Saturday, August 31, 2019

Aulas (3.º período, 3.ª parte: 145-161)


Aula 145-146 [= 1 do Desconfinamento; 20 da Quarentena] (19 [9.ª], 20 [5.ª], 21 [4.ª], 22/mai [9.ª]) Vai lendo «Poesia e poética de Alberto Caeiro». Em cada item, escolhe a alínea com a melhor opção. Não é preciso leres agora os textos de Caeiro citados.








Nos dois primeiros parágrafos (ll. 1-9), refere-se duas contradições do primeiro poema da série de «O Guardador de Rebanhos»:

a) entre o paradoxo como processo de representação e a inocência do autor; entre o que se afirma no título e o que se nega quase a seguir.

b) entre um pensamento poético complexo e a inocência de Caeiro; entre os procedimentos poéticos e a natureza.

c) entre Caeiro e o guardador de rebanhos; entre o contacto íntimo com a natureza e a poesia.

d) entre o título e a afirmação no primeiro verso; entre elaboração do discurso e a alegada ingenuidade do eu poético.



Na l. 3, o primeiro «que» é

a) pronome relativo.

b) conjunção completiva.

c) conjunção comparativa.

d) conjunção causal.



No terceiro parágrafo (ll. 10-19), por um lado, menciona-se um processo (de negação do que se afirmara antes) já observado no poema I, mas mostra-se ainda que no poema IX

a) se estabelece uma teoria de raiz sensacionalista.

b) se marca a importância das sensações e, em particular, das visuais.

c) se considera a relação entre o poeta e o mundo como prioritária.

d) a alusão aos sentidos não é aleatória: Caeiro privilegia, antes de todos eles, a visão.



As palavras «sensacionista» (l. 13), «olhos» (l. 14), «ouvidos», «mãos», «pés», «nariz», «boca» (l. 15), «sentidos» (l. 15), «sentidos» (l. 17), «visão», «audição», «tato», «olfato» e «gosto» (l. 19) contribuem para a coesão

a) referencial.

b) lexical.

c) interfrásica.

d) temporoaspetual.



A oração introduzida por «que» em «Com esse misto de inocência e perversidade que é a essência mesma da sua forma de estar no mundo» (ll. 21-22) é subordinada

a) substantiva completiva.

b) adverbial causal.

c) adjetiva relativa restritiva.

d) adjetiva relativa explicativa.



No quarto parágrafo, nas ll. 23-25 são referidas duas aceções de «saber». Por esta ordem:

a) ‘sabor’ e ‘gosto’.

b) ‘gosto’ e ‘conhecimento’.

c) referencial e conotativo.

d) ‘saber’ e ‘sabor’.



A palavra «ambíguo» (l. 23) é usada com o sentido de

a) repetido.

b) polissémico.

c) expressivo.

d) inequívoco.



Segundo o parágrafo inicial da p. 90 (ll. 29-41), Caeiro

a) prefere a religião à metafísica.

b) teria uma religiosidade, por assim dizer, pagã, fundada nas sensações e na natureza.

c) prefere a metafísica à religião.

d) dá prioridade às sensações e à natureza, sem, porém, descartar a cultura e a religião convencional.



No contexto em que ocorrem, os termos «sensações» (l. 29) e «metafísica» (l. 30) mantêm entre si um relação de

a) equivalência.

b) inclusão.

c) oposição.

d) hierarquia.



A expressão «sob o signo de», usada na passagem «Caeiro procede a uma espécie de reconstituição da ideia de Deus, sob o signo da Natureza» (ll. 33-34), significa

a) dentro de.

b) com a influência de.

c) ao contrário de.

d) a partir de sinais de.



No parágrafo que abrange as ll. 42-48, a referência à repetição da conjunção copulativa ilustra como

a) o sujeito poético, sofregamente, se deixa conduzir pelos sentimentos.

b) os polissíndetos desmentem as características de Alberto Caeiro.

c) o estilo contradiz a alegada simplicidade de Alberto Caeiro.

d) a linguagem usada no poema imita a espontaneidade de Alberto Caeiro.



