Saturday, August 25, 2018

Frei Luís de Sousa pelo 11.º 2.ª


Marta (Bom+/Muito Bom-)
Impondo um contexto dramático, a canção «Morena dos Olhos d’Água», de Chico Buarque, sugere um clima romântico — aspetos que facilmente se adaptariam ao drama de Garrett, cujas personagens sofrem simultaneamente com o passado, o presente e o futuro a que o amor as conduz. A versão ao vivo, ao lado de Caetano Veloso (1972), agradaria mais ao dramaturgo português, que preferia a magia da representação e do espetáculo.
A voz masculina poderia pertencer a Manuel de Sousa Coutinho, por quem as palavras «Vem ver que a vida ainda vale / o sorriso que tenho pra lhe dar» seriam dirigidas a Madalena de Vilhena, logo após aquela «funesta jornada de África», que  a deixou viúva e desamparada. Ao longo de toda a peça, é notória a predisposição de Manuel para assegurar a Madalena um futuro feliz, esforçando-se para lhe acalmar o espírito preocupado e negativo. Os constantes maus presságios de Madalena, que logo na primeira cena se supõe incapaz de gozar a felicidade, devido aos «contínuos terrores» e permanente «medo», exaltam no fidalgo a necessidade de a tranquilizar, como acontece no momento que antecede a partida para a antiga casa de Madalena, em que lhe diz precisar da «força do coração».
Contudo, a ideia de um futuro sorridente ao lado de Manuel, além de prometida pelo marido, fora também antecipada por Madalena, que era ainda casada com D. João quando sentiu despertar por ele uma atenção especial. Assim, compreendo que a canção despertasse em si o desejo de se entregar, de «ouvir lindas histórias». Após um ciclo em que se dedicou à perda e ao sofrimento, Madalena desejava, mais que tudo, viver o amor que nem o passado lhe permitira. Apesar da inquietação que continuava a encobri-la, Madalena escutou atentamente o sussurro que se tornava cada vez mais evidente com o fechar do ciclo ­— « seu homem foi-se embora» — e, assim, pensou desprender-se do passado. A voz afetuosa do tema lembra-me a esperança a que se agarra Madalena, quando afirma viverem «seguros, em paz e felizes».
A canção esconde tragédia na beleza do amor. Desse modo, seria indubitavelmente bom pretexto a Telmo, que, menos cego pelas promessas de felicidade, não esqueceria o «prometendo voltar já» que acompanhava a certeza de partida sem regresso (semelhante à promessa de regressar «vivo ou morto», que acompanhava a carta que fora entregue a Frei Jorge e que, aos olhos do escudeiro, certificava que o amo havia de voltar para ver Madalena, mesmo que pela última vez).
Diz Manuel: «Eu não tenho ciúmes de um passado que não me pertence. E o presente, esse é meu, meu só, todo meu, querida Madalena…», como se da calma dos instrumentos e certeza da melodia se tratasse. Mas, aquando de tão sedutora felicidade, resta a desconfiança, revelada por Telmo e frequentemente escondida por Madalena. Mas percebemos que não há hora de «partir ou de voltar» e, assim, «o constrangimento de alma, o terror» permanecem, movidos por passados esquecidos e presentes forçados.

João Pedro (Bom/Bom (-))

A canção “Save Me” (Salva-me) dos Queen pode ser entendida como os pensamentos de D. João de Portugal e de D. Madalena de Vilhena nos anos em que estiveram separados.
“They said we made the perfect pair/ (…) / How I loved you” (Diziam que fazíamos o par perfeito/ (…) / Como te amava) são os primeiros versos da letra desta canção e, de certa forma, os pensamentos de D. João de Portugal (e de Madalena) no tempo em que estiveram longe um do outro. “I love you ‘till I die” (Amo-te até morrer) são as palavras que Brian May (guitarrista da banda) escolhe e que assentam perfeitamente ao casamento entre D. João de Portugal e D. Madalena de Vilhena, cuja recordação deixa Madalena aterrada, quando pensa que terá de voltar à casa onde passou “The years of love and loyaltie” (Os anos de caridade e lealdade) com o falecido marido. Madalena mostra-se neste episódio da peça uma pessoa com medo de enfrentar o passado (“o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa”).
No entanto, é o passado que dá forças a D. João de Portugal para continua a viver (“I can’t face this life alone”— Não consigo enfrentar esta vida sozinho), é a esperança de um dia poder voltar para o seu amor mesmo que, se um dia for libertado, refaça a sua vida com outrem (“To start again with someone new”— Recomeçar com uma nova pessoa).
Na cena da peça em que D. João de Portugal (sob o nome de Romeiro) volta a casa depois de ter estado “far from home” (longe de casa), este fala de si na terceira pessoa do singular como se de um companheiro de cela se tratasse (“ele também sofreu muito”), o seu “eu” é agora “Ninguém”. Assim também se sente o sujeito lírico da canção, quando afirma “I have no heart” (Não tenho coração), pura e simplesmente deixou de existir, à semelhança de D. João de Portugal.
As noites sozinho, com frio, levaram D. João de Portugal a inventar alguém com quem desabafar, para quem chorar, alguém que mais tarde surge sob o nome de Romeiro mas que esconde apenas o nobre D. João de Portugal. Assim também Freddie Mercury canta as belas palavras de amor de Brian May: I’m naked and I’m far from home / (…)/ Each night I cry” (Estou nu e estou longe de casa / (…)/ Choro todas as noites).
Como já referi, D. João de Portugal chega sob a forma de Romeiro, um velho que viajara dias e noites para entregar uma mensagem ao seu amor de há vinte e um anos a quem informa que está vivo. Apesar de não o dizer é percetível que quer que D. Madalena de Vilhena salve D. João de Portugal de um passado atroz que o retirou do mundo: “Save Me” (Salva-me) é tudo o que Romeiro quer de D. Madalena que foi durante vinte e um anos a sua força para continuar a viver.

