Friday, August 30, 2019

Prova-modelo 6


A prova-modelo é surripiada a Marina Rocha, Exame Português 12.º ano, s.l., Leya, 2019; as soluções estão a seguir à prova. (As cotações, como sabes, já não serão as que, por vezes, se veem nas margens. Passou tudo a 13 pontos, exceto o Grupo III, que vale 44.)






Soluções
PROVA-MODELO 6
GRUPO I
1. Os primeiros dois versos referem dois momentos iniciais e ba­silares dos Descobrimentos portugueses: o primeiro está rela­cionado com o uso da madeira dos «pinhais» portugueses para construir as «caravelas», meios de transporte por excelência da diáspora ultramarina; o segundo prende-se com o desejo e a vontade interiores não só dos nossos navegadores, mas de todo o povo português de então, as «ânsias» referidas no poema.
2. Estas duas estrofes são responsáveis por apresentar as personagens e o contexto da «Largada», isto é, da partida das caravelas em Belém: populares em geral, mães e espo­sas («Pátria-Mãe-Viúva») movidos pelo receio da perda dos seus entes queridos que partiam nas caravelas, nesse cais onde até a «areia» parecia mais «fria», e onde se ouviam «ge­midos» e «palavras cansadas» de quem se afligia perante o desconhecido e o perigo que a ele se associa. Há, no entan­to, que notar o «sopro viril de reação», isto é, essa força dos homens (navegadores e religiosos, porventura) que os não deixava desistir, por isso reagiam.
3. O que desencadeou o enchimento das velas foi o «sopro viril de reação / As palavras cansadas / Que se ouviram no cais dessa ilusão». Com objetividade, o que impulsionou a parti­da das naus e a iniciativa dos Descobrimentos foi a grande vontade de superação e de mudança que os portugueses sentiam relativamente ao passado, «As palavras cansadas». Apesar de todos os sacrifícios que os homens e as mulheres teriam de enfrentar, uns no mar e outros em terra, a força impulsionadora dos Descobrimentos era soberana.
4. Apesar do que está mencionado nas estrofes anteriores, «cada homem» mostra-se «firme nos seus pés», ou seja, de­terminado em seguir viagem, mesmo perante as adversida­des imaginadas. Mais ainda: cada um desses homens sente-se impelido pelo «grande sonho» de descobrir o mundo por mar.
5. Os três recursos linguísticos que estão ao serviço da carac­terização trágica de Afonso da Maia são os seguintes: uso expressivo do adjetivo na sequência «lívido, mudo, grande, espectral» (l.15) que promove a ideia de aumento não só da estatura real de Afonso, mas também a medida da sua profunda dor e vergonha causadas pelo incesto vo­luntário de Carlos; a comparação em «mais velho que o século» (l. 22) que acrescenta características de velhice a um homem não mui­to velho, mas que os desgostos, os sofrimentos e a solidão envelheceram precocemente; o uso expressivo do advérbio «solitariamente» (l. 23) que intensifica a solidão e o abandono em que Carlos deixou cair o avô, aquando da sua perdição com Maria Eduarda.
6. Afonso da Maia sabia que o neto, Carlos da Maia, mantinha uma relação íntima com Maria Eduarda, mesmo sabendo que era sua irmã. Afonso da Maia estava, por isso, assaltado por uma dor imensa («Teve um grande gesto de revolta e de dor», l.8). Caminhava lenta e pesadamente, como se aquela dor lhe pesasse os passos («passos lentos, pesados, pisavam surda­mente o tapete», ll. 13-14). Sentia-se desfeito por dentro e isso era notório na sua aparência («o avô em mangas de cami­sa, lívido, mudo, grande, espectral», ll. 14-15). Carlos, quando surpreendido por este avô profundamente ferido, apresenta-se petrificado e sente-se invadido por aquela dor que lhe atravessa a alma. A caracterização quer do espaço quer de Afonso da Maia no seu regresso deste encontro dá-nos os úl­timos indícios da tragicidade iminente («Afonso atravessou o patamar, onde a luz sobre o veludo espalhava um tom de san­gue — e os seus passos [...] lentos, abafados, e cada vez mais sumidos, como se fossem os derradeiros que devesse dar na vida», ll. 18-20). Foram mesmo os últimos passos de Afonso da Maia. Morreu fracassado e com um profundo desgosto.
7. A infância é a fase da vida humana que Pessoa ortónimo consi­dera mais interessante porque é aí que o ser humano encontra a felicidade plena. Todavia, já na idade adulta, o poeta contem­pla-a com muita nostalgia e saudade. Esse sentimento pode ser entendido de duas formas: por um lado, a recordação de momentos agradáveis dessa fase da vida suscita no sujeito poético uma intensa vontade de voltar a ser criança; por outro lado, o desejo de ser um adulto feliz como uma criança. Por exemplo, no poema «O sino da minha aldeia», o som e as ba­daladas transportam o sujeito poético para um lugar da sua infância onde foi feliz — essa recordação fá-lo sentir-se feliz e com dolorosa saudade simultaneamente. Já no poema «Ela canta, pobre ceifeira», o sujeito poético confessa «Ah! Poder ser tu, sendo eu! / Ter a tua alegre inconsciência, / E a cons­ciência disso!», ou seja, deseja simplesmente sentir, sem ra­cionalizar, como fazia quando era uma criança inocente.

