Saturday, August 25, 2018

Frei Luís de Sousa pelo 11.º 9.ª


Ivânia (Bom+/Muito Bom-)
Ao ouvir a cancão «Say Something», da dupla A Great Big World e interpretada pelos próprios e por Christina Aguilera, não me restaram dúvidas de que esta seria a música que entraria como pano de fundo da cena de D. João de Portugal ao regressar vinte e um anos após ter sido declarado morto na Batalha de Alcácer-Quibir e deparar-se com Madalena de Vilhena, sua mulher aquando da partida, agora já esposa de Manuel de Sousa e já com uma filha, Maria de Noronha.
Ao voltar, D. João esperava ser acolhido pela amada, que, idealmente, continuaria à sua espera, visto o amor que os unia ser maior que qualquer barreira. Tal não sucedeu. Passados sete anos de Alcácer-Quibir, Madalena cessa as buscas por D. João e casa com Manuel, por quem, mesmo em vida de D. João, se enamorara. Com o casamento, o amor de Madalena por D. João mostra-se precário e até mesmo Telmo, fiel aio de D. João, acusa Madalena de nunca ter amado o seu amo («Que o pobre do meu amo… respeito, devoção, lealdade, tudo lhe tivestes, como tão nobre e honrada senhora que sois… mas amor!»), ao que Madalena responde que os negócios do coração não dependem de nós.
Quando D. João regressa a Portugal e à sua antiga casa, ainda como Romeiro, diz que traz uma mensagem de «um homem que muito bem lhe quis». E, de seguida, dá-nos a perceber que ainda ama Madalena e que se sente mal, e até culpado, por não ter sido capaz de lhe comunicar que ainda estava vivo. D. João ainda ama Madalena, mesmo após vinte e um anos sem contacto entre eles. Mostra-nos a sua lealdade e dedicação para com ela. Estes sentimentos estão também presentes nesta canção: «Anywhere, I would've followed you [Eu ter-te-ia seguido para qualquer lugar]»; «I'm sorry that I couldn't get to you [Desculpa por não ter sido capaz de chegar a ti]»
Os compositores, Ian Axel, Chad Vaccarino e Mike Campbell, admitiram estar a passar por relações falhadas quando a escreveram, e nela pedem que a outra pessoa lhes diga algo, que dê um sinal, porque senão o único caminho é desistir («Say something, I'm giving up on you [Diz-me alguma coisa, estou a desistir de ti]»). O mesmo se passa com D. João de Portugal que, ao ver Madalena com Manuel, percebe que para ele não há mais lugar ali («E aqui… coração que fosse meu… não havia outro. [Que não o de Telmo]»).
Mas, apesar de ver Madalena destroçada com o seu regresso («Minha filha, minha filha, minha filha! Estou… estás… perdidas, desonradas… infames! Oh! minha filha, minha filha!»), e de saber que a única pessoa feliz com a situação era Telmo, que nunca tinha aprovado o casamento de Madalena e Manuel, D. João não perdeu as esperanças de reconquistar o amor de Madalena («I'll be the one, if you want me to [Eu serei o tal, se tu me quiseres]»). Quando Madalena chamava pelo esposo, D. João tomou por seu o chamamento, que depressa se revelou ser para Manuel («Meu marido, meu amor, meu Manuel!»). Isto fez com que as suas esperanças desaparecessem de vez, não havia mais nada que ele pudesse fazer. O coração de Madalena pertencia agora a Manuel. Com estes impotência e desalento sentidos por D. João («Ah! E eu tão cego que já tomava para mim!») mostra-se-nos também o eu da canção («And I am feeling so small / It was over my head / I know nothing at all [Estou a sentir-me tão pequeno / Foi demais para a minha cabeça / Eu não sei absolutamente nada]»).
Ao sentir-se arrependido por ter reentrado na vida de Madalena e a ter deixado arruinada, D. João decide emendar os seus erros. Põe de parte o seu sofrimento para tentar reconquistar a felicidade e honra de Madalena («Agora é preciso remediar o mal feito. Fui imprudente, foi injusto, fui duro e cruel. E para quê? D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera»). Também a música tem o seu ponto fulcral quando o sujeito poético muda completamente a sua posição de persistente e esperançoso em reconquistar o amor e diz que, apesar de a pessoa a quem se dirige ser a que ele ama, vai desistir («And I will swallow my pride / You're the one that I love / And I'm saying goodbye [Vou engolir o meu orgulho / És quem amo / E estou a dizer-te adeus]»). Ambos, D. João e o sujeito poético, desistem do seu amor por um bem maior, que os transcende.

Francisca (Suficiente (+)/Suficiente +)

Aproveito a canção «Canção Para Ti», de Janeiro. Este cantor português participou em 2018 no Festival da Canção; todavia, com a sua simplicidade, nunca teria hipóteses frente a atuações mais invulgares como as dos «Conans Osiris». Contudo, utilizo-a para estabelecer uma analogia com a peça Frei Luís de Sousa.
Interessa-me especialmente o fim do II Ato e o III Ato, quando se concretiza que D. João de Portugal está vivo, que o amor entre D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho é pecaminoso e impossível de se manter, é por isto e que os dois nobres decidem abandonar a vida secular.
A cena em que D. João de Portugal chega a sua casa e é confrontado com o facto de que os seus parentes (incluindo D. Madalena) tinham seguido as suas vidas («Parentes!… os mais chegados, […] contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela; hão de jurar que não me conhecem.») lembra-me a passagem da canção de Janeiro «Ninguém sabe ainda da desgraça / Só tu sabes e era melhor não saber». D. João parece extremamente triste com esta verdade mas, de qualquer forma, está com os pés bem assentes na terra como se já o esperasse, já que se passaram vinte e um anos desde o seu desaparecimento.
D. João, que voltou para casa irreconhecível, vestido de romeiro com as barbas e cabelo gigantes, afirma que tem uma mensagem para entregar a D. Madalena de um homem que estivera consigo no cativeiro em Jerusalém e afirma ainda que tem «as suas palavras, […] escritas no coração». Associo este aspeto aos versos da música de Janeiro «Guardei aqui esta canção para ti / P'ra te dar no dia em que acaba p'ra mim». No caso, o romeiro não tem uma canção mas sim uma mensagem que também fez com que a família Vilhena-Coutinho acabasse.
Este romeiro revela finalmente que D. João está vivo, sem deixar transparecer que é ele próprio: «Ide a D. Madalena de Vilhena e dizei-lhe que um homem que muito bem lhe quis aqui está vivo por seu mal». E é nesse momento que tudo cai àquela mulher e o desespero geral começa: primeiramente, com D. Madalena («Minha filha […] estou… estás… perdidas, desonradas… infames!») e, mais tarde, com Manuel e sua filha, quando estes chegam de Lisboa. 
É assim percebido que o amor entre Manuel e Madalena não é permitido, é um grande pecado e cada um segue o seu caminho: Madalena vai para um convento de freiras e Manuel para a ordem dos dominicanos, tornando-se assim no Frei Luís de Sousa que, posteriormente, escreveu diversas obras. Novamente comparo esta situação à música: «Dizes que te ocupas com os livros / Mas tu nem sabes como viver». Provavelmente, o novo frade começou uma carreira como escritor no convento, mas não era certamente a melhor maneira de viver, visto que deixou para trás toda uma vida de pai de família e nobre para adotar agora à simplicidade e castidade de um clérigo.
Apesar da grande diferença que existe entre a música de um cantor português e o drama de Almeida Garrett, há muitos factores que as aproximam e que são interessantes de analisar.

