Aula 71-72
Aula 71-72 (24 [1.ª], 25 [3.ª, 2.ª,
5.ª], 26/fev [4.ª]) Vai lendo as cenas I-IV do ato II (pp. 112-119) de
Frei Luís de Sousa e circundando a
melhor alínea de cada item.
Cena I
Entre as linhas 4 e 11 (p.
112), Maria revela-se
a) descaradamente atiradiça.
b) claramente autoritária.
c) afavelmente impositiva.
d) tendencialmente submissa.
«Menina e moça me levaram de casa de meu pai» (l.
7) era o início
a) de Os
Lusíadas.
b) de livro sobre raptos de crianças no Algarve.
c) de livro que Madalena não entendia e de que Maria
gostava.
d) da Bíblia.
Segundo se depreende das ll. 11-12, o ato II
decorre
a) vinte anos depois da Batalha de Alcácer Quibir.
b) a 28 de julho de 1599.
c) a 4 e a 6 de agosto de 1599.
d) a 4 de agosto de 1599.
Ainda na terceira fala da cena se lembra que
Madalena ficara aterrada com
a) a perda do retrato de Manuel.
b) o surgimento do retrato de João.
c) a perda do retrato de João.
d) o surgimento do retrato de Manuel.
Podemos dizer que a constatação feita por Maria nas
linhas 22-27 constitui uma espécie de
a) quiasmo.
b) alegoria.
c) metáfora.
d) antítese.
Cerca das linhas 28-32,
a) Maria está otimista, mais do que Telmo.
b) Maria está pessimista, mais do que Telmo.
c) Telmo está, no fundo, tão pessimista quanto Maria.
d) Maria está otimista mas não tanto quanto Telmo.
Em «Oh minha querida filha, aquilo é um homem»
(38-39), Telmo refere-se
a) ao namorado.
b) a D. João.
c) a D. Manuel.
d) a D. Sebastião.
A «quinta tão triste de além do Alfeite» (56) é
a) o palácio incendiado.
b) o palácio de D. João de Portugal.
c) um barraco entre o Feijó e a Charneca da
Caparica.
d) uma quinta em que se escondera o futuro grande escritor.
«mo» (63) é
a) complemento direto.
b) complemento oblíquo.
c) complemento direto e complemento indireto.
d) complemento oblíquo e complemento direto.
As reticências na linha 76 mostram que Telmo
a) hesitou, ao trocar «tenha em glória» por «tenha
em bom lugar».
b) quis trocar «tenha salvado» por «tenha em bom
lugar».
c) não se sentia bem ao falar de Manuel de Sousa.
d) acabara de pisar um cocó de cão e por isso
parara um curto momento.
A fala de Maria nas ll. 80-90 apresenta vários
deíticos. Por exemplo:
a) «Agora» (81), «tu» (81), «estes» (83).
b) «viemos» (85), «aqui» (87), «esta» (88).
c) «tocha» (94), «força» (94), «essas» (95).
d) «ali (89), «naquele» (91), «mão» (91).
«O meu Luís, coitado!» (119) reporta-se
a) a Frei Luís de Sousa.
b) ao autor da presente ficha quando perante esta
turma.
c) ao filho de Telmo.
d) a um zarolho.
Na última fala da cena, Telmo reconhece que D. João
a) amara Madalena.
b) estava vivo.
c) tinha a guerra como principal paixão.
d) tinha barba garbosa.
Cena II
Segundo se diz na didascália
final da cena I (p. 116), que liga essa à cena que nos interessa agora, chegou um
homem embuçado. O homem é
a) Manuel de Sousa, que não pôde escanhoar devidamente
o buço.
b) Telmo, que ostentava barba farta.
c) Manuel de Sousa, que veio escondido.
d) Telmo, sempre enigmático.
Ao apreciar o retrato de D. João de Portugal — «um
honrado fidalgo, e um valente cavaleiro» (primeira fala da cena) —, Manuel de Sousa
está a
a) ser irónico.
b) ser sincero.
c) mostrar-se ressentido.
d) mentir, para proteger Maria.
A pergunta de Maria «Então para que fazeis vós como
eles?...» (l. 183) alude ao facto de
a) Manuel de Sousa ter sido um escritor de muitos
méritos.
b) Telmo e Manuel serem demasiado emotivos.
c) Manuel de Sousa, segundo Maria, não regular bem
da cabeça.
d) Madalena e Manuel não estarem, como queria
Maria, calmos.
Cena
III
A observação de Manuel «Há
de ser destas paredes, é unção da casa: que isto é quase um convento aqui,
Maria...» (ll. 200-201, p. 117) justifica-se por a casa de D. João
a) confinar com a igreja dos dominicanos.
b) ser muito austera.
c) ter sido o local de conceção de Maria.
d) ter sido o local dos amores de Madalena e João,
o que Manuel lembra ironicamente.
