Prova-modelo 5
A prova-modelo é
surripiada a Marina Rocha, Exame Português 12.º ano, s.l., Leya, 2019;
as soluções estão a seguir à prova. (As cotações, como sabes, já não serão as que, por vezes, se
veem nas margens. Passou tudo a 13 pontos, exceto o Grupo III, que vale 44.)
Soluções
PROVA-MODELO 5
GRUPO I
1. 0 poema insere-se na «Primeira Parte —
Brasão» na globalidade da obra Mensagem, porque o conteúdo de que trata incide
sobre D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal,
contribuindo, desta forma, para apresentar a História de Portugal, desde a sua
fundação, ainda como Condado Portucalense.
2. Nos versos B e 4, o sujeito poético pede
a D. Teresa («Tareja») que reze por nós e nos proteja, partindo do pressuposto
de que o pronome pessoal «nós» se refere aos portugueses contemporâneos de
Fernando Pessoa. Por outro lado, o pedido é feito a esta mulher, considerada
«mãe de reis e avó de impérios», uma vez que ela foi a mãe do primeiro rei de
Portugal e, portanto, «avó», ou seja, antepassada dos reis que se lhe
seguiram, nomeadamente os responsáveis pelas Descobertas (período do império
português ultramarino). Ao fazer este pedido à nossa antepassada, o sujeito
poético pede ajuda para dar vida a um novo Portugal imperial, a que designará
de «Quinto Império».
3. Os versos 11 e 12 referem-se, em
primeira instância, ao facto de D. Afonso Henriques ter envelhecido e perdido
toda a determinação e coragem da sua juventude. Naturalmente que a referência
ao rei simboliza a nação que ele fundou — Portugal. Assim, tal como o rei se
deixou ultrapassar e vencer pelos anos, também Portugal «envelheceu», metaforicamente.
Por outras palavras, os Portugueses perderam a coragem e o esplendor que os
caracterizavam na época dos Descobrimentos; hoje, Portugal é «nevoeiro»,
necessitado de renovado vigor intelectual ou espiritual.
4. O sujeito poético mostra, na última estrofe,
que, apesar do que referiu anteriormente sobre o envelhecimento (simbólico) da
nação portuguesa, a verdade é que «todo vivo é eterno infante», ou seja, tudo o
que tem vida dentro de si tem jovialidade (conotação associada a um «infante»)
e potencial para recriar o passado num futuro ainda melhor («De novo o cria!»).
Assim, podemos caracterizar este sujeito poético como um ser dotado de uma
esperança que se pode revelar poderosa para a reconstrução de um novo Portugal,
de uma nação novamente esplendorosa.
5. Neste momento de reflexão, Camões exorta
os navegadores portugueses a controlarem os seus desejos enraizados na
«cobiça», na ambição desmedida e na indigna luta pelo exercício de poder sobre
os outros. 0 poeta acrescenta ainda que as «honras» (fama heroica) são «vãs»
(vazias de valor e sentido) e o «ouro puro» em nada beneficia o espírito e a
virtude moral de cada ser humano.
6. No verso «E ponde na cobiça um freio
duro», Camões recorre à metáfora para explicar que, tal como um freio é o
objeto que comanda os movimentos de um cavalo, controlando o seu comportamento,
também o ser humano (simbolizado nos navegadores portugueses) deve usar a razão
e o bom senso para controlar os impulsos desmesurados dos seus interesses e
das suas ambições.
7. No
capítulo V do seu sermão, Padre António Vieira refere-se a esta categoria de
peixes denominada «pegadores» para os repreender particularmente pelas suas
características literais, típicas do próprio peixe, e alegóricas,
materializando as características humanas.
Como o próprio nome
indica, este peixe pequeno «pega-se» aos peixes grandes, escolhendo a zona do
seu dorso, para, assim, se alimentar do que sobra da sua refeição, sem correr o
risco de ser comido por eles, pois estes não se podem dobrar.
Desta forma, Vieira
critica a mesma atitude nos humanos, designadamente aqueles que, sendo pequenos
em importância e valores (pobres, fracos, medrosos), se juntam corruptamente
aos grandes (ricos e poderosos) para se sustentarem à sua custa e sem trabalho
meritório.
GRUPO II
1. (D); 2.
(B); 3. (D); 4.(C); 5.
(B).
6. Dêixis temporal e espacial.
7. Valor explicativo.
GRUPO III
É relativamente
consensual a ideia de que, se conhecemos o passado histórico do nosso país,
muito melhor perceberemos o contexto de vida presente.
Assim como um ser
humano adulto é fruto de todas as experiências e contextos da sua história
pessoal, também um país explica a sua contemporaneidade por meio de episódios
e situações que fazem parte de anos, séculos e milénios passados. Portugal não
é exceção. Seguem-se dois períodos que exemplificam claramente este ponto de
vista.
Primeiro, um dos
que Teolinda Gersão refere na citação — o dos Descobrimentos. Todos deveríamos
saber que a diáspora ultramarina dos séculos XV e XVI não aconteceu por acaso,
ou seja, o povo português dispunha de condições geográficas, náuticas,
astronómicas, políticas e sociais muito favoráveis. Com mais de setecentos
quilómetros de costa a oeste e a sul, e ladeados a este e norte por uma nação
irmã, mas eterna rival (Espanha), a Portugal convinha arriscar a expansão por
mar, a navegação. Foi o que aconteceu. Desta forma, quer a coroa (D. Afonso V,
D. João II, D. Manuel I) quer figuras importantes como o Infante D. Henrique
tinham conhecimentos políticos e técnicos que davam a Portugal grandes
vantagens a todos os níveis. Posto isto, é necessário ao cidadão português dos
séculos XX e XXI perceber este contexto para entender, por exemplo, a presença
portuguesa nos vários continentes.
Em segundo lugar, e
não menos importante, o acontecimento histórico que celebramos há 45 anos — o
25 de Abril de 1974. De facto, há ainda muitos portugueses vivos e de boa saúde
que experienciaram esse momento em Lisboa, a partir do Quartel do Carmo ou do
Terreiro do Paço ou ainda dos restantes pontos do país continental ou insular.
Todavia, os jovens precisam de perceber o anterior contexto salazarista e
marcelista de conservadorismo (político, religioso e cultural) para entender a
necessidade de liberdade e até a génese dos partidos políticos atualmente com
assento parlamentar. Além disso, precisam desse conhecimento para compreender a
arte, a música e a literatura portuguesa.
Em suma, estes dois
casos são exemplificativos de como o passado ajuda a perceber o presente e da
importância desses conhecimentos para a formação cultural do indivíduo.
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