Margarida V. (Bom (+))

O título desta canção, “High hopes”, dos Kodaline, remete-me imediatamente para D. João de Portugal. Quando ele volta para casa, passados vinte anos de cativeiro, acredita que Madalena o vai reconhecer assim que o vir e que o amor que sentira por ele (se é que ela o sentiu) vai reacender-se de imediato. D. João tem, tal como o título da faixa sugere, “high hopes” (altas esperanças).
Na cena VI do ato III da peça de Almeida Garret, Telmo e o Romeiro estão a conversar na capela debaixo do antigo palácio de D. João, quando ouvem Madalena chamar desesperadamente pelo marido. Ao ouvir isto, João assume que Madalena se dirige a si, visto ser ele o seu primeiro marido. Quando Madalena reforça a sua solicitação (“Meu marido, meu amor, meu Manuel!”), João cai na realidade e apercebe-se de que esta se dirigia ao homem que verdadeiramente ama, Manuel de Sousa: “Ah e eu tão cego já tomava para mim!”. Posso comparar esta cena com os versos da primeira estrofe de “High hopes”: “I know it’s crazy to believe in silly things / But it´s not that easy” (Eu sei que é uma loucura acreditar em coisas tolas / Mas não é assim tão fácil). O “eu” poético encontra-se numa situação semelhante à de D. João, pois ambos ainda acreditam em algo que, no fundo, sabem não ser verdade; no caso do romeiro, ele ainda tem esperança de que Madalena o ame, e chega a acreditar nisso por momentos.
Quando o autor da canção escreve “I remember it now, it takes me back to when it all first started / It’s time to let it go, go out and start again / But it’s not that easy” (Lembro-me agora, leva-me de volta para quando tudo começou / Está na hora de largar, sair e começar de novo / Mas não é assim tão fácil), o passo é comparável com a chegada do romeiro a casa após vinte e um anos longe. Ele lembra o tempo em que esteve casado com Madalena e quer revelar que é D. João à sua mulher, mas, para a salvar da desgraça, decide não o fazer: “Está na hora de largar, sair e começar de novo”, (ou seja, ele decide deixá-la ir); apesar de repensar a sua decisão quando acha que Madalena chama por ele, quando, na verdade, chama por Manuel: “Não é assim tão fácil”.
O romeiro, ao voltar a casa, espera que D. Madalena o receba de braços abertos, pronta a retomar o casamento que tinham há vinte e um anos: tal como o sujeito poético da faixa, têm “high hopes” (altas esperanças). Que não se concretizam, pois João descobre que a sua mulher o tomou como morto e começou uma família com outro e, na canção, o “eu” percebe que o que tinha acabou e as sua esperanças não eram válidas: “High hopes, ooh when it all comes to an end” (Altas esperanças, ooh quando tudo chega ao fim). O romeiro acaba por ser compreensivo com o facto de Madalena o ter ultrapassado e casado com Manuel: “(…) não posso criminar ninguém porque o acreditasse: as provas eram de convencer todo o ânimo; só lhe podia resistir o coração. E aqui… coração que fosse meu… não havia outro.”; o que é comparável com o poema: “But the world keeps spinning around” (Mas o mundo continua a rodar). Ou seja, João percebe que o mundo não parou nos vinte e um anos em que esteve desaparecido e que as pessoas que ele deixou para trás prosseguiram as suas vidas).

Beatriz B. (Suficiente / Suficiente (+))
O sentimento de ver a pessoa que amamos com outra pode destruir-nos por completo. Passados sete anos da suposta morte de D. João de Portugal, desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir, Madalena decide dar um novo rumo à sua vida e acaba por se casar novamente com um prestigiado fidalgo de seu nome Manuel de Sousa Coutinho. Ainda durante o seu casamento com D. João,  Madalena já se sentia atraída por Manuel. Ao mesmo que este sentimento lhe tomava conta do coração, Madalena sentia-se culpada pois estaria, em pensamento a trair o seu marido, cujos sentimentos não pretendia magoar. Vinte e um anos depois, D. João aparece disfarçado de Romeiro. Com o pensamento de que iria recuperar a mulher que tanto ama, depara-se com Madalena casar com Manuel e com uma filha, Maria de Noronha, proveniente deste grande amor. No entanto, durante o período que D. João estivera desaparecido mandara fazer buscas e fizera tudo para encontrá-lo mas sem sucesso.
A canção que escolhi para ilustrar o amor que D. João de Portugal tem por Madalena, ao ponto de a deixar ser feliz e permitir a si próprio viver sem ela, foi “Happier”, de Ed Sheeran. Por exemplo, nos versos da faixa “Mas ninguém te ama como eu te amo / Eu prometo que não vou levar para o lado pessoal,   querida / se tu estás a seguir em frente com alguém novo / porque querida, pareces mais feliz [But ain't nobody love you like I do / Promise that I will not take it personal, baby / If you're moving on with someone new / Cause baby, you look happier, you do]“, podemos encontrar relação entre a letra da canção e os sentimentos, principalmente, de D. João, que apesar de ainda continuar a amar a sua mulher, engole o orgulho e apercebe-se de que Madalena é e será mais feliz ao lado de Manuel. Esta situação pode ser verificada no final da cena V, quando o Romeiro diz “E que sossegue, que seja feliz”. Por outro lado, D. João é incapaz de esconder a mágoa que sente ao saber que foi substituído e que nada pode fazer para que Madalena o volte a amar (“ – Oh! Telmo, Telmo com que amor a amava eu! – sua mulher que ele já não pode amar sem desonra nem vergonha!... Na hora em que ela acreditou na minha morte, nessa hora morri. Com a mão que deu a outro, riscou-me do número de vivos, D. João de Portugal não há de desonrar a sua viúva”).  Ele acaba por decidir que não se vai revelar a Madalena e desaparece sempre com a esperança de que volte para ele: “Mas se ele partir o teu coração como os amantes costumam fazer / Apenas saiba que eu estarei aqui à sua espera [But if he breaks your heart like lovers do /Just know that I'll be waiting here for you]”.   Concluindo, D. João de Portugal tem todo o direito de ainda a amar, como toda a gente o tem. Mesmo que tivesse passado muito tempo sem a ver e sem ter contato com ela, para ele, Madalena era a mulher da sua vida e, com certeza, iria sempre ser. Tal como Madalena teve o direito de seguir em frente e apaixonar-se por outra pessoa.

Mariana M. (Suf +/Bom -)
Ouvir esta canção − «Always [Sempre]» − de Gavin James faz-me sentir um misto de emoções sobre o amor, tal como ele é. Reveste-se de felicidade, entusiamo, mas dor e tristeza igualmente. Pensar nesta música faz-me também lembrar D. João de Portugal, o seu regresso e tudo por que passou enquanto esteve cativo após a batalha de Alcácer-Quibir.
O eu da faixa compara o seu desgosto amoroso com situações bastante dolorosas («And this feels like drowning, Trouble sleeping, Restless dreaming» [E sinto-me como se me estivesse a afogar, Dificuldade para dormir, Sonhos inquietos], tal como D. João de Portugal quando regressa ao país na figura de Romeiro fica destroçado com a vida que Madalena tem agora. («D.João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera. Sua mulher honrada e virtuosa, sua mulher que ele amava»). Tal como o eu da canção, está duvidoso sobre o sofrimento da sua amada («Do you feel damaged just like I do?» [Sentes-te abatida assim como eu?], D. João também se sentiria assim, na medida em que, passados vinte anos, regressa na esperança de voltar para os braços da sua amada, mas durante todo esse tempo esta já teria casado e tido uma filha. O decorrer de toda a história faz o leitor acreditar que Madalena nunca amou realmente o seu primeiro marido. O facto de esta o não reconhecer, quando aparece na figura de Romeiro, faz levantar a questão: quem não reconheceria o homem que amou verdadeiramente, mesmo passado vinte um anos?
Podemos pensar que Madalena esperou sete anos pelo regresso do marido para seguir com a sua vida em frente, mas isso não justifica as suas atitudes durante a relação com Manuel de Sousa, por exemplo, o que aconteceu após Manuel incendiar a casa devido à vinda dos governadores castelhanos para Portugal, que leva Madalena a enlouquecer por ter de se refugiar na casa em que viveu com o primeiro marido. Apesar de destroçado com o facto de não ter Madalena à sua espera quando regressou, ao saber do esforço que Madalena fez para saber da sua existência («É verdade que por toda a parte me procuraram, que por toda a parte ela mandou mensagens, dinheiro?»), D. João pede a Telmo que informe Madalena que o Romeiro não passava de um impostor enviado pelos inimigos, o que nos dá a perceber que o faz por amor, pois sabe que esta já seguiu em frente e que realmente sofreu com a sua suposta morte. Outra das provas do respeito pelo amor que viveu com Madalena ficou indicado no último ato, quando Madalena realizava os votos para entrar no convento e acabava assim o casamento com Manuel de Sousa. D. João de Portugal pede a Telmo que os salve daquela situação («Vai, vai: vê se ainda é tempo; salva-os, salva-os, salva-os, que ainda podes…»). Maria acaba por reconhecer a voz do Romeiro e acaba por morrer de vergonha. A morte de Maria de Noronha trás à obra Frei Luís de Sousa um sentido dramático da peço no seu todo, tal como o refrão da canção marcado com a palavra «Always [Sempre]» intensifica a duração do seu sofrimento e do seu amor pela pessoa que amava.

