / Agora não tens ninguém dás por ti a pensar / Naquilo que eu pedia e que nunca soubeste dar”. É possível relacionar isto com toda a situação vivida por D. João, uma vez que ele amava a sua esposa, que tinha ficado em Portugal, quando ele saiu em defesa da pátria. Contudo, o seu amor por ela não era de todo correspondido, pois Madalena apenas o respeitava. Ele deu-lhe o seu melhor, porque a amava e queria que ela fosse feliz, mas ela não, pois, ao casar-se novamente, não retribuiu o amor que recebia dele.

A sua expectativa era que, ao regressar, Madalena o iria receber de braços abertos, voltando tudo a ser como antes, e poderiam recomeçar: “Quero começar outra vez / ... / Recomeçar”. Mas isto não aconteceu entre eles. Ela negou voltar para ele e dar-lhe todo o seu amor, pois o seu coração estava entregue a outro homem, apesar de não poder continuar com Manuel, uma vez que a sua relação com ele era pecaminosa.

“E será que algum dia / Eu vou ser capaz / De me esquecer de tudo / De me esquecer de nós” podia ser também o sentimento de D. João que, apesar de tudo, ainda amava Madalena (“sua mulher que ele já não pode amar sem desonra nem vergonha”), mas não iria poder voltar a viver com ela aquilo que vivera antes de partir para a batalha. Apesar de pensar que poderia voltar a ser feliz ao lado dela quando regressou, começou a duvidar de que isso acontecesse, não esquecendo o que com ela passara.

 

Gabriel

Nesta canção de Pink, intitulada de “What about us” (Então e nós), consigo relacionar algumas partes da letra, com os acontecimentos e sentimentos das personagens de Frei Luís de Sousa, sendo que a canção fala de sentimentos semelhantes, mas que podem ser aplicados de forma diferente na peça que li.

“What about us / What about all the broken happy ever after’s”(Então e nós / Então e aqueles finais de felizes para sempre arruinados) descreve um ambiente que encaixaria bem numa parte de  Frei Luís de Sousa, quando D. João vê que Madalena já não o ama, como agora ama Manuel de Sousa, e que já tinha seguido a sua vida, esquecendo-o (um final de felizes para sempre arruinado). D. João ainda se interroga sobre para onde foi o amor e a confiança (“What about love / What about trust” [Então e o amor / Então e a confiança]) pois pensa que Madalena ainda chama por ele (“É ela que me chama, Santo Deus! Madalena chama por mim…”) quando, no entanto, era por Manuel de Sousa que chamava.

“We are problems that want to be solved” (Somos problemas que querem ser resolvidos) encara duas faces distintas do ponto de vista Madalena e de D. João. Enquanto D. João quer resolver o problema de maneira a que tudo seja como era antes de ter desaparecido, Madalena prefere que tudo continue tal e qual como está, sem D. João, e que a memória deste desapareça para sempre, pois, quando sabe que este ainda vive, fica aterrorizada (“Meu Deus, Meu Deus! Que se não abre a terra debaixo dos meus pés?...”)

Não esqueço também que no meio desta confusão ”a filha do pecado”, “… criada ao colo de tantas meiguices, de tanta ternura,…”, Maria, sente que deve resolver estes problemas familiares , para poder voltar a ser o centro das atenções da ternura e do amor: ”We are children that need to be loved” (Somos crianças que precisam de ser amadas).

Mas a frase da canção que, para mim, melhor se adequa ao contexto da peça é “But man, you fooled us, enough is enough” (Mas homem, tu enganaste-nos, demais é demais), pois, na verdade, tudo começa porque D. João engana todos involuntariamente, dando a acreditar que morreu em batalha. Todos ficaram devastados , procuraram por ele e resistiram à tentação de acreditar na sua morte durante anos “enough is enough” (demais é demais), mas a ausência de D. João levou a melhor de todos, exceto de Telmo, que nunca deixou de acreditar que seu amo estava entre os vivos (“Tu, bem sei que duvidaste sempre da minha morte, que não quiseste ceder a nenhuma evidencia:…” disse D. João para Telmo).

Após já todos terem percebido que D. João de Portugal não tinha morrido, a pobre família que se formou baseada no desaparecimento do mesmo, entra em pânico, pensando o que vai ser deles:” What about us”.

 

Henrique

A canção divulgada em 2019 tem como título “Anjos”, obrigando-me a fazer uma analogia direta com o primeiro marido de Madalena, D. João, que há vinte e um anos tinha sido dado como morto, e que, com o carinho, mas com inexistência de amor, era com certeza considerado um anjo no céu para Madalena. A primeira frase da canção — “Afinal anjos não voam” — mostra que o anjo de Madalena estaria presente na sua vida e, por incrível que pareça, estava lá e de certeza que não chegou a voar. 

O acontecimento que se deu ainda na casa de Manuel de Sousa Coutinho e de Madalena, apesar de planeado por Manuel, causou um enorme desgosto à sua mulher, que perdera o retrato dele “Ai, é o retrato do meu marido!”. Apesar de ser apenas um bem material, Madalena perde mais que um objeto, sente que parte de si ter-se-ia ido embora (“No final sou eu quem voa”, como diz Diogo Piçarra na canção).

Outro momento que sucedeu já na nova casa foi o diálogo entre Maria e Telmo, que, mais tarde, integra também Manuel, em que discutem quem era D. João. Ao receber a confirmação de Telmo, Maria mostra que adivinha quem seja D. João de Portugal e é aí que intervém o seu pai “Que te dizia o coração, minha filha? / (Reconhecendo-o.) / Oh meu pai, meu querido pai!”. Após esta frase, Maria reconhece o pai, mostrando assim que há uma convivência entre os dois e que ela o consegue reconhecer, afinal sendo pai dela não se esperava outra coisa. Na canção, um excerto que se encaixaria aqui seria a frase: “Nem foi preciso olhar para o céu para te encontrar”; mas, neste caso, não necessitaria de olhar para o céu nem para qualquer lugar. 

