Saturday, August 25, 2018

Frei Luís de Sousa pelo 11.º 3.ª


Inês M. (Bom (-))
Transpondo para um contexto dramático, a canção “Happier”, de Ed Sheeran, pode ser facilmente enquadrada no drama de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, como monólogo de D. João de Portugal dirigido a Madalena de Vilhena.
O tema interpretado pelo cantor britânico relata a história de um rapaz cuja amada se encontra numa nova relação, deixando-o para trás como nada mais que uma memória. É algo que podemos também relacionar com a situação de D. João e Madalena, que, após o desaparecimento do marido, naquela “funesta jornada de África”, se casou com Manuel de Sousa Coutinho.
Após o regresso de D. João de Portugal, que se apresenta então como um simples romeiro, vinte e um anos após a sua ausência, este tem conhecimento de que a sua mulher, teria contraído matrimónio com um outro homem, como o sujeito de “Happier” (“I saw you in another’s arms [Vi-te nos braços de outro alguém]”), contudo não a julga por isso: “não posso criminar ninguém porque o acreditasse: as provas eram de convencer todo o ânimo”. Também na canção, o sujeito não culpa a rapariga por esta ter seguido em frente, ainda que o magoe saber que ela já tem alguém que a faça feliz da mesma forma que antes fazia: “Promise that I will not take it personal (…) If you're moving on with someone new [Juro que não levarei a mal se seguires em frente com alguém novo]”.
Após ter a confirmação de que Madalena tinha feito todos os possíveis para que o marido fosse encontrado, D. João de Portugal decide, então, desaparecer para poupar a mulher “da vergonha, e ao meu nome da afronta”, que, após tanto tempo, se encontrava mais estável e cuja nova relação a fazia feliz, o que João não queria perturbar pois, como é dito no verso da canção, “You look happier [Pareces mais feliz]”, e por gostar tanto dela sabia que não podia voltar para a desestabilizar.
Tanto na peça dramática de Garrett, como no tema composto e interpretado por Ed Sheeran é-nos transposta uma situação de um “eu” que se sente na obrigação de aceitar que a pessoa com quem planeava passar o resto da vida não partilha dos mesmos objetivos, tendo refeito a sua vida com alguém que, pela sua perspetiva, a faz mais feliz do que este fazia quando estavam juntos “Saw that both your smiles were twice as wide as ours [Vi que os vossos sorrisos eram duas vezes maiores que os nossos]”, sendo este um sentimento agridoce pois gostava de ser ele a dar-lhe essa alegria mas tendo sempre em conta que o principal era a felicidade daquela que fora, em tempos, a sua esposa e namorada, respetivamente.
Estes decidem, então, afastar-se, dando liberdade à rapariga. Sabemos que o sujeito de "Happier" ficará à espera dela, no caso de precisar de um consolo derivado de um possível término da sua actual relação (“But if he breaks your heart like lovers do, just know that I'll be waiting here for you [Mas se ele partir o teu coração como os amantes fazem, espero que saibas, que estarei aqui à tua espera]”). Quanto a D. João, nada mais se sabe após o seu desaparecimento.

Pedro (Suficiente > Bom-)

Escolhi a canção “Survivors”, da cantora Selena Gomez, pois considero que se podem  encontrar sentimentos semelhantes nesta música e em Frei Luís de Sousa, de Almeida Garret.
Em Frei Luís de Sousa, Madalena perde contacto com o primeiro marido, que tanto amava, após a batalha de Alcácer-Quibir. Presume-se viúva, mas a incerteza em relação ao paradeiro do marido faz com que viva com ainda maior angustia, dado que uma parte de si não desacredita no seu regresso. Como “proof in form of scars [prova em forma de cicatrizes]”, estas marcas ficarão para sempre com ela, impedindo-a de voltar a ter uma vida estável e feliz.
Sete anos após a perda de D. João de Portugal, Madalena casa-se com Manuel de Sousa Coutinho, que lhe reconstrói o “broken heart / With bricks you made from broken parts [coração partido / Com tijolos feitos de cacos]”. Madalena cria, assim, uma nova vida, com um novo homem, com quem viria a ter uma filha — Maria de Noronha.
Ao longo da peça, são vários os fatores que contribuem para a pesada e constante agonia em que Madalena vive: a crença de Telmo de que o seu primeiro amo não morrera (“dúvida de fiel servidor, esperança de leal amigo”); a grave doença — que levou à morte — da sua filha (“Se o perceberá a pobre da mãe!”); a peste em Lisboa que levou ao incêndio da sua casa (“ilumino a minha casa para receber os muito poderosos”) e ao consequente regresso à casa onde vivera com D. João de Portugal, que tantas memórias indesejáveis lhe trazem — “vou morrer naquela casa funesta”.
Mais tarde, aparece um Romeiro que se apresenta como “ninguém”, mas rapidamente se percebe que é o desaparecido D. João de Portugal. Manuel de Sousa — “sweet devoted counterpart [doce parceiro devotado]” —, é devotado também à igreja e, afim de não viver em pecado, termina o “amor […] impossível” com Madalena, quando percebe qual é a sua verdadeira identidade do forasteiro.
A história repete-se e Madalena volta a perder um marido e, desta vez, uma filha também. Já cansada e sem forças — “feita um espetáculo de dor e de espanto para o Céu e para a terra” — deixa de lutar por aquilo que deseja e entrega-se a Deus. “The first time always falls so far [da primeira vez o corte é sempre muito fundo]”, mas à segunda, as feridas “heal twice as hard [saram duas vezes mais dificilmente]”.
Na canção, o “eu” considera-se a si e à sua cara metade “survivors of the wild [sobreviventes da loucura]”, já em Frei Luís de Sousa, Madalena, Manuel, Maria e D. João foram todos vítimas da loucura.

Mafalda (Bom/Bom (+))
Nas cenas finais de Frei Luís de Sousa, mais precisamente nas cenas VI, VII, VIII e IX, é-nos transmitido um forte conjunto de emoções, que constitui um dos momentos mais dramáticos da peça. O amor de Madalena e Manuel era verdadeiro e genuíno, mas houvera o azar de ter começado por ser um crime, tendo em conta que o par se apaixonar quando D. João desaparecera na guerra. Quando este regressa vinte e um anos depois, o casamento dos dois amantes desfaz-se, o que não foi uma decisão fácil de tomar, principalmente para Madalena. Esta insistira bastante com Manuel (“Marido da minha alma, pelo nosso amor te peço (…) ”) sobre se seria mesmo necessário pôr um final a tudo aquilo que tinham vivido.
A canção interpretada por Mariza “Sem ti” tem como temática principal a partida de alguém que amamos e a dor que causa em nós, ilustrando exatamente o que Manuel e Madalena passaram e sentiram. “Fiquei sem palavras / tiraste-me o chão” foi o que o sujeito poético nos transmitiu e pode associar-se a  Madalena, por ela ter ficado tão desamparada com o desenrolar dos acontecimentos: o aparecimento “de um romeiro”, a má saúde da filha e o final do seu casamento. A canção poderá também ser relacionada com Manuel, porque, no momento em que este se despede de Madalena, hesita em abraçá-la e acaba por ir embora simplesmente, sem dizer nada “Olhaste p'ra mim (…) / e sem dizeres nada (…) disse-te adeus”. Se analisarmos mais atentamente a letra da canção, quando ouvimos “Quero-te abraçar/ e ficar assim / esquecida de tudo / esquecida do mundo / esquecida de mim”, associamos, de imediato, esses sentimentos e vontades a Madalena, após Manuel ter saído. Nessa altura, Madalena pede a Deus apenas mais um momento com o seu amado – “Nem mais um instante, meu Deus?”. Negando ainda um pouco toda a situação, chega a lamentar-se da saúde da filha e a colocar a hipótese de Deus a levar como levou toda a gente. Todo o desespero de Madalena e a perceção de que poderá estar sozinha é algo comum à parte final da canção – “Eu só sou eu / contigo aqui” – podendo o “contigo” ser referente a Deus, visto que era o único que ficara.
Tanto a peça como a canção têm um carácter dramático e emocional bastante vincado: na peça, graças a personagens como Madalena e Maria; e na canção, graças à excelente interpretação de Mariza. Tendo em conta todos estes aspetos, podemos dizer que a canção até podia ter sido escrita pela própria Madalena, uma vez que estaria a sentir as mesmas emoções ou a querer expressar os pensamentos que estão expressos na canção.