Cena
IV
Jorge decidira ir a Lisboa,
para
a) acompanhar o arcebispo nessa viagem, assim lhe
agradecendo.
b) resolver assuntos no Sacramento.
c) acompanhar o arcebispo no regresso a Almada, assim
lhe agradecendo.
d) ver Joana de
Na l. 24 da p. 119,
«vos» desempenha a função sintática de
a) complemento indireto.
b) complemento direto.
c) complemento oblíquo.
d) vocativo.
Na l. 30 (p. 119), «me»
é
a) complemento indireto.
b) complemento direto.
c) complemento oblíquo.
d) sujeito.
Assistiremos a trechos de Quem
és tu? (IV, 6-15)
e de Frei Luís de Sousa, de António Lopes Ribeiro (47-50)
Correção do questionário (cfr. Apresentação).
Depois de vermos mais um trecho de Entre Irmãos, continuaremos a comparação
com o Frei Luís de Sousa:
Frei Luís de Sousa |
Entre Irmãos |
O nacionalismo e a inflexibilidade de Manuel
fizeram que a família tivesse de abandonar a residência dos Coutinhos e
instalar-se no palácio que pertencera a D. João de Portugal. Este espaço,
onde decorre já o ato II, é mais ______. Madalena, ao chegar à nova (velha)
casa fica aterrorizada ao deparar-se com o retrato do primeiro marido.
Depois, não dormiria as primeiras _____ noites. Maria ainda está orgulhosa
com a atitude do pai. Gostara aliás do espetáculo que fora o incêndio da casa
de Manuel. |
Em parte para se ressarcir das confusões em que
se metera, Tommy decide remodelar a _______ de Grace. Esta, ao chegar a casa,
depara-se com as obras e uma série de amigos do cunhado, começando por reagir
mal mas conformando-se rapidamente e integrando-se no ambiente jovial. Roupas
de Sam (escolhidas por Grace, que parece mesmo querer desfazer-se delas)
servem a um dos colaboradores, que se sujara com tinta. O caso é pretexto para
chacota e brincadeira. Também as ______ colaboram nos arranjos. |
No velho palácio, os retratos de D. João de
Portugal, D. Sebastião e Camões ocupam a atenção de Maria, que procura
satisfazer junto de Telmo a curiosidade acerca de quem está representado na
primeira imagem. Telmo é _____ na sua resposta. Mas Manuel de Sousa esclarece
a filha, não se coibindo de elogiar João de Portugal. |
A cozinha fica como nova. No dia de aniversário
de Grace, todos parecem alegres com as mudanças. Crianças estão mais
confiantes e parecem dar-se bem com Tommy. Num passeio, Tommy lembra a uma
delas que Sam o salvara naquele local havia muito. Já antes, um dos amigos
evocara as ______ de Sam. |
TPC — Percebemos a importância
que têm os retratos de
Manuel e de João, no final do ato I e no começo do ato II de Frei Luís de
Sousa. Num livro que tenho estado a ler, Os Anos, de Annie Ernaux, retratos
— fotografias antigas de repente reencontradas — têm papel fulcral na
maneira de construir a narrativa. Trata-se de uma aparente autobiografia em que
a narração se ancora em fotografias da protagonista, que, ao ver-se na imagem, tenta
recuperar quem era naquele momento da sua vida, procurando recordar-se do
contexto em que a fotografia foi tirada mas, sobretudo, descrevendo aquele
momento com olhos exteriores, como se analisasse uma foto desconhecida e a
interpretasse com os dados possíveis.
A seguir reproduzo cinco
desses momentos, que estão em pontos diferentes do livro (de criança até aos sessenta
anos). Lê-los-ás. O que te peço enquanto texto criado por ti é que, a partir de
fotografia tua ou não, procedas ao mesmo estilo de abordagem. Com fotografias
demasiado recentes talvez o processo não resulte tanto, mas não é impossível.
Não quero a fotografia, é claro. E talvez seja mais interessante que a imagem-fonte
te inclua mesmo. Repara que se usa sempre a terceira pessoa, embora fique claro
que a autora está a falar de si própria. Sugiro que o texto tenha pelo menos duzentas
e cinquenta palavras (e não mais de trezentas e cinquenta).