João S. (Bom+/Muito Bom-)

A canção “Porque é que vens?”, de Tony Carreira, podia ser facilmente um desabafo de Madalena para D. João de Portugal, que volta vinte e um anos depois da sua alegada morte, sem ser desejado, causando a destruição da nova família que Madalena de Vilhena tinha criado e amava.
“Porque é que vens / quando eu encontrei saída / e refiz a minha vida” serão talvez os versos que assentam melhor no Romeiro (D. João de Portugal) pois o seu regresso a casa em nada muda ou contribui para o seu destino final de solidão e tristeza, no fundo, de um “ninguém”. A sua conversa com Madalena logo na primeira aparição revela que possuía a informação de que esta era casada, logo, sabia ao que vinha e o que ia causar. Estava cego de vingança e de mágoa. Porém, mais tarde, ao descobrir que o procuraram por toda a parte e que o casal tem uma filha que ficará desonrada, o Romeiro toma consciência do que fez e de como foi “imprudente, foi injusto, (…) duro e cruel” e que de nada isso lhe serviu (“E para quê?”). Resigna-se assim “de desonrar a sua viúva”. Descobrimos mais tarde que já não vai a tempo.
A atitude do Romeiro é uma atitude que favorece a tragédia, mas também um pouco estranha, vinda de um homem considerado exemplar. Apenas a raiva e a incompreensão a podem justificar.
“Porque é que vens / chamar o passado / já quase apagado / depois de eu tanto sofrer / (…) matar-me de novo / quando a pouco e pouco / eu consegui renascer” são versos que quase parecem fazer parte da própria peça de tal modo se adequavam . Se fossem parte da obra seriam de certo uma fala de Madalena, uma demostração de frustração, desamparo, impotência e até inocência em relação à situação que se desenrolou na sua vida. Sobre essa situação Madalena não possui controlo, nem a  pode sequer prever, apesar das palavras proféticas de Telmo, que sempre acreditou que o seu verdadeiro mestre viria “vivo ou morto”. Madalena fica numa posição difícil, talvez até um destino não merecido devido aos esforços na procura de D. João que, por terem sido inconclusivos, fizeram com que vivesse vinte e um anos em “contínuos terrores que ainda não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade” de estar casada com Manuel de Sousa Coutinho. Será talvez o facto de não ter amado D. João o único pecado que se pode apontar a Madalena, que, de resto, foi exemplar na atitude perante o desaparecimento do marido.
O seu final será, porventura, o mais trágico juntamente com Manuel. A morte da filha e a separação do marido, as duas pessoas que mais amava, é o momento crucial que torna este drama romântico numa verdadeira tragédia.

Afonso (Bom +/Muito Bom -)

“A terra gira em contramão” assim se inicia o refrão da canção do Grupo Quatro e meia, recordando-nos que tantas vezes na vida “Ficamos tontos sem direção” – como a própria canção refere – pelos desencontros que decorrem de situações cujo controlo não está ao nosso alcance. Também o tema principal da peça Frei Luís de Sousa resulta de um tremendo desencontro pelo facto de D. João de Portugal ter estado desaparecido tantos anos, o que levou a que a sua esposa D. Madalena voltasse a casar com D. Manuel sem saber o que era feito do primeiro marido, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir. Nesta obra literária o Homem é uma marioneta do destino, característica essencial da tragédia antiga, tal como na canção escolhida “A terra gira também a vida segue o seu caminho a um ritmo que ninguém controla.
Eu não sei / Nem como, nem quando, aqui cheguei” é o primeiro dístico da canção que, cantada na voz masculina de um dos vocalistas do grupo, representa bem o sentimento de muitos soldados que regressam de batalhas e guerras já esquecidas no tempo, com vidas e sonhos interrompidos. Cantada por D. João de Portugal, poderia ter sido a sua apresentação quando aparece disfarçado de Romeiro, vinte e um anos depois de ter partido.
D. João de Portugal sofre pelo desconhecimento e surpresa do casamento da sua mulher e pelo tempo que perdeu – “Sem saber / Dou por mim a viver a correr” –, sofre pelo esquecimento a que foram votados ele próprio e o seu casamento – “E o mundo segue / Sem olhar para nós” –, sofre pelo abandono que sente – “Queremos tudo / Mas vivemos tudo a sós” – e sofre por não poder travar a marcha do destino – “Mal me vi / No caminho até chegar aqui / Sem contar / Corro às cegas / Sem saber onde chegar”.
Esta é uma canção que fala do desencontro amoroso e, também, por este motivo, se articula com o desencontro entre D. João de Portugal e D. Madalena, um amor que se desencontrou deixando de ser compatível com a felicidade.
No final da canção, os versos “Corremos até nos faltar o ar / E a vida vai ficando para depois / E continuamos os dois a sonhar” permitem fazer o paralelismo com o desenlace da obra dramática Frei Luis de Sousa, isto é, com o desespero e inconformismo sentido por D. Madalena, face à situação de bigamia e à ilegitimidade da filha Maria, em particular no terceiro ato, cena IX, quando, abraçada à cruz, lamenta a sua desgraça e destaca o papel da religião como consolo perante a perda da felicidade e da própria vida. Também D. Madalena “vê a sua vida ficar para depois” com a entrada para o convento, adiando o futuro e evitando a vida.
O final da canção é precedido por um instante de felicidade – “adormecemos os dois” – logo interrompido pela “hora de acordar”, acentuando que o ritmo imposto pela sociedade é cruel para com a vida dos homens, tal como no drama romântico o destino se mostra implacável com as personagens.