Com a utilização de «que» (l. 42), inicia-se uma oração

a) subordinada adjetiva relativa restritiva.

b) subordinante.

c) subordinada substantiva completiva.

d) subordinada adjetiva relativa explicativa.



Relativamente à reflexão desenvolvida no parágrafo anterior, o parágrafo iniciado por «Contudo» (l. 49) apresenta

a) uma consequência.

b) um facto semelhante.

c) uma ideia equivalente.

d) uma posição adversa.



Com o recurso ao conector «afinal» (l. 59), o enunciador insere um nexo

a) causal.

b) conclusivo.

c) final.

d) condicional.



No último período do penúltimo parágrafo, defende-se que

a) o verso livre faz que a poesia de Caeiro possa ser menos trabalhada.

b) a «prosa dos meus versos» traduz a informalidade da poesia de Caeiro.

c) a rima implica um cuidado rítmico que o verso não rimado dispensa.

d) o verso, mesmo sem rima, obriga já a bastante elaboração poética.



No último parágrafo (ll. 63-69),

a) reconhece-se o magistério de Caeiro relativamente aos outros heterónimos.

b) põe-se em causa a importância de Caeiro.

c) declara-se atenuada a posição crucial de Caeiro relativamente aos outros heterónimos.

d) considera-se estar patente, na poesia de Caeiro, uma conceção contrastante com a do restante Pessoa.



Regressamos à tabela (que roubei a um manual da Leya) com sínteses de cada capítulo de O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Completa:

XIV
Reis recebe uma carta de Marcenda a assegurar que nunca mais se voltarão a ver, a pedir-lhe para nunca mais lhe escrever e a informá-lo de que irá a Fátima.
Restabelece-se, entretanto, a relação de Reis com Lídia, mas o médico vai a (t.) ________, com o intuito de ver Marcenda. No entanto, não consegue encontrá-la.
XV
Ricardo Reis fica a saber que o colega que está a substituir vai retomar o seu lugar e isso leva-o a começar a pensar em regressar ao Brasil.
Fernando Pessoa visita novamente Ricardo Reis e os dois falam sobre o facto de Reis continuar a ser vigiado por Victor, sobre as relações amorosas de ambos e sobre o destino e a ordem.
XVI
Ricardo Reis escreve um poema dedicado a (u.) __________.
Lídia comunica-lhe que está grávida e que não tenciona (v.) _________.
Fernando Pessoa faz nova visita a Ricardo Reis e os dois falam sobre a perspetiva do regime em relação a diferentes personalidades e sobre o seu obscurantismo. Durante a conversa, Ricardo Reis confessa-lhe que vai ser pai e que ainda não decidiu se vai ou não perfilhar a criança.
XVII
Ricardo Reis vai visitar Fernando Pessoa ao Cemitério dos Prazeres e dialogam sobre o golpe militar ocorrido em Espanha.



Usando um PDF de O Ano da Morte de Ricardo Reis procurei todas as menções de «Álvaro de Campos» e «Alberto Caeiro». Cheguei a estes passos — até esperava que houvesse mais —, que lhes apresento sem nenhuma ordem em especial:

1.         «Não penso em casar com a Lídia, e ainda não sei se virei a perfilhar a criança, Meu querido Reis, se me permite uma opinião, isso é uma safadice, Será, o Álvaro de Campos também pedia emprestado e não pagava, O Álvaro de Campos era, rigorosamente, e para não sair da palavra, um safado, Você nunca se entendeu muito bem com ele, Também nunca me entendi muito bem consigo»;

2.        «Ricardo Reis tirou a carteira do bolso interior do casaco, extraiu dela um papel dobrado, fez menção de o entregar a Fernando Pessoa, mas este recusou com um gesto, disse, Já não sei ler, leia você, e Ricardo Reis leu, Fernando Pessoa faleceu Stop Parto para Glasgow Stop Álvaro de Campos, quando recebi este telegrama decidi regressar, senti que era uma espécie de dever, É muito interessante o tom da comunicação, é o Álvaro de Campos por uma pena, mesmo em tão poucas palavras nota-se uma espécie de satisfação maligna, quase diria um sorriso, no fundo da sua pessoa o Álvaro é assim»;