Trechos de Annie Ernaux, Os Anos, trad.
de Maria Etelvina Santos (de Les Années, 2008), Porto, Livros do Brasil,
2020:
A fotografia a preto e
branco de uma rapariguinha em fato de banho escuro, numa praia com rochas. Ao
fundo, falésias. Está sentada numa rocha lisa, as pernas fortes bem esticadas
para a frente, os braços apoiados na rocha, os olhos fechados, a cabeça
ligeiramente inclinada, a sorrir. Uma trança castanha grossa puxada para a
frente, a outra caída nas costas. Tudo indica um desejo de posar como as
estrelas no Cinémonde ou na publicidade do Ambre Solaire, de escapar ao seu corpo
simples e insignificante de rapariguinha. As coxas, mais claras, tal como os
antebraços, deixam adivinhar o desenho do vestido e revelam o carácter de exceção que,
para aquela criança, representam umas férias ou uma ida até ao mar. A praia
está deserta. No verso: agosto 1949, Sotteville-sur-Mer.
Ela vai fazer nove anos.
Está de férias com o pai, em casa de uns tios, artesãos que fabricam cordas. A
mãe ficou em Yvetot, a tomar conta do café-mercearia que nunca fecha. É esta
que habitualmente a penteia, dividindo o cabelo e fazendo duas tranças
apertadas que depois lhe prende com ganchos de mola e laços no alto da cabeça
como uma coroa. Ou nem o pai nem a tia sabem atar as tranças daquela maneira,
ou ela aproveita a ausência da mãe para as deixar à solta.
Difícil prever em que pode
estar a pensar ou a sonhar, como olha para os anos que a separam da Libertação,
de que coisas se lembra sem esforço.
(Os Anos, p. 28)
Numa fotografia a preto e
branco, duas raparigas numa alameda, lado a lado, ambas com os braços atrás das
costas. Em fundo, arbustos e um muro alto de tijolo, por cima um céu com
grandes nuvens brancas. No verso da fotografia: julho 1955, nos jardins do Internato
Saint-Michel.
A esquerda, a rapariga
mais alta, loura, de cabelo cortado «à moda», um vestido claro, soquetes, com o
rosto na sombra. À direita, a morena, de cabelo encaracolado, curto, com óculos
na cara redonda, de testa alta, rosto iluminado, com um pulôver escuro de
mangas curtas e uma saia com bolinhas. Ambas usam sabrinas, a morena sem meias.
Devem ter tirado a bata da escola para a fotografia.
Mesmo que não reconheçamos
na morena a rapariguinha das tranças, na praia, que poderia ter-se transformado
na loura, era, no entanto, aquela, e não a loura, que possuía a única memória
consciente daquele corpo, graças à qual, portanto, podemos confirmar que aquele
cabelo encaracolado era resultado de uma permanente, um ritual em maio, desde a
Comunhão Solene, a saia era feita a partir de um vestido usado no verão
anterior, que já estava apertado, e o pulôver tricotado por uma vizinha. E é
com as perceções e sensações interiorizadas pela adolescente morena, de óculos,
com catorze anos e meio, que esta escrita, aqui, pode reencontrar algo do que
ia fluindo durante os anos cinquenta, e captar o reflexo projetado pela
história coletiva no ecrã da memória individual.
(Os Anos, p. 43)
Numa fotografia de grupo, a
preto e branco, guardada dentro de um cartão dobrado e gravado, vinte e seis
raparigas, dispostas em três filas, num pátio, sob as folhas de um castanheiro,
em frente a uma fachada cujas janelas de pequenos quadrados podiam ser as de um
convento, de uma escola, ou de um hospital. Todas com uma bata clara vestida, o
que as faz parecer um corpo de enfermeiras.
Por baixo da fotografia,
anotado à mão: Liceu
Jeanne-d’Arc — Rouen — Turma de Filosofia 1958-1959. Não estão escritos os
nomes das alunas, como se houvesse a certeza, no momento em que a foto foi
tirada pela chefe de turma, de que nos iríamos lembrar sempre de todos eles.
Seria obviamente impossível que alguém se imaginasse, quarenta anos depois,
como mulher adulta a olhar rostos então familiares, sem poder ver nessa
fotografia de turma mais do que uma tripla fila de fantasmas de olhos
brilhantes e parados.
As raparigas da primeira
fila estão sentadas em cadeiras dobráveis, as mãos juntas sobre os joelhos, as
pernas direitas e unidas ou empurradas para debaixo da cadeira, apenas uma tem
as pernas cruzadas. As da segunda fila — de pé — e as da terceira — mais altas,
em cima de um banco — visíveis até às ancas. O facto de apenas seis terem as
mãos metidas nos bolsos — sinal, portanto, de má educação — significa que o
liceu é frequentado maioritariamente pela burguesia. Todas, à exceção de
quatro, olham para a objetiva com um ligeiro sorriso. Aquilo
que estão a ver — quem fotografa? Uma parede? Outros alunos? — perdeu-se para
sempre.
