Prova-modelo 1
A prova-modelo é surripiada
a Marina Rocha, Exame Português 12.º ano, s.l., Leya, 2019; as soluções estão
a seguir à prova. (As cotações, como sabes, já não serão as que, por vezes, se veem nas margens. Passou tudo a 13 pontos, exceto o Grupo III, que vale 44.) Nas soluções, não me agrada a organização da resposta 7 (falta um parágrafo de introdução; margens dos parágrafos também faltam); nem a do Grupo III (creio que o primeiro e segundo parágrafos podiam ser um só, subdividindo-se o atual terceiro — será lapso do original que eu reproduzi; dá ideia de que adota uma resposta em que aparecem primeiro os argumentos e, depois, os respetivos exemplos, quando me parece mais apropriado cumprir a sequência «introdução / argumento + exemplo(s) / argumento + exemplo(s) / conclusão»).
Soluções
PROVA-MODELO 1
GRUPO I —A
1. De acordo com a primeira estrofe, o
sujeito poético prepara-se para a leitura do Livro de Cesário
Verde de duas formas: por
um lado, escolhe um momento calmo do dia, o «entardecer» (v. 1), no qual toda a
agitação típica do dia se esvai e se dilui num contexto de calma e serenidade;
por outro, posiciona-se à «janela» (v. 1) que lhe dá vista sobre os «campos em
frente» (v. 2), paisagem propiciadora da leitura e tão cara a Caeiro, poeta da
Natureza por excelência.
2. O poema mostra, em vários momentos, que
o sujeito poético aprecia a Natureza. Na primeira estrofe, deparamo-nos com um
leitor que usufrui da Natureza campestre e do entardecer. Seguidamente, através
da leitura do Livro de Cesário Verde, o sujeito poético divaga sobre a liberdade da
vida no campo e o bem-estar proporcionado pelo contacto com a Natureza. Na
última estrofe, evidencia a tristeza de Cesário Verde porque este estava afastado
do seu ambiente natural — o campo — e, assim, privado da sua liberdade («Por
isso ele tinha aquela grande tristeza», v. 13; «E triste por esmagar flores em
livros/ e pôr plantas em jarros...», vv. 16-17). O sujeito poético compreende
esta tristeza de Cesário Verde, uma vez que a sente como se fosse sua.
Compadece-se com este sentimento, pois também ele não saberia viver sem a
proximidade da Natureza.
3. Os dois últimos versos exprimem a
tristeza de Cesário, resultante do facto de o contacto com a Natureza ser feito
de forma artificial, com flores e plantas retiradas do seu elemento natural —
«E triste por esmagar flores em livros / E pôr plantas em jarros...».
4. Uma das características comuns à poesia de
Alberto Caeiro e de Cesário Verde é a deambulação, prefigurando, assim, o mesmo
modo de sentir, ainda que sobre realidades distintas.
5. O excerto comprova que o sujeito poético é
um observador acidental, pois descreve-nos a cidade e as pessoas que vê enquanto
deambula pelas ruas. A cidade é especificada nas partes por onde Cesário
circula, as «ruas» próximas do rio Tejo: «o Tejo, a maresia», «os edifícios,
com as chaminés, e a turba» (v. 7), «edificações somente emadeiradas» (v. 10)
(prédios em construção), «boqueirões», «becos» e «cais» (vv. 15-16). Quanto
aos tipos sociais, podemos reconhecer os membros do Povo (operários),
designadamente «os mestres carpinteiros» e os «calafates» (vv. 12-13), ambos em
atarefado horário de trabalho.
6. Relativamente às personagens que o poeta
vê, a comparação revela a forma maquinalmente obediente e concentrada como os
carpinteiros trabalham — «Como morcegos, ao cair das badaladas, / Saltam de
viga em viga os mestres carpinteiros.» (vv. 11-12).
7. Alberto Caeiro e Ricardo Reis têm
diferentes visões sobre a existência humana e sobre o mundo. Caeiro defende o
primado das sensações, isto é, permite-se sentir espontaneamente tudo aquilo
que os seus sentidos captarem da Natureza e da realidade envolvente, sem pensar
nem no passado nem no futuro, apenas no presente. Reis, por sua vez, dedica
tempo ao racionalismo e à perspetivação da vida e do seu curso, defendendo o carpe diem («aproveitar o dia») típico da vivência tranquila (estoica)
da vida, mas com a consciência plena da sua brevidade e efemeridade. Para este
heterónimo, a vida é uma viagem em direção à morte, para a qual ele se prepara
com aceitação e sem angústia.
Concluindo, Alberto Caeiro prefere não
fazer interpretações da realidade; Ricardo Reis opta por usufruir de todos os
momentos desta vida breve serenamente, sempre consciente do seu fim.
GRUPO II
1. (C); 2.
(D); 3. (D); 4. (A); 5.
(A).
6. Complemento oblíquo.
7. O antecedente é «direitos mais básicos».
GRUPO
III
O ser humano
naturalmente precisa de cultivar as várias dimensões da sua vida para se
sentir pleno. Tais dimensões são fundamentalmente divisíveis em dois níveis —
as do foro físico e as do foro emocional.
Assim, todos
precisamos de ter saúde física e condições de vida materiais que assegurem a
nossa estabilidade. Não obstante, há muito mais para além disso. Podemos
considerar que o nosso lado emocional é, porventura, tão importante como o
físico e é nele que incluímos aqueles que amamos, designadamente os amigos.
Sentir-se amado pelos amigos oferece a cada um de nós a sensação de segurança
de que, em qualquer ocasião, boa ou má, podemos contar com eles. Como? Eis dois
exemplos contextuais que o comprovam.
Por um lado, os
amigos são aqueles com quem partilhamos celebrações mais pessoais e íntimas,
celebrações mais sociais, e ainda com quem partilhamos simplesmente um café, um
lanche, um refresco numa esplanada, num café, num centro comercial ou em casa.
Quem pode negar que a vida e as suas ocasiões felizes ganham mais sabor e
significado quando partilhadas com aqueles que nos querem bem? Quem não
telefona ao seu amigo para contar uma notícia boa? Quem não prefere sorrir
acompanhado? Por outro lado, e sendo verdade tudo o que ficou dito anteriormente,
são também os amigos aqueles que não nos abandonam nos momentos maus, os de
tristeza, de perda e aflição. Os amigos fiéis são os que nos oferecem um
sorriso, palavras de conforto, enfim, a sua presença silenciosa, mas
significativa, por vezes quase impercetível ao olhar alheio, mas cheia de luz,
e uma paz imensa que nos enche o coração e a alma. Se refletirmos sobre a
profundidade da vida humana, facilmente percebemos que se trata de uma
experiência nem sempre explicada à luz, da razão, mas constantemente cheia de
surpresas, de rumos que não pensávamos seguir ou circunstâncias que nos põem à
prova. Perante isto, qualquer pessoa sente medo; no entanto, o facto de
sabermos que os nossos companheiros desta viagem estão ao nosso lado dá-nos
alguma segurança e estabilidade emocional.
Em suma, não sendo
cada um de nós uma ilha perdida, é inegável que, neste mar que se chama vida,
os amigos são o sol e a brisa que embalam a nossa existência humana e a tornam
mais feliz.
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