3.        «Acho-a muito bonita, e ficou a olhar para ela por um segundo só, não aguentou mais do que um segundo; virou costas, há momentos em que seria bem melhor morrer, Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel, também tu Álvaro de Campos, todos nós. A porta fechou-se devagar, houve uma pausa, e só depois se ouviram os passos de Lídia afastando-se»;

4.        «O barco onde não vamos é que seria o barco da nossa viagem, Ah, todo o cais, uma saudade de pedra, e agora que já cedemos à fraqueza sentimental de citar, dividido por dois, um verso do Álvaro de Campos que há-de ser tão célebre quanto merece, console-se nos braços da sua Lídia, se ainda dura esse amor, olhe que eu nem isso tive, Boa noite, Fernando, Boa noite, Ricardo, vem aí o carnaval, divirta-se»;

5.        «Ricardo Reis está sozinho na sua casa, se para almoçar e jantar, vê da janela o rio e os longes do Montijo, o pedregulho do Adamastor, os velhos pontões, as palmeiras, desce uma vez por outra ao jardim, lê duas páginas de um livro, deita-se cedo, pensa em Fernando Pessoa que já morreu, também em Alberto Caeiro, desaparecido na flor da idade e de quem tanto haveria ainda a esperar, em Álvaro de Campos que foi para Glasgow, pelo menos dizia-o no telegrama, e provavelmente por lá se deixará ficar, a construir barcos, até ao fim da vida ou à reforma, senta-se uma vez por outra num cinema, a ver O Pão Nosso de Cada Dia, de King Vidor, ou Os Trinta e Nove Degraus, com Robert Donat e Madeleine Carrol, e não resistiu a ir ao S. Luís ver Audioscópicos, cinema em relevo, trouxe para casa, como recordação, os óculos de celulóide que têm de ser usados, verde de um lado,encarnado do outro, estes óculos são um instrumento poético, para ver certas coisas não bastam os olhos naturais»;

6.        «É fácil concluir que sim, você sabe o que são as educações e as famílias, Uma criada não tem complicações, Às vezes, Diz você muito bem, basta lembrar-nos do que dizia o Álvaro de Campos, que muitas vezes foi cómico às criadas de hotel, Não é nesse sentido, Então, qual, Uma criada de hotel também é uma mulher»;

7.        «Não diz mais este jornal, outro diz doutra maneira o mesmo, Fernando Pessoa, o poeta extraordinário da Mensagem, poema de exaltação nacionalista, dos mais belos que se têm escrito, foi ontem a enterrar, surpreendeu-o a morte num leito cristão do Hospital de S. Luís, no sábado à noite, na poesia não era só ele, Fernando Pessoa, ele era também Álvaro de Campos, e Alberto Caeiro, e Ricardo Reis, pronto, já cá faltava o erro»;

8.        «Para dar só um exemplo, aí temos o Alberto Caeiro, coitado, que, tendo morrido em mil novecentos e quinze, não leu o Nome de Guerra, Deus saberá a falta que lhe fez, e a Fernando Pessoa, e a Ricardo Reis, que também já não será deste mundo quando o Almada Negreiros publicar a sua história».

Comenta um/dois destes trechos, enquadrando-o(s) na obra e discorrendo acerca dos efeitos conseguidos em termos narrativos ou estilísticos.

Responde nas linhas da outra folha e usa caneta. Assinala o(s) excerto(s) de que te vais ocupar. (Evita trapalhices de ortografia ou de sintaxe, revendo bem, sem medo de riscar e reescrever.) Este texto será para os confinados me enviarem (por mail: luisprista@netcabo.pt). O tempo dado aos colegas em aula foi de cerca de 20 minutos.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



Completa depois de vermos o passo de O último a sair.





Vamos contrastar o cap. XVI de O Ano da Morte de Ricardo Reis e o filme Locke. O capítulo do livro de José Saramago é importante porque nele se fica a saber que Lídia está grávida. Será talvez uma oportunidade para depois, quando puderes, reveres as relações de Reis com as duas personagens femininas, Lídia e Marcenda, para o que podes usar a coluna ‘Representações do amor’ da tabela que, no manual, sintetiza o enredo (pp. 246-248).