“No final sou eu quem voa” poderia ser a última deixa de Maria antes de falecer mas, na verdade, é uma intervenção do eu da canção de Carolina Deslandes. Maria faleceu, mas, antes, aponta para Romeiro, que era D. João, e este que no início foi considerado um “Anjo” por mim, teria sido quem veio buscar o verdadeiro anjo, Maria, que tão delicada e pura faleceu ainda jovem. No final, o “Anjo” voou para o céu, levando consigo a felicidade daquela família que gostava tanto de Maria.

 

Inês S.

O sentimento de saudade e angústia são emoções importantes abordados no drama Frei Luís de Sousa. Estes temas são também frequentemente aproveitados em composições musicais. Apesar das diversas opções, escolhi “Voltas”, composta por Fernando Daniel, que, mesmo com diferenças, me lembra a história de Madalena e Manuel de Sousa. 

 No início da canção a melodia é calma, enternecedora e a letra emocionante, descrevendo um contexto angustiante e de saudade. Ligo este começo aos sentimentos de D. Madalena no princípio da peça, à espera do seu marido amado, D. Manuel. O sentimento de angústia por parte dos personagens não se encontra apenas no início mas também em toda a peça. «E se tu voltas eu não prometo esperar / Já não penso onde podíamos estar»: estes versos poderiam ser dirigidos por parte de D. Madalena a D.João de Portugal, o seu primeiro marido, desaparecido havia muitos anos desde a batalha de Alcácer Quibir. Não tendo regressado, D. Madalena casou com D. Manuel com quem partilhava uma verdadeira paixão, ao contrário do que sucedera com D. João. Porém, Madalena ainda é atormentada pelo regresso do primeiro marido, que lhe causaria uma vida infeliz pela separação da família, como fica claro no ato I durante a cena II: “És tu que andas (...) a levantar esse fantasma, cuja sombra, a mais remota, bastaria para (...) condenar a eterna desonra a mãe e filha”.  

“Ninguém” é a resposta que Romeiro dá durante a sua revelação como D.João, acreditando que já não fazia parte da vida de Madalena. Os versos «Já não sou teu / Hoje o teu mundo já não é o meu» demonstram a tristeza que sente por ter sido esquecido e, mais tarde, traído ao saber do casamento entre D. Madalena e D. Manuel, além de, Maria, que se tornava ilegítima com a sua aparição. «Será que foi, que foi alguém? Será que eu dei, eu dei demais? / Será que errei?» também se ajustam aos seus sentimentos perante a paixão por Madalena, que tenta recuperar, mas acaba com insucesso. 

Para além do lado trágico e triste, a canção também nos remete para o amor e para o impacto que causa. Com todo o sofrimento em que Madalena vive, D. Manuel pretende dar um final a essa sua dor para que Madalena pare de estar nesse ciclo de tormenta («Andas às voltas nas voltas que a vida dá», como é indicado no refrão da canção). Ao chegar a parte do refrão, é notável que a música fica aos poucos mais agitada e emotiva, o que remete para o momento de revelação do romeiro como D. João. 

O final da canção é novamente triste e enternecedor. «Onde podíamos estar» é a questão que deixo em aberto relativamente à peça: onde poderiam estar Madalena e D. João consoante o seu amor incorrespondido, caso Madalena nunca se apaixonasse por D. Manuel? Na peça, o desfecho é trágico, com as palavras de Maria: “Já não é tempo (...) Morro, morro...de vergonha”. 

 

Inês G.

A canção “Duas Lágrimas de Orvalho” de Carlos do Carmo, lançada no álbum Dez Fados Vividos, em 1978, tem grandes semelhanças com a peça Frei Luís de Sousa e poderia representar os pensamentos de Manuel de Sousa Coutinho após a revelação de D. João, ou algumas intervenções e acontecimentos de outras personagens.

Ao saber da notícia, Madalena ficou em choque e chorou muito, expressando assim a sua enorme tristeza, a que “Duas lágrimas de orvalho” se pode aplicar. Podemos também referir que as gotas de orvalho são algo muito delicado e bonito, o que nos pode remeter para o amor e delicadeza que Manuel sente por Madalena.

Madalena é uma personagem que demonstra a sua tristeza ao longo de toda a peça. A desgraça do incêndio do palácio e o desgosto que teve quando descobriu que D. João de Portugal estava vivo foram os dois acontecimentos mais marcantes na intervenção desta personagem. Logo, os versos “Para te acudir na desgraça / Para te acudir no desgosto” podem aplicar-se a Manuel e ao amor que sente por Madalena de Vilhena e à tristeza que a sua mulher sentia. “Porque choras não me dizes / Não é preciso dizê-lo / Não dizes eu adivinho” revelam a situação em que se encontravam após a decisão de Manuel de Sousa de cortar relações de afeto com Madalena, podendo nós pensar que este terá dito para si “Mata o passado e sorri”.

“Os amantes infelizes / Deveriam ter coragem / Para mudar de caminho”, já que o seu casamento seria considerado um crime e a decisão que Manuel acabara por tomar fora a melhor. Manuel iria entregar-se a Deus pelo amor que sentia por Madalena e também por Maria, sua filha, pois “Por amor damos a alma / Damos corpo damos tudo”.

Após a entrada de Manuel na vida religiosa, “O que era amor é saudade”, pois já não estariam juntos “E a vida já não é nada” devido à separação e à falta que irão sentir um do outro.

O conselho dado na última estrofe (“Se estás a tempo recua / Amordaça o coração / Mata o passado e sorri”) pode assemelhar-se à conversa de Telmo e de D. João, a quem este era leal. D. João nunca esquecera Madalena e sempre tivera esperança de que o sentimento fosse mútuo. Quando Madalena vai em busca do marido (“Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois!”), D. João pensa que Madalena o chama e Telmo dirige a atenção deste para a desgraça que está a causar na família. Pode até ser um conselho de D. João para si mesmo, pois, quando se apercebe de que Madalena não o reconhece, arrepende-se de ter entrado novamente na sua vida.

 

Joana M.

A canção “O erro mais bonito” de Ana Bacalhau, interpretada pela própria e por Diogo Piçarra, transmite-nos uma melodia e um sentimento que imediatamente associei à história de amor entre Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, no Frei Luís de Sousa.