Luísa (Bom (-))
A canção “The Story”, interpretada por Brandi Carlile, transmite todo o sentimento presente em D. João de Portugal ao regressar vinte e um anos após a Batalha de Alcácer Quibir, que vitimara o rei D. Sebastião.
Esta canção fala-nos da vida de uma pessoa que venceu e ultrapassou todos os obstáculos da sua vida com um único propósito, o amor. Assim como D. João, desaparecido em guerra, fizera todos os esforços para voltar para junto da sua amada («I climbed across the mountain tops / Swam all across the ocean blue / I crossed all the lines, and I broke all the rules / But, baby, I broke them all for you [Eu escalei os topos das montanhas / Nadei através de todo o oceano azul / Atravessei todas as linhas e quebrei todas as regras / Mas querido, eu quebrei todas por você]»), D. Madalena, que ansiaria pela sua chegada.
D. Madalena esperou e procurou o seu marido por sete anos. Após esse tempo, acabou por casar-se com Manuel de Sousa Coutinho com quem tivera uma filha, Maria de Noronha. Passados exatos vinte e um anos, D. João regressa vestido de romeiro, com o seu rosto deveras massacrado e envelhecido («All of these lines across my face / Tell you the story of who I am / So many stories of where I've been [Todas estas linhas que contornam o meu rosto / Contam a história de quem eu sou / Tantas histórias sobre onde eu estive]») e depara-se com esse cenário apercebendo-se de que todos os seus esforços foram em vão («A minha família… Já não tenho família») uma vez que não tinha ninguém com quem compartilhar os seus momentos («But these stories don't mean anything / When you've got no one to tell them to [Mas essas histórias não significam nada / Quando não se tem a quem contar]»).
Em conversa com Madalena, que não reconhecera o seu ex-marido, surge o assunto da família que o deixara abalado («You see the smile that's on my mouth / Is hiding the words that don't come out [Você vê o sorriso que está na minha boca / Está escondendo as palavras que teimam em não sair]»); porém, sem a intenção de destruir a nova família que a amada construíra, opta por não lhe revelar a sua verdadeira identidade: «Madalena: Sempre há parentes, amigos…/ Romeiro: Parentes!... Os mais chegados, os que eu me importava achar… contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela; hão de jurar que não me conhecem». D. João, sozinho e desamparado, pede para ver o seu velho aio, Telmo, que nunca acreditara na sua morte e que o amava verdadeiramente como um filho. Jorge, irmão de Manuel, acede ao seu pedido e leva Telmo até ele. No início, Telmo, não o reconhece devido à sua deplorável aparência («São vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias que por aqui passaram»); porém, «Esta voz… esta voz! Romeiro, quem és tu?» faz com que D.João se revele: «Ninguém, Telmo, ninguém: se nem já tu me conheces!». Telmo, que sempre acreditara no regresso do seu “filho”, considerava um milagre a sua chegada, ao contrário de D.João de Portugal («And all of our friends who think that I'm blessed / They don't know my head is a mess [E todos os meus amigos que me acham abençoado / Eles não sabem que minha cabeça é uma confusão]»).
O refrão («I was made for you [eu fui feita para você]») expressa muito bem o amor de D.João de Portugal pela sua amada, D. Madalena, que, apesar de já não ter, continua a tentar proteger de tudo, chegando a abdicar da mesma, deixando-a continuar com o seu verdadeiro amor, Manuel de Sousa Coutinho. A atitude de D. João revela muita maturidade e o verdadeiro significado de amar.

Marta (Suficiente +/Bom -)

Ao ouvirmos a canção «Spotless Mind», da cantora Jhéne Aiko, é possível estabelecer uma analogia entre os acontecimentos da tragédia de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, e alguns versos da canção.
Madalena, consumida pelo sentimento de culpa, esperou sete anos depois da batalha de Alcácer-Quibir para casar com Manuel, que admite ter amado mesmo antes do desaparecimento do seu ex-marido. Entretanto, João de Portugal regressa com imensos ressentimentos que são preenchidos por um sentimento que ele julgava ser imarcescível.
«Why hold on to what you have to let go of? [Porquê manter o que precisas de largar?]». Podemos observar que esta canção retrata parte da vida da cantora e do seu namorado que seguiram caminhos separados. Também na tragédia romântica o final é acompanhado pela separação de Manuel de Sousa Coutinho e Madalena de Vilhena, que se entregam a uma vida religiosa, de modo a redimir os pecados do seu ilegítimo casamento. Sob outra perspetiva, temos João de Portugal, que regressa com a esperança de que Madalena, o seu grande amor, continue à espera da sua chegada, passados vinte e um anos sobre a Batalha de Alcácer-Quibir. Tudo sucede de forma contraditória e João de Portugal vê-se obrigado a largar este amor não correspondido («Basta: vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele, que tudo isto foi vil e grosseiro embuste de inimigos de… dos inimigos desse homem que ela ama […]»).
No verso «Was it all my fault? [Foi tudo minha culpa?]» é-nos transmitido pela cantora um sentimento de culpa; o mesmo  sucede ao Romeiro, que, face a todo este transtorno,  revela uma certa angústia («Agora é preciso remediar o mal feito. Fui imprudente, foi injusto, fui duro e cruel. E para quê?»). Mas João de Portugal apercebe-se de que se está a iludir pelas palavras de Madalena, acreditando que eram dirigidas a ele («Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais: abri»), quando, na verdade, Madalena referia-se a Manuel. Deste modo, João de Portugal percebe finalmente que o melhor a fazer é ir embora  e sai de cena com as suas ultimas palavras: «Ah! E eu tão cego que já tomava para mim!... Céu e Inferno! Abra-se esta porta… Não: o que é dito é dito». Também o «eu» da canção se apercebe de que é escusado prolongar um sentimento que não é correspondido («You know like I know where this was headed [Tu sabes assim como eu onde isto vai parar]»; « Loving you was nice [Amar-te foi bom]» / « But it's a new day, a new season [Mas é um novo dia, uma nova estação]»).
Madalena é alvo de angústias ao longo do drama, este aspeto é particularmente visível no momento em que o seu palácio é desfeito em chamas. A família Vilhena-Coutinho é obrigada a encontrar um esconderijo para se refugiar e, quando se apercebe de que o destino a encaminha para o palácio do seu ex-marido, Madalena entra em delírio («Mas oh! esposo da minha alma… para aquela casa não, não me leves para aquela casa!»), o que faz correspondência com os versos da canção «Moving from place to place [Mudando de lugar para lugar]» / «Never really settled down [Nunca realmente me estabeleci ]» e «I am crazy  [Eu sou louca]») devido ao seu estado de desespero.