Eduardo (Suficiente +)
Socorro-me de uma canção de Paulo Gonzo, em conjunto com Ana Carolina, para estabelecer uma análise comparativa com a tragédia de Almeida Garrett Frei Luís de Sousa. A canção a que me refiro, “ Quem de Nós Dois  ”, publicada já há alguns anos, em 2013, aparece na banda sonora da programação televisiva portuguesa, talvez porque se lhe note um estilo dramático, à semelhança da obra de Garrett.
Logo na segunda estrofe da canção encontram-se vários aspetos importantes para relacionar as duas partes. Em “Quem de nós dois vai dizer que é impossível o amor acontecer.”, o “nós dois (…) “pode representar Madalena de Vilhena e Manuel de Sousa Coutinho pois também para estes o amor foi assunto algo controverso.
O passado de Madalena coloca em todo o enredo uma sensação de dúvida e intriga, visto que também este é uma dúvida acerca do destino do seu ex-marido D. João de Portugal que pelo que se sabe terá desaparecido na famosa batalha de Alcácer Quibir. Temos em “Quem de Nós Dois “uma referência a isto em “Não é que eu queira reviver nenhum passado”.
No ato I, cena VII, Madalena apercebe-se de que algo se passa com o seu marido, que chega da outra margem do Tejo. Este parece-lhe preocupado, demonstrando pela sua expressão que algo com ele se passa. “Que Tens tu? Nunca entraste em casa assim. Tens coisa que te dá cuidado… e não mo dizes? O que é? “São perguntas em que a personagem mostra conhecer bem o marido e fica intrigada, preocupada, tenta saber o que se passa. Na letra da canção conseguimos reparar uma relação com esta cena em “Eu já conheço o teu sorriso. Leio o teu olhar”.
Na cena XII do ato I estamos perante uma demonstração do amor de Madalena por Manuel pois esta mostra-se dececionada com o desaparecimento do retrato do marido, Manuel de Sousa: “Meu Deus, meu deus!...Ai, é o retrato do meu marido! Salvem –me aquele retrato!”. Esta demonstração de amor também é comprovada pelo sujeito da canção de Gonzo, em “Sinto dizer que amo mesmo está ruim para disfarçar…”
D. Madalena tem a si associada a “fama” de ser uma pessoa que vive dominada pelo destino e até incapaz ou impotente em relação ao fatalismo. Mas as suas tormentas vieram a tornar-se realidade com a resolução do Ato III, quando o seu Marido se conforma com que a única solução digna que têm é mesmo dedicarem- se à vida religiosa, mesmo com a relutância da mãe de Maria revelada em “Ouve, espera: uma só, uma só palavra; Manuel de Sousa!..”, que se pode traduzir em “e te perder de vista assim é ruim de mais” na letra da canção.

Inês S. (Bom +/Muito Bom-)
A harmonia da combinação dos acordes e sonoridades desta composição musical transporta-nos para o mundo das emoções, embalados por uma bela melodia que poderá traduzir um tempo de paixão e ternura e, simultaneamente, a saudade de um bonito amor que se desfez com a força do destino. Na voz de Mariza cantam-se versos que falam do “fogo” do amor, de dor e de saudade, numa cumplicidade entre o sujeito poético e a Chuva, que “ouviu e calou” o seu “segredo”. Sentimo-nos envolvidos, assim, num ambiente de vivências e sentimentos fortes, lembrando o tema do drama que Almeida Garrett foi buscar ao século XVII, sob a égide da liberdade de amar (mesmo contra as convenções sociais e morais da época), mas publicado em “um século democrático” quando, para construir o futuro, segundo o autor, o povo quer “a verdade do passado no romance ou no drama histórico” e “há de aplaudir, porque entende”.
Em Frei Luís de Sousa o passado sobrepõe-se ao presente, demonstrando que o homem é pequeno perante os Fados/o Destino. O homem íntegro e corajoso, pai exemplar e preocupado, que renasce como Frei Luís de Sousa, nome religioso de Manuel de Sousa Coutinho, fora um marido que desafiara o passado, tendo a fatalidade caído sobre si e a família – a filha sofre a morte física e os pais “morrem” para o mundo, ingressando na vida religiosa. No entanto “Há gente que fica na história / Da história da gente”, assim parece cantar Sóror Madalena, pois “As coisas vulgares que há na vida / Não deixam saudades / Só as lembranças que doem / Ou fazem sorrir”.
D. Madalena de Vilhena, a esposa amada pelos dois maridos, viveu permanentemente em conflito com o passado porque “... amei-o assim que o vi... D. João de Portugal ainda era vivo. O pecado estava-me no coração...”. Ela procura, contudo, ser feliz (“Oh! Que amor, que felicidade”) mas é bem mais forte o medo constante da vinda do primeiro marido, desaparecido (morto?) em Alcácer Quibir. O seu sofrimento aumenta quando, no incêndio provocado pelo atual “esposo”, Manuel de Sousa (cavaleiro da Ordem de Malta e grande patriota), à sua própria casa, para não alojar os governadores de Lisboa, Madalena não consegue salvar o quadro de Manuel de ser consumido pelas chamas. Aterrorizada, pressente que não perde apenas a habitação e que irá ficar sem o (ilegítimo?) amado.  Este fado-canção de Jorge Fernando poderia continuar a acompanhar a obra-prima do teatro romântico português (curiosamente, o fado nasce também no século XIX, embalado pela corrente do romantismo, na cidade de Lisboa, adquirindo cada vez maior riqueza literária e artística - considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade em 2011), já que o “eu” lírico – “Ai, meu choro de moça perdida” tal como Madalena – afirma, agora, melancólica mas convictamente, que “Há dias que marcam a alma / E a vida da gente”.
O passado vence com o aparecimento do Romeiro, que traz consigo o desassossego, a inquietação constante, a destruição do presente, transformando-o em verdadeira tragédia. No silêncio do cativeiro (tal como as restantes personagens),  Sóror Madalena refugia-se na saudade (“São emoções que dão vida / À saudade que trago / Aquelas que tive contigo / E acabei por perder”) e, tal como a chuva “bate no vidro”, remete-nos para este lindíssimo poema, que podia igualmente ser musicado para uma ópera portuguesa.

Teresa (Muito Bom (-))
Se há tema que não falte em canções, esse é o amor não correspondido e a saudade de antigos parceiros. No entanto, de todas as opções disponíveis, penso que “If By Chance”, composta e interpretada por Ruth B é uma das que melhor se aplicam a Frei Luís de Sousa, apesar das eventuais diferenças entre canção e drama.
O sujeito poético da canção trata-se de uma personagem feminina que, presumivelmente, sente saudades de um ex-namorado, e entristece-a ver que este já  ultrapassou essa paixão e já ama outra pessoa. É possível encontrar este sentimento na peça de Almeida Garret na personagem D. João de Portugal, que, após vinte e um anos de cativeiro, volta, incógnito, a Almada, apenas para perceber que a mulher que sempre amara, D. Madalena de Vilhena, se casara com um outro homem, Manuel de Sousa Coutinho, e até já tinha uma filha desse casamento, Maria de Noronha.
É no início do refrão da canção que encontramos a semelhança mais óbvia entre as duas obras. “And I don’t mean to be selfish / But my heart breaks everytime / That I see you smile / ‘Cause I know it’s not me / Who brings it out of you anymore [E não pretendo ser egoísta / Mas o meu coração parte-se cada vez / Que te vejo sorrir / Porque sei que já não sou eu / Quem o faz sair de ti]” é perfeitamente relacionável com a cena VI do ato III. Quando Madalena, chamando pelo atual marido, exige entrar no quarto onde Telmo se encontra com D. João, este, iludido, pensa que é por si que chama a sua eterna amada (“É ela que me chama, Santo Deus! Madalena que chama por mim…”). No momento em que é finalmente, mencionado o nome do verdadeiro destinatário dessa súplica (“Meu marido, meu amor, meu Manuel!”), o Romeiro sai do seu transe e percebe o mal-entendido (“Ah! E eu tão cego já a tomava para mim!). Antes disso, talvez ainda se questionasse se haveria a hipótese de um futuro com Madalena, tal como faz o “eu” da canção (“Do you talk about the future the way we did? / Is there room for me in it? [Falas sobre o futuro da maneira como falávamos? / Há nele espaço para mim?]”), mas penso que é nesta altura que, apesar de já ter tomado a decisão de se ir embora, D. João cai em si e percebe que isso nunca acontecerá, já que ela ama agora outra pessoa, algo que também se passa em “If By Chance”: “You found somebody new / You put me in the past [Encontraste alguém novo / Puseste-me no passado]”.
Estabelecidas as semelhanças entre as obras de Almeida Garret e Ruth B, há que falar das diferenças que se notam entre elas. Para começar, está subentendido na canção que o sujeito poético terá pedido conselhos a amigos (“My friends tell me I sould’ve moved on [Os meus amigos dizem que devia ter seguido em frente]”), mas o único amigo que tem D. João é Telmo, que respeita a decisão do antigo amo e não tenta influenciá-lo (“a resolução é nobre e digna de vós”). Também nos versos da canção que encerram o seu refrão, “But if by chance it doesn’t work out with her / You’ll always have a chance with me in my world [Mas se por acaso não resultar com ela / Terás sempre hipótese comigo no meu mundo]”, encontramos uma discrepância: D. João nunca chega a fazer a mesma proposta a Madalena (aliás, Madalena não chega a conhecer a verdadeira identidade do Romeiro), apesar de quase podermos adivinhar que esse pensamento lhe terá passado pela cabeça.

