Prova-modelo 6
A prova-modelo é
surripiada a Marina Rocha, Exame Português 12.º ano, s.l., Leya, 2019;
as soluções estão a seguir à prova. (As cotações, como sabes, já não serão as que, por vezes, se
veem nas margens. Passou tudo a 13 pontos, exceto o Grupo III, que vale 44.)
Soluções
PROVA-MODELO 6
GRUPO I
1. Os primeiros dois versos referem dois
momentos iniciais e basilares dos Descobrimentos portugueses: o primeiro está
relacionado com o uso da madeira dos «pinhais» portugueses para construir as
«caravelas», meios de transporte por excelência da diáspora ultramarina; o
segundo prende-se com o desejo e a vontade interiores não só dos nossos
navegadores, mas de todo o povo português de então, as «ânsias» referidas no
poema.
2. Estas duas estrofes são responsáveis por
apresentar as personagens e o contexto da «Largada», isto é, da partida das
caravelas em Belém: populares em geral, mães e esposas («Pátria-Mãe-Viúva»)
movidos pelo receio da perda dos seus entes queridos que partiam nas caravelas,
nesse cais onde até a «areia» parecia mais «fria», e onde se ouviam «gemidos»
e «palavras cansadas» de quem se afligia perante o desconhecido e o perigo que
a ele se associa. Há, no entanto, que notar o «sopro viril de reação», isto é,
essa força dos homens (navegadores e religiosos, porventura) que os não deixava
desistir, por isso reagiam.
3. O que desencadeou o enchimento das velas
foi o «sopro viril de reação / As palavras cansadas / Que se ouviram no cais dessa
ilusão». Com objetividade, o que impulsionou a partida das naus e a iniciativa
dos Descobrimentos foi a grande vontade de superação e de mudança que os
portugueses sentiam relativamente ao passado, «As palavras cansadas». Apesar de
todos os sacrifícios que os homens e as mulheres teriam de enfrentar, uns no
mar e outros em terra, a força impulsionadora dos Descobrimentos era soberana.
4. Apesar do que está mencionado nas
estrofes anteriores, «cada homem» mostra-se «firme nos seus pés», ou seja, determinado
em seguir viagem, mesmo perante as adversidades imaginadas. Mais ainda: cada
um desses homens sente-se impelido pelo «grande sonho» de descobrir o mundo por
mar.
5. Os três recursos linguísticos que estão
ao serviço da caracterização trágica de Afonso da Maia são os seguintes: uso
expressivo do adjetivo na sequência «lívido, mudo, grande, espectral» (l.15)
que promove a ideia de aumento não só da estatura real de Afonso, mas também a
medida da sua profunda dor e vergonha causadas pelo incesto voluntário de
Carlos; a comparação em «mais velho que o século» (l. 22) que acrescenta
características de velhice a um homem não muito velho, mas que os desgostos,
os sofrimentos e a solidão envelheceram precocemente; o uso expressivo do
advérbio «solitariamente» (l. 23) que intensifica a solidão e o abandono em que
Carlos deixou cair o avô, aquando da sua perdição com Maria Eduarda.
6. Afonso da Maia sabia que o neto, Carlos
da Maia, mantinha uma relação íntima com Maria Eduarda, mesmo sabendo que era
sua irmã. Afonso da Maia estava, por isso, assaltado por uma dor imensa («Teve
um grande gesto de revolta e de dor», l.8). Caminhava lenta e pesadamente, como
se aquela dor lhe pesasse os passos («passos lentos, pesados, pisavam surdamente
o tapete», ll. 13-14). Sentia-se desfeito por dentro e isso era notório na sua
aparência («o avô em mangas de camisa, lívido, mudo, grande, espectral», ll.
14-15). Carlos, quando surpreendido por este avô profundamente ferido, apresenta-se
petrificado e sente-se invadido por aquela dor que lhe atravessa a alma. A
caracterização quer do espaço quer de Afonso da Maia no seu regresso deste
encontro dá-nos os últimos indícios da tragicidade iminente («Afonso
atravessou o patamar, onde a luz sobre o veludo espalhava um tom de sangue — e
os seus passos [...] lentos, abafados, e cada vez mais sumidos, como se fossem
os derradeiros que devesse dar na vida», ll. 18-20). Foram mesmo os últimos
passos de Afonso da Maia. Morreu fracassado e com um profundo desgosto.