Cabo (Bom (-))
Esta canção, “Wings”, foi escrita e produzida por Malcolm McCormick, mais conhecido por Mac Miller. O seu texto é comparável à situação de D. João de Portugal após chegar a casa e reencontrar a família, que não via há vinte e um anos, pois mostra o sentimento de deixar o passado para trás e seguir em frente, como uma pessoa nova. Um recomeço, enfim.
Mac Miller sempre encontrou um refúgio para os seus dias negros nas drogas, até que começou a namorar com uma rapariga que conseguiu ajudá-lo a voltar a encontrar equilíbrio na sua vida, o que foi bom para ele mas mau para ela. Ela não aguentava estar mais com ele então deixou-o, o que o destruiu. Aqui, a vida do artista e a vida de D. João ficam parecidas. Tanto D. João como o artista ficam perdidos e sozinhos, enquanto as suas antigas companheiras refazem a sua vida com outra pessoa, porém, enquanto D. João vagueia pelo mundo, Malcolm vagueia pelo mundo das drogas.
Antes de “seguir em frente”, D. João ainda tinha de avisar a sua família que estava vivo, o que fez sem se revelar como o próprio. Agora poderia finalmente ser livre daquele fardo que era, para além de o facto de a família pensar que ele estava morto, também a saudade. Este sentimento é representado pela famosa fala do romeiro: ”Ninguém”. Com esta fala D. João livra-se do seu passado e segue livremente. Também este sentimento é encontrado na música: “The sun is shining, I can look at the horizon” (o sol está a brilhar, eu consigo ver o horizonte). Com este verso, o eu afirma que, depois dos tempos difíceis, consegue, finalmente, ver um futuro melhor.
Apesar de ambos pensarem que estão no caminho certo e que, finalmente, podem ser felizes, na verdade acabaram por fazer as coisas ficarem ainda piores. Com a notícia da vinda de D. João, a vida de Manuel de Sousa e Madalena tornou-se num inferno na Terra, e estes decidem seguir um rumo religioso, esperando que Deus os perdoe dos seus pecados. Já o sujeito descobre que na verdade ainda está perdido, o que demonstra no verso: “I guess i just play it by ear, silence is all that I hear” (Acho que toco de ouvido, silencio é tudo o que ouço), mostrando que não sabe para onde vai e está a deixar-se ir com a maré. Malcolm acaba por falecer de uma overdose a 7 de setembro de 2018, descobrindo que aquele futuro melhor que tinha visto, afinal, era só uma miragem.

Ricardo (Bom (-))

O título da canção, “Se já não me queres”, de António Zambujo, transporta-nos para a obra de Almeida Garrett, permitindo-nos estabelecer uma analogia entre a mensagem veiculada pelo músico português e a personagem de D. Madalena e a sua relação com D. João de Portugal em Frei Luís de Sousa.
D. Madalena evidencia um medo constante do regresso de D. João de Portugal, seu primeiro marido, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir (“... estes contínuos terrores que ainda não me deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade...” — Ato I, Cena I). Apesar de se terem acionado todos os meios possíveis para o encontrar, nunca houve provas da morte de D. João e, por isso, Madalena casou-se com Manuel de Sousa Coutinho, por quem se apaixonara e com quem teria daqui uma filha. A incerteza do desaparecimento de D. João é intensificada com a fidelidade de Telmo a seu amo. Os receios de Madalena agudizam-se quando Manuel de Sousa decide pôr fogo à casa, obrigando a família a mudar-se para o palácio de D. João (“... o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa. Parece-me que é voltar ao poder dele...” — Ato I, Cena VIII). O primeiro marido de D. Madalena não está presente, mas é uma referência constante ao longo do ato I. Entretanto, surge uma nova personagem na intriga, um romeiro, que traz consigo informações devastadoras para D. Madalena e a sua família.
É neste ponto do enredo que a letra de Luísa Sobral melhor se enquadra na obra em estudo. D. João de Portugal regressa disfarçado de romeiro, percebe que outro homem ocupa o seu lugar e que o seu próprio aio vive uma grande angústia com o seu regresso, sofrendo por Maria, filha de Madalena e Manuel de Sousa (“Meu honrado amo, o filho do meu nobre senhor, está vivo...”,”É que o amor desta outra filha, desta última filha, é maior, e venceu... venceu... apagou o outro.” — Ato III, Cena IV). Apesar do sofrimento passado ao longo de vinte e um anos de ausência, D. João reconhece que o amor da sua esposa já não lhe pertence (“Se já não me queres / Se já não me amas / Se a tua mente / Sonha apaixonadamente com outro alguém”), o que é visível quando escuta D. Madalena descrever os seus sentimentos por Manuel de Sousa (“Marido da minha alma… pelas memórias da nossa felicidade antiga…” — Ato III, Cena VI). A revolta invade-o (“Ah! E eu tão cego que já tomava para mim!” — Ato III, Cena VI); no entanto, ao reconhecer a desgraça que se irá abater sobre todos, prefere anular a sua própria existência para os salvar (“Se já não me olhas, já não me desejas / Se quando me beijas não são os meus lábios que queres provar / Então meu amor, faz-me esse favor e vai ser feliz”), pedindo a Telmo para agir (“Vai, vai: vê se ainda é tempo; salva-os, salva-os, que ainda podes…” — Ato III, Cena XII). A canção interpretada por António Zambujo representa o estado de espírito de D. João, um homem triste e cujo sofrimento não anula a capacidade de continuar a amar a sua mulher, desistindo da própria existência e preferindo não ser recordado como alguém (“que amou quem não [o] quis”).

Francisco B. (Bom)