Bernardo (Suficiente +/Bom -)

A canção «Talking to the Moon», de Bruno Mars, fala da perda de alguém que era muito especial para o sujeito poético mas pode ainda ser interpretada como uma saudade de alguém igualmente importante mas que está longe e com o qual o sujeito poético não consegue ter contacto. Na obra de Garrett, a aparente morte de D. João de Portugal suscitou dúvida nos anos iniciais, fazendo com que D. Madalena esperasse sete anos pelo seu regresso, perdendo depois a esperança de que ele pudesse estar vivo. Porém, Telmo acreditou sempre que o nobre ainda haveria de voltar.
Logo no início do primeiro ato, num diálogo entre Madalena e Telmo, este demonstra a sua opinião quanto à morte de D. João de Portugal – «Terá», futuro que exprime o quanto Telmo duvidou sempre da morte de D. João de Portugal. Esta crença é alimentada por uma carta que o nobre deixou antes de ir para a Batalha de Alcácer Quibir, que dizia: “vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo”. Isto causa a Telmo um sentimento de esperança e que é visto pela maior parte das pessoas como uma loucura. Na música do cantor americano, o sujeito poético expressa igualmente esperança pelo regresso de alguém com grande importância na sua vida – «I know you're somewhere out there / Somewhere far away”» [Eu sei que tu estás nalgum lugar lá fora, nalgum lugar distante] –, contudo esta esperança é vista como uma loucura – «My neighbors think I'm crazy / But they don't understand» [meus vizinhos pensam que eu sou louco / Mas eles não entendem].
Na música de Bruno Mars, o sujeito poético mostra uma grande vontade em voltar a ver o destinatário da música. Este interesse é demonstrado em diferentes versos – «I want you back» [Eu quero te de volta]; «You're all I have» [tu és tudo que eu tenho]; «Talking to the Moon / Trying to get to you / In hopes you're on the other side / Talking to me too» [Falando com a Lua / Tento chegar até ti / Na esperança de que tu estejas do outro lado / Falando comigo também]. Em Frei Luís de Sousa, Madalena receia o regresso do ex-marido, embora acredite que ele esteja morto em África e, logo no início do ato I pede a Telmo que nunca mais se falasse sobre D. João de Portugal – «hoje é o ultimo dia da nossa vida que se fala em tal» – pois isso potenciava a angústia de Madalena, porque, caso D. João estivesse vivo, o casamento com Manuel de Sousa seria anulado e Maria seria uma filha ilegítima. Mais tarde, com a chegada de um Romeiro que vinha com o objetivo de dar um recado a Madalena e após a revelação do recado, Madalena percebe que D. João está vivo, só não o reconhece como o Romeiro. Nesta altura, Madalena tinha a certeza de que, e aproveitando um verso da música, – «I know you're somewhere out there» [Eu sei que tu estás nalgum lugar lá fora], pois o que Telmo sempre tinha defendido era agora uma confirmação que fez com que ela caísse no sofrimento e que, por momentos, ainda que com pouco sucesso, tentasse salvar o casamento com Manuel de Sousa.

Bea (Bom/Bom (+))
Esta canção de Tony Carreira remete-me para Frei Luís de Sousa, para uma personagem em específico. Tendo em conta o nome da música “A saudade de ti” e, ao mesmo tempo, a sua letra, faria todo o sentido que fosse cantada por D. João de Portugal para D. Madalena de Vilhena.
D. João de Portugal não chegou a ser amado por D. Madalena e, quando desaparece e se pensa estar morto, esta assume o amor que tem há muito tempo por Manuel de Sousa Coutinho. No entanto, D. João de Portugal ainda está vivo e regressa a Portugal, tornando ilegítimo o casamento de Manuel e Madalena.
Quando D. Madalena se refere ao “senhor D. João de Portugal, que Deus tenha em glória” e Telmo, em aparte, lança a dúvida “Terá…”, manifestando, assim, a crença de que ainda está vivo, o nobre cavaleiro, de espetro invisível na imaginação das personagens, vai lentamente adquirindo contornos até se tornar na figura do Romeiro, que se identifica como “Ninguém”, tal como Tony Carreira se identificava “E o meu nome já mais voltaste a dizer / Eu bem sei, que nunca mais falaste em nós” (ou seja, o cantor sente-se como se já não fosse ninguém para a pessoa que ama).
Madalena nunca teve a certeza de que ele morrera, só Deus sabia do seu destino, como em “A saudade de ti” – “E só Deus sabe, só Deus sabe como eu estou”. Mesmo sem ter certezas da morte do seu primeiro marido, ela casara de novo e esquecera-o, assim como o “eu” da canção de Tony Carreira diz ter sido esquecido (“E assim é o meu viver nesta dor sem esquecer quem se esqueceu de mim” / “Também sei mesmo a viver morri para ti”).
Também o tom e o ritmo melancólico com que a música é cantada e tocada se adequa à profunda tristeza do Romeiro, que, passados vinte e um anos, regressa ansioso para ver a sua amada e descobre que ela casara e tivera uma filha com outro homem pouco tempo depois do seu desaparecimento. Tal ânsia e saudade pode ser sentida também pelo artista – “A saudade de ti tomou conta de mim e me mata por dentro / Esta falta de amor nunca me abandonou desde que eu te perdi”.
O Romeiro sente-se profundamente infeliz com o facto de já ninguém se lembrar dele: “Parentes!... Os mais chegados, os que eu me importava achar… contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela; hão de julgar que me não conhecem.” Esta infelicidade e mágoa está também refletida na canção – “A cor da solidão pintou o meu coração de mágoa em sofrimento.”
Podemos assim perceber que esta canção seria bastante adequada para ser cantada por D. João de Portugal, mas, tendo em conta que a música é bastante mais recente que Frei Luís de Sousa, tendo sido a música lançada em 2010 e a peça teatral publicada em 1844, seria mais realista se fosse Tony Carreira a encarnar a personagem de Romeiro ao cantar esta canção.

Margarida (Bom +)
No primeiro dístico da música «Love of my life» (Amor da minha vida) dos Queen, «Love of my life, you’ve hurt me / you’ve broken my heart and now you leave me [Amor da minha vida / tu magoaste-me / partiste-me o coração e agora deixas-me]», é possível prever o sofrimento e emoção do sujeito poético, igualmente presentes no drama de Almeida Garrett Frei Luís de Sousa.
Numa primeira abordagem, podemos estabelecer um paralelismo entre o «eu» da música e Madalena de Vilhena ou, será melhor dizer, o seu amor intenso e absoluto por Manuel de Sousa Coutinho a quem se dirige como “esposo de minha alma; todo o meu mal era susto, era terror de te perder”. 
A origem deste amor tão profundo, no entanto, está assente no pecado, na medida em que Madalena, numa conversa com Telmo, o seu indomado confidente, admite ter começado «como um crime, porque amei-o assim que o vi», ou seja, durante o período do seu casamento com João de Portugal, dado por morto e desaparecido em combate na “funesta jornada de África”.
Hoje sabemos que esta maravilhosa composição de Freddie Mercury não se baseou numa luta amorosa, mas numa luta muito mais pessoal, em busca da própria identidade: a expressão de um segredo que o assombrava sem o saber, a sua homossexualidade. Ora, na obra de Garrett era a memória do primeiro marido que apavorava Madalena.
Inocentemente, no seu regresso, as expetativas de ter a sua mulher à espera, ou pelo menos, feliz com a sua chegada «You will remember when this is blown over / and everything is all by the way / when I grow older / I will be there by your side / to remind you how I still love you [Tu vais lembrar-te quando isto acabar / e tudo se perder pelo caminho / quando eu envelhecer / eu estarei lá ao teu lado / para te lembrar como ainda te amo]» que outrora o acompanhavam nos momentos de maior dificuldade, são substituídas, com alguma apoquentação e amargura, pelo desconhecimento e surpresa do seu casamento com Manuel de Sousa Coutinho.
João de Portugal ou «ninguém», como se autorretratou depois de perceber que tinha sido abandonado, viu-se vítima da circunstância, da situação que não conseguiu controlar. Foi imediatamente declarado culpado numa narrativa que nem lhe pertencia e a interrogação feita repetidamente ao longo da música («Can’t you see? [Não entendes?]») serve perfeitamente para explicar a frustração sentida cada vez que tentava expor, apesar de tudo, o seu amor por Madalena.
Quando Madalena realmente «perde» o seu marido, no desenlace da ação, o desespero e uma certa negação invadem-na «You’ve stolen my love and now desert me [Roubaste o meu amor e agora abandonas-me]» e «Don’t leave me [Não me deixes]», deixando-a completamente destroçada, atingida e destruída pela fatalidade. Quase inconscientemente, pede a um recetor desconhecido, talvez a circunstância: «Bring it back, bring it back / don’t take it away from me because you don’t know what it means to me [Devolve-me, devolve-me / não me tires isto porque não sabes o quanto significa para mim]» –, querendo a todo o custo a vida serena que tinha com o homem que efetivamente amava e a sua filha bem de saúde de volta. E, no fim, quando a esperança a abandona completamente, foi à procura de consolo na religião, perante a perda da felicidade (terceiro ato, cena IX).
No final a grande tragédia desta obra foi o desencontro amoroso entre Madalena e João de Portugal, a primeira queria amar livremente este novo amor e o último só queria ser amado por ela…