A letra relata-nos o sofrimento do sujeito poético, por ter perdido alguém de quem gostava muito e com quem vivera um amor intenso. Um amor que não passara de um erro, ainda que um bonito erro. Igualmente, no final da obra de Almeida Garrett, Manuel e Madalena, partilham um sentimento muito semelhante.

«E deixasse um vazio no teu lugar / Eu talvez vivesse sem esta saudade» seria dirigido aos dois, pois para ambos a vida teria sido mais fácil, com menos sofrimento, culpa e, no fim, saudade. Se nunca tivessem chegado a admitir o amor que sentiam um pelo outro.

«Nem me perdesse dentro dos teus braços / Talvez vivesse sem este castigo» parece escrita para Madalena que já o tinha afirmado também («Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a minha!»).

Com o reaparecimento de D. João de Portugal, a união de Madalena e do seu atual marido desfaz-se, restando apenas a sua separação, que é forçada e sem nenhuma perspetiva de ser reatada. Com tudo isto, o estado de espírito de Madalena assemelha-se ao do sujeito poético («Lenta, é esta lágrima que cai no chão / E ainda me lembro do calor das tuas mãos / Que já não me apertam contra o teu corpo»), embora, para ela, ainda fosse uma incerteza, pois apenas ouvira as afirmações do romeiro sem descobrir a sua identidade. Contudo, acaba por se conformar, porque para Manuel já não havia mais hipóteses de este amor ser permitido.

O refrão vai diretamente ao encontro daquilo que Madalena poderá ter sentido quando na última cena se encontravam todos na igreja: «Choro / Mas é melhor chorar o que foi feito / Se não era por ai o meu caminho / Tu foste o meu erro mais bonito».

«O erro mais bonito» (que é também o título da canção) pode ser aqui associado à sua união com Manuel «Marido da minha alma», com que sempre teve uma bonita relação («pelo nosso amor te peço, pelos doces nomes que me deste» e «pelas saudades de tanto amor e tanta ventura»). Esse amor era considerado «um crime, porque eu amei-o assim que o vi» e «D. João de Portugal ainda era vivo». Esse erro pode ser também associado a Maria, que era «filha do meu amor», e que, agora, era vista como «a filha do meu pecado», por ser fruto de um casamento considerado ilegítimo.

 

João P.

A canção, “Give you the moon”, escrita e cantada pelo rapper Americano Lil Peep, foi a música que escolhi para este trabalho, relacionando-a a não só um momento, mas, sim com, toda a intriga desde que se desvenda que Romeiro é D. João até ao fim da história.

Um dos primeiros versos desta música é “Baby I could give you the moon, you know he can't do what i do”. Pode referir-se à parte do texto em que Madalena chama desesperadamente pelo marido, e D. João chega a pensar que é a ele que ela se está a dirigir, mas, depois, acaba por se aclarar que chamara por Manuel. Estes dois versos poderiam querer refletir o que se passaria dentro da cabeça dele, por desejar Madalena de novo, tal como diz no verso “we could die in my room, me and you”, no sentido de a desejar até que morram lado a lado.

Outro verso que penso que se encaixa bem, mas, neste caso, ainda quando D. João ainda não se tinha apresentado como Romeiro, nem na história, seria “Ima keep you in mind when i drive right by”, como se fosse uma promessa que tinha feito consigo mesmo de passar pela sua antiga casa para ir buscá-la.

Este outro verso pode refletir a altura em que D. João se apercebeu de que estava a mais e resolveu abandonar, e seria, “Say goodby to the nice guy, i'm wasting my time”, principalmente, por ter mostrado uma espécie de impaciência. O verso anterior relaciona-se muito bem com este, porque ambos se enquadram na mesma situação, que seria, “giving you rhymes, you gotta give me your dime”, no sentido de, depois de tudo o que fiz por ti, desde que saí de África, da batalha até aqui, como és capaz de me negar o que quer que seja?

O verso que relação em seguida diz “I don't got no friends”. O sentido seria de todos os seus amigos terem morrido em África, na batalha de Alcácer Quibir, tal como o rei D. Sebastião, dando a entender que a única coisa que lhe restaria seria Madalena.

Por fim, decido focar-me nos versos “Im equipped for the fall, and the winter and all. When the summer comes Ima have enough to get the fu** out”. Decidi sublinhar este verso, para lhe dar o sentido em D. João pensou, quando percebeu que Madalena estava a chamar por Manuel e não a ele, no sentido de “Im equipped for the fall, and the winter and all” ser o aceitamento de ela querer continuar com Manuel ou reclamar D. João de volta.

No geral, esta canção, na minha opinião, pode traduzir bastante bem a dor de D. João, que se mostra perfeitamente disposto a tudo por Madalena.

 

Neves

Esta canção, “Glorious”, foi escrita por Macklemore, um cantor americano bastante conhecido.

Nesta composição específica, algumas das frases que ele canta lembram-me de certos momentos/cenas da peça estivemos a estudar durante as últimas aulas de Português. Logo quando a música começa, o sujeito lírico diz “Eu tenho uma nova atitude, sentido de vida e paz de espírito". Esta frase pode aplicar-se ao Romeiro, quando volta ao palácio para tentar revelar à sua família que estava vivo, o que fez sem desvendar a própria identidade. O peregrino socorre-se deste processo de modo a tentar ter alguma paz de espírito, livrar-se de um fardo que o atrapalhava, portanto. 

Mais à frente, no segundo 34, ouve-se a seguinte frase: ”Eu ouvi dizer que se morre duas vezes, primeiro quando te enterram no túmulo e a segunda vez é a última vez que alguém menciona o teu nome”. De novo, com a frase recorda-se-nos de quando todos pensavam que D. João estava morto, a primeira vez que “morrera”(a segunda vez que “morre” é quando se cognomina "ninguém'').

