Aula 113-114
Aula 113-114 (17 [1.ª], 18 [5.ª, 2.ª, 4.ª], 19/mai [3.ª]) Explicações acerca
do trabalho devolvido; e sobre «epónimos»; e noções de ‘conto, novela, romance’
(cfr. p. 245; e Apresentação).
Apresentam-se os inícios
(1-8) e os finais (A-H) de oito romances de Eça de Queirós. (Dos
publicados em vida do autor só não estão Os
Maias e A Ilustre Casa de Ramires, que aliás é semipóstumo. Também
não incluo, por ter sido escrito
Romances de Eça de Queirós (segundo a ordem de publicação) |
Inícios (1-8) |
Finais (A-H) |
O Crime do Padre Amaro |
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O Primo Basílio |
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O Mandarim |
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A Relíquia |
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A Cidade e as Serras |
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A Capital! (começos duma carreira) |
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O Conde de Abranhos |
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Alves & C.ª |
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Inícios
1 A estação de Ovar, no
caminho de ferro do Norte, estava muito silenciosa, pelas seis horas, antes da
chegada do comboio do Porto.
2 À EX.MA SR.A CONDESSA DE ABRANHOS
MINHA SENHORA: — Tive, durante quinze anos, a honra tão invejada de ser o secretário
particular de seu Ex.mo Marido, Alípio Severo Abranhos, Conde de
Abranhos, e consumo-me, desde o dia da sua morte, no desejo de glorificar a
memória deste varão eminente, orador, publicista, estadista, legislador e
filósofo.
3 Nessa manhã, Godofredo da
Conceição Alves, encalmado, soprando por ter vindo do Terreiro do Paço quase a correr,
abria o batente de baetão verde do seu escritório num entressolo na Rua dos
Douradores, quando o relógio de parede por cima da carteira do guarda-livros batia
as duas horas, naquele tom, cavo, a que os tetos baixos do entressolo davam uma
sonoridade dolente, e cava. Godofredo parou, verificou o seu próprio relógio preso
por uma corrente de cabelo sobre o colete branco, e não conteve um gesto de irritação
vendo a sua manhã assim perdida, pelas repartições do Ministério da Marinha: e
era sempre assim quando o seu negócio de comissões para o Ultramar o levava lá:
apesar de ter um primo de sua mulher Diretor-Geral, de escorregar de vez em
quando uma placa de cinco tostões na mão dos contínuos, de ter descontado a
dois segundos oficiais letras de favor, eram sempre as mesmas dormentes esperas
pelo ministro, um folhear eterno de papelada, hesitações, demoras, todo um
trabalho irregular, rangente e desconjuntado de velha máquina meio desaparafusada.
4 Foi no domingo de Páscoa
que se soube em Leiria que o pároco da Sé, José Miguéis, tinha morrido de
madrugada com uma apoplexia. O pároco era um homem sanguíneo e nutrido, que
passava entre o clero diocesano
pelo comilão dos comilões. Contavam-se histórias singulares da sua
voracidade. O Carlos da Botica — que o
detestava — costumava dizer, sempre que o via sair depois da sesta, com a face afogueada de sangue,
muito enfartado:
— Lá vai a jiboia esmoer. Um dia estoura!
5 O meu amigo Jacinto nasceu
num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de
vinhedo, de cortiça e de olival.
No Alentejo, pela Estremadura, através das duas
Beiras, densas sebes ondulando por colina e vale, muros altos de boa pedra,
ribeiras, estradas, delimitavam os campos desta velha família agrícola que já
entulhava o grão e plantava cepa em tempos de el-rei D. Dinis. A sua quinta e
casa senhorial de Tormes, no Baixo Douro, cobriam uma serra. Entre o Tua e o
Tinhela, por cinco fartas léguas, todo o torrão lhe pagava foro. E cerrados
pinheirais seus negrejavam desde Arga até ao mar de Âncora. Mas o palácio onde
Jacinto nascera, e onde sempre habitara, era em Paris, nos Campos Elísios, n.°
202.
