Friday, August 30, 2019

Prova-modelo 4


A prova-modelo é surripiada a Marina Rocha, Exame Português 12.º ano, s.l., Leya, 2019; as soluções estão a seguir à prova. No entanto, queria lembrar-lhes que não poderiam sair em exame itens como os da parte B e C, a não ser que fosse dado como alternativa um equivalente da Ilustre Casa de Ramires. Neste ponto, o modelo de prova não é fiável. (As cotações, como sabes, já não serão as que, por vezes, se veem nas margens. Passou tudo a 13 pontos, exceto o Grupo III, que vale 44.)






Soluções
PROVA-MODELO 4
GRUPO I
1. O sujeito poético serve-se das estações do ano para se refe­rir às quatro fases da vida, que não se sucedem exatamente pela mesma ordem das estações do ano indicadas no poema: o outono remete para o envelhecimento; o inverno para a fri­gidez da morte; a primavera para o (re)nascimento; e o «es­tio» para a idade adulta, a fase madura da vida do ser humano.
2. Nestes versos, Ricardo Reis aconselha a amada, Lídia, a con­siderar e a aproveitar o momento que é efémero (breve e passageiro). Assim, enquanto o momento presente não de­saparece, é passível de ser aproveitado e vivido plenamente. Estamos, portanto, em presença do conceito do carpe diem, que sugere que aproveitemos o dia porque ele é curto e bre­ve, e da filosofia de Epicuro, que aconselha a aproveitar com prazer e mansidão os momentos passageiros da vida.
3. Nestes versos, o sujeito poético associa inesperadamente a es­tação do ano «primavera» a outras pessoas que não ele próprio e Lídia. Os versos traduzem que «a futura primavera» não lhes pertence, apenas o presente, «o estio», que é a fase da vida em que se encontram, importa. Desta forma, evidencia a efemeri­dade da vida e reforça a ideia subjacente à filosofia epicurista.
4. Podemos elencar três atitudes de Pedro da Maia, apresen­tadas neste excerto, que evidenciam o seu sentimentalismo exagerado e trágico. A primeira é a sua atitude inerte e cega de se sentar na varanda do quarto num dia de tempestade («rece­bendo na face o vento, a água, toda a invernia agreste», l. 5). A segunda é a atitude de seguir «maquinalmente o pai à livra­ria», sem uso da razão, nem a noção de que o seu pai está ali para o apoiar e ajudar. A terceira é a de evitar conversar com o pai, facto que lhe poderia ter iluminado a mente enegrecida pelo desgosto de ter sido traído e abandonado pela sua mulher.
5. O espaço físico descrito está envolto em escuridão, humida­de e frigidez pelo facto de a porta da varanda estar aberta e deixar o quarto sujeito à intempérie. Estas características assumem-se como simbólicas porque também correspon­dem à caracterização do espaço psicológico, deixando an­tever qualquer coisa de trágico que está para acontecer (o subsequente suicídio de Pedro).
6. O sujeito poético enamorado do poema de Ricardo Reis encontra-se calmo, ciente da efemeridade da vida e do seu amor a Lídia, a quem aconselha a reservar «um pensamento (...) / Senão para o que fica do que se passa», isto é, a memória do essencial desse amor vivido. Pelo contrário, em Pedro da Maia nada há de sereno na vivência do sentimento amoroso e muito menos existe vontade de dialogar (no caso, com o pai, Afonso da Maia). Pedro da Maia é um enamorado sofredor, desespe­rado e que comete suicídio em nome de uma paixão doentia. O que no primeiro é tranquilidade e razão, no segundo é de­sequilíbrio e emoção fatal.
7.         Pedro da Maia e Carlos da Maia têm perspetivações do amor totalmente diferentes, tal como se verificou quer pelas ati­tudes relativamente à mulher amada quer pelo desfecho da respetiva relação.
Pedro era um enamorado inexperiente, que se apaixonou ce­gamente por uma mulher sentimentalmente mais madura e manipuladora. Entregou-se a ela, tornando-se dependente. Dessa dependência surge a incapacidade de lidar com uma traição, com o adultério cometido por Maria de Monforte com o napolitano Tancredo. Daqui resulta o seu fechamento gradual e o consequente suicídio.
Pelo contrário, o filho, Carlos, foi tendo as suas experiências amo­rosas na primeira juventude, na formatura e depois os seus flirts (com a Condessa de Gouvarinho, por exemplo), o que lhe trouxe mais maturidade. E verdade que tal maturidade, conjugada com uma educação de caráter cavalheiresco e racional, não o impediu de cometer incesto voluntário com Maria Eduarda (que amou in­tensamente). A grande diferença relativamente ao pai revela-se no seu modo de enfrentar o problema: Carlos releva, perdoa- -se, faz uma grande e demorada viagem e recomeça a sua vida.
O desfecho de cada uma destas personagens evidencia, de for­ma inequívoca, o sentimentalismo fatal de Pedro da Maia que contrasta com o racionalismo pragmático de Carlos da Maia.

GRUPO II
1. (A); 2. (C); 3. (D); 4. (A); 5. (A).
6. Oração subordinada substantiva completiva.
7. Sujeito (simples), complemento direto e predicativo do su­jeito.

GRUPO III
As crianças da atualidade são o espelho do que a economia, a ciência, a tecnologia e as tendências culturais lhes oferecem. Por isso mesmo, não é de admirar que, com o avanço da tecno­logia de ponta, os hábitos diários de (con)vivência se vão mol­dando ao contexto.
É verdade, por um lado, que o manuseamento de instrumentos tecnológicos — brinquedos para bebés, crianças de colo e crian­ças em idade escolar — estimula o desenvolvimento intelectual, cognitivo e até sensorial. Não é motivo de espanto, nem sinal de riqueza familiar, ver uma criança com um tablet, um telemóvel, um iPhone ou uma PS4. Com estes aparelhos, as crianças embrenham-se em jogos de entretenimento, de estratégia, de aprendizagem de línguas estrangeiras, entre outros temas. Quando a utilização destes aparelhos tecnológicos se torna excessiva, surgem efei­tos colaterais prejudiciais à saúde física e psicológica dos utiliza­dores, tais como: o isolamento; o individualismo; o sedentarismo; entre outros. E neste sentido que as crianças de hoje optam me­nos pelas brincadeiras ao ar livre (nos parques, nas ruas, na praia) do que pelas brincadeiras virtuais e tecnológicas.
Se as crianças não brincam ao ar livre, não pulam, não caem no chão, não correm, não se sujam, não experimentam o mundo, po­dem desenvolver sérios problemas de saúde como, por exemplo, atrofiamento muscular e obesidade.
Por outro lado, só as brincadeiras ao ar livre combatem o iso­lamento inerente à prática de jogos e promovem o desenvolvi­mento de competências comunicativas e sociais, que resultará em bem-estar psicológico e emocional.
Torna-se, assim, urgente proporcionar às crianças de hoje um maior equilíbrio na utilização das tecnologias para que assim possam também usufruir dos benefícios das atividades lúdicas mais tradicionais e em comunhão com a Natureza.