Friday, August 30, 2019

Prova-modelo 1


A prova-modelo é surripiada a Marina Rocha, Exame Português 12.º ano, s.l., Leya, 2019; as soluções estão a seguir à prova. (As cotações, como sabes, já não serão as que, por vezes, se veem nas margens. Passou tudo a 13 pontos, exceto o Grupo III, que vale 44.) Nas soluções, não me agrada a organização da resposta 7 (falta um parágrafo de introdução; margens dos parágrafos também faltam); nem a do Grupo III (creio que o primeiro e segundo parágrafos podiam ser um só, subdividindo-se o atual terceiro — será lapso do original que eu reproduzi; dá ideia de que adota uma resposta em que aparecem primeiro os argumentos e, depois, os respetivos exemplos, quando me parece mais apropriado cumprir a sequência «introdução / argumento + exemplo(s) / argumento + exemplo(s) / conclusão»).







Soluções
PROVA-MODELO 1
GRUPO I —A
1. De acordo com a primeira estrofe, o sujeito poético prepara-se para a leitura do Livro de Cesário Verde de duas formas: por um lado, escolhe um momento calmo do dia, o «entardecer» (v. 1), no qual toda a agitação típica do dia se esvai e se dilui num contexto de calma e serenidade; por outro, posiciona-se à «janela» (v. 1) que lhe dá vista sobre os «campos em frente» (v. 2), paisagem propiciadora da leitura e tão cara a Caeiro, poeta da Natureza por excelência.
2. O poema mostra, em vários momentos, que o sujeito poético aprecia a Natureza. Na primeira estrofe, deparamo-nos com um leitor que usufrui da Natureza campestre e do entardecer. Seguidamente, através da leitura do Livro de Cesário Verde, o sujeito poético divaga sobre a liberdade da vida no campo e o bem-estar proporcionado pelo contacto com a Natureza. Na última estrofe, evidencia a tristeza de Cesário Verde porque este estava afastado do seu ambiente natural — o campo — e, assim, privado da sua liberdade («Por isso ele tinha aquela grande tristeza», v. 13; «E triste por esmagar flores em livros/ e pôr plantas em jarros...», vv. 16-17). O sujeito poético compreende esta tristeza de Cesário Verde, uma vez que a sente como se fosse sua. Compadece-se com este sentimento, pois também ele não saberia viver sem a proximidade da Natureza.
3. Os dois últimos versos exprimem a tristeza de Cesário, resultante do facto de o contacto com a Natureza ser feito de forma artificial, com flores e plantas retiradas do seu elemento natural — «E triste por esmagar flores em livros / E pôr plantas em jarros...».
4. Uma das características comuns à poesia de Alberto Caeiro e de Cesário Verde é a deambulação, prefigurando, assim, o mesmo modo de sentir, ainda que sobre realidades distintas.
5. O excerto comprova que o sujeito poético é um observador acidental, pois descreve-nos a cidade e as pessoas que vê enquanto deambula pelas ruas. A cidade é especificada nas partes por onde Cesário circula, as «ruas» próximas do rio Tejo: «o Tejo, a maresia», «os edifícios, com as chaminés, e a turba» (v. 7), «edificações somente emadeiradas» (v. 10) (prédios em constru­ção), «boqueirões», «becos» e «cais» (vv. 15-16). Quanto aos tipos sociais, podemos reconhecer os membros do Povo (operários), designadamente «os mestres carpinteiros» e os «calafates» (vv. 12-13), ambos em atarefado horário de trabalho.
6. Relativamente às personagens que o poeta vê, a comparação revela a forma maquinalmente obediente e concentrada como os carpinteiros trabalham — «Como morcegos, ao cair das badaladas, / Saltam de viga em viga os mestres carpin­teiros.» (vv. 11-12).
7. Alberto Caeiro e Ricardo Reis têm diferentes visões sobre a existência humana e sobre o mundo. Caeiro defende o prima­do das sensações, isto é, permite-se sentir espontaneamen­te tudo aquilo que os seus sentidos captarem da Natureza e da realidade envolvente, sem pensar nem no passado nem no futuro, apenas no presente. Reis, por sua vez, dedica tempo ao racionalismo e à perspetivação da vida e do seu curso, de­fendendo o carpe diem («aproveitar o dia») típico da vivência tranquila (estoica) da vida, mas com a consciência plena da sua brevidade e efemeridade. Para este heterónimo, a vida é uma viagem em direção à morte, para a qual ele se prepara com aceitação e sem angústia.
Concluindo, Alberto Caeiro prefere não fazer interpretações da realidade; Ricardo Reis opta por usufruir de todos os momentos desta vida breve serenamente, sempre consciente do seu fim.

GRUPO II
1. (C); 2. (D); 3. (D); 4. (A); 5. (A).
6. Complemento oblíquo.
7. O antecedente é «direitos mais básicos».

GRUPO III
O ser humano naturalmente precisa de cultivar as várias dimen­sões da sua vida para se sentir pleno. Tais dimensões são funda­mentalmente divisíveis em dois níveis — as do foro físico e as do foro emocional.
Assim, todos precisamos de ter saúde física e condições de vida materiais que assegurem a nossa estabilidade. Não obstante, há muito mais para além disso. Podemos considerar que o nos­so lado emocional é, porventura, tão importante como o físico e é nele que incluímos aqueles que amamos, designadamente os amigos. Sentir-se amado pelos amigos oferece a cada um de nós a sensação de segurança de que, em qualquer ocasião, boa ou má, podemos contar com eles. Como? Eis dois exemplos con­textuais que o comprovam.
Por um lado, os amigos são aqueles com quem partilhamos ce­lebrações mais pessoais e íntimas, celebrações mais sociais, e ainda com quem partilhamos simplesmente um café, um lanche, um refresco numa esplanada, num café, num centro comercial ou em casa. Quem pode negar que a vida e as suas ocasiões felizes ganham mais sabor e significado quando partilhadas com aque­les que nos querem bem? Quem não telefona ao seu amigo para contar uma notícia boa? Quem não prefere sorrir acompanhado? Por outro lado, e sendo verdade tudo o que ficou dito anterior­mente, são também os amigos aqueles que não nos abandonam nos momentos maus, os de tristeza, de perda e aflição. Os ami­gos fiéis são os que nos oferecem um sorriso, palavras de con­forto, enfim, a sua presença silenciosa, mas significativa, por vezes quase impercetível ao olhar alheio, mas cheia de luz, e uma paz imensa que nos enche o coração e a alma. Se refletirmos sobre a profundidade da vida humana, facilmente percebemos que se trata de uma experiência nem sempre explicada à luz, da razão, mas constantemente cheia de surpresas, de rumos que não pensávamos seguir ou circunstâncias que nos põem à prova. Perante isto, qualquer pessoa sente medo; no entanto, o facto de sabermos que os nossos companheiros desta viagem estão ao nosso lado dá-nos alguma segurança e estabilidade emocional.
Em suma, não sendo cada um de nós uma ilha perdida, é inegável que, neste mar que se chama vida, os amigos são o sol e a brisa que embalam a nossa existência humana e a tornam mais feliz.