Aula 147 [21 da Quarentena] (21/mai [3,ª, 4.ª, 5.ª, 9.ª]) Começo por corrigir um lapso (só no turno 2 do 12.º 9.ª, porque depois, graças a F., ainda pude advertir essa gralha de uma das tabelas). Como é óbvio, o cap. XVI de O Ano da Morte de Ricardo Reis decorre em junho de 1936 (em finais de 35 chega Reis, pouco depois de morrer Pessoa; a partir do cap. IV, entramos em 1936, que é, muito maioritariamente, o ano da morte de Ricardo Reis).

Estive a corrigir nos últimos dias o trabalho de criação de versos ao estilo dos vários Pessoas. Problema primeiro: noção de verso (houve quem fizesse estrofes, ou parágrafos, ou títulos, ou simples expressões nominais). Problema segundo: alguns não conhecem bem o estilo de cada heterónimo.

No caso de Campos estava indicado «futurista-sensacionista», ou seja, o das odes vertiginosas (por exemplo: «Ode Marítima», «Ode Triunfal» , «Saudação a Walt Whitman», facílimas de imitar, «pastichar»). Uns imitaram aqui o Campos do tédio e nostalgia, mas mesmo esse, o de «Aniversário»  ou de «Tabacaria», é menos bem comportado do que se depreende de alguns versos vossos. E, claro, falar de futuro não chega para se ser futurista-sensacionista (e, já agora, como sempre lembro, não é «*sensacionalista»).

No caso de Caeiro, esqueceram a simplicidade da sua sintaxe (feita de muito verbo «ser», léxico mais que acessível, frases só justapostas), sofisticando demasiado os seus versos.

Poucos captaram o estilo messiânico, profético, sebastianista de Mensagem (que tem o seu lado de épico mas não o embevecimento pelos heróis portugueses à Lusíadas).

Ricardo Reis surgiu por vezes demasiado desejoso, feliz ou alegre, quando a reserva, a moderação, o controlo emocional, são características da sua escolha estoica e epicurista.

No caso do ortónimo refugiaram-se na menção da saudade, da nostalgia da infância, só que esquecendo que se trata de uma saudade do que logo se diz não ter acontecido ou, pelo menos, do que não poderia ter sido captado, já que só agora se pensa e, quando se podia sentir, não se pensava. Mas para o ortónimo havia mais saídas (sonho versus realidade; a fragmentação do eu; a constante busca do autorretrato psíquico; o fingimento artístico).

Agradeço à colega de cujos versos  me sirvo a seguir (haveria outros bons exemplos possíveis):

Alberto Caeiro – Olho a tarte e gosto dela mas não me ponho a pensar se ela sente.

Álvaro de Campos – Eia! Eia tarte de maçã, és o passado a cumprir a promessa de Lloyd no presente!

Ricardo Reis – Toma! Que saboreies a tarte, seguindo depois o teu destino.

Fernando Pessoa ortónimo – Oh! És o sabor, nesta grande dor, da minha feliz infância!

Fernando Pessoa de Mensagem – Valeu a pena? A tarte vale a pena se a alma de Darren não é pequena!

[Inês S., 12.º 3.ª]

Copio a seguir um texto que é do nosso manual, que dá também boa ideia das diferentes perspetivas de cada Pessoa:

Diálogo argumentativo, a que refere a p. 91 do Plural 12

Na Casa da Poesia estão sentados cinco homens. Têm sensivelmente a mesma idade, vinte e poucos anos, e apesar das diferenças que, claramente, os distinguem — não apenas físicas, é claro, mas também de porte, de estilo, de maneira de estar — parece uni-los uma invisível cumplicidade, ou um conhecimento anterior ao tempo, talvez.
ÁLVARO DE CAMPOS Uma mesa cheia de copos, uma garrafa e um jarro de água. O que é que esta realidade vos diz?
ALBERTO CAEIRO Que sobre esta mesa está um jarro de água, uma garrafa de vinho e dez copos. A realidade existe e eu vejo-a, nada mais me diz e eu nada mais preciso de saber.
RICARDO REIS Diz-nos que enchamos os copos e brindemos a esta hora tranquila e irrepetível.
PESSOA ORTÓNIMO Brindemos! E ao pegar no meu copo para fazer o brinde, pensarei na casa antiga, sonhando-me na sala em dias de visitas dos tios e dos primos, a mesa cheia de copos para os brindes ou só para matar a sede.
BERNARDO SOARES Eu olho os copos, mas aquilo que mais vejo é a fábrica de vidro, cheia de operários tristes a transpirar de calor, cansados da sua realidade, que começa a viver e a crescer na minha imaginação.