GRUPO II
1. (B); 2. (C); 3. (A); 4. (A); 5. (C).
6. Sujeito simples.
7. Oração subordinada adverbial causal.

GRUPO III
Todo aquele que pensa que adquiriu todo o saber que existe e já nada mais pode aprender com a vida engana-se a si próprio. A única certeza que temos na vida é não haver certezas. Proba­bilidades, sim. Estimativas e planos pessoais, também. Porém, nunca estamos preparados para o futuro, que é naturalmente inesperado e precisa de ser incorporado de alguma maneira na nossa vida. E como lidamos com esse futuro que se vai atua­lizando a cada segundo, minuto, a cada dia? De acordo com o acumular das nossas experiências. Eis a razão que explica o fac­to de estarmos sempre a aprender. Consideremos um exemplo bastante próximo daqueles que estão em idade escolar.
Qualquer jovem maior de idade pretende tirar a carta de condu­ção de carro e eventualmente de mota. Todos sabemos que para o conseguir é necessário fazer e ter sucesso em dois exames: o exame de código (teórico, sobre regras e sinais de trânsito) e o exame de condução (prático, conduzindo o respetivo veícu­lo). Ora, quando o jovem se prepara para o exame de código, irá forçosamente usar a sua experiência de estudo e resolução de testes que adquiriu durante o período escolar, o qual está ine­vitavelmente preenchido de momentos de avaliações formais. Neste âmbito, esse/essa jovem já se conhece minimamente e sabe qual é o seu próprio ritmo de estudo e o melhor método para compreender e memorizar conteúdos, preparando o su­cesso na obtenção do resultado final.
Outro exemplo categoricamente diferente — o da vida de adulto em sociedade. Qualquer ser humano adulto tem de enfrentar as adversidades da vida e, não raro, os desafios da convivência so­cial — estou a referir-me a personalidades e feitios das pessoas que perpassam a nossa vida. Todos temos as nossas peculia­ridades, defeitos, enfim, as nossas idiossincrasias. Sendo isto verdade, como reagir, como lidar com tudo isto? Cada caso é específico, mas o adulto já acumula experiência social designa­damente porque já foi criança e conviveu com os seus pares no infantário, com os seus colegas na(s) escola(s) do ensino básico e secundário, eventualmente na faculdade. Estes contextos es­colares revestem-se dos seus pequenos mundos, que mais não são do que sociedades/comunidades (se assim lhes podemos chamar) em que a pessoa cresce, vive, aprende e amadurece. Tal facto permitir-lhe-á acumular experiência para continuar a viver em sociedade na idade adulta e na velhice - por exemplo, nos locais de trabalho, na família que for construindo, nos locais de diversão e de culto, para citar apenas alguns contextos.
Em conclusão, diz o povo que o saber não ocupa lugar (saber livresco e saber empírico) e a sabedoria popular costuma ser ajuizada e verdadeira.