Frei Luís de Sousa é um drama romântico, escrito por Almeida Garrett, com o objetivo de mostrar, entre outros, que não é o passado que vem resolver os problemas do presente, isto é, o regresso de D. João de Portugal da batalha de Alcácer-Quibir não iria trazer a felicidade de D. Madalena, como se ele fosse um vilão.
Baseado nesta ideia da importância da memória ou das saudades, pesquisei músicas que tivessem como tema algum regresso ao passado ou a incapacidade de esquecer um episódio ou uma pessoa. Acabei por encontrar uma música dos Xutos e Pontapés, intitulada “Para Sempre”. Quando li atentamente a letra, percebi que o que encontrei era semelhante a um dos aspetos de Frei Luís de Sousa.
Ao lembrar-me de todas as personagens da obra, achei que o conteúdo da letra se encaixava perfeitamente em D. João de Portugal, um nobre que havia partido e também não havia regressado, tal como D. Sebastião, da batalha no Norte de África. Este homem era casado com D. Madalena e amava-a profundamente. Tanto assim é que, quando ele desaparece e está vinte e um anos sem dar notícias, o seu aio fiel, Telmo Pais, recorda a D. Madalena um bilhete que o marido havia escrito no próprio dia da batalha e que dizia: «Vivo ou morto, Madalena, hei-de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo», o que a deixa desesperada (pois agora está casada com Manuel de Sousa, com quem é muito feliz e de quem tem uma filha – D. Maria de Noronha), mas consola o aio, que anseia pelo regresso do seu amado amo: “o Senhor Manuel de Sousa Coutinho é guapo cavalheiro, honrado fidalgo, bom português…,mas não é, nunca há-de ser aquele espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor dos bons… Ah! meu nobre, meu santo amo!”.
Na letra da canção, podemos ver que há alguém extremamente apaixonado por outra pessoa (“O nosso amor de sempre / Brilhará, p'ra sempre”), que identifiquei como D. João que sempre amou a sua mulher e que apenas conseguiu suportar os anos de cativeiro recordando-se dela e esperando encontrá-la uma vez mais, como nos diz também a letra: “Juro, meu amor que sempre/Voltarei, p'ra sempre”. Vemos essa paixão profunda e intensa no Frei Luís de Sousa, quando o Romeiro diz trazer um recado dirigido a D. Madalena: “Ide a D. Madalena de Vilhena e dizei-lhe que um homem que muito bem lhe quis aqui está vivo por seu mal e daqui não pode sair nem mandar-lhe novas suas de há vinte anos que o trouxeram cativo”. Desta forma, percebi que foi o amor pela mulher que o manteve vivo todos esses anos.
Assim, apesar de a obra terminar em morte – de Maria, filha do casal – parece-me que D. João também acabou por ser uma vítima, já que, ele, ao regressar, apenas queria voltar para os braços da mulher amada e não queria destruir ninguém, mas ela nem o reconheceu. A letra também nos mostra isso: “Ai, meu amor / O que eu já chorei por ti / Mas sempre / P’ra, sempre / Vou gostar de ti”.

Cardoso (Bom)

Podemos ouvir bastantes vezes a alusão a algo que nos lembra um sentimento de dor, de mágoa e de culpa por não ter sido melhor enquanto pôde, deixado por alguém que o sujeito poético, assumido pelo cantor Bastille e pelo produtor Marshmello no seu single de êxito “Happier” (do inglês mais feliz), realmente amava – “Lately, I've been, I've been thinking, I want you to be happier, I want you to be happier” (Ultimamente, eu tenho, eu tenho pensado, Quero que sejas mais feliz, quero que sejas mais feliz). Apesar de, a ideia principal do tema ser sobre se querer a pessoa que se ama feliz, na peça da autoria de Almeida Garret Frei Luís de Sousa, o antigo Dom João de Portugal, agora como romeiro, produz o efeito contrário na mulher que ama, ao entrar em cena. Provoca infelicidade, tristeza e até um ligeiro delírio em Dona Madalena de Vilhena (“Minha filha, minha filha, minha filha! Estou… estás… perdidas, desonradas… infames!”), não obstante o seu amor pela sua amada, o nobre cavaleiro não morto em batalha não havia previsto essa situação, tudo o que quis foi ter a sua amada consigo. Após descobrir que a sua mulher havia casado com outro homem, o romeiro transforma a sua conduta, ainda que, o aniquile a ideia de Madalena não o amar “And the image of you being with someone else, well, that's eating me up inside” (e a imagem de tu estares com outra pessoa está-me a destruir por dentro), ele continua apaixonado por ela, se não, não teria aguentado (“vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias que por aqui passaram”) mais de duas décadas preso.
Percebemos então, o quanto realmente ama Dom João Dona Madalena (“Basta: vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele, que tudo isto foi vil e grosseiro embuste de inimigos de… dos inimigos desse homem que ela ama. E que sossegue, que seja feliz.”) ao pôr a felicidade de Madalena à frente da sua. Se atentarmos na letra da canção, percebemos que a situação do romeiro é bastante semelhante à situação que o sujeito poético da canção nos relata. Ao ouvirmos “Then only for a minute, I want to change my mind, 'Cause this just don't feel right to me, I want to raise your spirits, I want to see you smile but, know that means I'll have to leave” (Então só por um minuto, eu quero mudar de ideias, porque isto não é certo para mim, eu quero te animar, eu quero te ver sorrir, apesar de saber que isso significa que eu terei que partir) recordamos o amor incondicional que D. João sente por Madalena, mesmo passados tantos anos sem ter notícias dela. “Even though I might not like this, I think that you'll be happier, I want you to be happier” (mesmo que eu não goste disto, acho que serás mais feliz, quero que sejas mais feliz) o nobre cavaleiro descendente dos condes do Vimioso, teria morrido em Alcácer Quibir por Madalena, se necessário.