Leonor (Suficiente +/Bom -)
“Eu nunca pude acreditar / Na força de um momento/Eu já não te posso evitar”, assim se desenvolve a canção “Amor Proibido”, da banda brasileira Malta. Apenas a ouvir estes três versos do início da música, não podemos discordar que se poderia associar esta canção à espantosa obra de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, mais especificamente ao amor de Madalena por Manuel de Sousa Coutinho. Como todos sabemos, Madalena apaixonou-se por Manuel enquanto ainda era casada com D. João de Portugal. Este desapareceu na batalha de Alcácer Quibir e, após sete anos de procura sem o encontrarem, Madalena e Manuel casaram-se, tornando este amor proibido, uma vez que ela se encontrava casada com João de Portugal.
Como diz o refrão da música, “E viver cada segundo desse amor proibido / Pecado é não viver essa paixão”. Assim se pode descrever o amor de Madalena e Manuel: embora fosse um “amor proibido”, os dois continuaram a amar-se, contudo o peso moral nas suas consciências impediu-os de continuarem juntos. Contudo, a notícia dada pelo Romeiro põe fim ao amor de Madalena e Manuel, visto que os dois não conseguem viver com a ideia de pecado, mostrando assim como aquele amor era proibido. A partir do aparecimento da personagem do Romeiro, ficamos a entender melhor o quão errado era o amor deles e que, embora tivessem desencadeado sentimentos um pelo outro, não deveriam tê-lo feito e, por isso, no fim, sentem o remorso das suas ações anteriores.
Avançando um bocado mais na canção, podemos ouvir “Não vou desistir / De lutar por esse amor que não acaba / Essa chama que não apaga / Essa dor dentro de mim”. Ao ouvir isto, podemos associar os versos a Madalena, que, após a notícia do Romeiro, não desistiu de Manuel (“Tudo! Quem sabe? Eu parece-me que não. Olha, eu sei… mas não daríamos nós, com demasiada precipitação, uma fé tão cega, uma crença tão implícita a essas misteriosas palavras de um romeiro, um vagabundo… um homem, enfim, que ninguém conhece? Pois dize…” – ato III, cena VII). Embora Manuel não conseguisse viver com a culpa, Madalena tentou convencê-lo a não se ir embora, porém sem sucesso.
Relaciono, assim, a música “Amor proibido”, dos Malta, com o amor específico de Madalena e Manuel de Sousa Coutinho (“Vou seguir meu coração”), uma vez que este era considerado errado na época em que se desenvolveu, deixando assim as personagens com remorsos ao sentirem que cometeram um pecado horrível.

Pedro (Bom)
Escolhi esta excelente canção, primeiro escrita por Roy Turk e Lou Handman, em 1926, e cantada por Elvis Presley, em 1960, pela sua relação com o amor entre D. Madalena e D. João de Portugal, em Frei Luís de Sousa, antes da sua alegada morte e eventual nos anos seguintes, até o seu regresso.
Desde o início da canção, esta parece referir-se ao fim do amor das duas personagens e a sua memória antes de Alcácer Quibir: “Does your memory stray to a brighter sunny day / When I kissed you and called you sweetheart? [A tua memória desvia-se para um dia de sol mais brilhante / Quando eu te beijava e te chamava amor?]”. Aliás, todos os versos podem ser comparados com a peça, seja com o amor esquecido ou com o sofrimento por que ambos tiveram de passar. O verso “Do you gaze at your doorstep and picture me there? [Olhas para a minha porta e imaginas-me lá?]” é um excelente exemplo, pois equivale à sensação de dúvida por parte de Madalena, em parte provocada por Telmo, e o medo de se ter enganado ao assumir a morte do marido.
Embora não seja referido diretamente, sabemos que Madalena não sentia tanto afeto por D. João como este por ela, pois, ao ver Manuel de Sousa, apaixona-se imediatamente. Ora, isto também é mencionado pelo “eu” da canção de Elvis Presley, em “Honey, you lied when you said you loved me / And I had no cause to doubt you [Querida, mentiste quando disseste que me amavas / E eu não tinha motivos para duvidar]”, que diz que quem pensava que o amava estava de facto a enganá-lo, tal como Madalena “enganara” D. João. No entanto, este, após ter sido esquecido e declarado morto, depois de vinte e um anos, nunca esqueceu Madalena e regressa a Portugal para se reunir de novo com ela. Elvis Presley também detém os mesmos sentimentos por quem amava, apesar de ela lhe mentir, chegando a preferir viver com a amada do que sozinho (“But Id rather go on hearing your lies / Than go on living without you [Mas eu prefiro ouvir as tuas mentiras / Do que continuar a viver sem ti]”). Além disso, podemos ver a vontade do “eu” de regressar para junto de quem ama emIs your heart filled with pain, shall I come back again? [Estará o teu coração cheio de dor, devo regressar?]”, apesar de tudo o que acontecera e destruíra o seu amor. Novamente, D. João sente vontade de voltar para Madalena, depois de tudo o que acontecera, nunca a esquecendo ou deixando de a amar.
Enquanto que não sabemos o desfecho da relação das personagens da canção (apenas previsões), sabemos o infeliz da de Madalena e D. João de Portugal. Devastado com as novas vidas forjadas no seu lugar, este acaba por as destruir apenas com o seu aparecimento, arrependendo-se demasiado tarde do seu erro.

Francisco (Suficiente)
Depois de muita indecisão na escolha da canção certa, tenho a certeza de que a música «You are the reason», do artista Calum Scott, iria “servir que nem uma luva” à obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, especialmente quando D. João de Portugal regressa vinte e um anos após a batalha de Alcácer-Quibir, onde fora declarado morto, e encontra a sua mulher casada com outro homem, Manuel de Sousa Coutinho, e vê que existe uma filha fruto desse casamento, Maria de Noronha.
D. João de Portugal tinha sido dado como morto na batalha de Alcácer-Quibir. Apesar das buscas da mulher Madalena que cessaram sete anos após a batalha, Madalena casou-se com Manuel de Sousa Coutinho, tendo o casal tido uma filha, agora com treze, chamada Maria.
Madalena sempre tivera medo de o regresso do suposto falecido marido, devido aos rumores e agoiros do fiel aio de D. João de Portugal, Telmo, sobre a possibilidade de o seu amo estar vivo.
Passados vinte e um anos, o maior medo de Madalena torna-se real. Um Romeiro (que se viria a descobrir que era D. João de Portugal) diz que D. João está cativo em Jerusalém, o que deixa Madalena destroçada.
Tal como na canção («I'd climb every mountain / And swim every ocean / Just to be with you / And fix what I've broken [Eu escalaria todas as montanhas / E nadaria todos os oceanos / Só para estar contigo/ E corrigir o que estraguei]), D. João de Portugal faz  tudo para chegar a Madalena que, vinte e um anos de distância, ainda ama.
O compositor da canção, Calum Scott, escreveu esta música pois passou por uma relação difícil. Nela diz que, apesar dos maus momentos, o amor que se sente pela outra pessoa devia ultrapassar tudo o resto. Mas nesta peça de Almeida Garret não foi assim. Madalena não amava D. João e estava interessada em Manuel Sousa Coutinho mesmo antes de o primeiro marido desaparecer. Se D. João pudesse, voltaria atrás no tempo («If I could turn back the clock / I'd make sure the light defeated the dark / I'd spend every hour of every day / Keeping you safe [Se eu pudesse voltar o tempo atrás / Eu teria a certeza que a luz derrotaria a escuridão / Eu iria passar cada hora do meu dia / A manter-te a salvo»]), visto que, quando regressou, nem o amor da sua vida nem Telmo o reconheceram, o que o deixou profundamente desiludido e triste.
D. João de Portugal só queria que Madalena ainda o amasse, mas esta amava Manuel de Sousa Coutinho e era muito feliz com ele («I don't wanna fight no more / I don't wanna  hide no more / I don't wanna cry no more / come back I need you to hold me [Eu não quero lutar mais / Eu não me quero esconder mais / Eu não quero esconder-me mais / Volta, eu preciso que me agarres]»).