ÁLVARO DE CAMPOS Compreendo. Nesta realidade de copos em cima da mesa, está a memória de outros copos e de outras mesas, porventura mais felizes e festivas. Está também a imaginação de copos distantes, alguns à espera no futuro, quem sabe. Mas brindemos e saboreemos este vinho do norte que há de transportar-nos para bem longe daqui. Brindemos e sonhemos!

ALBERTO CAEIRO Não! Brindemos à realidade, porque só a realidade é verdadeira, tudo o mais não existe. Se eu vejo estes objetos sobre a mesa, é a sua visão que me desperta: uns copos tingidos de vermelho do vinho, a água transpa­rente no jarro atravessado pela luz, um cheiro um pouco ácido a desprender-se da garrafa que está perto do meu nariz. E esta a realidade presente, concreta, sem mistério, verdadeira. Para que hei de pensar no passado, que já não existe, ou no futuro, que não posso ver? Pensar é estar doente dos olhos. Se eu olhar a luz desta garrafa a pensar em instantes passados ou a sonhar com um futuro imprevisível, por isso inútil, não vejo a maravilhosa luz que agora encanta os meus olhos, nem saboreio a frescura da água ou o perfume do vinho que neste instante partilhamos com alegria. Para quê pensar, se temos sentidos?

Pensar é não compreender.

ÁLVARO DE CAMPOS Ora, brindemos, pois claro! Por mim, podemos brindar e voltar a brindar e também eu vejo a mesma realidade e estou com ela. Vamos lá pegar neste copo, o vinho é para saborear intensamente e ele há de levar-me para bem longe daqui. O passado? Talvez, Fernando, também me lembro da casa antiga e da mesa cheia de copos e tenho saudades, oh! Se tenho saudades! Do passado e do futuro, tenho saudades do futuro: onde estarei amanhã? Onde poderia estar, se aqui não estivesse? Tenha paciência, Mestre, mas o que seria a vida sem o sonho? A realidade desta mesa é igual à das outras mesas à volta, nesta rua, igual a todas as ruas que daqui avistamos. Eu quero sentir a realidade, mas também quero sonhar. Sonhar! E, tenho de o dizer, Mestre: a minh'alma está com o que vejo menos.

BERNARDO SOARES Estou consigo, amigo Campos, o sonho é mais real do que a realidade e eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. A realidade nada me interessa, porque ela é monótona e pobre. A vida interior, Ah! A vida interior não tem limites e eu sonho-me tudo aquilo que o meu desejo me sugerir. É falsa a vida, assim? E conhecem alguma verdade mais verda­deira do que o sonho? Sonhar abre todas as possibilidades de vida. Tenho um mundo de amigos dentro de mim, com vidas próprias, reais, definidas e imperfeitas. O que me dizem estes copos? Já disse: fazem-me imaginar as fábricas vidreiras.

FERNANDO PESSOA Tem sorte, Bernardo Soares, viver a sonhar e dizê-lo com essa resignação e até satisfação é invejável. Mas eu, onde vivo eu? Na realidade ou no sonho? A realidade existe, estou dentro dela e eu queria senti-la, como o Mestre Caeiro. Não procuro fugir para o passado, nem para o sonho e, no entanto, estou sempre lá, o pensamento não para, arrasta-me, faz-me sonhar com aquilo que está para além da estreita realidade. Contemplo o que não vejo eis a minha verdade. Sempre entre a realidade e o sonho. Digo-o sem alegria, mas não poderia viver de outra maneira.

RICARDO REIS Não nos cansemos, meus amigos. Vivamos a realidade. Bebamos ao momento que passa. Sonhar? Não me interessam os sonhos, porque nos obrigam a ir para o futuro e no fim do futuro está o quê? A morte! Ah! Pois é... Vá, o prazer está aqui, ao alcance das nossas mãos e das nossas bocas. Brindemos à realidade desta tarde de Primavera. Carpe Diem! Fernando, Colhe o dia, porque és ele!