Pardal (Suficiente)
Ao procurar uma canção que se adequasse ao drama de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, deparei-me com uma canção de que gosto bastante, «Lovely», de uma das minhas cantoras preferidas, Billie Eilish. A letra desta música é muito sentimental, por isso consegui rapidamente encaixa-la na historia de D. João de Portugal que, durante vinte e um anos, foi mantido em cativeiro no norte de África como resultado da batalha de Alcácer Quibir.
Durante todo o seu tempo aí, decerto pensou como e quando iria regressar a Almada para junto de sua amada Madalena de Vilhena “Oh, I hope someday I'll make it out of here / Even if it takes all night or a hundred years / Need a place to hide, but I can't find one near [Oh eu espero que algum dia eu consiga sair daqui / Mesmo que demore toda a noite ou cem anos / Preciso de um lugar para me esconder, mas não consigo encontrar um próximo]”. Estas letras são portanto uma ótima representação daquilo que D. João sentiu nesse período da sua vida.
“Isn’t it lovely, all alone / Heart made of glass, my mind of stone [Não é adorável, ficar sozinho / coração feito de vidro, minha mente de pedra]”, D. João ficou claramente com o coração partido, ao ser-lhe negado o desejo de voltar para sua amada no fim da batalha e, como tal, para conseguir sobreviver às condições que estava agora a enfrentar, a sua mente tinha de ser muito forte tal como uma pedra, pois, se isso não acontecesse, podia não sobreviver à solidão, à fome e aos maus tratos.
Após conseguir libertar-se, o “ex”-marido de Madalena segue imediatamente caminho para Portugal, visto ter passado duas décadas a pensar na sua mulher, que podia muito bem tê-lo esquecido ou, então, podia apenas tê-lo julgado como morto em combate: “Walkin’ out of town / Lookin’ for a better place / Something’s on my mind / Always in m head space [Andando fora da cidade / Procurando um lugar melhor / Algo está na minha mente / Sempre no meu espaço vazio]”. Desta forma exemplificada pela canção, o agora Romeiro chega a Portugal onde o seu primeiro instinto é ir para junto de Madalena. E assim o fez. Não sei bem se estaria à espera de um “Hello, welcome home [Olá, bem-vindo a casa]”, apesar de estar fisicamente e até psicologicamente diferente, os cabelos brancos e a barba tornaram reconhecer o romeiro, o desde então pensado morto, D. João de Portugal, uma tarefa muito difícil.
Esta melodia tem o poder de ser interpretada de mil e uma maneiras diferentes mas penso que esta foi, sem dúvida alguma, uma boa canção para associar a este drama romântico e, assim sendo, é algo que consigo imaginar como sendo a música de fundo durante toda a jornada de D. João de Portugal de volta a Almada, cujo resultado não foi lá muito feliz.

Tita (Muito Bom -/Bom +)
Na tão conhecida obra de Almeida Garrett Frei Luís de Sousa, retrata-se a separação trágica de uma família, que se formara após o desaparecimento em campo de batalha de D. João de Portugal. Assemelha-se esta intriga, de certa forma, à música “Never Enough [Nunca o Suficiente]”, sétima na lista do álbum “Apricot Princess”, de Rex Orange County – na qual, no entanto, o tom não é tão trágico como na peça, apesar de se mostrar também uma certa tristeza.
D. João de Portugal, ao regressar à pátria, de identidade encoberta pela de um simples peregrino/romeiro (“Honestly, I don’t feel ordinary ‘cause I haven’t been at home in a while [Honestamente, não me sinto comum porque não estive em casa uns tempos]”, isto é, esteve ausente durante vinte e um anos), descobre que Madalena de Vilhena já é de novo casada, tendo até uma filha desse casamento. Decerto magoado, deduz-se que esconde os sentimentos (“I’m trying my best to smile [Estou a tentar o meu melhor para sorrir]”). Há também um verso da canção, no início, que poderá ser uma referência à posterior separação de Madalena e Manuel “Stay away from your own family [Mantém-te afastada da tua própria família]”, em que ambos ingressam na vida religiosa, o que os impedirá de continuar juntos.
Quanto a Maria de Noronha, a filha “do pecado” do segundo casamento de Madalena, chega à igreja interrompendo a cerimónia em que os seus pais são ordenados como Dominicanos, chega à conclusão de que a sua família se desmoronará, achando-se a culpada (“You might feel what it’s like to not know how to feel [Podes sentir como é não saber o que sentir]”). Está desolada, sabendo estar prestes a perder os pais (“when you lose the ones you love [Quando perdes os que amas]”), no sentido figurativo, é claro – sabendo que ficará sozinha, “perdendo-os” à igreja. Revoltada, discursa, tentando argumentar para os fazer mudar de ideias (“Que me importa a mim com o outro?”) – mas, por fim, ao deparar-se com a entrada em cena do indivíduo que supõe ser D. João de Portugal, sente-se mortalmente envergonhada, sabendo-se fruto de um amor proibido. Citando mais uma vez Rex Orange County, “all good things must come to an end, it’s right in front of me so there’s no reason to pretend [Todas as coisas boas têm de chegar ao fim, está mesmo à minha frente portanto não há razão para fingir]”, Maria reage à realidade inequívoca, caindo morta “de vergonha”.
Madalena, em vários momentos virando-se para Deus para suplicar por perdão (“Misericórdia, meu Deus!” e “Oh, Deus: Senhor meu! Pois já, já?”), teme pela sua própria desgraça, sentindo-se, no fundo, não mais que desconsolada e sentindo a sua integridade ameaçada (“Don’t tell me you’re sorry, you’re just sorry for yourself [Não me peças desculpa, só tens pena de ti própria]”.


Edu (Suficiente (-))
A canção começa com «Um barco ruma para onde vai». Podemos associar logo este verso à longa espera por D.Manuel que estaria a voltar para o seu palácio de barco , com Madalena preocupada por ele nunca mais chegar. Também podemos fazer uma comparação , mais geral e abstrata , com o drama em si. Para mim , qualquer drama é como um barco que com uma onda pode virar-se a qualquer momento , nunca sabendo nós o que vai acontecer.
«Tentaram prendê-lo / Impor-lhe uma fé» conseguimos associar  os versos ao momento em que Manuel chega mas com a notícia de que ele e a sua família tinham de abandonar o palácio e incendiá-lo pois eles estariam a ser perseguidos ou a Maria , que era muito dona das suas próprias razões e não acreditava , por exemplo , na morte de D.Sebastião e discordava de quem lhe dissesse o contrário.
Um sentimento muito comum durante a peça é a saudade. Tal comona canção («rompendo a saudade»). Há a saudade de Madalena por Manuel quando ele estava a demorar na sua chegada , como referi atrás , a saudade de Telmo por D.João e , mais tarde , a de Madalena outra vez , quando teria de ser separada de D.Manuel e da sua filha Maria.
Outro sentimento que existe e quase que obrigatoriamente , é a tristeza. « a vida é sempre a perder » é uma frase que é bastante verdade e , na peça , ainda é mais porque há aquele fim trágico em que Maria vê o Romeiro, que era D.João, e, com a sua doença ,morre nos braços de Madalena. Também há a tristeza de Madalena por ter de perder o amor de sua vida , Manuel.
Por fim, podemos comparar os versos «Em dias cinzentos / Descanso eterno / Lá encontraram» com a peça inteira. Ao longo do drama podemos ver que são, literalmente, dias cinzentos na vida da família Coutinho e que não há nenhum ato em que não exista tristeza e más surpresas. E, em « Descanso eterno / Lá encontraram » pensamos logo na trágica morte de Maria, que aconteceu na cerimónia de ordenação de Madalena e Manuel.