Francisco A. (Suficiente)
Desde os primeiros segundos da música, composta por Pedro Ayres Magalhães e interpretada pelos Madredeus, que somos recebidos por um instrumental dramático e de alta intensidade, algo que se relaciona bem com Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett.
Os versos “Ai que ninguém volta/Ao que já deixou/Ninguém larga a grande roda/Ninguém sabe onde é que andou” encaixam-se muito bem na situação em que foi posto D. João de Portugal. O primeiro dístico, “Ai que ninguém volta/Ao que já deixou”, pode-se interpretar como referente á partida e á chegada de D. João. Tendo ele partido havia mais de vinte anos já não poderia regressar ao seu passado. Também se pode interpretar pelo lado mais literal do significado da canção; que ninguém volta da morte, mas, aos olhos de D. Madalena e da sociedade, foi exatamente isto que ele fez. A roda referida em “Ninguém larga a grande roda/Ninguém sabe onde é que andou” pode ser a vida, ou o destino aquele que não se pode ignorar: apesar de querer estar ao lado de Madalena, este seu destino foi algo cruel, levando-o por outro caminho, um em que “Ninguém sabe onde é que andou”.
Já perto do fim da peça, “Ao largo ainda arde/A barca da fantasia”, a fantasia acalentada por Madalena de poder viver uma vida harmoniosa com Manuel e Maria. Destruída pela chegada do romeiro com as notícias de D. João de Portugal ainda ser vivo, algo que impossibilita o seu casamento com Manuel e torna Maria de Noronha numa filha ilegítima, algo que na época em que decorre a história seria um pecado muito grave, Madalena não queria “Acordar” desta fantasia de felicidade inalcançável.
O “largo a arder” também nos remete para o fogo posto na casa de D. Manuel, que simbolizava os desastres que iriam cair sobre a família.
O verso “Deixa a alma de vigia” aplica-se a várias personagens de formas diferentes. Por exemplo, a Telmo, que esteve de “vigia” durante todos aqueles anos, sem nunca deixar de acreditar que o seu amo estaria vivo. Ou a Madalena que, dizia viver sobre um “medo” e “contínuos terrores” que “não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade” que o amor de Manuel lhe dava, estando de “vigia” aterrorizada pela ideia do regresso do seu antigo marido. Criando uma situação quase de Sebastianismo inverso para Madalena e Manuel, em vez de esperarem ansiosamente pelo seu salvador, aterroriza-os a ideia do regresso de D. João, porque este iria significar o fim da sua vida juntos.

Camily (Bom)
A canção “Você Não Me Ensinou a Te Esquecer”, de Caetano Veloso, simboliza, na minha perspetiva, os sentimentos tanto de D. João quanto de D. Madalena na obra de Almeida Garrett.
Como podemos claramente perceber, D. Madalena nunca se esqueceu de seu primeiro marido e amor, D. João de Portugal. Já no começo da peça Madalena confessa não conseguir pôr de lado o seu ex-marido e ser feliz com Manuel de Sousa (“este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor.”) e sabemos que Madalena esperou o seu amado por muito tempo antes de voltar a casar-se e, mesmo depois de quase vinte e um anos, continuamos sem ter a certeza de que a donzela esteja de facto convencida de que D. João morreu, sendo isto evidenciado na primeira conversa que tem com Telmo onde, apesar de se mostrar decidida no começo, a meio nota-se certa dúvida em suas palavras quando o aio a relembra da carta entregue por Jorge que rezava a volta de João estando ele “vivo ou morto”. Porém, essa mesma frase e título da canção, adequa-se, ainda, a Madalena e Manuel de Sousa. Já no ato terceiro, Madalena desespera-se com a possibilidade de ter de deixar o seu segundo esposo e amado para viver como devota à igreja e podemos ainda afirmar que nunca esquecerá Manuel de Sousa.
Olhando agora para a canção na perspetiva de D. João, a letra traz ainda um significado mais forte. É a partir do ato terceiro, na cena cinco, que sentimos ainda mais o amor do Romeiro por Madalena. Ao saber que seu amor procurou-o por sete anos antes de se casar outra vez, D. João aceita, por momentos, o destino, e pede a Telmo que desminta a sua história e afirma que “D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera.”. Comprando a música de Caetano Veloso com a atitude do Romeiro, podemos afirmar que, além de ainda amar D. Madalena, como é dito na canção, não sabe o que fazer sem seu amor, (“Agora, que faço eu da vida sem você?”), preferindo até a “morte” que viver sem ela.
Já numa outra parte da música, “Você não me ensinou a te esquecer/ Você só me ensinou a te querer”, pode-se relacionar com a reação do nobre cavalheiro quando ouve a voz de Madalena e ilude-se com suas doces palavras, acreditando que ela chama por ele e quer voltar atrás na sua decisão, até aperceber-se de que ela chama por Manuel de Sousa, não por ele.
  A canção, em toda a sua extensão, descreve as duas histórias de amor impossível (D. Madalena e D. João/ D. Madalena e Manuel de Sousa) e retrata o sentimento das personagens: desespero, saudade e amor. Estas personagens agora terão apenas a memória e, com toda a certeza, esta será inesquecível, tanto para elas, como para o público.

Amaral (Bom -)
Tendo um começo que pode parecer, aqui e ali, mais leve – mas sempre pontuado pelos agoiros de Telmo e as angústias de Madalena –, a obra Frei Luís de Sousa termina num fim pesado, relacionado com morte, desgraça e amor. Este tipo de ambiente relaciona-se perfeitamente com esta música do autor Slow J, «Teu Eternamente».
A primeira estrofe, encaixa perfeitamente no fim peça, podendo ser o mesmo um diálogo entre Madalena e Manuel sobre o pesadelo que penetrou a sua vida e o sonho que é o passado. “Eu sei que ‘tás aqui ao lado mas hoje sinto-me tão distante / E o nosso silêncio diz tanto”: estes dois versos explicam que, apesar de permanecerem juntos, a força do amor entre Manuel e Madalena não é suficiente para os manter unidos durante os momentos difíceis e que o final, que mostra a redenção de Madalena e Manuel, através da igreja, apesar das poucas palavras ditas pelos dois, significa o embaraço e a desolação por parte do casal.
“Eu juro queria ajudar-te e tentei” serve quase como um pensamento geral, por parte de todo o elenco, dirigido a Maria, após a sua morte, ou mesmo nos momentos prévios a esse acontecimento. A morte de Maria causa dor emocional a todas as personagens e coloca um fim muito dramático à peça. Tal como esta morte, também a composição mostra um sentimento de culpa e desolação por parte do “eu”, que se debate com um sentimento de perda e depressão por amor.
 Todo o final, mais triste e dramático, é muito representativo do fim e de tentativas de redenção ou desespero, como a tentativa de D.João de remediar a situação, pedindo a Telmo que dissesse que “o peregrino era um impostor”, ou a maneira de Manuel e Madalena exprimirem os seus pecados ao se devotarem à igreja. O autor da canção também se pretende redimir (não aos olhos da igreja, mas neste caso, aos olhos da mulher que ama), mostrando que pretende mudar e pedindo para o desculpar por erros passados.
Por fim, talvez a semelhança não mais óbvia, mas a com mais impacto: o próprio título da música. “Teu eternamente” pretende simbolizar o amor que o cantor retém e diz-nos que esse amor se manterá para sempre, mesmo depois de tudo o que enfrentaram e enfrentarão. Frei Luís de Sousa mostra o amor eterno por Maria e podemos ver isso apenas pela disforia que a sua doença traz à peça. Ambas as obras têm o amor como um símbolo e ambas o representam através do desespero e de uma promessa de mudança.