Agora a aula de hoje propriamente dita. Ainda antes do capítulo que estudámos esta semana na primeira aula desconfinada (tudo isto é tão ridículo, não é?), Ricardo Reis foi a Fátima, na esperança de encontrar Marcenda. O capítulo, o XIV, é um pretexto para Saramago (aqui podemos dizer mesmo Saramago e não apenas narrador) se deter no fenómeno ‘Fátima’.

Copio a seguir as páginas relativas à viagem de Reis. Relê-as. Depois veremos outras perspetivas acerca de Fátima: a de um Guia de Portugal, de 1927; a do próprio Fernando Pessoa, que, talvez em 1935, escreveu uma linhas em prosa sobre Fátima; a de um sketch que já vimos.

Comecemos por O Ano da Morte de Ricardo Reis, cap. XIV. Marquei a amarelo os passos em que o narrador faz referência a um rapazinho que teria descido na estação de Mato de Miranda (precisamente a que servia Azinhaga, a aldeia de José Saramago; e o miúdo de uns doze, treze anos, era, é claro, o próprio autor que estudava então em Lisboa e regressava à aldeia periodicamente). Nada disto é explicitado com nomes mas percebe-se. Os dados da vida real corroboram-no: Saramago nasceu em finais de 1922, em 36 seria um adolescente de treze anos). É um efeito interessante este, porque não se trata em rigor de um texto memorialístico; o autor faz que a criança que foi seja observada por uma personagem de ficção (há certos realizadores que gostam de surgir nos seus filmes a desempenharem pequenos papéis, quase incógnitos — é quase isso que acontece aqui).

A azul assinalei um sonho (que inclui Marcenda) e, mais perto do fim do capítulo, outros dois trechos. Queria que comentasses estes passos (porei a pergunta mais à frente).

Com lilás ficam os passos que descrevem o que dirás mais à frente.

A verde, um passo que me parece interessante por associar Reis a um tema efetivamente de Reis.

A cinzento, uma parte em torno de publicidade, através do lançamento de prospeto por avião ao fortificante Bovril. Este lançamento só se justificaria por estar muita gente em romagem (não seria decerto processo muito comum à época). O Bovril, pelos vistos, ainda existe.