No minuto 2:06 o eu da letra canta o seguinte: “Eu estou vivo, tenho a minha fé e lembro-me porque vim”. Mais uma vez, o peregrino (D. João) era obviamente religioso e tinha feito a sua viagem ao palácio com o propósito de dizer que D. João não estava morto. No refrão da música também há uma frase que é aplicável à situação do Romeiro: ” Eu passei pela parte mais escura da noite, mas agora vejo o nascer do sol”. Aqui o sujeito lírico diz que consegue recuperar e sentir-se feliz, mesmo depois de ter estado tão em baixo, e triste. Tal como D.João se sentira feliz depois de tirar aquele tão grande fardo de cima dele, o de saber que a sua família o achava morto, assim que o fizera, sentia-se como se pudesse recomeçar uma nova etapa da sua vida sem se sentir culpado. No entanto, a situação no caso de D. João não é tão igual à do eu da canção, quando D. João acha que finalmente pode ser feliz. Na verdade, acaba por fazer as coisas ficarem ainda piores. Com a notícia chegada , a vida de Manuel de Sousa e Madalena tornou-se o inferno na Terra, e estes decidem seguir um rumo religioso, esperando que Deus os perdoe dos seus pecados.

 

Madalena C.

A letra da canção «Porquê», de Murta,  serviria perfeitamente como um desabafo de Madalena a Manuel de Sousa Coutinho, que, como o próprio nome da música diz, perguntaria retoricamente o porquê de tudo aquilo estar a acontecer. 

Na verdade, todas estas perguntas repetitivas e a inquietação de Madalena são constantes e podem ser reproduzidas ao longo de toda a peça. No princípio do ato I, cena II, durante o diálogo com Telmo, a ansiedade de D. Madalena fala mais alto e revela preocupação pelo marido que havia ido a Lisboa («que me está dando cuidado a demora do meu marido em Lisboa»), tal como na canção: «O profundo sentimento de não saber para onde vais / É sentir um novo mundo enquanto o outro mundo cai».

Já mais à frente, na cena XI e XII, quando Manuel acende as tochas e deita fogo ao palácio em Almada, Madalena sem saber a razão de o marido estar a destruir a própria casa, pergunta desesperada: «Que fazes?... que fizeste? Que é isto, oh! meu Deus!».

Quando a peça atinge o clímax, com o aparecimento de D. João de Portugal, fica bem claro que, apesar do respeito e admiração que sentia pelo ex-marido, Madalena, desde que conheceu e casou com o atual parceiro, deseja que o cavaleiro, que aparentemente morreu na batalha de Alcácer Quibir, não esteja vivo, por medo de perder a filha e a estabilidade da sua família («Minha filha, minha filha! Estou… estás...perdidas, desonradas...infames!») tal como na canção de Murta: «Éramos só nós dois e eu queria saber / Porquê? Porquê?».

Mas, antes disto, Madalena não sabia que o Romeiro que aparecera em sua casa era D. João. Porém, Manuel já tinha conhecimento do seu regresso, mas não pretendia contar-lho para que ela ainda tivesse esperança de que as afirmações do Romeiro fossem falsas («talvez possa duvidar, consolar-se com alguma esperança de incerteza»). Manuel deixou de tratar Madalena pelo próprio nome, mas sim por «outra desgraçada»; porém, esta não se contenta com o sucedido e questiona-o «Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais:abri». «Mas tu não queres dizer, / Quem cala consente, é porque estás a esconder» é uma parte da letra da música escolhida que se assemelha ao discurso, quase desesperado, de Madalena. 

No final, na cena XI e XII, Maria encerra a peça dramática quando cai morta no chão e a mãe apela «Misericórdia, meu Deus!». Ficamos sem saber o que se segue mas podemos concluir que esta dor e perda que Madalena está a sentir vai ser incurável, como se sugere neste verso da composição, «E esta batida abraça a vida como se a ferida não fosse sarar».

 

Madá

A letra da canção “O que será de ti?”, escrita e interpretada por Maro, que num primeiro relance não nos parece ter algo a ver com Frei Luís de Sousa, se escutada com atenção, poderia perfeitamente ser entoada pelas personagens, embora o fizessem de forma mais dramática e melancólica que a cantora.

“Sempre soube”, começa a canção. Telmo poderia ter dito isto. É possível estabelecer uma analogia com o que sente Telmo após a chegada de D. João de Portugal, o seu adorado amo. Quando todos achavam que ele tinha morrido, na Batalha de Alcácer Quibir, há vinte e um anos, as profecias de Telmo, os seus agoiros e as suas certezas quanto a esta tragédia tinham sido agora confirmadas com a chegada do Romeiro. “Tinha um pressentimento do que ia acontece” disse Telmo. D. João nunca duvidou do seu fiel escudeiro, mas Telmo acabou por confessar que o seu regresso não é tão alegre como esperava. Telmo tinha agora uma grande estima por Maria. “Eu agora temo… É que o amor desta outra filha, desta última filha, é maior, e venceu…venceu… apagou o outro”.

Quando, não só Telmo e Manuel, mas também Madalena se apercebem de que o “Ninguém” era D. João, estoirou a tragédia. Madalena é forçada a separar-se de Manuel de Sousa; mas, acima de tudo, a desonra da sua filha deixa-a ainda mais angustiada e em sofrimento “e já não posso com as minhas desgraças […] A minha filha também? Oh! a minha filha…”. Madalena ficou sem chão, sem marido e sem filha. O refrão do poema (“O que será de ti?”) transmite incerteza e expectativa, e, neste drama romântico, revela, ainda, o desespero de Madalena com o que poderia acontecer à filha. O mesmo verso se ajustaria aos sentimentos de Manuel, de Telmo e, ainda, do Romeiro, o qual se apercebe de que a sua presença irá destruir aquela família.

Madalena ainda tem esperança de que o Romeiro não seja o antigo marido, não querendo aceitar a realidade. Tal como na canção, existe a expectativa de que a realidade seja moldada pela sua vontade (“E hoje sonho num futuro / Onde eu e tu somos um”) – “…mas não daríamos nós, com demasiada precipitação, uma fé tão cega, uma crença tão implícita a essas misteriosas palavras de um romeiro…”.

“E agora penso que contigo / Seria mais feliz” transmite um sentimento que terá contribuído para que o casal tivesse acabado por ingressar na vida religiosa. A filha, Maria, chega mesmo a morrer “de vergonha” quando ouve o Romeiro. Tudo seria diferente sem a presença do Romeiro, ou, pelo menos, evitável. A interrogação da música podia ressoar nos pensamentos de Madalena: “Podia ser tão diferente / mas não / Como tudo seria?”