Carlota (Suficiente +)
A canção que escolhi assemelha-se bastante à obra de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, uma vez que ambas expressam a dor de um amor não correspondido.
O nome da canção por mim escolhida é “Fake Love” e foi composta pela banda sul-coreana 방탄소년 (Bangtan Sonyeondan), mais conhecida como BTS. Consiste num amor que não é correspondido ou que é falso, como o título da música indica.
Relaciono os sentimentos expressos nesta música com os sentimentos pelos quais D. João de Portugal passou quando voltou para junto da sua mulher, Madalena de Vilhena. A descoberta de que Madalena tinha casado com outro homem enquanto D. João estivera fora transtornaram-no e destroçaram-no, uma vez que sempre pensara que Madalena tivesse esperado por ele.
O amor que D. João sente por D. Madalena torna-o num crente, uma vez que ainda acreditava que Madalena o amava e que, tal como ele, fosse capaz de mudar pelo amante, como é dito na canção: “I wanna be a good man just for you / 세상을 줬네 just for you / 전부 바꿨어 just for you” (Eu quero ser um bom homem só por ti / Eu dei o mundo só por ti / Eu mudei tudo só por ti). D. João era capaz de mudar quem era só para voltar a ter a sua amada, “나도 내가 누구였는지도 모르게 / 지워 너의 인형이 되려 (Eu até me esqueci de quem eu era / Tenta apagar-me e fazer de mim teu boneco).
Apesar de estar desolado e de se sentir desonrado, D. João de Portugal escondeu os seus sentimentos para não se sentir mais deprimido e desanimado: “ 위해서라면 슬퍼도 기쁜 수가 있었어 / 위해서라면 아파도 강한 수가 있었” (Por ti, eu poderia fingir que estava feliz quando estava triste / Por ti, eu poderia fingir que era forte quando estava magoado).
A canção esconde tragédia na beleza do amor, pois que, como é referido na música, “사랑이 사랑만으로 완벽하” (Eu desejava que o amor fosse perfeito como o próprio amor), a maioria de nós tem esta grande ideia a que chamamos "amor verdadeiro" e que deveria ser uma experiência perfeita, romântica e sonhadora, livre de erros e falhas, e, no entanto, nada disto acontece pelo que acabamos desiludidos e desapontados pois a nossa esperança de perfeição deixa-nos com expectativas irrealistas.
Na canção é usada a metáfora “이뤄지지 않는 꿈속에서 피울 없는 꽃을 키웠” (Eu plantei uma flor que não pode florescer num sonho que não se pode tornar realidade), que implica que o amor é a “flor” que deve ser cultivada ao longo do tempo para que floresça; no entanto, a flor não consegue florescer e abrir as suas pétalas para mostrar ao mundo as suas verdadeiras cores, tal como o amor entre D. João de Portugal e D. Madalena, porque o amor não é correspondido, ou seja, “it's all fake love” (É tudo falso amor).

Carolina (Suficiente +/ Suficiente (+))
Impondo um contexto dramático, a canção “I’ll Never Love Again“, de Lady Gaga, sugere um clima romântico que se assemelha à obra de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa.
A canção referida consiste na despedida repentina do amor da vida da cantora, Lady Gaga. A cantora parece arrepender-se de já ser tarde demais e sente-se desolada, ao ponto de dizer, que nunca mais amará ninguém, tal como indica o título da canção, “I’ll Never Love Again”.
A voz feminina apresentada na canção poderá retratar Madalena de Vilhena, uma vez que são referidas as palavras “If I knew it would be the last time I would have broke my heart in two trying to save a part of you [Se eu soubesse que seria a última vez eu teria quebrado o meu coração em dois e tentaria salvar uma parte dele para ti]”, que seriam dirigidas a D. João de Portugal, depois do seu desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir, e este ter sido o único homem que a amou verdadeiramente. Este excerto da canção poderá também ser referido a Maria, filha de Madalena, quando esta adoece e morre nos seus braços devido à tuberculose.
Durante toda a peça Madalena sente-se desesperada e destroçada. No passado, D. Madalena sofrera com a suposta morte de D. João de Portugal; no presente, com o facto de se sentir angustiada com a dúvida e por ter regressado para a casa do seu primeiro marido depois de Manuel de Sousa Coutinho ter incendiado a sua casa; e, no futuro, com morte da sua única filha, Maria.
A canção refere também que a cantora (aliás, o “eu”) não quer mais ninguém e que não se sente preparada para avançar com a sua vida amorosa: ”Don't wanna feel another touch, don't wanna start another fire, don't wanna know another kiss, no other name falling off my lips, don't wanna give my heart away to another stranger [Não quero sentir outro toque, não quero começar outro incêndio, não quero sentir outro beijo, não quero outro nome saindo dos meus lábios, não quero dar o meu coração a outro estranho]”. Já na peça, apesar de Madalena ter os mesmos sentimentos que a cantora, acaba por se casar com Manuel ao fim de sete anos de procuras sem sucesso por D. João de Portugal.
Tanto a peça de Garrett como a música de Lady Gaga retratam os sentimentos de sofrimento e ansiedade sentidos por personagem e por sujeito poético.
Tanto a música de Lady Gaga como a peça Frei Luís de Sousa retratam a tragédia de um amor, onde se prova que, por vezes, o amor não é infalível e que, por mais esforços que possamos fazer, algo de inesperado pode acontecer.

Miguel (Bom -)
Escrita por Paul McCartney apesar de os créditos de autoria serem do duo clássico Lennon-McCartney, a canção “Yesterday”, da banda revolucionária Beatles mostra os sentimentos de um homem cuja relação com a sua amada acabou, O sujeito poético recorda o “ontem” metafórico, sentindo que tudo era melhor num passado próximo quando não tinha problemas e o seu relacionamento o deixava feliz.
A peça de Garrett contém vários elementos de uma tragédia clássica. O principal destes é o facto do final da obra ser negativo e entristecedor, resultando na separação entre Madalena de Vilhena e Manuel de Sousa Coutinho e, sendo o principal aspeto trágico, a morte de sua filha, Maria de Noronha. A letra desta canção relaciona-se, até um certo ponto, com todas as personagens da obra Frei Luís de Sousa. Madalena, Manuel e Telmo, tendo este último conhecido Maria durante a sua vida toda e criado uma ligação especial com ela apesar de ser apenas seu aio, lamentam a morte de Maria e, certamente, gostariam de voltar atrás para um tempo em que Maria não estava morta nem doente. O sujeito poético expressa também um desejo de voltar atrás no tempo nos versos “Yesterday all my troubles seemed so far away / now it looks as though they are here to stay” (Ontem todos os meus problemas pareciam tão distantes / agora parece que eles vieram para ficar) e “Now I long for yesterday” (Agora desejo o dia de ontem).
Os aspetos mais românticos da canção adequam-se também a mais do que uma personagem da peça. Relativamente a D. João de Portugal, que voltou a casa vinte e um anos depois de ter desaparecido na batalha de Alcácer Quibir, os versos “Suddenly, I’m not half the man I used to be / there’s a shadow hanging over me“ (de repente, não sou metade do homem que costumava ser / há uma sombra pendurada sobre mim) relacionam-se perfeitamente com a vergonha e tristeza que sentiu quando se apercebeu de que Madalena voltara a casar e que amava o seu novo marido.
D. João de Portugal não foi a única personagem com infelicidade no amor. Madalena e Manuel separaram-se, pois Manuel decide que não pode viver no pecado após ter surgido a notícia de que D. João está vivo. Assim, ambos Manuel e Madalena passam pelo o mesmo sofrimento que o eu da canção sente por ter chegado ao fim de uma relação: “Why she had to go? / I don't know, she wouldn't say. / I said something wrong / now I long for yesterday. / Yesterday love was such an easy game to play. (…)” [Por que ela teve que ir? / Eu não sei, ela não disse. / Eu disse algo de errado / agora desejo o dia de ontem/ Ontem o amor era um jogo tão fácil de jogar (...)].