No dia seguinte, tão cedo que achou prudente fazer-se acordar pelo despertador, Ricardo Reis partiu para Fátima. O comboio saía do Rossio às cinco horas e cinquenta e cinco minutos, e meia hora antes de a composição entrar na linha já o cais estava apinhado de gente, pessoas de todas as idades carregando cestos, sacos, mantas, garrafões, e falavam alto, chamavam uns pelos outros. Ricardo Reis acautelara-se com bilhete de primeira classe, lugar marcado, revisor cumprimentando de boné na mão, bagagem pouca, uma simples maleta, descrera do aviso de Lídia, Aquilo por lá tem de se dormir ao relento, em chegando logo veria, decerto será possível encontrar cómodos para viajantes e peregrinos, se forem estes de qualidade. Sentado à janela, no assento confortável, Ricardo Reis olha a paisagem, o grande Tejo, as lezírias ainda alagadas aqui e além, gado bravo pastando, sobre a toalha brilhante do rio as fragatas de água-acima, em dezasseis anos de ausência esquecera-se de que era assim, e agora as novas imagens colavam-se, coincidentes, às imagens que a memória ia ressuscitando, como se ainda ontem tivesse passado aqui. Nas estações e apeadeiros entra mais gente, este comboio é trama, lugares na terceira classe não deve haver nem um desde o Rossio, ficam os passageiros nas coxias atravancadas, provavelmen­te a invasão da segunda classe também já começou, em pouco co­meçarão a romper por aí, não serve de nada protestar, quem quer sossego e roda livre vai de automóvel. Depois de Santarém, na longa subida que leva a Vale de Figueira, o comboio resfolga, lança jorros rápidos de vapor, arqueja, é muita a carga, e vai tão devagar que daria tempo para sair dele, apanhar umas flores nesses valados e em três passadas tornar a subir ao estribo. Ricardo Reis sabe que dos passageiros que vão neste compartimento só dois não descerão em Fátima. Os romeiros falam de promessas, disputam sobre quem leva primazia no número de peregrinações, há quem declare, talvez falando verdade, que nos últimos cinco anos não falhou uma, há quem sobreponha, acaso mentindo, que com esta são oito, por enquanto ninguém se gabou de conhecer a irmã Lúcia, a Ricardo Reis lembram estes diálogos as conversas de sala de espera, as tenebrosas confidências sobre as bocas do corpo, onde todo o bem se experimenta e todo o mal acontece. Na estação de Mato de Miranda, apesar de aqui ninguém ter entrado, houve demora, o respirar da máquina ouvia-se longe, lá na curva, sobre os olivais pairava uma grande paz. Ricardo Reis baixou a vidraça, olhou para fora. Uma mulher idosa, descalça, vestida de escuro, abraçava um rapazinho magro, de uns treze anos, dizia, Meu rico filho, estavam os dois à espera de que o comboio recomeçasse a andar para poderem atravessar a linha, estes não iam a Fátima, a velha viera esperar o neto que vive em Lisboa, ter-lhe chamado filho foi apenas sinal de amor, que, dizem os entendidos em afetos, não há nenhum acima deste. Ouviu-se a corneta do chefe da estação, a locomotiva apitou, fez pf, pf, pf, espaçadamente, aos poucos e poucos acelerou, agora o ca­minho é a direito, parece que vamos de comboio rápido. Picou-se o apetite com o ar da manhã, abrem-se os primeiros farnéis, mes­mo vindo ainda tão longe a hora de almoçar. Ricardo Reis está de olhos fechados, dormita ao embalo da carruagem, como num berço, sonha intensamente, mas quando acorda não consegue recordar-se do que sonhou, lembra-se de que não teve oportunidade de avisar Fernando Pessoa de que viria a Fátima, que irá ele pensar se aparece lá em casa e não me encontra, cuidará que voltei para o Brasil, sem uma palavra de despedida, a última. Depois constrói na imaginação uma cena, um lance de que Marcenda é principal figura, vê-a ajoelhada, de mãos postas, os dedos da mão direita entre­laçados nos da esquerda, assim a sustentando no ar, erguendo o morto peso do braço, passou a imagem da Virgem Nossa Senhora e não se deu o milagre, nem admira, mulher de pouca fé, então Ricardo Reis aproxima-se, Marcenda levantara-se, resignada, é então que ele lhe toca no seio com os dedos médio e indicador, juntos, do lado do coração, não foi preciso mais, Milagre, milagre, gritam os peregrinos, esquecidos dos seus próprios males, basta-lhes o mila­gre alheio, agora afluem, trazidos de roldão ou vindos por seu difí­cil pé, os aleijados, os paralíticos, os tísicos, os chagados, os frenéti­cos, os cegos, é toda a multidão que rodeia Ricardo Reis, a implorar uma nova misericórdia, e Marcenda, por trás da floresta de cabeças uivantes, acena com os dois braços levantados e desaparece, criatu­ra ingrata, achou-se servida e foi-se embora. Ricardo Reis abriu os olhos, desconfiado de que adormecera, perguntou ao passageiro do lado, Quanto tempo ainda falta, Estamos quase a chegar, afinal dormira, e muito.