D. João amava a sua esposa, embora não fosse correspondido. Madalena sempre lhe foi fiel e respeitadora (“Não sentia que eras parte de mim”), mas amava, realmente, Manuel, o que deixou D. João um tanto irritado: “…e eu tão cego que já a tomava para mim!...”

 

Maria

A canção escolhida — “Dancing on my own”, na versão de Callum Scott — transmite a perspetiva da personagem D. João, primeiro marido de D. Madalena, que desaparecera e foi dado como morto, há mais de vinte anos. Para além da letra que nos transporta para os sentimentos de D. João (o marido regressado, mas não esperado), a própria melodia nos transporta para um sentimento melancólico, resignado e desesperado perante a realidade cruel de um amor que já não existe (nem nunca existiu), igualmente concordante com todo o ambiente da peça. 

Após uma longa ausência, o fidalgo regressa para constatar que a sua amada mulher tem um novo e feliz casamento — “Alguém me disse que tens um novo amigo” (“Somebody said you got a new friend.”).

Durante os anos de exílio, D. João manteve no seu pensamento a vida que deixara — “Tão longe, mas tão perto” (“So far away, but still so near”) —, sentindo que poderia regressar a uma vida a dois com a sua esposa, D. Madalena.  Acalentou a expectativa de uma aproximação e de um regresso à vida em comum, o que foi destruído na sua chegada à terra natal com a constatação da realidade — “as luzes ligaram-se, a música morreu” (“The lights come on, the music dies”).

Nesta canção, tal como na história, a personagem em causa esconde-se da sua amada ao vê-la com um novo amor (“Estou num canto, a vê-lo beijar-te" — ”I'm in the corner, watching you kiss her”).

Mantendo a sua identidade escondida e disfarçado de romeiro, D. João apercebe-se do que ocorreu na sua ausência e sabe que “não é a pessoa que a sua mulher trará para casa” (“I'm not the guy you're takin' home”).

Resignado com a situação encontrada, ele toma consciência de que “continuará a dançar sozinho” (“I keep dancin' on my own, oh”) e que, para bem da sua amada, o melhor é que ela “não o veja aqui. Só vim para dizer adeus” (“But you don't see me standing here. I just came to say goodbye”).

Esta música é uma ode à constatação de um amor que não só não foi correspondido no passado como não é correspondido no presente e que foi substituído. Transpira sentimento de impotência e de renúncia. 

“Dancing on my own”, muito embora nesta versão se refira a uma relação homossexual, transmite o mesmo tipo de sentimento que D. João terá vivido no seu regresso. O distanciamento físico que manteve, até ser descoberto por D. Jorge, a vigilância distante à sua família, e, por fim, a decisão dolorosa de pôr o passado para trás e permitir que D. Madalena vivesse a sua nova vida, com honra e com o seu novo marido e filha, estão, de certo modo, presentes também nesta letra.

Contudo, esta pesada decisão não obteve o efeito desejado por D. João, pois acabou por desfazer o casamento de Madalena e Manuel, tornando este último no que agora conhecemos como Frei Luís de Sousa.

 

Joana N.

A obra garrettiana reflete uma infinidade de sentimentos e optei por confrontar os de Dom João de Portugal com o fado «O tempo não para» (2014), composto por Miguel Gameiro e cantado pela tão conhecida fadista Mariza.

A canção da fadista portuguesa destaca o passar do tempo, retratando, de certa forma, o balanço entre o que foi perdido, o tempo que passou e o tempo que ainda há pela frente, as novas oportunidades que nunca irão conseguir recuperar o que já foi vivido, conseguimos relacioná-la com o regresso de Dom João de Portugal em Frei Luís de Sousa.

«De agora em diante, não serei distante»; «Andei pelo mundo fora/ E não via a hora/ De voltar para ti» adequa-se a João, «um honrado fidalgo e um valente cavaleiro», pois esteve ausente vinte e um anos após a batalha de Alcácer-Quibir. Retornou ao seu palácio como romeiro, na esperança de que Madalena reconhecesse a sua verdadeira identidade e recomeçasse a sua vida com ele, mas, na verdade, o seu regresso foi visto como a chegada de um fantasma que pairou sobre a felicidade da família Vilhena-Coutinho como uma ameaça trágica.

«Eu sei que o tempo não para / O tempo é coisa rara» / (…) / «Mas sei, que algum sorriso eu perdi» transparecem a ideia de que algo se perdeu e que não poderá voltar a ser vivido, tal como é evidenciado na sexta cena do terceiro ato. Nesta cena, João julga que Madalena chamava por ele, provocando-lhe, assim, uma felicidade instantânea− «Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais: abri» / «É ela que me chama, Santo Deus! Madalena que chama por mim…» − até que as palavras posteriores da sua amada («Meu marido, meu amor, meu Manuel!») desfazem a sua ilusão, mergulhando-lho na mais profunda dor.

«E a gente só repara quando ela já passou»: só damos conta daquilo que passou quando já não existe maneira de retroceder.  Na obra, João percebe que esteve demasiado tempo fora e vê que o amor da sua vida escapou para outra família.

João ficou magoado não só por Madalena ter recomeçado a sua vida, mas também pelo facto de ninguém o ter reconhecido. Na cena final do segundo ato, Jorge remata com a pergunta: «Romeiro, romeiro! quem és tu?!» e ele revela-se como: «Ninguém!» (apontando com o bordão para o seu retrato) e esta identidade é retomada na quinta cena do terceiro ato quando o seu antigo confidente, Telmo, hesita no seu reconhecimento: «Esta voz… esta voz! Romeiro, quem és tu?»; «- Ninguém, Telmo, ninguém: se nem já tu me conheces».

Dom João de Portugal percebeu que o tempo que passara jamais poderia ser vivido e que já não era desejado naquela família.

 

Mati

Quando os governadores espanhóis decidiram ocupar o palácio de Manuel de Sousa Coutinho, Manuel resolve incendiá-lo e mudar a família para o palácio de D. João de Portugal.