6
Decidi compor, nos vagares deste verão, na minha Quinta
do Mosteiro (antigo solar dos condes de Lindoso), as memórias da minha Vida — que
neste século, tão consumido pelas incertezas da Inteligência e tão angustiado
pelos tormentos do Dinheiro, encerra, penso eu e pensa meu cunhado Crispim, uma
lição lúcida e forte.
7 Eu chamo-me Teodoro — e
fui amanuense do Ministério do Reino.
Nesse tempo vivia eu à Travessa Conceição n.° 106,
na casa de hóspedes da D. Augusta, a esplêndida D. Augusta, viúva do major
Marques. Tinha dois companheiros: o Cabrita, empregado na Administração do
bairro central, esguio e amarelo como uma tocha de enterro; e o possante, o
exuberante tenente Couceiro, grande tocador de viola francesa.
8 Tinham dado onze horas no
cuco da sala de jantar. Jorge fechou o volume de Luís Figuier que
estivera folheando devagar, estirado na velha voltaire de marroquim
escuro, espreguiçou-se, bocejou e disse:
— Tu não te vais vestir, Luísa?
Finais
A Artur, instintivamente,
olhou o molho de erva, que a pequena com muito cuidado apertava na dobra da
saia, contra o ventrezinho. Já havia naquela erva, pensou, — porque sempre, de
Coimbra, conservara ideias panteístas — havia já alguma coisa da doce velha.
— Para que é a erva, tio Jacinto?
— A erva? Ah, que é muito tenra. Escolhi-a de propósito.
Saiba V. S.ª que é para os coelhos — respondeu o tio Jacinto, fechando a grade
de ferro do cemitério.
B E não é sem uma emoção
profunda que ali vou cada ano em piedosa romagem, contemplar a alta figura,
marmórea, com o seu porte majestoso, o peito coberto das condecorações que lhe
valeu o seu merecimento, uma das mãos sustentando o rolo dos seus manuscritos,
para indicar o homem de letras, a outra assente sobre o punho do seu espadim de
moço fidalgo, para designar o homem de Estado — e os olhos, por trás dos óculos
de aros de ouro, erguidos para o firmamento, simbolizando a sua fé em Deus e
nos destinos imortais da Pátria!
C E todavia, ao expirar,
consola-me prodigiosamente esta ideia: que do Norte ao Sul e do Oeste a Leste,
desde a Grande Muralha da Tartária até às ondas do Mar Amarelo, em todo o vasto
Império da China, nenhum Mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu,
o pudesses suprimir e herdar-lhe os milhões, ó leitor, criatura improvisada por
Deus, obra má de má argila, meu semelhante e meu irmão!
D E tudo isto perdera!
Porquê? Porque houve um momento em que me faltou esse descarado heroísmo de
afirmar, que, batendo na Terra com pé forte, ou palidamente elevando os
olhos ao Céu — cria, através da universal ilusão, ciências e religiões.
E E na verdade me parecia
que, por aqueles caminhos, através da natureza campestre e mansa — o meu Príncipe,
atrigueirado nas soalheiras e nos ventos da serra, a minha prima Joaninha, tão
doce e risonha mãe, os dois primeiros representantes da sua abençoada tribo, e
eu — tão longe de amarguradas ilusões e de falsas delicias, trilhando um solo
eterno, e de eterna solidez, com a alma contente, e Deus contente de nós,
serenamente e seguramente subíamos — para o Castelo da Grã-Ventura!
F E o homem de Estado, os
dois homens de religião, todos três em linha, junto às grades do monumento,
gozavam de cabeça alta esta certeza gloriosa da grandeza do seu país, — ali ao
pé daquele pedestal, sob o frio olhar de bronze do velho poeta, ereto e nobre,
com os seus largos ombros de cavaleiro forte, a epopeia sobre o coração, a
espada firme, cercado dos cronistas e dos poetas heroicos da antiga pátria —
para sempre passada, memória quase perdida!
G — E nós que estivemos para
nos bater, Machado! A gente em novo sempre é muito imprudente... E por causa
duma tolice, amigo Machado!
E o outro bate-lhe no ombro também, responde
sorrindo:
— Por causa duma grande tolice, Alves amigo!
H Ao fundo do Aterro
voltaram; e o visconde Reinaldo passando os dedos pelas suíças:
— De modo que estás sem mulher...
