Aula 109-110
Aula 109-110 (10 [1.ª], 11 [5.ª, 2.ª, 4.ª], 12/mai [3.ª]) Põe na ordem
correta os dezasseis versos do poema (em quatro estrofes: 4 + 4 + 4 + 4) de
Cesário Verde dentro do sobrescrito. Desenho dos fragmentos de papel não é
indicativo (versos já estavam misturados quando os recortei). Ao contrário, as rimas
são úteis (a rima é cruzada).
[Versos desordenados:]
A um granzoal azul de grão-de-bico
Dos teus dois seios como duas rolas,
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Naquele pic-nic de burguesas,
Foi quando tu, descendo do burrico,
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Foste colher, sem imposturas tolas,
Era o supremo encanto da merenda
Houve uma coisa simplesmente bela,
Em todo o caso dava uma aguarela.
O ramalhete rubro das papoulas!
E houve talhadas de melão, damascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E pão de ló molhado em malvasia.
E que, sem ter história nem grandezas,
Um ramalhete rubro de papoulas.
Procurei fazer uma análise do texto,
seguindo estas linhas de sentido (aconselhadas no manual Antologia. 11.º ano,
Lisboa, Lisboa Editora, 2004): relação título-texto; sugestão de uma «aguarela»
(notações cromáticas — ou seja, de cor —, pormenores figurativos); estrutura
narrativa (espaço, tempo, ação, personagens); função do sujeito poético
enquanto observador e relator; marcas de erotismo; valor simbólico de «o
ramalhete rubro de papoulas»; relevância expressiva de alguns aspetos formais e
recursos estilísticos.
Completa a minha análise, sabendo
que as lacunas correspondem sempre a expressões a transcrever do próprio poema.
Logo o título, «______», que é um
modificador temporal, remete para um momento, uma coisa «________», que merecia
ser registado numa «_______», apesar de aparentemente irrelevante.
Poderíamos dizer que o momento em
causa era suscetível de ser fixado numa polaroid (se no século XX) ou numa
imagem em instagram (atualmente), mas a pintura coaduna-se bem com as várias
referências cromáticas: o «granzoal ______», o «ramalhete ______» ou, quando
sai da renda, «______». Quanto ao sol a pôr-se («______»), é uma notação de
ordem visual e mais um elemento que aproxima o poema das pinturas
impressionistas (vem à lembrança, por exemplo, o quadro «Déjeuner sur l’herbe»,
de Edouard Manet — cfr. p. 323). Além
das cores, há pormenores figurativos: o rendilhado do decote por onde saem
«______» (com que se comparam os «_______»).
Nem só o sentido da visão é
convocado, outros sentidos estão presentes: o olfato e o gosto, a propósito das
«_________», dos «________», do «______» embebido em vinho doce; e não será
forçado vermos algo de tátil na alusão às «________» que saem do decote da
rapariga.
Muito característica do poema (e de
Cesário Verde) é a sua narratividade. O poeta parece ser um observador que faz
parte do grupo (vejam-se os deíticos pessoais «_____», «____», o demonstrativo
«[n]_____» e o possessivo «_____»). Relata um episódio cuja protagonista
é uma rapariga (uma burguesa?) capaz de colher ramalhetes de papoulas «______».
As ações estão demarcadas em função dos espaços («a _____», «em _____») e do
tempo («_____», «_____»).
A última quadra (não, não é um
soneto: são quatro quartetos) apresenta-nos o sujeito poético (o «narrador»)
embevecido com o supremo encanto do «______» (e não é interessante o uso do
estrangeirismo?). Esse primeiro plano da câmara termina com o verso «______»,
que quase repete o v. 8 («_______»). Os artigos definidos no último verso do
poema («____», em vez do indefinido «_____», que estava no v. 8; e «[d]_____»,
em vez da preposição simples «______») mostram que a observação se foi
aproximando e que o ramalhete de que se fala já é inconfundível. A outra
diferença entre os versos é o v. 16 terminar com um _____.
E, se atentarmos no som, perceberemos
que há nesse verso uma aliteração [cfr.
p. 393], conseguida pela repetição da consoante «___». (Já na segunda estrofe
havia uma figura fónica idêntica, entre a assonância (‘repetição de som
vocálico’) e a aliteração, no verso «______», em que predominavam as vogais
nasais e a consoante z.)
Acerca da quadra final é ainda
preciso referir que a alteração da ordem natural da frase, um hipérbato [cfr. p. 394], faz que o último verso
seja o sintagma nominal que se pretende destacar («______»). Por outro lado,
por marcar uma oposição, uma reorientação, a conjunção adversativa «______»
valoriza o que depois será o foco da quadra.
Também o tempo verbal usado nesta
quarta estrofe, o imperfeito do indicativo («______»), marca a perenidade
daquela visão singular, por contraste com o incidente, efémero, que era a
merenda de burguesas (a que convinha o perfeito do indicativo: «houve», «foi»,
«_____», «______», «______»).
Na p. 341, lê o poema «Homenagem
a Cesário Verde», de Mário
Cesariny, poeta já do século XX. Perceberás que é quase uma paródia
do poema «De tarde». Retomam-se alguns elementos, subverte-se a maioria. De
qualquer modo, o sentido global é de louvor a Cesário, como se vê no último
dístico: «Chegou a noite e foram todos para casa ler / Cesário Verde que ainda
há passeios ainda há poetas cá no país».
Escreve um texto em
prosa sobre um momento que devesse ficar fixado (talvez realçado dentro de um
incidente que tudo destinasse ao esquecimento). Será uma espécie de polaroid — ou imagem de
instagram? — redigida.nSó as
partes já lançadas seguem o modelo de «De tarde». No resto, aconselho apenas
que a descrição/narração seja detalhada e se evite estilo brincalhão ou
irónico.
[título:] ____________
{grupo preposicional ou — mais genericamente —
modificador do grupo verbal, como é De tarde}
Em {ou Em contraído (como Naquele/a)} . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . , houve . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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TPC — A partir da próxima aula talvez já comecemos a abordar Os
Maias/A Ilustre Casa de Ramires. Na próxima semana, podes mesmo
trazer o livro que tenhas escolhido (quando testar a efetiva leitura, não o
faremos com consulta da obra, mas pode o livro ser útil para outras tarefas —
e, confesso, interessa-me assegurar que têm mesmo o livro).
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