Friday, August 28, 2020

Aula 109-110

 

Aula 109-110 (10 [1.ª], 11 [5.ª, 2.ª, 4.ª], 12/mai [3.ª]) Põe na ordem correta os dezasseis versos do poema (em quatro estrofes: 4 + 4 + 4 + 4) de Cesário Verde dentro do sobrescrito. Desenho dos fragmentos de papel não é indicativo (versos já estavam misturados quando os recortei). Ao contrário, as rimas são úteis (a rima é cruzada).



[Versos desordenados:]

A um granzoal azul de grão-de-bico

Dos teus dois seios como duas rolas,

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Naquele pic-nic de burguesas,

Foi quando tu, descendo do burrico,

Mas, todo púrpuro a sair da renda

Foste colher, sem imposturas tolas,

Era o supremo encanto da merenda

Houve uma coisa simplesmente bela,

Em todo o caso dava uma aguarela.

O ramalhete rubro das papoulas!

E houve talhadas de melão, damascos,

Nós acampámos, inda o sol se via;

E pão de ló molhado em malvasia.

E que, sem ter história nem grandezas,

Um ramalhete rubro de papoulas.

Podes agora usar o manual, na p. 322, vendo melhor o poema de Cesário Verde que estiveste a reconstituir, «De tarde».

Procurei fazer uma análise do texto, seguindo estas linhas de sentido (aconselhadas no manual Antologia. 11.º ano, Lisboa, Lisboa Editora, 2004): relação título-texto; sugestão de uma «aguarela» (notações cromáticas — ou seja, de cor —, pormenores figurativos); estrutura narrativa (espaço, tempo, ação, personagens); função do sujeito poético enquanto observador e relator; marcas de erotismo; valor simbólico de «o ramalhete rubro de papoulas»; relevância expressiva de alguns aspetos formais e recursos estilísticos.

Completa a minha análise, sabendo que as lacunas correspondem sempre a expressões a transcrever do próprio poema.

Logo o título, «______», que é um modificador temporal, remete para um momento, uma coisa «________», que merecia ser registado numa «_______», apesar de aparentemente irrelevante.

Poderíamos dizer que o momento em causa era suscetível de ser fixado numa polaroid (se no século XX) ou numa imagem em instagram (atualmente), mas a pintura coaduna-se bem com as várias referências cromáticas: o «granzoal ______», o «ramalhete ______» ou, quando sai da renda, «______». Quanto ao sol a pôr-se («______»), é uma notação de ordem visual e mais um elemento que aproxima o poema das pinturas impressionistas (vem à lembrança, por exemplo, o quadro «Déjeuner sur l’herbe», de Edouard Manet — cfr. p. 323). Além das cores, há pormenores figurativos: o rendilhado do decote por onde saem «______» (com que se comparam os «_______»).

Nem só o sentido da visão é convocado, outros sentidos estão presentes: o olfato e o gosto, a propósito das «_________», dos «________», do «______» embebido em vinho doce; e não será forçado vermos algo de tátil na alusão às «________» que saem do decote da rapariga.

Muito característica do poema (e de Cesário Verde) é a sua narratividade. O poeta parece ser um observador que faz parte do grupo (vejam-se os deíticos pessoais «_____», «____», o demonstrativo «[n]_____» e o possessivo «_____»). Relata um episódio cuja protagonista é uma rapariga (uma burguesa?) capaz de colher ramalhetes de papoulas «______». As ações estão demarcadas em função dos espaços («a _____», «em _____») e do tempo («_____», «_____»).

A última quadra (não, não é um soneto: são quatro quartetos) apresenta-nos o sujeito poético (o «narrador») embevecido com o supremo encanto do «______» (e não é interessante o uso do estrangeirismo?). Esse primeiro plano da câmara termina com o verso «______», que quase repete o v. 8 («_______»). Os artigos definidos no último verso do poema («____», em vez do indefinido «_____», que estava no v. 8; e «[d]_____», em vez da preposição simples «______») mostram que a observação se foi aproximando e que o ramalhete de que se fala já é inconfundível. A outra diferença entre os versos é o v. 16 terminar com um _____.

E, se atentarmos no som, perceberemos que há nesse verso uma aliteração [cfr. p. 393], conseguida pela repetição da consoante «___». (Já na segunda estrofe havia uma figura fónica idêntica, entre a assonância (‘repetição de som vocálico’) e a aliteração, no verso «______», em que predominavam as vogais nasais e a consoante z.)

Acerca da quadra final é ainda preciso referir que a alteração da ordem natural da frase, um hipérbato [cfr. p. 394], faz que o último verso seja o sintagma nominal que se pretende destacar («______»). Por outro lado, por marcar uma oposição, uma reorientação, a conjunção adversativa «______» valoriza o que depois será o foco da quadra.

Também o tempo verbal usado nesta quarta estrofe, o imperfeito do indicativo («______»), marca a perenidade daquela visão singular, por contraste com o incidente, efémero, que era a merenda de burguesas (a que convinha o perfeito do indicativo: «houve», «foi», «_____», «______», «______»).

Na p. 341, lê o poema «Homenagem a Cesário Verde», de Mário Cesariny, poeta já do século XX. Perceberás que é quase uma paródia do poema «De tarde». Retomam-se alguns elementos, subverte-se a maioria. De qualquer modo, o sentido global é de louvor a Cesário, como se vê no último dístico: «Chegou a noite e foram todos para casa ler / Cesário Verde que ainda há passeios ainda há poetas cá no país».

Escreve um texto em prosa sobre um momento que devesse ficar fixado (talvez realçado dentro de um incidente que tudo destinasse ao esquecimento). Será uma espécie de polaroid  ou imagem de instagram? redigida.nSó as partes já lançadas seguem o modelo de «De tarde». No resto, aconselho apenas que a descrição/narração seja detalhada e se evite estilo brincalhão ou irónico.

[título:] ____________

{grupo preposicional ou mais genericamente modificador do grupo verbal, como é  De tarde}

Em {ou Em contraído (como Naquele/a)} . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , houve . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

TPC — A partir da próxima aula talvez já comecemos a abordar Os Maias/A Ilustre Casa de Ramires. Na próxima semana, podes mesmo trazer o livro que tenhas escolhido (quando testar a efetiva leitura, não o faremos com consulta da obra, mas pode o livro ser útil para outras tarefas — e, confesso, interessa-me assegurar que têm mesmo o livro).

 

 

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