Ângelo (Suficiente -)
Esta canção é perfeita para o triângulo amoroso presente em Frei Luís de Sousa, obra de Almeida Garrett, entre D. João de Portugal, Madalena e Manuel de Sousa Coutinho. D. João, primeiro marido de Madalena, desaparece na batalha de Alcácer Quibir e, passado sete anos, Madalena casa-se com Manuel Coutinho, o que para foi normal, uma vez que D. João de Portugal foi dado como morto.
A canção «Betrayal» de Yao Si Ting encaixa perfeitamente na obra de Almeida Garrett logo por causa do título (traição), uma vez que, em Frei Luís de Sousa, Madalena casa-se com Manuel de Sousa Coutinho. Apesar de Madalena não saber que D. João de Portugal ainda estava vivo em cativeiro, muitos acharam que este casamento seria uma traição.
Logo na primeira fala a cantora diz «My love has gone away / Quietly after a hundred days» (O meu amor foi-se embora / Silenciosamente após cem anos). Apesar de que na obra de Almeida Garett não foram cem dias mas sim sete anos, podemos dizer que o amor de Madalena por D. João de Portugal foi desaparecendo ao longo do tempo, o que é normal devido à evidência que lhe foi mostrada em relação à morte do seu marido. O pensamento «How can i put someone to the test / When i thought i got the best» (Como é que posso testar alguém / Quando eu pensava que tinha o melhor) enquadra-se bastante com o pensamento de D. João de Portugal, pois ele sempre achou que Madalena era a mais honrada dama de Portugal, até que, após o seu regresso, descobriu que Madalena se tinha casado com outro homem, Manuel de Sousa Coutinho. Yao Si Ting também diz «Until the taste of bitterness then i regret / but still that I won’t detest, / the love I can’t forget,» [Até ao gosto da amargura então eu arrependo-me / mas mesmo assim eu não irei detestar, / o amor que eu não posso esquecer] quando D. João de Portugal teve uma surpresa amarga, pois descobriu que Madalena se tinha casado com outro mesmo assim D. João de Portugal não se esquece do seu amor com Madalena, nem de Madalena, uma vez que foi a sua primeira e única mulher, antes de ter desaparecido na batalha de Alcácer Quibir, o que também é dito pela cantora na parte final da canção: «who i can never forget» (alguém que eu nunca vou esquecer).

Diogo S. (Bom -)
A frase da canção “Quem de nós dois / Vai dizer que é impossível / O amor acontecer”, versão recente cantada em dueto entre Paulo Gonzo e Ana Carolina (2014), pode muito bem aplicar-se ao amor entre Madalena e Manuel de Sousa, que casaram sete anos depois de D. João de Portugal ter supostamente morrido em Alcácer Quibir. Porém, o aparecimento do “defunto”, catorze anos depois do casamento de Madalena e Manuel de Sousa, fez com que o casamento fosse um pecado, e sua filha Maria, fruto de um amor proibido.
A expressão usada na música “Sinto dizer que amo mesmo / Tá ruim pra disfarçar” adapta-se bem ao sentimento do Romeiro, que continuava a amar D. Madalena sem o esconder de ninguém. Só que esse amor 
não era correspondido, como podemos observar no comentário de Telmo quando diz a Madalena “Que o pobre de meu amo... respeito, devoção, lealdade, tudo lhe tivestes, como tão nobre e honrada senhora que sois... mas amor!”. Já Telmo nunca se esquecerá de como o seu amo, D. João, era um homem gentil e cavalheiro, afirmando que Manuel “...nunca há-de ser aquele espelho de cavalaria e gentileza...” correspondendo à expressão usada na música “E quando finjo que esqueço / Eu não esqueci nada”.
Quando Manuel incendeia a sua casa para não deixar que seja ocupada pelos governantes, este, Madalena, Maria e Telmo mudam-se para casa de D. João. Mais tarde João aparece a Madalena, inicialmente apresentando-se como um “ninguém”, mas, depois, Jorge (irmão de Manuel) apercebe-se de que é D. João.
Os versos “Entre nós dois / Não cabe mais nenhum segredo” transmitem bem o que D. João sentiu quando contou a verdade a Telmo.
A separação de Manuel e Madalena, provocada pelo aparecimento do Romeiro, deixou Madalena triste e desesperada, ainda tentando arranjar uma solução. Mas Manuel não deu esperanças a Madalena dizendo-lhe “Todas estas coisas são já indignas de nós’’.  Mesmo sabendo que continuava a amá-la, Manuel fugiu dizendo “Adeus, adeus!”, como na canção, modístico “Eu procurei qualquer desculpa pra / Não te encarar”.
Toda esta situação (o aparecimento de D. João, a vergonha de ser o fruto de um amor proibido tornando-a uma bastarda e a separação dos pais) agravou o estado débil de Maria, o que, sofrendo de tuberculose, a levou à morte, sendo  as suas últimas palavras “...cobri-me bem estas faces, que morro de vergonha...morro, morro... de vergonha’’.