Leonor (Bom -)
Pedro Machado Abrunhosa, mais conhecido por Pedro Abrunhosa, é um cantor e compositor português. As suas composições poéticas e reflexivas além de cantadas são também declamadas, as músicas/letras são o reflexo das suas vivências, de situações que o perturbam, ou que lhe agradam e que sente necessidade de passar para o exterior.
 A canção “Quem me leva os meus fantasmas” expressa o grito interior de um alguém que se sente infeliz na miséria e atormentado pelos seus fantasmas, que serão as escolhas erradas e tormentos do passado. Na canção, é claro o pedido desesperado de ajuda por uma salvação que é apresentada como “a estrada”. Apesar da composição refletir um sentimento de sufoco e ânsia por libertação, também podemos encontrar ao longo dela palavras de arrependimento, de justificação para a dor do presente. Outra forma de interpretação será a de grito interior de todos nós, ou seja, da miséria interior de cada pessoa, que, diariamente, sofre por algo ou carrega aos ombros algum tipo de preocupação, sendo assim este o pedido de salvação pela vida que nós próprios criamos.
Em Frei Luís de Sousa, Madalena, esposa de Manuel de Sousa Coutinho e mãe de Maria, é uma personagem que, ao longo de toda a peça, vive em sofrimento constante. Atormentada pelo passado e pelas escolhas que tomara, teme a desgraça que estas trarão. Também com gritos de desespero implora a Deus que a ajude e que a salve da vergonha e desgraça, que arruinarão o seu casamento, a sua honra e a honra do resto da família. Tal como na música, na peça Madalena também recorda os seus pecados, nomeadamente a paixão que sentiu ao ver Manuel pela primeira vez, ainda casada e o casamento após a “morte” de João de Portugal.
No final da letra, o sujeito começa a perder a esperança e sente que já não há solução para os seus males (“De que serve ter o mapa, se o fim está traçado”), torna-se pessimista e negativo, não vendo uma solução para os seus problemas e aceitando a desgraça que o persegue. Madalena após a visita do Romeiro também perde a esperança, apercebe-se de que as suas ações não têm perdão e que o seu fim está a chegar, sendo já impossível a sua remissão.
A música que escolhi é bastante transparente no que toca ao sentimento que expressa e facilmente associável por inteiro à tragedia sucedida com Madalena e à sua vida de desgraça, ânsia e sofrimento.

Duda (Bom (-)/Bom)
“Sozinho”, canção por mim escolhida, foi escrita pelo compositor e cantor Peninha (1997) e interpretada por diversos artistas, mas se popularizou na voz do célebre cantor e tambémcompositor Caetano Veloso. A música descreve a frustração do eu lírico devido a uma amor não correspondido. Situação semelhante encontramos na obra de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, em que D. João de Portugal, um dos protagonistas, após ser dado como morto na batalha de Alcácer Quibir, regressa a Portugal após vinte e um anos, e encontra o amor de sua vida e também esposa, Madalena de Vilhena, em matrimónio com outro homem, Manuel de Sousa Coutinho. João apercebe-se da ausência do amor de Madalena antes e depois de sua suposta morte, já que esperava que Madalena esperasse o seu regresso, mas como os demais, também ela acreditara em seu falecimento, seguindo sua vida, ao construir uma família com outro.
Tal como D. João, o sujeito poético reconhece a carência de reciprocidade quanto a esse amor, como vemos em um de seus versos — “Fala que me ama / Só que é da boca p’ra fora” —, contudo, ambos sofrem por esse amor, já que, mesmo não sendo correspondidos, ainda assim as amam.
A continuidade desse sentimento arrebatador torna-se clara no momento em que João, ciente da desgraça posta sobre o casamento de Madalena e Manuel devido ao seu regresso, tornando o matrimónio entre os mesmos, ilegítimo, decide ludibriar as notícias de sua volta, com a ajuda de Telmo Pais, seu fiel aio, permitindo, assim, que Madalena siga sua vida junto de seu verdadeiro amor, Manuel — “(...) diz-lhe que falaste com o Romeiro, que o examinaste, que o convenceste de falso e impostor… diz o que quiseres, mas salva-a, a ela, da vergonha” (ato III; cena V; vv. 135 a 136) —, deixando claro seu constante amor por Madalena, permitindo de ser feliz, ao poder seguir sua vida com outro homem.
Circunstância parecida acontece na canção — “Às vezes, no silêncio da noite / Eu fico imaginando nós dois / Eu fico ali sonhando acordado / Juntando o antes, o agora e o depois (...)”: através destes versos, concluímos que o “eu” ainda pensa na amada, mesmo desenganado de uma possível correspondência. Para além da letra, a forma como foi interpretada transmite a ternura que o sujeito poético ainda sente pela moça, que podemos identificar como uma figura feminina em um de seus versos, quando é referida como “madura”, deixando explícito que, apesar dos desencontros sentimentais, ainda assim sente afeto pela mesma.

Francisco (Muito Bom -/Bom +)
Aproveito a música «Lucid Dreams» (Sonhos lúcidos), do artista norte-americano Juice WRLD, para a comparar com a obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Achei impressionante como esta música, lançada em 2018, podia ter tantas parecenças com a obra de Garrett, publicada em 1844.
O sujeito poético da canção foi abandonado por uma mulher, que o trocou por outro homem. A música consiste num desabafo, em que o sujeito poético revela sentimentos contraditórios: por um lado ainda ama aquela mulher, mas, por outro, revolta-se com ela, por esta o ter trocado. Esta situação lembra D. João de Portugal. Ao longo de toda a canção apercebemo-nos de que tanto o nobre português, em Frei Luís de Sousa, como o sujeito poético, em «Lucid Dreams», são homens que passam por problemas bastantes semelhantes e que sentem o mesmo.
O primeiro verso da música é «I still see your shadows in my room» (eu ainda vejo as tuas sombras no meu quarto). Associamo-lo a D. João de Portugal, uma vez que deverá ter sido isto o que o nobre português sentiu enquanto esteve preso durante vinte e um anos, sempre à espera do momento em que voltaria a ver a sua mulher. No entanto, quando finalmente volta a Portugal, vê que a mulher voltou a casar. «You found another one» («Tu encontraste outro») terá sido o que pensou. Neste momento, o seu estado de espírito mudou completamente. Após lutar tantos anos por sobreviver para poder um dia voltar a casa e rever a mulher, João percebe que foi trocado.
João amava verdadeiramente Madalena, tal como o sujeito poético da canção amava verdadeiramente a mulher que o deixou, pois chega mesmo a dizer «I didn't want it to end» (eu não queria que isto acabasse).
O regresso de João, porém, também vai mudar a vida de todas as outras personagens, especialmente a de Manuel e Madalena. O seu reaparecimento torna aquele casamento ilegítimo. Algo que poderá ter passado pela sua cabeça é «[now] I'm just better off dead» (agora eu estou melhor morto). Parece um pensamento um pouco radical, mas, após tantos anos de sofrimento, tudo o que o nobre português queria era ver Madalena e Telmo. Ao descobrir que a mulher o tinha trocado, João já não tem nada por que lutar. E, para além disso, a sua morte evitaria a separação de Manuel e Madalena, o que faria também com que Maria não ficasse despojada de pai e mãe.
O sujeito poético acaba a canção com uma promessa: «I won't let you forget me» (eu não vou deixar que me esqueças). No fundo, isto também se verificou na família de Manuel em relação a João de Portugal. Após o seu regresso, nunca mais ninguém o esqueceu, uma vez que este mudou a vida de todos. Manuel e Madalena entregaram-se à vida religiosa, pelo que cada vez que se olhavam ao espelho e viam o que traziam vestido lembrar-se-iam daquele que os levara a adotar aquela vida.