Quando Manuel de Sousa Coutinho quis apressar a mudança, Madalena não tinha a mesma vontade para o mesmo pois a casa onde vivera com D. João acentuava a angústia em que se encontrava.

A música que usei para relatar este momento foi "Story of my life", dos One Direction, pois muitas partes da letra assemelham-se à situação de Madalena.

Logo no início da música, a banda diz "Written in these walls are the stories that l can't explain, l leave my heart open but it stays right here empty for days", que, traduzido para português, fica "Escritas nestas paredes estão histórias que não consigo explicar, deixo o meu coração aberto, mas ele fica vazio por dias".

D. João partiu para a batalha de Alcácer Quibir, desaparecendo sem deixar rasto. Madalena sentia falta da sua presença mas nunca realmente o amara. Quem Madalena realmente amava era Manuel de Sousa. Maria foi fruto do casamento de Madalena e Manuel.

Madalena, lá no fundo, receava que D. João não estivesse morto e temia o seu regresso. A parte da música que melhor o relata é “The fire beneath me is burning bright, the way that I’ve been holding on so tight” (“O fogo sob os meus pés está a queimar forte da maneira como me tenho agarrado com tanta força”), pois Madalena agarra-se à esperança de que D. João esteja morto e não volte, mesmo sabendo que pode não ser inteiramente verdade. Telmo, que também tem esperança de que D. João volte com vida, continua a provocar o desespero em Madalena, citando uma frase da última carta enviada por D. João de Portugal: “Vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo.”

Madalena encontra-se com Frei Jorge, quando chega o Romeiro com uma mensagem para ela. Apercebem-se de que o Romeiro é D. João de Portugal.

Mudando para o ponto de vista de D. João, com o seu regresso, ele apercebe-se de que a mulher, que ainda ama após vinte e um anos, ama outro.

Madalena tenta, em vão, convencer Manuel de Sousa a evitar a separação.

D. João sente-se destroçado, pois vê a mulher que ama em sofrimento. Ao assistir à destruição da família de Madalena, sem sucesso tenta evitá-lo e, como se diz na música, “She told me in ther morning she don’t feel the same about us in her bones, it seems to me that when I die these words will be written on my stone” (“Ela disse-me de manhã que não sente o mesmo por mim nos seus ossos, parece-me que quando eu morrer estas palavras serão escritas no meu túmulo”).

 

Matilde V.

A personagem que escolhi para fazer a relação de comparação com uma canção foi D. Madalena, e a música “Already Gone”, dos Kelly Clarkson. Escolhi uma música de língua inglesa, mas mesmo assim, pode-se associar vários versos à relação de D. Madalena e D. João. O significado da canção está relacionado com o dizer adeus mesmo que seja difícil, e comparando com a peça, é algo semelhante ao que acontece com D. Madalena.

Na peça Frei Luís de Sousa, D. Madalena vive no medo que seu ex-marido volte depois de tantos anos ausente. Mesmo tendo passado muito tempo, D. João tinha sido o primeiro marido de D. Madalena, e, apesar de o ter amado, D. Madalena acaba por se apaixonar por outro homem. Um dos versos da música diz “Now all the memories they're haunted” (Agora, todas as lembranças estão assombradas): podemos associá-lo ao medo que D. Madalena tinha ao pensar na possibilidade do regresso do seu ex-marido. Seriam apenas memórias passadas mas que poderiam causar muitos problemas na sua vida. Ela não tinha a certeza de que ele estivesse morto, porque nunca se tinha encontrado o seu corpo.

Sete anos passados, D. Madalena casou-se com D. Manuel, o que fez com que a possibilidade de regresso do seu ex-marido ainda lhe provocasse medo, não sabendo como reagir. “Didn't come here to hurt you, now I can't stop” (Eu não vim aqui para te magoar, agora eu não consigo parar) é uma das frases da música que podemos comparar com o pensamento que D. Madalena sentia por estar a trair D. João, pois, mesmo tendo amado D. João, tinha um sentimento mais forte por D. Manuel, o qual não conseguia esconder nem alterar caso D. João regressasse.

“Looking at you makes it harder” (Olhando para ti torna tudo mais difícil) é um dos versos que podemos relacionar com o sentimento que D. Madalena pudesse vir a ter caso se encontrasse com D. João depois de tanto tempo sem o ver. Ser-lhe-ia difícil encará-lo e explicar-lhe que se tinha apaixonado por outra pessoa.

“We were always meant to say goodbye” (Nós fomos feitos para dizer adeus) é o último verso da canção e podemos relacioná-lo com a relação entre D. Madalena e D. Manuel, pois, apesar da suposta morte de D. João ter sido um desgosto para D. Madalena, só assim é que ela pode ficar com D. Manuel. E sabia que, mesmo que um dia ele voltasse, nunca o poderia aceitar de volta. Podemos então dizer que D. Madalena e D. João não foram feitos para ficarem juntos, e por isso o “adeus”.

O título desta música, “Already Gone” (Já fui), identifica-se bastante com a personagem D. Madalena, pois diz-nos que nunca mais estará na vida de D. João, e que mesmo que o medo do seu regresso impere, sabe que terá de confrontá-lo e dizer-lhe que nunca poderá ficar com ele.

 

Raams

A música “Vejam Bem”, de Zeca Afonso, o famoso cantautor português mais conhecido por “Grândola Vila Morena”, penso que descreve, em parte, a personagem de Manuel de Sousa Coutinho, fidalgo que incendiou a própria casa para impedir que nela se instalassem os governadores que querem fugir à peste que se tinha agravado em Lisboa.

Primeiramente, “Vejam bem, Daquele homem a fraca figura, Desbravando os caminhos do pão”, consegue associar-se a D. Manuel dominado pelos sentimentos quando se preocupa com a doença da filha.