7. A infância é a fase da vida humana que
Pessoa ortónimo considera mais interessante porque é aí que o ser humano
encontra a felicidade plena. Todavia, já na idade adulta, o poeta contempla-a
com muita nostalgia e saudade. Esse sentimento pode ser entendido de duas
formas: por um lado, a recordação de momentos agradáveis dessa fase da vida
suscita no sujeito poético uma intensa vontade de voltar a ser criança; por
outro lado, o desejo de ser um adulto feliz como uma criança. Por exemplo, no
poema «O sino da minha aldeia», o som e as badaladas transportam o sujeito
poético para um lugar da sua infância onde foi feliz — essa recordação fá-lo
sentir-se feliz e com dolorosa saudade simultaneamente. Já no poema «Ela canta,
pobre ceifeira», o sujeito poético confessa «Ah! Poder ser tu, sendo eu! / Ter
a tua alegre inconsciência, / E a consciência disso!», ou seja, deseja
simplesmente sentir, sem racionalizar, como fazia quando era uma criança
inocente.
GRUPO II
1. (B); 2. (C); 3. (A); 4.
(A); 5. (C).
6. Sujeito simples.
7. Oração subordinada adverbial causal.
GRUPO III
Todo aquele que
pensa que adquiriu todo o saber que existe e já nada mais pode aprender com a
vida engana-se a si próprio. A única certeza que temos na vida é não haver
certezas. Probabilidades, sim. Estimativas e planos pessoais, também. Porém,
nunca estamos preparados para o futuro, que é naturalmente inesperado e precisa
de ser incorporado de alguma maneira na nossa vida. E como lidamos com esse
futuro que se vai atualizando a cada segundo, minuto, a cada dia? De acordo
com o acumular das nossas experiências. Eis a razão que explica o facto de
estarmos sempre a aprender. Consideremos um exemplo bastante próximo daqueles
que estão em idade escolar.
Qualquer jovem
maior de idade pretende tirar a carta de condução de carro e eventualmente de
mota. Todos sabemos que para o conseguir é necessário fazer e ter sucesso em
dois exames: o exame de código (teórico, sobre regras e sinais de trânsito) e o
exame de condução (prático, conduzindo o respetivo veículo). Ora, quando o
jovem se prepara para o exame de código, irá forçosamente usar a sua
experiência de estudo e resolução de testes que adquiriu durante o período
escolar, o qual está inevitavelmente preenchido de momentos de avaliações
formais. Neste âmbito, esse/essa jovem já se conhece minimamente e sabe qual é
o seu próprio ritmo de estudo e o melhor método para compreender e memorizar
conteúdos, preparando o sucesso na obtenção do resultado final.
Outro exemplo
categoricamente diferente — o da vida de adulto em sociedade. Qualquer ser
humano adulto tem de enfrentar as adversidades da vida e, não raro, os desafios
da convivência social — estou a referir-me a personalidades e feitios das
pessoas que perpassam a nossa vida. Todos temos as nossas peculiaridades, defeitos,
enfim, as nossas idiossincrasias. Sendo isto verdade, como reagir, como lidar
com tudo isto? Cada caso é específico, mas o adulto já acumula experiência
social designadamente porque já foi criança e conviveu com os seus pares no
infantário, com os seus colegas na(s) escola(s) do ensino básico e secundário,
eventualmente na faculdade. Estes contextos escolares revestem-se dos seus
pequenos mundos, que mais não são do que sociedades/comunidades (se assim lhes
podemos chamar) em que a pessoa cresce, vive, aprende e amadurece. Tal facto
permitir-lhe-á acumular experiência para continuar a viver em sociedade na
idade adulta e na velhice - por exemplo, nos locais de trabalho, na família que
for construindo, nos locais de diversão e de culto, para citar apenas alguns
contextos.
Em conclusão, diz o
povo que o saber não ocupa
lugar (saber livresco e saber
empírico) e a sabedoria popular costuma ser ajuizada e verdadeira.
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