Lúcia (Suficiente)
Ao analisarmos a letra da canção “A vida toda”, que foi escrita e produzida por Carolina Deslandes, podemos relacioná-la com a famosíssima obra com cariz de tragédia-drama romântico de Almeida Garrett Frei Luís de Sousa. A letra desta canção pode ser considerada análoga à situação de D. Madalena que, após ter esperado alguns anos pelo seu primeiro marido, D. João de Portugal, que desapareceu depois de ter lutado na batalha de Alcácer Quibir, chegou à conclusão de que ele nunca mais voltaria e decidiu seguir em frente com a sua vida por já não ter esperança de que D. João de Portugal regressasse. Ao tomar esta decisão, D. Madalena encontrou o que considerou o seu único e verdadeiro amor da vida, Manuel de Sousa, e voltou a casar.
Na peça, D. Madalena encontra o amor da sua vida, Manuel de Sousa, do qual nasce uma filha, que é fruto desse relacionamento: Maria. A ela D. Madalena sempre escondeu ter sido casada com outro homem, D. João de Portugal.
No poema da canção é relatado um amor ‘para a vida toda’, ou seja, único e verdadeiro amor da vida. Posso relacionar este amor com o de D. Madalena, que poderia ou não ter conhecido Manuel de Sousa num dia de sol («Que te conheci num dia de sol / Que o teu olhar me prendeu»); porém, o primeiro olhar que trocaram fez com que ela se apaixonasse logo e considerasse que aquele amor seria para a sua vida toda («Ali / Eu soube que era amor para a vida toda / Que era contigo a minha vida toda / Que era um amor para a vida toda»).
D. João foi esquecido em pouco tempo, pela razão de que nunca fora o verdadeiro amor de Madalena; já o contrário não se pode afirmar, porque, para D. João de Portugal, D. Madalena foi o seu grande amor: como podemos verificar na peça, D. João dá a entender que a perdoaria sempre, mesmo que ela já o tivesse esquecido e que tivesse ‘aproveitado’ a sua “morte” para o seu bem (« Os mais chegados, os que eu me importava achar... contaram com a minha morte e fizeram a sua felicidade com ela;»), o seu amor era tão forte por ela que ele teve-se como cego naquela relação («E eu tão cego que já tomava para mim!...»).
D. Madalena poderá ter sentido amor no casamento com D. João, porém, o verdadeiro amor para a vida toda encontrou-o no segundo casamento, com D. Manuel de Sousa. Ainda podemos relacionar o facto de encobrir o primeiro casamento com querer dar a entender à filha Maria que os pais sempre foram ‘perfeitos’ («Que os pais estiveram sempre casados / Eternos namorados»).

Laura (Bom -/Bom (-))
Ao escutar a canção “Papel Principal”, de Adelaide Ferreira ficou clara uma relação da letra da canção com o papel de Maria, e a sua relação com as outras personagens ao longo da história mas, principalmente, no Terceiro Ato, no final da peça Frei Luís de Sousa.
Ao longo da peça, o papel de Maria, embora muito presente nas preocupações de todos os que sabiam dos riscos que seria D. João de Portugal estar vivo, a sua voz e a sua opinião em relação ao seu próprio futuro não são devidamente expressadas ou escutadas, uma vez que todos os receios eram diligentemente escondidos da pequena.
 “No papel principal / Mas representaste e mentiste tão mal”, poderia aludir a Maria, que sempre soube que a mãe, Madalena, andava exageradamente preocupada com algo e sabia que só poderia ter a ver com questões do passado e o regresso de algo, pois a carga dramática de Madalena aumentava sempre que conversas sobre a guerra e o rei perdido surgiam.
Outra perspetiva, retirada a partir dos versos “Quem perdeu /
Foste tu só tu e nunca eu”, é a de Maria em relação a quem temia pelo seu futuro, como ser-lhe retirado o nome de família, as posses, etc. Esta perspetiva relaciona-se com o fato de que talvez Maria afinal não tivesse nada a perder e, apesar de “morrer de vergonha”, não chega a realmente a perder nada, ao contrário dos outros personagens, que acabam por perder exatamente o que lhes era mais precioso, a vida da jovem.
Relativamente aos mesmos versos, existe outra entidade a considerar, D. João de Portugal. Nesta ótica, o então Romeiro, que se apresenta como quem perdeu tudo, principalmente a família e o seu grande amor, Madalena, apercebe-se de que haverá alguém inocente que realmente pode perder tudo com a sua chegada, ou seja comparando o seu sofrimento com que Maria poderá sentir, D. João, de facto, não perdeu.
“O filme acabou / O drama acabou / Acabou-se a dor”. É neste registo que a peça acaba, com a morte de Maria, e, com ela, teoricamente, o drama, a dor e a angústia do que não se sabe, do incerto e a sensação de impotência, presente principalmente em Madalena desde a primeira cena do Primeiro Ato.
Nas últimas falas da peça fica claro quem sempre foi a personagem principal da história, o que antes estava disfarçado devido ao protagonismo e importância de tantas outras personagens. “Afinal, hoje o papel principal é meu”, esta é a afirmação de Maria nas suas últimas palavras, cena XI, é ela que vai perder os pais, a sua vida, a sua identidade. Para além disso, se esta não existisse não haveria qualquer tipo de preocupações, uma vez que as únicas consequências dos demónios do passado sobre cairiam em Maria.

Soraia (Suficiente)
A canção «I Still Love You» (Eu ainda te amo)., de Phora, remeteu-me imediatamente para a peça Frei Luís de Sousa devido à sua mensagem de um amor que, igual ao de Madalena e Manuel, teve de terminar.
Após a chegada do Romeiro e ter sido transmitido a Jorge e a Madalena que D. João de Portugal ainda se encontrava vivo, passados vinte e um anos da batalha de Alcácer Quibir, foi claro que para o marido e para o irmão de Manuel de Sousa Coutinho, o casamento não poderia continuar.
«I don´t wanna lose you/ I just wanna see you/ I just wanna love you (Eu não te quero perder/ Eu só te quero ver/ Eu só te quero amar») são os primeiros versos desta composição, que podem ser comparados ao sentimento de D. João quando regressa, e é confrontado com a realidade de que Madalena casara novamente. Os versos «Hopin that you miss me/ I´ve been tryna find you (Na esperança que sintas a minha falta/Eu tenho tentado te encontrar»),levam-me, mais concretamente, para o momento em que D. João se encontra com Telmo e o questiona sobre se é verdade, ou não, que Madalena o procurou durante sete anos e, então diz a Telmo «Oh! Telmo, Telmo, com que amor a amava eu!».
Também João sente que «Cause I just wanna love you for the times I ain´t had the time to (Porque eu só te quero amar por todas as vezes que não tive tempo para o fazer), quando Madalena bate à porta para ir ao encontro de Manuel e chama «esposo, esposo». Na sua inocência, devido ao amor que ainda sente pela sua mulher, acredita que esta o chama e que há, de facto, uma hipótese de voltarem a estar juntos: «É ela que me chama, Santo Deus! Madalena que chama por mim…».
Madalena tenta falar com Manuel de Sousa Coutinho para o tentar convencer que o Romeiro poderia ser apenas um impostor e que a sua palavra não era de confiança. Madalena, apesar da mágoa da morte de D. João, confiava em Manuel e estava disposta a tentar remendar a sua relação («I´ve been hurt before, but I trust you [Eu já fui magoado antes, mas confio em ti»]), Manuel sabia que o Romeiro era na verdade D. João e que por isso não era possível o casamento continuar, e diz a Madalena que isso é impossível («Crê-me, que to juro na presença de Deus: a nossa união, o nosso amor é impossível»).
Para ambos, D. João e Phora, o desfecho das relações não era o que estes pretendiam. D. João queria voltar para Madalena, mas, ao perceber que isso não é possível, arrepende-se da sua ação, e Phora também fica devastado pois os seus sentimentos não são recíprocos.