Por outro lado, a música consegue pertencer mais ao Romeiro que, na verdade, é D. João de Portugal, pelo simples facto de que os vinte anos do seu cativeiro o transformaram num homem velho que ninguém reconhece nem mesmo Telmo, que era um velho criado que se caracterizava pela sua lealdade, fidelidade e pelo grande amor que tem por Maria, que nunca acreditou na morte de D. João e que também era o seu antigo escudeiro tal como está explícito na sexta estrofe da música — “E, se houver / Uma praça de gente madura, / Ninguém vem levantá-lo do chão, / Ninguém vem levantá-lo do chão” — em que a “praça de gente madura“ pode representar o abrigo da família real e a mesma, e o segmento “ninguém vem levantá-lo do chão“ pode significar o facto de que ninguém o reconheceu ou que acolheu. D. João identifica-se como ninguém ao defrontar-se com a impossibilidade de um lugar na vida de Madalena e, assim, na sociedade, pelo que se pode concluir que está só, solitário ou afastado de tudo e todos, cenário que se pode associar aos seguintes versos da música de Zeca Afonso — "Quem lá vem, / Dorme à noite ao relento na areia, / Dorme à noite ao relento no mar, / Dorme à noite ao relento no mar" — pois, do meu ponto de vista, transmite me um cenário de solidão.

A sua existência constitui a impossibilidade da felicidade da família, tornando assim inválido o casamento de Madalena e ilegítimo o nascimento de Maria.

O tempo da ação desta obra foi outro aspeto que me levou a escolher esta música, pois aproxima-se mais ou menos da data da música. Dá-se no final do século XVI, sendo que o texto foi escrito no século XIX, e representado pela primeira vez em 1843.

 

Mickel

Nestes dias de confinamento tenho ouvido muita música, e de muitos cantores diferentes. Um deles tem sido o Syro e, especialmente, a canção chamada “E agora”, que tem uma letra muito bonita. Falando da família, é claro que podemos compará-la com o texto de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa.

Para começar, podemos imaginar que é a Maria que está a escrever uma carta antes da sua trágica morte, onde começa por dizer que nem sempre foi bom crescer, como está na música, fazendo referência ao facto de ter tuberculose e de ser difícil viver com essa doença.

Em segundo lugar, quando na música se diz "faltaram as forças pra dizer só vós queria ter ao meu lado / Deviam ter lá estado", faz-se alusão ao facto de o pai não ter estado presente em muitos momentos da filha e isso deixá-la triste.

Na canção temos uma parte que diz "E a dor que rói e devora", "Foi embora". Podemos dizer que se relaciona com o facto de Maria ter tuberculose, mas, apesar disso, a dor se tenha ido embora quando ela faleceu.

Passando agora para D. Madalena, podemos começar com o facto de ela estar a viver com Manuel de Sousa Coutinho mas, afinal, estar ainda casada com D. João, que se pensava estar morto. Quando vemos na letra "És parte de mim", podemos associá-lo ao facto de D. Madalena ter vida com Manuel de Sousa Coutinho, mas, independentemente disso, D. João ser o seu marido: estando morto ou vivo, fez parte da sua vida, logo é parte de D. Madalena.

Quando Madalena reflete sobre a vida e pensa em D. João ou quando fala sobre ele com Telmo, pensa e fala muito no seu passado e também dos problemas que podia ter se D. João estivesse vivo. Um objeto muito importante nesta história são os quadros, o de Manuel, que representa o presente, e o de D. João, que representa o passado. Quando a casa arde, ela tenta salvar o quadro de Manuel e, quando chega ao palácio, vê o quadro de D. João e fica apavorada. Quando o romeiro diz que D. João está vivo, ela pensa no passado e no presente. Depois, João percebe que foi um erro e tenta emendar, mas já é tarde. Para este ponto da história, uso a seguinte frase da canção “Sou sincero e só quero remendar o passado".

"Deito-me" "Partido em dois" "Por guerras que não são nossas" são palavras importantes porque, como sabemos, Portugal tinha perdido a independência para os espanhóis e Manuel de Sousa Coutinho veio para casa e tirou de lá a família e incendiou a casa porque pessoas importantes, governadores em Lisboa, queriam fugir à peste e iam para lá viver. Então, ao incendiar a casa, acabou com essas esperanças, mas Maria refere o facto de aquela não ser a guerra deles. Daí a comparação com a música.

 

Nuno

Escolhi a música “Be Alright”, de James Lewis, porque senti que a letra da canção poderia relacionar-se com vários momentos da peça, e também que uma mesma parte da letra poderia estar presente nos sentimentos de cada personagem, apesar de diferentes de umas para as outras. Para mim, esta música está mais relacionada com o momento em que se descobre que D. João está vivo.

“E então você me diz que cometeu um erro bobo / Você começa a tremer e sua voz começa a quebrar”. Esta frase poderia estar relacionada com o momento em que o Romeiro diz a Madalena que D. João estava vivo. Uma vez que a história se passa num momento em que se dá muito valor à religião, o facto de Madalena estar casada com D. João mas andar com Manuel era um erro terrível. Obviamente, ninguém esperaria que D. João estivesse vivo, mas, assim que se descobre que afinal estava, o que ela fez era um ultraje. Madalena iria dirigir-se a Maria para lhe pedir que a perdoe, porque Maria teria de carregar o seu fardo para o resto da vida. “Minha filha, minha filha, minha filha! Estou… estás… perdidas, desonradas… infames”.

“É o sentimento de traição que não consigo tirar de mim”. No momento em que D. João chega, ele parece querer alguma vingança, uma explicação para o que teria sucedido durante o tempo em que desaparecera, uma vez que Madalena o traíra com Manuel.

“Eu sei que você a ama, mas acabou companheiro / nunca é fácil ir embora, deixe-a ir”. A sua chegada era a destruição daquela família. Mas, no momento em que ele descobre que durante sete anos houvera buscas para tentar encontrá-lo, arrepende-se do que fez e pede a Telmo que diga a Madalena que tudo o que tinha dito, enquanto Romeiro, era mentira. Por mais que amasse Madalena, não poderia destruir aquela família e, por isso, vai-se embora. A mentira nunca chegou a ser contada porque toda a gente já sabia a verdade. Esta frase também pode estar relacionada com os sentimentos de Manuel. Por mais que amasse Madalena, o que eles estavam a fazer era pecado, e teriam de acabar: “a nossa união, o nosso amor é impossível”.

