Prova-modelo 4
A prova-modelo é
surripiada a Marina Rocha, Exame Português 12.º ano, s.l., Leya, 2019;
as soluções estão a seguir à prova. No entanto, queria lembrar-lhes que não poderiam sair em
exame itens como os da parte B e C, a não ser que fosse dado como alternativa
um equivalente da Ilustre Casa de Ramires.
Neste ponto, o modelo de prova não é fiável. (As cotações, como sabes, já não serão
as que, por vezes, se veem nas margens. Passou tudo a 13 pontos, exceto o Grupo
III, que vale 44.)
Soluções
PROVA-MODELO 4
GRUPO I
1. O sujeito poético serve-se das estações
do ano para se referir às quatro fases da vida, que não se sucedem exatamente
pela mesma ordem das estações do ano indicadas no poema: o outono remete para o
envelhecimento; o inverno para a frigidez da morte; a primavera para o
(re)nascimento; e o «estio» para a idade adulta, a fase madura da vida do ser
humano.
2. Nestes versos, Ricardo Reis aconselha a
amada, Lídia, a considerar e a aproveitar o momento que é efémero (breve e
passageiro). Assim, enquanto o momento presente não desaparece, é passível de
ser aproveitado e vivido plenamente. Estamos, portanto, em presença do conceito
do
carpe diem, que sugere que aproveitemos o dia porque
ele é curto e breve, e da filosofia de Epicuro, que aconselha a aproveitar com
prazer e mansidão os momentos passageiros da vida.
3. Nestes versos, o sujeito poético associa
inesperadamente a estação do ano «primavera» a outras pessoas que não ele
próprio e Lídia. Os versos traduzem que «a futura primavera» não lhes pertence,
apenas o presente, «o estio», que é a fase da vida em que se encontram,
importa. Desta forma, evidencia a efemeridade da vida e reforça a ideia
subjacente à filosofia epicurista.
4. Podemos elencar três atitudes de Pedro
da Maia, apresentadas neste excerto, que evidenciam o seu sentimentalismo
exagerado e trágico. A primeira é a sua atitude inerte e cega de se sentar na
varanda do quarto num dia de tempestade («recebendo na face o vento, a água,
toda a invernia agreste», l. 5). A segunda é a atitude de seguir «maquinalmente
o pai à livraria», sem uso da razão, nem a noção de que o seu pai está ali
para o apoiar e ajudar. A terceira é a de evitar conversar com o pai, facto que
lhe poderia ter iluminado a mente enegrecida pelo desgosto de ter sido traído e
abandonado pela sua mulher.
5. O espaço físico descrito está envolto em
escuridão, humidade e frigidez pelo facto de a porta da varanda estar aberta e
deixar o quarto sujeito à intempérie. Estas características assumem-se como
simbólicas porque também correspondem à caracterização do espaço psicológico,
deixando antever qualquer coisa de trágico que está para acontecer (o
subsequente suicídio de Pedro).
6. O sujeito poético enamorado do poema de
Ricardo Reis encontra-se calmo, ciente da efemeridade da vida e do seu amor a
Lídia, a quem aconselha a reservar «um pensamento (...) / Senão para o que fica
do que se passa», isto é, a memória do essencial desse amor vivido. Pelo
contrário, em Pedro da Maia nada há de sereno na vivência do sentimento amoroso
e muito menos existe vontade de dialogar (no caso, com o pai, Afonso da Maia).
Pedro da Maia é um enamorado sofredor, desesperado e que comete suicídio em
nome de uma paixão doentia. O que no primeiro é tranquilidade e razão, no
segundo é desequilíbrio e emoção fatal.
7. Pedro
da Maia e Carlos da Maia têm perspetivações do amor totalmente diferentes, tal
como se verificou quer pelas atitudes relativamente à mulher amada quer pelo
desfecho da respetiva relação.
Pedro era um
enamorado inexperiente, que se apaixonou cegamente por uma mulher
sentimentalmente mais madura e manipuladora. Entregou-se a ela, tornando-se
dependente. Dessa dependência surge a incapacidade de lidar com uma traição,
com o adultério cometido por Maria de Monforte com o napolitano Tancredo. Daqui
resulta o seu fechamento gradual e o consequente suicídio.
Pelo contrário, o
filho, Carlos, foi tendo as suas experiências amorosas na primeira juventude,
na formatura e depois os seus flirts (com
a Condessa de Gouvarinho, por exemplo), o que lhe trouxe mais maturidade. E
verdade que tal maturidade, conjugada com uma educação de caráter cavalheiresco
e racional, não o impediu de cometer incesto voluntário com Maria Eduarda (que
amou intensamente). A grande diferença relativamente ao pai revela-se no seu
modo de enfrentar o problema: Carlos releva, perdoa- -se, faz uma grande e
demorada viagem e recomeça a sua vida.
O desfecho de cada
uma destas personagens evidencia, de forma inequívoca, o sentimentalismo fatal
de Pedro da Maia que contrasta com o racionalismo pragmático de Carlos da Maia.
GRUPO
II
1. (A); 2.
(C); 3. (D); 4. (A); 5.
(A).
6. Oração subordinada substantiva
completiva.
7. Sujeito (simples), complemento direto e
predicativo do sujeito.
GRUPO
III
As crianças da
atualidade são o espelho do que a economia, a ciência, a tecnologia e as
tendências culturais lhes oferecem. Por isso mesmo, não é de admirar que, com o
avanço da tecnologia de ponta, os hábitos diários de (con)vivência se vão moldando
ao contexto.
É verdade, por um
lado, que o manuseamento de instrumentos tecnológicos — brinquedos para bebés,
crianças de colo e crianças em idade escolar — estimula o desenvolvimento
intelectual, cognitivo e até sensorial. Não é motivo de espanto, nem sinal de
riqueza familiar, ver uma criança com um tablet,
um telemóvel, um iPhone ou uma PS4. Com estes aparelhos, as crianças embrenham-se em jogos de entretenimento, de estratégia, de aprendizagem de línguas
estrangeiras, entre outros temas. Quando a utilização destes aparelhos
tecnológicos se torna excessiva, surgem efeitos colaterais prejudiciais à
saúde física e psicológica dos utilizadores, tais como: o isolamento; o
individualismo; o sedentarismo; entre outros. E neste sentido que as crianças
de hoje optam menos pelas brincadeiras ao ar livre (nos parques, nas ruas, na
praia) do que pelas brincadeiras virtuais e tecnológicas.
Se as crianças não
brincam ao ar livre, não pulam, não caem no chão, não correm, não se sujam, não
experimentam o mundo, podem desenvolver sérios problemas de saúde como, por
exemplo, atrofiamento muscular e obesidade.
Por outro lado, só
as brincadeiras ao ar livre combatem o isolamento inerente à prática de jogos
e promovem o desenvolvimento de competências comunicativas e sociais, que
resultará em bem-estar psicológico e emocional.
Torna-se, assim,
urgente proporcionar às crianças de hoje um maior equilíbrio na utilização das
tecnologias para que assim possam também usufruir dos benefícios das atividades
lúdicas mais tradicionais e em comunhão com a Natureza.
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