Beatriz (Suficiente/Suficiente (+))
A letra do fado “Meu amor, meu amor”, escrito por Ary dos Santos e interpretado por Amália Rodrigues, é fortemente associável à obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Nesta música, o sujeito poético é uma mulher que está em sofrimento, que vive do seu próprio lamento, “Minha voz à procura / Do seu próprio lamento”. O sofrimento descrito pelo sujeito poético é semelhante ao de D. Madalena de Vilhena.
D. Madalena de Vilhena, uma mulher nobre e culta, é apaixonada, pessimista, melancólica e uma mulher muito supersticiosa, que acredita que qualquer sinal que achasse fora do normal era uma chamada de atenção para ações futuras, um presságio. Madalena atormentava-se constantemente com a possibilidade de o primeiro marido ainda estar vivo e regressar. Telmo Pais, o escudeiro de D. João, alimentava nela esse temor. De facto, depois de vinte anos, Dom João volta a Portugal. Manuel, o segundo marido de Madalena, é “fidalgo de bom primor e de boa linhagem”, por quem ela se apaixonou quando o viu, “porque Manuel de Sousa é meu marido, começou como um crime, porque amei-o assim que o vi”.
Na letra da música “Meu limão de amargura meu punhal a escrever | nós parámos o tempo, não sabemos morrer”, o sentimento do sujeito poético é parecido com o de Madalena, que vive com o remorso de amar Manuel Sousa e com o pensamento da possibilidade da volta de D. João. O facto de seu amor por Manuel ter dado fruto, a sua filha Maria, ainda a afligia mais. Madalena, sofreu muito, sabendo que a sua filha tinha uma imagem de ilegítima. “Meu amor meu amor | meu nó e sofrimento | minha mó de ternura | minha nau de tormento”, é uma quadra, da letra da música, que serve também para descrever o amor por uma filha como Maria e padecer por sua morte.
A quadra “Este mar não tem cura este céu não tem ar | nós parámos o vento não sabemos nadar | e morremos morremos | devagar devagar”, lembra quando, Madalena aceita o facto de o seu amor com Manuel ser impossível. O casamento deles começara com a dúvida sobre se D. João de Portugal voltaria. Quando ele volta, o casamento acaba: “Madalena, Senhora! Todas estas coisas são já indignas de nós. Até ontem, a nossa desculpa, para com Deus e para com os homens, estava na boa-fé e seguridade das nossas consciências. Essa acabou. Para nós já não há senão estas mortalhas e a sepultura de um claustro. A resolução que tomámos é a única possível; e já não há que voltar atrás. Ainda ontem falávamos dos condes de Vimioso. Quem nos diria. Oh, incompreensíveis mistérios de Deus. Ânimo, e ponhamos os olhos naquela cruz! Pela última vez, Madalena... pela derradeira vez neste mundo, querida. Adeus, adeus!”.
Mostrando uma dignidade tocante, Manuel de Sousa Coutinho rende-se ao destino cruel e vai professar, juntamente com Madalena. Maria, a filha, revolta-se contra uma sociedade retrógrada que, por uma questão meramente formal, passou subitamente de aprovadora para acusadora: «Vós quem sois, espectros fatais?... Quereis-mos tirar dos meus braços?... Esta é a minha mãe, este é o meu pai... Que me importa a mim com o outro, que morresse ou não, que esteja com os mortos ou com os vivos...» De nada lhe valeu a revolta, antes pelo contrário. O seu rótulo de ilegítima custar-lhe-á a morte por vergonha. No desenlace trágico, Manuel Coutinho e Madalena resolvem, para expiação de sua culpa, tomar o hábito religioso. Durante a cerimônia em que Manuel Coutinho torna-se Frei Luís de Sousa, Maria de Noronha, filha do casal, tomada pela vergonha e pelo desespero, morre aos pés de seus pais.

Ana (Muito Bom-)
Aproveito a canção «Blasphemy», da banda britânica Bring Me the Horizon, que, embora não tenha mais de quatro anos, se adapta curiosamente bem à bastante mais antiga tragédia romântica de Garrett. Isto porque facilmente imaginamos que estamos a acompanhar o sujeito poético numa viagem por algumas das personagens principais de Frei Luís de Sousa, um «eu» que acaba por parecer contar fragmentos da história na perspectiva de cada uma delas, ideia menos inverosímil se atentarmos cuidadosamente à letra da faixa de That’s the Spirit.
«Ask no questions and you’ll get no lies» (Não faças perguntas e não receberás mentiras) parece-me resumir sumariamente a posição de Madalena no início da peça. Adivinhando nos recorrentes presságios do seu aio agoirento, invariavelmente relacionados, mesmo que implicitamente, com o regresso de D. João, uma futura perturbação da paz familiar que parecia ter alcançado, ela prefere continuar a viver na bem mais pacífica ignorância, pedindo-lhe que não entre nos seus “agouros e profecias do costume (…) de aterrar”. Madalena sabia que a sua atual felicidade decorria não tanto de mentiras, mas talvez de pontas soltas, que, uma vez começadas a ser puxadas, ela sabia acarretarem consequências desastrosas. No entanto, a recomendação da canção dos britânicos seguida à letra por Madalena certamente não seria ouvida por Maria de Noronha, portadora de uma incessante curiosidade e de uma sensibilidade inquietantes para a mãe, que considerava que a filha compreendia “mais do que convém”, sendo “preciso moderá-la”. 
Já um outro segmento da canção, “The blood and sweat you sacrificed / Was it all for nothing?” (O sangue e suor que sacrificaste / Foi tudo para nada?), remete para o que poderiam muito bem ser os pensamentos que assomavam o Romeiro ao regressar dos seus “vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias”. Ainda assim, os ansiados  reencontros com Telmo e, sobretudo, com Madalena acabaram por ser momentos que, como já tão bem se sabe, se revelaram uma enorme desilusão para D. João de Portugal que, muito angustiadamente, declara ao velho aio já não ser “ninguém (…) se nem já tu me reconheces!”. Se isto não o fez questionar para que serviram os seus anos de sacrifício, certamente o reencontro (ou a falta deste) com Madalena teve esse efeito, culminando com um infame “Meu marido, meu amor; meu Manuel!”, devastador para o Romeiro.
Por outro lado, regressando ainda ao próprio título da canção, «Blasphemy» (Blasfémia)  ̶̶ dito ímpio ou insultante contra o que se considera como sagrado  ̶  pode-se concluir que também este remete para a posição de uma personagem, neste caso Maria. Já no final da peça, dá-se uma autêntica revolta por parte da jovem, que passa por privilegiar a família aos valores religiosos, questionando-se “Que Deus é esse que está nesse altar e quer roubar o pai e a mãe a sua filha?”. Com efeito, segue-se todo um discurso de rebelião que facilmente suscitaria nos presentes uma reação a lembrar o refrão “It’s blasphemy!” (É blasfémia!).
A forma peculiar de Oliver Sykes nos ir contando pormenores da obra de Garrett parece atingir o seu culminar ao ouvirmos “Bend the knee and give away your life” (Ajoelha-te e dedica a tua a vida), uma descrição literal, ainda que resumida, do final da tragédia, pelo menos para os futuros Frei Luís de Sousa e Sóror Madalena.

Matilde (Bom -/Bom (-))
A canção “Secret Love Song Pt. II”, interpretada pela banda britânica Little Mix, pode ser facilmente relacionada com a obra Frei Luís de Sousa, como uma representação da relação amorosa de Madalena de Vilhena e de Manuel de Sousa Coutinho.
Apesar de Madalena e Manuel se terem casado sete anos após o desaparecimento de D. João, Madalena ter-se-ia apaixonado ainda durante o seu primeiro casamento.
Vinte e um anos depois da batalha de Alcácer Quibir, um “pobre velho peregrino” traz consigo a notícia de que D. João de Portugal está vivo, o que deixa Madalena transtornada. Com isto, o seu novo casamento seria pecado, visto que o seu primeiro marido estaria vivo. Como na canção, também o casal vive um amor proibido You and I, both have to hide on the outside where I can't be yours and you can't be mine (Ambos temos de nos esconder no exterior onde eu não posso ser tua e tu não podes ser meu)”.
Para Madalena, a família era uma parte extremamente importante, à qual dedicava toda a sua vida, principalmente à sua filha Maria – “Filha da minha alma!” –, que, estando D. João vivo, tornar-se-ia “filha do crime e do pecado” por ser fruto de uma relação ilegítima; Madalena tenta esconder-lhe, então, toda a situação. Também Telmo nega ter conhecimento de todo o sucedido, quando questionado pela criança.
A cena em que Manuel de Sousa incendeia a própria casa e é obrigado a mudar-se com a família para o palácio de D. João, onde este e Madalena viviam quando eram casados, pode ser também relacionada com o tema da canção, quando Jesy Nelson canta “We got a love that is homeless (Temos um amor sem abrigo)”, já que o lar de Madalena e Manuel foi destruído, restando-lhe a casa que Madalena partilhara com o primeiro marido. Madalena fica horrorizada com esta ideia, pois lembrar-lhe-ia o facto de o seu amor atual poder ser ilegítimo e sentiria a presença do primeiro esposo, o que a deixa assustada – “Mas tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa”. Podemos também fazer uma analogia com o regresso de D. João, que veio perturbar o relacionamento do novo casal, podendo este ser visto metaforicamente como uma casa.
No fundo, Madalena estava aliviada por D. João ter desaparecido, pois assim ela podia finalmente ficar com Manuel, quem ela realmente amava, sem ter de se esconder. Este sentimento também está ilustrado na canção, quando Leigh-Anne Pinnock canta “I don’t wanna live love this way, I don’t wanna hide us away. I wonder if it ever will change, I’m living for that day, someday (Não quero viver o amor desta forma, não quero esconder-nos. Pergunto-me se um dia irá mudar, estou a viver para esse dia, um dia)”.