Basílio teve um sorriso resignado. E, depois dum
silêncio, dando um forte raspão no chão com a bengala:
— Que ferro!
Podia ter trazido a Alphonsine!
E foram tomar xerez à Taverna Inglesa.
Cria estes
textos-fragmentos:
Continuação de um dos
começos de romances de Eça. (Identifica-o pelo algarismo.);
Pastiche (= redação ao
estilo de...) de romance de Eça: inventarás título e criarás o início desse
romance apócrifo.
Continuação de _____
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Título || ________________
Início ||
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Início de A Ilustre
Casa de Ramires:
Desde as quatro horas da
tarde, no calor e silêncio do domingo de junho, o Fidalgo da Torre, em
chinelos, com uma quinzena de linho envergada sobre a camisa de chita cor de rosa,
trabalhava. Gonçalo Mendes Ramires (que naquela sua velha aldeia de Santa
Ireneia, e na vila vizinha, a asseada e vistosa Vila Clara, e mesmo na cidade,
em Oliveira, todos conheciam pelo «Fidalgo da Torre») trabalhava numa novela
histórica, A Torre de D. Ramires, destinada ao primeiro número dos Anais
de Literatura e de História, revista nova, fundada por José Lúcio
Castanheiro, seu antigo camarada de Coimbra, nos tempos do Cenáculo Patriótico,
em casa das Severinas.
Início de Os Maias:
A casa que os Maias vieram
habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S.
Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete,
ou simplesmente o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de vivenda
campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um
renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida
fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspeto tristonho de
residência eclesiástica que competia a uma edificação do reinado da senhora D.
Maria I: com uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio
de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha decerto de um revestimento quadrado
de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do Escudo de Armas, que nunca
chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por
uma fita onde se distinguiam letras e números de uma data.
Completa:
Cantar!
(Sing!) |
Os
Maias. Episódios da vida romântica |
A
Ilustre Casa de Ramires |
Há sempre
um legado de família representado num edifício: |
||
o
____, que o coala Moon ergueu com o apoio do pai (que lavava carros). |
o
____, agora remodelado, que, vendida Benfica e a Tojeira, era o que restava
aos Maias em Lisboa. |
a
_____, que recorda a glória dos Ramires e é parte do título da novela
histórica que Gonçalo tenta escrever. |
No
presente da narração, apesar da decadência que se sente subliminarmente, há
sonhos de nova glória provindos de |
||
_____
musical que promete ser muito concorrida. |
_____
de Carlos em Lisboa, com expetativas de sucesso profissional. |
____
de novela histórica, que Gonçalo espera lhe dê notoriedade. |
No
entanto, os anseios de vitória (e redenção) que tomam conta dos protagonistas
contrastam com os pequenos pecados que não deixam de atormentar a consciência
destes heróis |
||
Moon
____ não ter dinheiro suficiente para o prémio astronómico que estabeleceu. |
Carlos
vai ceder pouco depois ao diletantismo, ____ a flirts, procrastinar o
trabalho, etc. |
Gonçalo,
falho de inspiração e de conhecimentos da história da família, ____ o poema do
tio Duarte. |
Ao
mesmo tempo, há alusões às glórias passadas: |
||
filme
começa com analepse que nos mostra um ____ da época do apogeu. |
ainda
no capítulo inicial (e até ao cap. IV) começa a fazer-se a ____ da família. |
à
medida que Gonçalo vai escrevendo, acompanhamos os ____ desde a Idade Média. |
TPC
— Em espaço que abrirei («Segunda versão de comentário a Amor de Perdição
e filme»), entrega a passagem a limpo do comentário devolvido agora. (Se te
esqueceras de fazer a primeira versão desta tarefa, cujo prazo terminava no fim
de semana, fá-la ainda sem mais demoras e entrega-a no espaço próprio para a
primeira versão.) // Entretanto, muitos se esqueceram de entregar a segunda
versão da «Fuga». Devem tratar do envio dessa reformulação através do espaço
que lhe compete, até porque não considero a tarefa realizada sem a entrega da
segunda versão. É nessa altura, aliás, que indico a
classificação.
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