Carolina D. (Suficiente/Suficiente (+))
Ouvindo a canção «Lovely», da cantora Billie Eilish (com Khalid), achei ser uma canção que se adequa à peça Frei Luís de Sousa, na medida em que a canção fala sobre depressão e o caminho para tentar sobreviver-lhe.
Na peça, Madalena é uma personagem que já passou por muito, pois o seu marido, D. João de Portugal, foi dado como morto na batalha de Alcácer-Quibir, ficando assim ela viúva. No entanto, passados sete anos, Madalena volta a casar-se com Manuel de Sousa, de quem já se apaixonara ainda durante o casamento com D. João de Portugal. Madalena tem uma filha com Manuel, no entanto, ainda está emocionalmente magoada com o seu passado. Passado algum tempo, é dada a notícia de que o seu marido, que tinha sido dado como morto, na verdade está vivo e isso implica o fim do casamento de Madalena com Manuel, o que a deixa em pior estado, e ainda a morte de sua filha.
A vida de Madalena pode portanto, dizer-se instável. Na canção «Lovely», pode-se encontrar isso nos versos sobre ter encontrado um caminho para fora da depressão, mas acabar por ser um falso alarme («Thought I found a way / Thought I found a way out / But you never go away [Pensei ter encontrado um caminho / Pensei ter encontrado uma saída / Mas tu nunca vais embora]»). Os versos «I hope some day I'll make it out of here / Even if it takes all night or a hundred years / Need a place to hide, but I can't find one near [Espero que um dia eu consiga sair daqui / Mesmo que demore a noite toda ou cem anos / Preciso de um sitío para me esconder mas não consigo encontrar um perto]» podem ser comparados com o facto de Madalena se sentir presa nas suas mágoas e não conseguir encontrar maneira nenhuma de conseguir ultrapassar as suas dificuldades, passe o tempo que passar.
Vê-se, portanto, esta tristeza de Madalena, com um tempo de duração indefinida e ela própria se apercebe disso. Daí ser ainda mais frustrante não saber quando vai conseguir ser feliz. Este sentimento acaba por dar cabo de Madalena psicologicamente, pois, mesmo tentando seguir em frente depois da suposta morte do seu marido, não consegue deixar de pensar na tristeza: «Walkin' out of town / Lookin' for a better place / Something's on my mind / Always in my headspace [Indo para fora da cidade / À procura de um sítio melhor / Algo está na minha mente / Sempre no meu espaço vazio]».
Madalena mostra-se desesperada, com as desgraças todas a acontecerem ao mesmo tempo («Ó cruz preciosa, refúgio de infelizes, ampara-me tu, que me abandonaram todos neste mundo, e já não posso com as minhas desgraças. E estou feita um espetáculo de dor e de espanto para o céu e para a terra!»).
«Lovely» é, portanto, uma canção relacionada com o estado psicológico de Madalena que aparenta estar com uma tristeza profunda.

Mariana S. (Bom (+)/Bom)

Ver quem amamos escapar-nos das mãos pode dar cabo de nós. Ter as esperanças destruídas pode dar-nos uma infelicidade tremenda. O segundo ato de Frei Luís de Sousa está repleto de esperança, ilusão, drama e amor eterno golpeado por uma frase, “Meu marido, meu amor, meu Manuel!”.
Sete anos após a batalha em que D. Sebastião e D. João de Portugal desapareceram, Madalena decide terminar com as buscas pelo amado, D. João, e seguir com a sua vida, casando com Manuel de Sousa, por quem já se sentira atraída ainda antes de Alcácer Quibir. Ao seguir com o seu caminho, mantém uma pequena esperança de D. João ainda estar vivo.
Após catorze anos de ter sido declarado como morto, D. João de Portugal, primeiro marido de Madalena, regressa a casa como Romeiro, dizendo que um homem que muito bem lhe quis tem uma mensagem para lhe entregar, e depara-se com esta casada com outro homem e já com uma filha, sem o reconhecer – as suas esperanças de regressar e ter a amada à sua espera, tal como seria de esperar, uma vez que o amor entre os dois era tão forte, são desmanteladas. Este momento de desgosto remete-me para o início da canção “Always” da banda Bon Jovi: ao ver que Madalena não o reconhece, o Romeiro sente como tivesse levado uma facada no coração (“This Romeo is bleeding [Este Romeu está a sangrar]”), e não podendo contar a verdade, pois iria estragar a nova vida da amada e desrespeitá-la (“But you can´t see his blood [Mas tu não consegues ver o seu sangue]”), fica ainda mais destroçado.
Mesmo depois de se aperceber da nova vida de Madalena, mostrando que ainda a ama, não desiste de a ter de volta, demonstrando a devoção e o carinho que tem e, possivelmente, sempre irá ter pela mesma (“I´ll be there till the stars don´t shine [Eu estarei lá até as estrelas deixarem de brilhar] / Till the heavens burst and the words don´t rhyme [Até os céus explodirem e as palavras não rimarem] / And I know when I die, you´ll be on my mind [E eu sei que quando morrer, tu estarás na minha mente] / And I will love you, always [E eu te amarei, sempre]”). No entanto, após conversar com Telmo, este apercebe-se de que não há nada a fazer, e desvendar a sua verdadeira personalidade só iria desonrar Madalena (“Agora é preciso remediar o mal feito. Fui imprudente, fui injusto, fui duro e cruel.”).
Já na cena VI do Ato III, D. João ouve Madalena chamar pelo seu amor (“Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois!”) e, iludido, pensando que esta esteja a chamar por ele (“Por vós?!”; “Pois por quem? Não lhe ouves gritar «esposo, esposo»?”), recupera as esperanças e vê-se, novamente, devastado quando se apercebe de que, afinal, Madalena chama por Manuel, e não por ele (“Meu marido, meu amor, meu Manuel!”) – é neste momento que D. João cai na realidade e decide, finalmente, desistir de Madalena. Tal como o sujeito da canção demonstra ainda estar esperançoso de que a mulher em causa lhe irá dar mais uma oportunidade, mesmo sabendo que ela seguiu a sua vida (“But baby if you give me just one more try [Mas, querida, se tu me deres apenas mais uma chance] / We can pack our old dreams and our old lives [Podemos arrumar os nossos antigos sonhos e antigas vidas] / We´ll find a place where the sun still shines [Nós iremos encontrar um lugar onde o sol ainda brilhe]”).
Tanto o Romeiro – quando, mesmo depois de ter todas as esperanças desfeitas, decide salvar a família de Madalena quando esta ia separar-se para seguir o caminho católico (“vê se ainda é tempo; salva-os, salva-os, salva-os, que ainda podes”) –, como o sujeito da canção – afirmando que sempre irá amar a mulher em causa –, apercebem-se de que têm de terminar com as esperanças e as ilusões, pois só sairão mais magoados. No entanto, admitem que sempre irão amá-las, e, direta ou indiretamente, que farão tudo para as ver felizes. Tanto a peça como a música são duas grandes obras de arte que transmitem drama, amor, fidelidade e arrependimento.

Cardita (Suficiente)

A canção “You Are The Reason”, interpretada por Calum Scott, apresenta traços semelhantes em relação à história de amor existente entre D. João de Portugal e D. Madalena, desfeita por uma batalha, que fez que o paradeiro de João de Portugal tornasse desconhecido, levando as pessoas a pensar que pudesse ter tombado nessa batalha.
”I’d climb every mountain  /  And swim every ocean  /  Just to be with you  /  And fix what I’ve broken” (Eu escalava todas as montanhas / e mergulhava em qualquer oceano / Só para estar contigo / E consertar tudo o que quebrei) são dos versos que melhor assentam ao Romeiro (D. João de Portugal), porque representam aquilo que teve de ultrapassar para regressar para junto da sua amada, aquela que ao longo de vinte e um anos, de cativeiro, lhe deu a força para sobreviver a tanto sofrimento, tanta saudade («São vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias que por aqui passaram»). D. Madalena, após o tempo de procura e de espera (sete anos), deduziu que o seu esposo tinha morrido, e deu uma volta à sua vida, constituindo uma nova família quem tanto pareciam felizes.
Passados vinte e um anos, D. João regressa e, irreconhecível, procura D. Madalena. Percebe imediatamente que esta deu um novo rumo à sua vida. Inconformado e sedento de vingança, provoca o pânico ao informar «que um homem que muito bem lhe quis…» estava vivo, confirmando assim as profecias de Telmo, que nunca duvidara do seu regresso.
“There goes my mind racing  /  And you are the reason  /  That I’m still breathing  /  I’m hopeless now” (Lá vai a minha mente a correr / E tu és a razão / Pelo qual eu ainda respiro / Agora estou sem esperança) este quarteto vai ao encontro de tudo o que é sentido pelo Romeiro. D. João, sentindo-se inútil e esquecido, escolhe uma vida de solidão. Uma relação de amor que tinha tudo para dar certo, acabou por ser esquecida.
“ If I could turn back the clock  /  I’d make sure the light defeated the dark  /  I’d spend every hour, of every day  /  Keeping you safe” (Se eu pudesse voltar atrás no tempo / certificar-me-ia que a luz derrotava a escuridão / e eu passaria cada hora, de cada dia / mantendo-te a salvo) estes versos exprimem como o tempo foi fatal para D. João, que passou de um homem honrado para um “ninguém”, designação dada pelo próprio. Esquecido e resignado entregou-se ao seu destino.