Sebastião (Bom-)
A canção “A Thousand Years” (Mil Anos), de Christina Perri, da banda sonora do filme The Twilight Saga: Breaking Dawn, Pt. 1, pode ser interpretada em função dos sentimentos de D. João de Portugal e Telmo na peça Frei Luís de Sousa.
“I have died everyday waiting for you” (Eu tenho morrido todos os dias esperando por ti) é o primeiro verso do refrão da canção e descreve perfeitamente os pensamentos de D. João de Portugal depois da perda da guerra de Alcácer Quibir. Ele passou os vinte e um anos seguintes a tentar regressar a casa, e cumprir o que tinha escrito na sua carta antes de ir para à guerra: “Vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo”. Esses sentimentos de persistir e lutar estão presentes na canção — “I will be brave / I will not let anything take away / What's standing in front of me” (Eu vou ser corajoso / Eu não vou deixar levar nada / Do que está à minha frente).
Os versos “I have loved you for a thousand years / I’ll love you for a thousand more” (Eu tenho te amado por mil anos / Eu vou te amar por mais mil anos) também podem ser descritos como os pensamentos de Telmo, um amor de amigo, que nunca esqueceu o seu amo e sempre ficou com ele no seu coração, — “(...) não sei ler latim como o meu senhor... quero dizer como o Senhor Manuel de Sousa Coutinho, …” —; neste exemplo, Telmo sugere que o seu amo continua a ser D. João de Portugal, duvidando aliás da morte do seu amigo (o Romeiro — que é D. João de Portugal disfarçado — para Telmo: “Tu, bem que duvidaste sempre da minha morte”).
Inicialmente, o Romeiro fica zangado com a descoberta de que D. Madalena se casou e tem uma filha. Posteriormente, Telmo conta-lhe dos anos em que ela ficou à espera dele. O Romeiro apercebe-se da miséria e dor que ele causou à família. Decide deixá-los e pede a Telmo que minta, pede para ele dizer à família que era um impostor. Assim, o Romeiro tenta despedir-se do seu amor, mas apercebe-se de que este faz parte eternamente da sua vida, tal como a canção implica que ele tem de ser forte, continuar e ir em frente mesmo sofrendo, tal como dizem os versos “But watching you stand alone? / All my doubt suddenly goes away somehow” (mas ver te levantares sozinha / todas as minhas dúvidas desapareceram de alguma forma). Posteriormente, apercebemo-nos de que ele já vai tarde...

Pedro P. (Suficiente +)
A canção “Let it be”, dos Beatles, teria dado bons conselhos a D. João de Portugal se existisse há quatro séculos na altura. Logo a partir do nome da canção, “Let it be”, se D. João de Portugal tivesse apenas deixado Madalena e a sua família continuarem as suas vidas e não tivesse voltado, tinha evitado as confusões criadas dentro desta família, como a separação de Manuel de Sousa e Madalena de Vilhena.
O verso “And in my hour of darkness she is standing right in front of me” fez-me lembrar um dos momentos mais dolorosos desta história para D. João de Portugal, a cena em que Madalena acha que Telmo está a falar com Manuel de Sousa dentro da igreja e Madalena implora por uma última conversa com o seu esposo, quando, na realidade, é João de Portugal que está por detrás da porta em frente dela (“Esposo, esposo! Abri-me, por quem sois”, “Marido da minha alma, pelo nosso amor, pelos doces nomes que me destes”). A última frase convence João de Portugal durante poucos momentos, o que cria um esclarecimento doloroso quando Madalena diz “(…) meu Manuel”.
Apesar de os Beatles cantarem o verso “For though they may be parted, there is still a chance that they will see” com o intuito de duas pessoas que se amam reatarem a sua relação, podemos interpretar o verso noutro sentido mais relacionado com o Frei Luís de Sousa. Mesmo quando achamos que alguém não irá voltar, existe sempre uma possibilidade de o voltarmos a ver, querendo ou não, como acontece na obra, na qual Madalena acha que o seu ex-marido, D. João de Portugal, morreu na batalha de Alcácer-Quibir, no entanto, sempre com alguma dúvida, o que a atormenta ao longo da peça, especialmente no dia do vigésimo primeiro aniversário da batalha (“Hoje…hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado… que ainda temo que não acabe sem muita grande desgraça”).
Esta canção também poderia ser boa para Telmo, pois este, no meio do caos em que esta família está a entrar, tem sempre alguém por quem é capaz se de sacrificar até ao fim da obra, Maria: “And when the night is cloudy there is still a light that shines on me”. Funciona ela como luz que brilha nele no meio da escuridão: ”Que há um anjo… uma outra filha minha senhor,que eu também criei…”.

Ivo (Suficiente +/Bom-)

A canção “Por amor” é de André Mingas, músico e compositor angolano, um monstro sagrado da cultura e política de Angola, tendo sido em tempos ministro da Cultura do país. André Mingas foi o criador do semba jazz, uma mistura do jazz com a música tradicional angolana e foi um dos fundadores da União de Artistas Angolanos. André Mingas, juntamente com o seu irmão, Ruy Mingas, foi o compositor do hino nacional angolano.
Esta música pode ser um desabafo de D. João de Portugal, que volta vinte e um anos depois da sua alegada morte. Após tanto tempo perdido em terras africanas, D. João de Portugal regressa de Alcácer-Quibir. No regresso a casa, D. João de Portugal, que assume a figura de Romeiro, descobre que a sua antiga mulher, D. Madalena de Vilhena, já está casada e com uma filha. O sentimento de raiva e vingança tomam conta do Romeiro, que tem a intenção de desonrar a alegada viúva e a sua família.
O Romeiro acaba por anunciar a D. Madalena de Vilhena e a seu cunhado, Frei Jorge, que D. João de Portugal estava vivo, uma atitude fora do normal por parte da personagem, dado que era uma pessoa honrada e exemplar.
Os versos “Os beijos que eu tinha para dar / ficaram no mar” e “Veio a voz e eu não quis nem falar / Voltei pra te ver regressar” são os que encaixam melhor nas atitudes do Romeiro.
D. João de Portugal percorreu tantos caminhos durante todos anos para voltar a ver a sua amada, que, ao ouvir falar de D. Madalena, teve de retrair os seus sentimentos. Mas, mais tarde, ao ver o estado de D. Maria de Noronha, filha de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, decide não progredir com o plano de desonrar a viúva. Entretanto, D. João de Portugal reúne com o seu antigo aio, Telmo, que sempre acreditou que o seu amo iria acabar por voltar a casa, e, agora, ouve a sua intenção.
D. Madalena, ao saber que o seu antigo marido estava vivo, encontra-se numa situação de angústia, impotência e frustração depois de tanto dinheiro, empenho e esforço gastos para procurar o seu marido, que, sete anos depois ao seu desaparecimento, está vivo e que a sua filha estava doente com tuberculose e a sua morte podia estar próxima.
No entanto, o Romeiro assume a atitude de que todos nós estávamos à espera, decide não seguir com o seu plano e pede ajuda a Telmo, pedindo para que afirmasse que a notícia da volta de D. João de Portugal era falsa.
Este final é trágico para todos nós D. Maria de Noronha, no leito da sua morte, descobre a separação dos seus pais e considera-se a “filha do pecado” e o Romeiro diz a Telmo para que ajude a família despedaçada.
D. João de Portugal talvez vá fugir para não ter que confrontar o seu passado e acabe por morrer sozinho, André Mingas acaba por morrer em dois mil e onze como uma lenda viva angolana depois de trinta anos de êxitos e glórias.

