Friday, August 30, 2019

Prova-modelo 5


A prova-modelo é surripiada a Marina Rocha, Exame Português 12.º ano, s.l., Leya, 2019; as soluções estão a seguir à prova. (As cotações, como sabes, já não serão as que, por vezes, se veem nas margens. Passou tudo a 13 pontos, exceto o Grupo III, que vale 44.)





Soluções
PROVA-MODELO 5
GRUPO I
1. 0 poema insere-se na «Primeira Parte — Brasão» na globa­lidade da obra Mensagem, porque o conteúdo de que trata incide sobre D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, contribuindo, desta forma, para apresentar a História de Portugal, desde a sua fundação, ainda como Con­dado Portucalense.
2. Nos versos B e 4, o sujeito poético pede a D. Teresa («Tareja») que reze por nós e nos proteja, partindo do pressuposto de que o pronome pessoal «nós» se refere aos portugueses contem­porâneos de Fernando Pessoa. Por outro lado, o pedido é feito a esta mulher, considerada «mãe de reis e avó de impérios», uma vez que ela foi a mãe do primeiro rei de Portugal e, portan­to, «avó», ou seja, antepassada dos reis que se lhe seguiram, nomeadamente os responsáveis pelas Descobertas (período do império português ultramarino). Ao fazer este pedido à nos­sa antepassada, o sujeito poético pede ajuda para dar vida a um novo Portugal imperial, a que designará de «Quinto Império».
3. Os versos 11 e 12 referem-se, em primeira instância, ao fac­to de D. Afonso Henriques ter envelhecido e perdido toda a determinação e coragem da sua juventude. Naturalmente que a referência ao rei simboliza a nação que ele fundou — Portugal. Assim, tal como o rei se deixou ultrapassar e ven­cer pelos anos, também Portugal «envelheceu», metafori­camente. Por outras palavras, os Portugueses perderam a coragem e o esplendor que os caracterizavam na época dos Descobrimentos; hoje, Portugal é «nevoeiro», necessitado de renovado vigor intelectual ou espiritual.
4. O sujeito poético mostra, na última estrofe, que, apesar do que referiu anteriormente sobre o envelhecimento (simbóli­co) da nação portuguesa, a verdade é que «todo vivo é eterno infante», ou seja, tudo o que tem vida dentro de si tem jo­vialidade (conotação associada a um «infante») e potencial para recriar o passado num futuro ainda melhor («De novo o cria!»). Assim, podemos caracterizar este sujeito poético como um ser dotado de uma esperança que se pode revelar poderosa para a reconstrução de um novo Portugal, de uma nação novamente esplendorosa.
5. Neste momento de reflexão, Camões exorta os navegadores portugueses a controlarem os seus desejos enraizados na «cobiça», na ambição desmedida e na indigna luta pelo exer­cício de poder sobre os outros. 0 poeta acrescenta ainda que as «honras» (fama heroica) são «vãs» (vazias de valor e sen­tido) e o «ouro puro» em nada beneficia o espírito e a virtude moral de cada ser humano.
6. No verso «E ponde na cobiça um freio duro», Camões recorre à metáfora para explicar que, tal como um freio é o objeto que comanda os movimentos de um cavalo, controlando o seu comportamento, também o ser humano (simbolizado nos navegadores portugueses) deve usar a razão e o bom senso para controlar os impulsos desmesurados dos seus interes­ses e das suas ambições.
7.         No capítulo V do seu sermão, Padre António Vieira refere-se a esta categoria de peixes denominada «pegadores» para os re­preender particularmente pelas suas características literais, típicas do próprio peixe, e alegóricas, materializando as ca­racterísticas humanas.
Como o próprio nome indica, este pei­xe pequeno «pega-se» aos peixes grandes, escolhendo a zona do seu dorso, para, assim, se alimentar do que sobra da sua refeição, sem correr o risco de ser comido por eles, pois es­tes não se podem dobrar.
Desta forma, Vieira critica a mesma atitude nos humanos, designadamente aqueles que, sendo pe­quenos em importância e valores (pobres, fracos, medrosos), se juntam corruptamente aos grandes (ricos e poderosos) para se sustentarem à sua custa e sem trabalho meritório.

GRUPO II
1. (D); 2. (B); 3. (D); 4.(C); 5. (B).
6. Dêixis temporal e espacial.
7. Valor explicativo.

GRUPO III
É relativamente consensual a ideia de que, se conhecemos o passado histórico do nosso país, muito melhor perceberemos o contexto de vida presente.
Assim como um ser humano adulto é fruto de todas as experiên­cias e contextos da sua história pessoal, também um país expli­ca a sua contemporaneidade por meio de episódios e situações que fazem parte de anos, séculos e milénios passados. Portugal não é exceção. Seguem-se dois períodos que exemplificam cla­ramente este ponto de vista.
Primeiro, um dos que Teolinda Gersão refere na citação — o dos Descobrimentos. Todos deveríamos saber que a diáspora ultra­marina dos séculos XV e XVI não aconteceu por acaso, ou seja, o povo português dispunha de condições geográficas, náuticas, astronómicas, políticas e sociais muito favoráveis. Com mais de setecentos quilómetros de costa a oeste e a sul, e ladeados a este e norte por uma nação irmã, mas eterna rival (Espanha), a Portugal convinha arriscar a expansão por mar, a navegação. Foi o que aconteceu. Desta forma, quer a coroa (D. Afonso V, D. João II, D. Manuel I) quer figuras importantes como o Infan­te D. Henrique tinham conhecimentos políticos e técnicos que davam a Portugal grandes vantagens a todos os níveis. Posto isto, é necessário ao cidadão português dos séculos XX e XXI perceber este contexto para entender, por exemplo, a presença portuguesa nos vários continentes.
Em segundo lugar, e não menos importante, o acontecimento histórico que celebramos há 45 anos — o 25 de Abril de 1974. De facto, há ainda muitos portugueses vivos e de boa saúde que experienciaram esse momento em Lisboa, a partir do Quartel do Carmo ou do Terreiro do Paço ou ainda dos restantes pontos do país continental ou insular. Todavia, os jovens precisam de perce­ber o anterior contexto salazarista e marcelista de conservadoris­mo (político, religioso e cultural) para entender a necessidade de liberdade e até a génese dos partidos políticos atualmente com assento parlamentar. Além disso, precisam desse conhecimento para compreender a arte, a música e a literatura portuguesa.
Em suma, estes dois casos são exemplificativos de como o pas­sado ajuda a perceber o presente e da importância desses co­nhecimentos para a formação cultural do indivíduo.