(Os Anos, pp. 59-60)
Na fotografia a preto e
branco, de um interior, um grande plano de uma mulher jovem e de um rapazinho
sentados, lado a lado, numa cama transformada num sofá com almofadas, colocado
em frente a uma janela com um cortinado transparente, na parede um objeto de
arte africana. A mulher veste um conjunto de jersey
claro e uma saia acima do joelho. Os cabelos escuros, sempre penteados com
risco ao meio, assimétricos, acentuam a oval perfeita da face, com as maçãs do
rosto a erguerem-se num grande sorriso. Nem o penteado nem o aspeto
geral têm a ver com a imagem que, mais tarde, reconheceremos como típica do ano
de sessenta e seis ou sete, a não ser a saia curta, que corresponde à moda
então lançada por Mary Quant. Tem o braço por cima dos ombros da criança, esta
de olhos vivos e ar inteligente, com uma camisola de decote redondo e calças de
pijama, fotografada num momento em que está a falar, a boca entreaberta
deixando ver os dentes pequenos. No verso da fotografia, rue de Loverchy, inverno 1967. Claro que não é visível
quem tirou a foto, ele, o estudante adolescente e volúvel, que em menos de
quatro anos passou a marido, pai e quadro administrativo numa cidade de montanha.
Provavelmente, uma foto de domingo, único dia em que podem ficar juntos, em
que, com o cheiro do almoço ao lume, a tagarelice do rapaz com as construções
de Lego, a reparação do autoclismo com a Oferenda Musical de Bach em fundo, eles constroem a sua memória
familiar e confirmam o sentimento de serem, apesar de tudo, felizes. A
fotografia participa dessa construção, inscreve a «pequena família» numa duração
da qual ela é a garantia tranquilizadora para os avós da criança que dela
receberam uma prova.
(Os Anos, pp. 78-79)
Sobre um fundo de céu
azul-pálido e uma praia de areia quase deserta, com sulcos cavados como um
campo preparado por máquinas, destaca-se um pequeno grupo reunido,
duas mulheres e dois homens, com os quatro rostos aproximados, divididos entre
uma zona de sombra e outra iluminada pela luz do sol vinda do lado esquerdo.
Os dois homens, ao centro, têm semelhanças: ambos na casa dos trinta, estatura
e aspeto idênticos, o início de uma calvície num deles, no outro já mais avançada,
a mesma barba de alguns dias. O que se situa mais à direita está abraçado a uma
rapariguinha jovem, de cabelo preto a enquadrar os olhos e o rosto redondo. A
outra mulher, a do lado esquerdo, de idade madura incerta — rugas na testa onde
incide a luz, marcas rosadas de blush
nas maçãs do rosto, face de contornos já pouco delineados —, cabelo curto
cortado a direito, pulôver claro e um lenço atado de modo descontraído, uma
pequena pérola na orelha e um saco ao ombro, faz lembrar uma típica mulher da
cidade, de vida desafogada, num dos seus fins de semana na costa da Normandia.
Tem aquele sorriso, doce e
distante, dos pais ou professores quando são fotografados sozinhos no meio dos
jovens (um modo de dar a ver que não somos ingénuos quanto à diferença de
gerações).
Olham os quatro para a objetiva, corpos
e rostos imobilizados naquela postura consagrada desde os começos da fotografia,
para testemunhar que estiveram ali juntos, no mesmo lugar e no mesmo dia,
tomados por aquele pensamento único, que se destaca pela ausência de quaisquer
outros, que consiste apenas em «ficar bem». No verso, Trouville, março 1999.
Ela é a mulher de blush no rosto, os dois homens
de cerca de trinta anos são os seus filhos, a rapariga é a namorada do mais
velho, a do mais novo está a tirar a foto. Devido aos seus rendimentos
confortáveis, por estar há alguns anos como professora «por antiguidade», ela
pode pagar a todos este fim de semana na praia, naquele desejo de continuar a
ser a garante da felicidade material dos filhos, para compensar em cada um a
possível dor de estar vivo, pela qual ela se sente responsável uma vez que os
pôs no mundo. Decidiu fazer tudo para que, naquele quotidiano simples, eles —
que, apesar dos seus diplomas «bacplus 6», conseguem
apenas contratos a termo certo CDD, subsídios de desemprego da Assedic e
trabalhos de freelance, conforme os meses —
tenham uns dias só com música, séries americanas e jogos de vídeo, como se pudessem
continuar eternamente a viver uma existência de estudantes ou de artistas de bolsos
vazios na boémia generalizada de um tempo longínquo, tudo tão diferente da
«vida instalada» que foi a sua quando tinha a idade deles. (Não percebe se
aquela indiferença social que eles mostram sentir é real ou simulada.)
(Os Anos, pp. 162-163)
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