Carolina C. (Suficiente (+))
D. João de Portugal esteve durante muitos anos sem ver a sua amada mulher, Madalena. Durante todo esse tempo nunca parou de pensar na sua esposa. Passado vinte e um anos, D. João volta à sua antiga casa disfarçado de romeiro e depara-se com o que menos esperava: Madalena tinha voltado a casar e tinha uma filha, Maria, agora com treze anos. O sonho que tinha, de recuperar Madalena, tinha sido destruído quando se apercebe de que Madalena tem uma vida feliz e, ao contrário dele conseguiu seguir em frente com a sua vida pessoal. O que o romeiro não sabe é que Madalena tem vivido todos estes anos angustiada com o seu desaparecimento.
A canção que escolhi para ilustrar o sofrimento de D. João durante os anos que esteve longe de Madalena foi "Always", de Gavin James. A música fala de uma pessoa que sofre por não estar com a outra pessoa amada e que pensa nela todos os dias tal como D. João pensou e sofreu por Madalena durante vinte e um anos. Nos versos "Sentes-te abatida como eu? [Do you feel damaged just like I do?]" podemos encontrar relação com o sentimento de D. João quando esteve em cativeiro, onde pensaria sempre se Madalena estaria na mesma situação dele. "Estás nos meus pensamentos |Sempre, sempre [You are in my head| Always, alway]" Madalena nunca saiu da cabeça dele nem por um segundo e, durante aquele tempo a única coisa que lhe dava força era lembrar-se de que a mulher que amava estaria à sua espera em casa. O verso "As rachaduras não se vão consertar e as cicatrizes não vão desaparecer [Cracks won't fix and the scars won't fade away]" lembro-me que D. João de Portugal ao ver a nova vida de Madalena fica destroçado e com marcas que ficarão. Ao perceber que a sua amada está mais feliz sem ele, D. João decide ir-se embora sem contar a Madalena a sua verdadeira identidade pois acredita que esta é muito feliz ao lado de Manuel. Podemos perceber isto na cena V, quando o romeiro diz "E que sossegue, que seja feliz"; mesmo assim, D. João não consegue esconder o que sente por saber que Madalena já não o ama como ele a ela mas agora ama outro homem "Oh! Telmo, Telmo com que amor a amava eu! sua mulher que ele já não pode amar sem desonra nem vergonha!... Na hora em que ela acreditou na minha morte, nessa hora morri. Com a mão que deu a outro, riscou-me do número de vivos, D. João de Portugal não há de desonrar a sua viúva". Ele acaba por tomar uma decisão altruísta, pondo a felicidade de Madalena à frente da sua, deixando-a ser feliz com a sua nova família.

Catarina (Suficiente)
A canção «Happier», de Marshemello e de Bastille, lembrou-me muito a parte da história de Almeida Garrett do livro Frei Luís de Sousa, em que o romeiro, D. João de Portugal, sabe que não pode dizer a Madalena de Velhena que regressou, pois vê como ela está apaixonada e que tem uma boa e feliz família com Manuel de Sousa Coutinho e a sua filha Maria de Noronha.
Madalena de Vilhena era casada com D. João de Portugal até ele ir para a batalha de Alcácer-Quibir. Assumiu que ele teria falecido após sete anos de procura. D. João de Portugal era loucamente apaixonado por ela mas, mesmo estando ela casada com ele, despertou-lhe a atenção Manuel de Sousa Coutinho. Assim, após ter acreditado na morte do seu marido, aproximou-se de Manuel e começaram uma família. Quando D. João de Portugal volta, ele fica triste e um pouco desiludido com o facto de ninguém ter reparado que era ele (« ̶ Ninguém, Telmo, ninguém: se nem já tu me conheces!») além de Telmo, seu velho aio («Meu amo! Meu senhor!... sois vós? Sois, sois. D. João de Portugal, oh!, sois vós, senhor?»). D. João, apesar de terem passado vinte e um anos continua apaixonado por ela e, quando ele a ouve chamar pelo seu marido (« ̶ Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais: abri.»), ele ainda fica na esperança de que seja para ele, o que não acontece («Meu marido, meu amor, meu Manuel!») e D. João pede para ninguém contar a Madalena que era ele que se encontrava sob a capa daquele misterioso romeiro («Basta: vai dizer que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais ouve novas dele, que tudo isso foi vil e grosseiro embuste de inimigos de... dos inimigos desse homem que ela ama. E que sossegue, que seja feliz. Telmo, adeus!»), o que acontece também na canção: «Latelly I´ve been I´ve been thinking I want you to be happier» [Ultimamente eu tenho eu tenho pensado, eu quero que tu sejas mais feliz].
Quando nós gostamos de uma pessoa, só queremos que ela seja feliz e é isso que D. João de Portugal tenta fazer: apesar de lhe custar ver a sua amada com outro homem, ele não prolonga mais o seu sofrimento e faz como o autor desta canção escreveu: «I want to see you smile, but know that means I´ll have to leave» [Eu quero te ver a sorrir mas sei que isso significa que tenho de ir]. Esta parte da história entristece-me pois D. João de Portugal passou por muito com a sua ida para a batalha e aqueles anos todos em cativeiro e, quando finalmente consegue voltar para casa, vê que tudo o que tinha tinha desaparecido e apenas o seu grande amigo Telmo continua lá para ele como antigamente.

Tiago (Suficiente)
Quando decifrei a letra desta canção, «Lately», de Stevie Wonder, cheguei à conclusão de que seria ideal para a relacionar com Frei Luís de Sousa. Nesta música, identifico o sujeito com Madalena, que levaria uma vida deprimente após o desaparecimento de D. João de Portugal na batalha de Alcácer Quibir e só sete anos depois acabaria por casar com Manuel de Sousa Coutinho. O amor entre os dois já era uma realidade mesmo quando Madalena ainda era casada com D. João.
Logo no início da canção, associo os primeiros versos com o que Madalena sente: «Lately, I have had the strangest feeling / (…) / Yet the thought of losing you's been hanging / 'Round my mind (Ultimamente, tenho tido o sentimento mais estranho / Ainda o pensamento de te perder esteja pendurado / À volta da minha mente)». No primeiro verso da canção do norte-americano de sessenta e oito anos, o sentimento de perda e saudade de Madalena é relacionável com este mesmo verso. Os outros dois versos citados anteriormente baseiam-se na presença ainda bastante viva de D. João na mente de Madalena, que, apesar de o sentimento por Manuel de Sousa ser maior, também o sente por D. João de Portugal. Relaciono a terceira estrofe da canção com os sete anos de espera de Madalena por D. João, pois nesta estrofe há uma aceitação dum «adeus» sofrido e triste: «But what I really feel my eyes won't let me hide / 'Cause they always start to cry / 'Cause this time could mean goodbye (Mas o que realmente sinto que os meus olhos não me deixam esconder / Porque eles começam sempre a chorar / Porque esta hora pode significar adeus)».  «Depois que fiquei só, depois daquela funesta jornada de África que me deixou viúva, órfã e sem ninguém… sem ninguém, e numa idade… com dezassete anos!» Cito esta frase dita por Madalena pois também se pode associar a esta situação de perda e desgosto. Tanto como a Madalena, mas como para D. João de Portugal, esta última estrofe da canção mencionada pode ser interpretada, pois D. João acaba por se deparar com uma Madalena diferente de há vinte e um anos, que já casara de novo, desta feita com Manuel de Sousa. Isso, primeiramente traz-lhe desgosto e tristeza, porque julgou que Madalena o esquecera facilmente («Fui imprudente, foi injusto, fui duro e cruel. E para quê? D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera»). Só mais tarde é que D. João percebe que Madalena tem o direito de casar novamente e constituir uma família.