A letra ainda nos remete para vários momentos da peça, mas há uma parte da letra que diz exatamente o contrário do que aconteceu na peça. Apesar disso, foi a frase que mais me remeteu para Frei Luís de Sousa: “Mas nada cura o passado como o tempo”. Realmente, acontece o contrário, uma vez que, mesmo passados vinte e um anos, Madalena ainda não esqueceu o seu passado com D. João. Mesmo passados vinte e um anos, ela não quer voltar ao palácio de D. João, o que prova que o tempo não curou o passado “o terror com que eu penso em ter de voltar a entrar naquela casa. Parece-me que é voltar ao poder dele, que é tirar-me dos teus braços…”

 

Ricardo

“Lusitana Paixão” é uma canção de Dulce Pontes que tem várias passagens que se enquadram bem no contexto da obra Frei Luís de Sousa.

Primeiramente, temos o refrão, ”Fado, chorar a tristeza bem, fado adormecer com a dor, fado, só quando a saudade vem arrancar do meu passado um grande amor”. A meu ver, esta parte enquadra-se especialmente com Madalena. Inicialmente temos a frase “Fado, chorar a tristeza bem”; associo-a a Madalena, pois esta foi a personagem que passou por mais sofrimento, tendo sido também a personagem que mais chorou, seja quando se achava que D. João tinha morrido, quando teve de regressar à sua antiga casa, onde vivera com D. João, quando Maria e Manuel foram para Lisboa, quando soube que o seu primeiro marido afinal ainda estava vivo e, por fim, quando Maria morreu. 

De seguida, temos “fado, adormecer com a dor”, ainda com Madalena, na altura em que Maria está a falar com Telmo e diz: “Coitada! Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que dorme com sossego. [...] vai fechá-los para dormir e diz que vê aquelas chamas enoveladas em fumo[...]”. Nesta passagem, entendemos que, tal como na letra da música, Madalena também ia dormir perturbada pelo que acontecera à casa onde costumava viver. Por fim, temos “só quando a saudade vem arrancar do meu passado um grande amor”: evidentemente, associei esta parte ao momento em que Madalena descobre que afinal D. João ainda estava vivo.

Outra parte da música que se pode relacionar com a obra é “Porque eu quero ser feliz”, isto porque, no começo da obra, enquanto Madalena lia um livro, refletia sobre a felicidade e mostrava inveja das pessoas que tinham sido felizes, ainda que só por momentos. Já Madalena queixava-se de nunca ter tido essa felicidade.

“Eu sei desse lado que há em nós, Cheio de alma lusitana” tanto se poderia relacionar com D. João, uma vez que este sempre foi bom português, chegando nomeadamente a batalhar juntamente com o rei D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, como se poderia relacionar com Manuel, que ateou fogo à sua própria casa para impossibilitar que os governantes espanhóis a habitassem.

“Eu não, eu não pedirei perdão, quando gozar do pecado e voltar a dar de mim”, o verso pode ser relacionado com Maria, quando está, momentos antes de morrer, diz que ””Essa filha é a filha do crime e do pecado!...” Não sou: dize, meu pai, não sou.”, pois na letra da música se diz que não irá pedir perdão quando gozar do pecado, enquanto que Maria está numa situação diferente e diz que não foi resultado de um pecado.

 

Sara

Uma tarde inteira à procura de uma música que encaixasse bem na obra de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, e eis que surge, no meio da minha playlist antiga, a música “Sorte Grande”, do grupo musical João Só e Abandonados com a cantora Lúcia Moniz. Certamente que podemos questionar se o título da música que escolhi se adequa à obra trágica e dramática do escritor Almeida Garrett. Mas ao ouvi-la logo percebemos que até se adapta a certas circunstâncias da ação que se vai desenrolando ao longo do drama.

A letra da canção fala sobre o amor que surge entre duas pessoas que após muito tempo se encontram de novo (“Olha lá já se passaram alguns anos / nem sequer vinhas nos meus planos / saíste-me a sorte grande”). Como na letra, também Madalena de Vilhena se apaixonou por Manuel de Coutinho, ainda antes da suposta morte na batalha de Alcácer Quibir, no Norte de África, do seu marido D. João de Portugal, a quem tinha muito respeito. Apesar de não ter sentimentos de amor pelo mesmo, durante sete anos Madalena andou em busca da verdade sobre a sua morte, mas casa-se com Manuel de Coutinho. Era um amor, mútuo e genuíno, e fruto desse sentimento nasceu Maria de Noronha. Mas mesmo feliz com a relação que tinha com o atual marido (“Contigo de braço dado pra todo o lado”), o qual a apoiava muito, havia ainda uma inquietação constante e premonições trágicas, que eram alimentadas por Telmo, o fiel escudeiro de D. João de Portugal que achava que o seu amo estava vivo.

“Agarrado a ti vou sem hesitar / e se o chão desabar que nos leve aos dois “ e, no final da obra, o chão desaba mesmo, e completamente. A grande tragédia que atormentou toda a família, em particular a Madalena e a Manuel desencadeia-se com a chegada de D. João de Portugal. Relacionando com a música (“Eu vou até morrer / ser teu se me quiseres” ), apresenta-se uma pequena contradição com a obra porque ambos queriam mais que tudo aquela união até ao último dia das suas vidas. Não se tratava da sua escolha, seria sempre um pecado permanecerem juntos e, como tal, tinham de se separar.

E é nestes momentos que se apercebem de que aquilo que achavam que era “para sempre”, na verdade, não foi. O casamento teve um fim naquele preciso momento. O que se achava que iria durar uma vida inteira, acabou em segundos com a chegada de D. João de Portugal.

Refletindo um pouco sobre o assunto, se pensarmos bem, talvez a expressão “para sempre” seja feita para as memórias e não para as pessoas. Essa expressão não é um “para sempre” sobre confiança, amor ou um “para sempre” de “vou estar sempre contigo”. Mas sim, e pelo menos, um “para sempre” na memória. Mas vai ainda mais além disso pois tal como tudo na vida tem um fim, também aquele imenso e genuíno amor entre Madalena e Manuel não pôde ser exceção.

 

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