Miguel B. (Bom +)

Subtil, no sentido de “lenta e singelamente”, foi a forma como D. Madalena substitui D. João de Portugal por D. Manuel de Sousa, mas também o nome do autor de uma das minhas canções favoritas, “Difícil de Explicar”, que sem grande dificuldade consegue ilustrar parte da obra teatral Frei Luís de Sousa.
“Amor é difícil de explicar / difícil como o facto de o querer / perceber sem o encontrar / sem o olhar, sem o tacto”, o início da canção lembra uma das bases de conflito no desenrolar da ação quando D. Madalena decide começar uma nova vida, casando de novo. Sem saber se D. João ainda seria vivo depois de ter partido numa aventura de que, na época, eram poucos os que regressavam com vida, a falta do tato e do olhar constante não perdoa. Se para uns faz esquecer o passado, como aparentemente fez D. Madalena ao casar com D. Manuel, a outros dá forças para regressarem aos braços de quem mais gostam, como acontecera com D. João.
Seriam inúmeros os guerreiros que combatiam não só ao lado de D. João, mas também contra ele, que de certeza muitas vezes pensaram na sua família e, em particular, na sua amada. Contudo, a parte do refrão que citarei – “E quando a dor se impõe / Não há volta a dar / Alguém repõe o teu lugar” – representa o que aconteceu a D. João – a inevitabilidade de ser substituído por D. Manuel perante a dor de D. Madalena. Neste caso, não é uma dor de amor, mas uma dor de perda, de tempo perdido em dedicação e de esforço fora cumprir o seu papel de esposa fiel quando, referindo-se a D. João, D. Madalena confronta Telmo por este aludir incessantemente ao regresso do amo (“Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memória, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berberia”).
É também uma dor de não conseguir ser totalmente feliz com o homem que ama, evidenciada num momento de meditação sobre o que tem sido a sua vida com D. Manuel (pensando em D. Manuel, exclama: “Oh! Que não o saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que vivo… este medo, estes contínuos terrores que ainda não me deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a minha!”). Há, assim, o desejo, de alguma forma oculto, de que D. João não volte. Este desejo assume paralelismo com o pedido de libertação de uma relação, também expresso na canção: “Vai e não voltes mais / Não, não, voltes mais”.

Henrique (Suficiente)

Os versos “Ain't nobody hurt you like I hurt you / But ain't nobody love you like I do” (“Ninguém nunca te magoou como eu te magoei / Mas ninguém te amou como eu”), da canção “Happier”, de Ed Sheeran, artista britânico muito famoso pela qualidade das suas composições, podem-se relacionar com o romeiro ou D. João de Portugal, uma personagem da peça Frei Luís de Sousa. Embora ele não tenha magoado propositadamente Madalena (pois, na altura, não havia maneira de comunicar a sua sobrevivência à família que vivia em Portugal), Madalena sentia-se, por vezes, culpada pelas suas atitudes depois do desaparecimento de D. João. Este, parecendo sentir mágoa, decidiu reaparecer nas vidas destas pessoas, provavelmente pelo amor que sentia por Madalena, no entanto não se apercebeu das consequências que essa decisão poderia causar.
“Promise that I will not take it personal, baby / If you're moving on with someone new” (“Prometo que não vou levar para o lado pessoal, querida / Se você está seguindo em frente com alguém novo”). Ao dizer “Que lho leve Deus em conta e lhes perdoe como eu perdoei já” (ato 3, cena 2), o romeiro mostra-se recetivo ao facto de Madalena superar o seu desaparecimento e começar uma vida nova, e, embora esteja triste, prefere alimentar a felicidade da sua ex-mulher: “Cause baby you look happier, you do” (“porque tu pareces mais feliz, querida, pareces mesmo”).
Mesmo perdoando o “pecado” de Madalena, o romeiro não consegue evitar a tragédia final. No século XVI, o que Madalena fez é considerado pecado e muito mal visto pela sociedade; por isso, logo a seguir a se descobrir a verdadeira identidade do romeiro, Madalena decidiu separar-se de Manuel de Sousa e ambos se dedicaram completamente a Deus. No entanto, ao tomarem essa decisão, deixaram a sua filha Maria (que estava doente) desamparada, o que poderá ter contribuído para a sua morte.
Depois deste acontecimento, D. João sentiu-se culpado, tendo mais ou menos o mesmo sentimento que Madalena tinha no início da peça. No entanto, D. João fizera o que fez por amor, mas, mais importante, fizera-o para trazer a felicidade de volta àquela família. Apenas não sabia as consequências do seu ato e estas acabaram por acontecer da pior maneira. Tal como a música ilustra, o bem que se quer de uma pessoa está acima do amor que se tem por esta. Acho que João seguiu esta regra e tomou a decisão certa, só que teve azar nas suas ações.

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