Beatriz M. (Suficiente)

O tema abordado na canção do cantor e compositor Ed Sheeran, “One”, faz-me pensar no enredo da peça de Almeida Garrett por várias razões. Principalmente, porque envolve a história de alguém que não quer perder quem ama por não estar presente.
Começo por dar enfâse logo à primeira frase da canção (“Tell me the you’ll turn down the man who asks for your hand, cause you’re waiting for me [Diz-me que recusarás o homem que pedir a tua mão porque estás à minha espera]”) a atitude que D. João de Portugal (também conhecido por Romeiro) esperava da sua esposa, D. Madalena de Vilhena. Sabemos que o exato contrário aconteceu, que Madalena, apesar da dificuldade de o fazer, seguiu em frente e casou novamente. Mesmo tendo esperado sete anos pelo, declarado morto, marido (“Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei sua memória, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte por essas costas de Berberia…”), alguém apareceu na sua vida, alguém que lhe voltou a dar esperança. Esse senhor foi Manuel de Sousa Coutinho, com quem mais tarde teve uma filha, D. Maria de Noronha. Aquando destes acontecimentos, D. João de Portugal fora mantido em cativeiro por vinte anos, pensando que sua esposa estaria à sua espera, apesar da demora (“Pois éreis cativo em Jerusalém?”).
Foi mantido em cativeiro, preso é claro, contra a sua própria vontade. Nunca pensou que algo assim pudesse acontecer, não estava, de maneira nenhuma, à espera disto (“I’ve got no plans at all to leave [Não planeio, de todo, ir-me embora]”) a canção diz-nos que alguém foi embora, que não está presente (mesmo que apenas em estado de espírito), mas não por vontade própria.
O sofrimento e o desespero que alguém em cativeiro passa, ainda que acabe por se libertar, deve ser atroz. Imagino que quando o preso se liberta venha o sentimento de felicidade. Mas por outro lado, para onde ir? O que fazer? D. João de Portugal teria de atravessar mar e terra para chagar a casa, que era o único sítio onde desejava estar, contando ver a esposa à sua espera. (“I’m so long gone so tell me the way home [Estou há tanto desaparecido, por isso diz-me o caminho para casa]”) talvez seja o que Romeiro pensa, pelo que reza, reza, pelo caminho para casa. Quando chega, não encontra aquilo por que esperava. Acredito que, quando se libertou, era só nisso que pensava.

Raquel (Bom -)

Na canção «Impossible» (2012), James Arthur escreve sobre um amor em que depositou toda a confiança e paixão, e que, no entanto, se revelou um amor impossível de manter. Rapidamente, qualquer um consegue fazer a ligação entre esta letra e o amor de Madalena e Manuel de Sousa que, apesar de verdadeiro, não se pôde manter, devido ao regresso de D. João (primeiro marido de Madalena) da Batalha de Alcácer Quibir, na qual se julgava ter morrido. O seu regresso torna aquele amor proibido.
«And now / When all is done, there is nothing to say / You have gone and so effortlessly» (E agora / Quando está tudo feito e não há nada a dizer / Tu foste embora sem fazer qualquer esforço) leva-nos até à frase de Madalena (« — Ouve, espera; uma só, uma só palavra; Manuel de Sousa!...») no momento em que Manuel de Sousa se dirige para a cerimónia em que eles entregarão o resto das suas vidas à Igreja sem repensar a sua decisão uma única vez.
Mais à frente, na música ouvimos a frase «Tell them I was happy / And my heart is broken / All my scars are open /Tell them what I hoped would be impossible» (Diz-lhes que eu era feliz / E que o meu coração está partido / Todas as minhas cicatrizes estão abertas / Diz-lhes que o que eu esperava ia ser impossível) que quase se interliga com a referida no segundo parágrafo, pois, face à desistência de Manuel, Madalena encontra-se destroçada e confusa, porque nunca soube que o Romeiro que lhe deu as notícias sobre D. João de Portugal era, na verdade, o próprio D. João de Portugal. Por estas razões, Madalena encontra-se inserida numa tragédia / num drama e diz: «que me abandonaram todos neste mundo, e já não posso com as minhas desgraças…».
Frases como «Falling out of love is hard», «Broken trust and broken hearts» ou
«And thinking all you need is there / Building faith on love and words» (Deixar de estar apaixonado é díficil; Confiança partida e corações partidos; E pensar que tudo o que precisas está ali / Construindo fé em amor e palavras) mostram o coração partido e a desilusão do autor da música e lembra-nos o cariz triste e revoltado que Madalena apresenta ao longo da obra, em especial um pouco antes da cerimónia.
Sempre achei o tema «Impossible» muito cativante, pois, de certa forma, já todos nós experienciámos relações das quais saímos desapontados quer seja com um/a namorado/a ou com um/a amigo/a que deixou o nosso «coração partido». Na reta final da música ouvimos ainda «I remember years ago / Someone told me I should take / Caution when it comes to love / I did» (Eu lembro-me que há uns anos / Alguém me disse para ter / Cuidado quando o assunto é amor / Eu tive) e verificamos que, tal como o James Arthur, Madalena acabou com o coração partido, mesmo que tivesse sempre tomado as decisões mais ponderadas, como esperar sete anos pelo regresso de D. João de Portugal antes de casar com Manuel de Sousa e ter a sua filha Maria. Mesmo assim, isso não a preveniu de ter o seu coração partido.

Margarida P. (Bom +)

A abordagem da canção «A Thousand Years», da cantora Christina Perri, pode, a meu ver, ser facilmente comparada com o amor de D. João de Portugal por Madalena na peça de Almeida Garrett. Um amor que não morre, nem estando o marido vinte e um anos separado da mulher, nem nunca há-de morrer.
Em Frei Luís de Sousa, o antigo marido de Madalena, que todos julgavam ter morrido em batalha (exceto Telmo, que sempre fora fiel ao amo), regressa na esperança de encontrar a mulher à sua espera e que o amor entre eles renascesse. D. João de Portugal, o Romeiro, desilude-se quando chega à casa onde fora feliz e encontra Madalena casada com Manuel de Sousa. Sabemos, no entanto, que a paixão de Madalena por Manuel já vem do tempo de D. João. Ao desabafar com Telmo, admite que amou aquele a quem agora chama marido desde que o viu pela primeira vez («(…) porque Manuel de Sousa é meu marido, começou como um crime, porque amei-o assim que o vi (…)»). O Romeiro fica ainda mais abatido quando descobre que a mulher teve uma filha com o seu novo marido, Maria de Noronha.
Tal como na canção, em que o “eu” diz que sempre amou e sempre amará o parceiro, em Frei Luís de Sousa, D. João de Portugal tem esse papel, visto que, mesmo após vinte e um anos de cativeiro, de sofrimento, ainda espera por Madalena («I have died every day waiting for you [tenho morrido todos os dias à tua espera]»). Também é de muita importância apontar que, ao longo dos anos, o amor de D. João por Madalena não diminuiu e é possível verificar isso quando, ao saber da existência de um fruto da paixão entre Madalena e Manuel, D. João volta atrás com a sua palavra, dizendo que o seu regresso era uma farsa, tudo para proporcionar a Madalena a felicidade que ela merece.
O amor versado nesta canção pode também ser comparada ao amor entre Madalena e Manuel de Sousa. No final da peça, estas duas personagens acabam separadas, mas é visível que Madalena nunca irá esquecer o segundo marido ou deixar de o amar. Este sentimento de amor perene está sempre presente na canção de Christina Perri: «Darling, don't be afraid I have loved you / For a thousand years / I'll love you for a thousand more [Amor, não tenhas medo, eu tenho-te amado por mil anos e hei de amar-te por mais mil]».
Parece-me que D. João de Portugal poderia ter seguido a letra da canção como um conselho para não perder a sua amada esposa, aproveitando os versos «I will be brave / I will not let anything take away / What's standing in front of me [vou ser corajoso / não vou deixar que nada leve / o que está mesmo à minha frente]». O Romeiro devia ter lutado por quem amava e não devia ter desistido mesmo com as dificuldades que se puseram no seu caminho.

#