Sofia (Bom)
O sentimento que carrega o sujeito poético na canção de Rui Veloso poderia aplicar-se ao Romeiro de Frei Luís de Sousa. “Nunca me esqueci de ti”, que é o título da canção, poderia retratar a posição do primeiro marido de Madalena de Vilhena relativamente a sua mulher ao longo dos anos, desde que partira para a batalha de Alcácer Quibir até regressar a Almada. Contudo, o amor de D. João de Portugal por Madalena tem tanto de verdadeiro como de ingrato pois esta, provavelmente, nunca o amara verdadeiramente.
D. João, como homem honrado, fiel e apaixonado, esperava encontrar a mulher à sua espera como a deixara antes de partir para África, mas, como Rui Veloso escreveu, “Tudo muda, tudo parte / Tudo tem o seu avesso”, mais ainda passados tantos anos. O Romeiro regressa e Madalena nem lhe reconhece os traços que haviam sido mudados pelos “vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias” que por ele passaram. Apesar de julgar D. João de Portugal um mendigo, não se pode dizer que Madalena tenha esquecido o primeiro marido. No decorrer da obra faz-lhe várias referências, mostrando a sua angústia e preocupação de ter pecado por traição (“Oh perdoa, perdoa-me, não me sai esta ideia da cabeça… — que vou achar ali a sombra despeitosa de D. João, que me está ameaçando com uma espada de dois gumes”). Mas, como afirma o Romeiro, “contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela”, feliz ou não Madalena apaixona-se e constitui família. No fundo, Madalena só não esqueceu D. João porque, no seu papel de dama dramática, tinha medo que ele aparecesse para a assombrar por estar ressentido com ela e porque se vê forçada a ir habitar com Manuel de Sousa e a filha, Maria, para o palacete onde vivera com o seu primeiro marido.
Por outro lado, também é possível estabelecer uma relação entre a canção e a posição de Telmo para com o seu amo. Telmo é a única personagem que acredita que D. João de Portugal ainda está vivo (“bem sei que duvidaste sempre da minha morte, que não quiseste ceder a nenhuma evidência”) e que nunca deixa de o esperar. O reencontro do Romeiro e Telmo é marcado pela mistura de sentimentos, a angústia de uma suposta traição de Madalena e a felicidade de ver o seu “filho” vivo. Como é dito na canção de Rui Veloso, “É o riso, é a lágrima”. Ao contrário de a Madalena, o título desta canção assenta bem nestas duas personagens, que no fundo, como verdadeiros amigos, nunca se esqueceram um do outro.

Inês C. (Bom +)
Aproveito-me desta canção da dupla Alex & Sierra, «Little Do You Know», para estabelecer relações de contraste e aproximação com Frei Luís de Sousa. Este tema ilustraria, mais precisamente, um diálogo entre Madalena de Vilhena e D. João de Portugal, ainda que, curiosamente, tivessem trocado de papéis (neste caso, a voz feminina relaciona-se com D. João, enquanto que a voz masculina assumiria o papel de Madalena).
«Little do you know / How I’m breaking while you fall asleep» (Mal tu sabes como eu estou magoada enquanto tu dormes) é o primeiro dístico da canção e relaciona-se com o que D. João, que surgiu como um Romeiro no ato III, afirma: «Oh! Passaram hoje pior noite do que eu.» (cena V). Ainda que apenas Manuel de Sousa Coutinho o tivesse reconhecido, quer Madalena quer Manuel teriam tido provavelmente, uma noite agitada já que ela vivia assombrada e ele se encontrava agora num amor impossível ( «a nossa união, o nosso amor é impossível», cena VII). Madalena, tal como o «eu da canção» («I’m still haunted by the memories» [Ainda estou assombrada pelas memórias]), vivia assombrada pela falta de fidelidade ao seu primeiro marido, uma vez que caíra em amores por Manuel ainda D. João era vivo.
Ao regressar da batalha de Alcácer-Quibir, após vinte e um anos, o Romeiro, que vê a sua «honrada e virtuosa» esposa casada com outro homem, tenta remediar o mal feito e reerguer-se («I’m trying to pick myself up» [Estou a tentar reerguer-me]), procurando manter intacta a única coisa que lhe restara, a honra e memória do seu nome. Apesar da traição, o Romeiro já os havia perdoado («Que lho leve Deus em conta e lhes perdoe como eu perdoei já.», cena V, ato III), assumindo que não os podia culpar por acreditarem na sua morte, tendo em conta que as provas eram demasiados credíveis («(…) não posso criminar ninguém porque o acreditasse: as provas eram de convencer todo o ânimo (…)»). Tal como o Romeiro, a figura feminina estava «pronta para perdoar» («I’m ready to forgive you»).
Neste tema, a personagem masculina, representativa de Madalena, apercebe- -se de que a voz feminina está magoada«I know you’re hurting/ While I’m sound asleep» (Eu sei que estás magoada, enquanto eu pareço dormir). No entanto, em Frei Luís de Sousa, Madalena, que, desde o primeiro instante, vive aterrorizada com o «fantasma» do seu primeiro marido, no momento em que o tem diante de si, é incapaz de o reconhecer («mas não daríamos nós (…) uma crença tão implícita a essas misteriosas palavras de um romeiro, um vagabundo») e de compreender a dor que ele deveria estar a sentir.
Por outro lado, Madalena de Vilhena, abandonada por todos, ficou «um espetáculo de dor e de espanto». Tal como o «eu» deste single de 2014, está a ser afundada pelos seus erros aos poucos («all my mistakes / Are slowly drowning me»). Apesar de considerar inaceitável que o sentimento do amor de Deus possa conduzir ao sacrifício humano, Madalena acaba então prostrada na terra e condenada a morrer longe de Manuel como consequência dos seus erros.

Nicole (Suficiente (-))
A análise da música “Unfaithful”, de Rihana, fez-me lembrar a história de D. Madalena. Esta personagem de Frei Luís de Sousa encontra-se em conflito permanente, tal como se encontra o sujeito da música. D.Madalena casa-se com D. Manuel de Sousa Coutinho, passados sete anos do desaparecimento/morte de D. João de Portugal, o seu primeiro marido. Passados vinte e um anos regressa da batalha de Alcácer Quibir D. João, deixando-a na desgraça. Era um dos seus maiores medos, o regresso de D. João, pois sabia que a relação que tinha com D. Manuel e com sua filha Maria passaria a ser um pecado (“Eu… estás... perdidas, desonradas… infames!...”).
O sujeito da canção de Rihana é uma mulher que trai o marido, e, no entanto, encontra-se arrependida pelas suas ações, destruindo-lhe a vida, deixando-o em sofrimento (“I don`t wanna do this anymore [Eu não quero mais fazer isto]”). Neste verso, podemos ver que já não o quer magoar mais, de  certo modo podemos comparar este sentimento com o de D.Madalena, que diz ter sido sempre fiel a D.João (“ Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memória..”).
Também conseguimos encontrar semelhanças na canção com D.João, na cena VI do ato III, quando D.Madalena diz “Marido da minha alma, pelo nosso amor te peço, pelos doces nomes que deste, pelas memórias da nossa felicidade antiga,…”. Chega a pensar que aquelas palavras estavam a ser dirigidas para ele, ficando com esperança de que ainda haja uma paixão por ele, mas, na última fala ela  dirige-se a Manuel e não a D.João. Sente-se como um intruso, que destrói uma família, pedindo então a Telmo que espalhe a notícia de que o Romeiro não passava de um impostor, pois já não aguentava mais ver Madalena em tal desespero, sofrimento causado pela sua chegada, tal como é dito no verso da canção “Everythime I walk out the door I see him die a little more inside”, em que o sujeito da canção sente-se culpado por estar lá, fazendo com haja sofrimento, encaixando-se perfeitamente no que D.João sente, por cada vez que passa mais tempo com D.Madalena e com o resto da família.
Esta música retrata os sentimentos de uma mulher que trai o marido, como acontece com D. Madalena de um certo modo. No entanto, também conseguimos encontrar certos versos que se adequam a outras personagens de Frei Luís de Sousa, como é o caso de D. João de Portugal.

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