Na estação de Fátima o comboio despejou-se. Houve em­purrões de peregrinos a quem já dera no rosto o perfume do sagra­do, clamores de famílias subitamente divididas, o largo fronteiro parecia um arraial militar em preparativos de combate. A maior parte destas pessoas farão a pé a caminhada de vinte quilómetros até à Cova da Iria, outras correm para as bichas das camionetas da carreira, são as de perna trôpega e fôlego curto, que neste esforço acabam de estafar-se. O céu está limpo, o sol forte e quente. Ricardo Reis foi à procura de um lugar onde pudesse almoçar. Não faltavam ambulantes a vender regueifas, queijadas, cavacas das Caldas, figos secos, bilhas de água, frutas da época, e colares de pinhões, e amendoins e pevides, e tremoços, mas de restaurantes nem um que merecesse tal nome, casas de pasto poucas e a deitar por fora, taber­nas onde nem entrar se pode, precisará de muita paciência antes que alcance garfo, faca e prato cheio. Porém, veio a tirar benefício do fortíssimo influxo espiritual que distingue estas paragens, foi caso que, por o verem assim bem-posto, vestido à cidade, houve fregueses que lhe deram, rusticamente, a vez, e por esta urbanidade pôde Ricardo Reis comer, mais depressa do que esperava, uns carapaus fritos com batatas cozidas, de azeite e vinagre, depois uns ovos mexidos por amor de Deus, que para o comum não havia tempo nem paciência para tais requintes. Bebeu vinho que podia ser de missa, comeu o bom pão do campo, húmido e pesado, e, tendo agradecido aos compadres, saiu a procurar transporte. O terreiro mostrava-se um pouco mais desafogado, à espera doutro comboio, do sul ou do norte, mas, vindos de além, a pé, não paravam de pas­sar peregrinos. Uma camioneta da carreira buzinava roucamente a chamar para os últimos lugares, Ricardo Reis deu uma corrida, conseguiu atingir o assento, alçando a perna por cima dos cestos e dos atados de esteiras e mantas, excessivo esforço para quem está em processo de digestão e afracado do calor. Sacolejando muito, a camioneta arrancou, levantando nuvens de poeira da castigada estrada de macadame. Os vidros, sujos, mal deixavam ver a paisagem ondulosa, árida, em alguns lugares bravia, como de mato virgem. O motorista buzinava sem descanso para afastar os grupos de peregrinos para as bermas, fazia molinetes com o volante para evitar as covas da estrada, e de três em três minutos cuspia fragorosamente pela janela aberta. O caminho era um formigueiro de gente, uma longa coluna de pedestres, mas também carroças e carros de bois, cada um com seu andamento, algumas vezes passava roncando um automóvel de luxo com chauffeur fardado, senhoras de idade vestidas de preto, ou cinzento-pardo, ou azul-noturno, e cavalheiros corpulentos, de fato escuro, o ar circunspecto de quem acabou de contar o dinheiro e o achou acrescido.
Estes interiores podiam ser vistos quando o veloz veículo tinha de deter a marcha por estar atravancada a estrada de um numeroso grupo de romeiros levando à frente, como guia espiritual e material, o seu pároco, a quem se deve louvar por partilhar de modo equitativo os sacrifícios das suas ovelhas, a pé como elas, com os cascos na poeira e na brita solta. A maior parte desta gente vai descalça, alguns levam guarda-chuvas abertos para se defenderem do sol, são pessoas delicadas da cabeça, que também as há no povo, sujeitas a esvaimentos e delíquios. Ouvem-se cânticos desalmados, as vozes agudas das mulheres soam como uma infinita lamúria, um choro ainda sem lágrimas, e os homens, que quase nunca sabem as palavras, acentuam as sílabas toantes só a acompanhar, espécie de baixo-contínuo, a eles não se lhes pede mais, apenas que finjam. De vez em quando aparece gente sentada por esses valados baixos, à sombra das árvores, estão a repousar um migalho, a ganhar forças para o último troço da jornada, aproveitam para petiscar um naco de pão com chouriço, um bolo de bacalhau, uma sardinha frita há três dias lá na aldeia distante. Depois tornam à estrada, retemperados, as mulheres transportam à cabeça os cestos da comida, uma que outra dá de mamar ao filho enquanto vai ca­minhando, e sobre toda esta gente a poeira cai em nuvens à passa­gem da camioneta, mas ninguém sente, ninguém liga importância, é o que faz o hábito, ao monge e ao peregrino, o suor desce pela testa, abre sulcos no pó, levam-se as costas da mão à cara para limpar, pior ainda, isto já não é sujo, é encardido. Com o calor, os rostos ficam negros, mas as mulheres não tiram os lenços da cabeça, nem os homens despem as jaquetas, os casacões de pano grosso, não se desafogam as blusas, não se desapertam os colarinhos, este povo ainda tem na memória inconsciente os costumes do deserto, continua a acreditar que o que defende do frio defende do calor, por isso se cobre todo, como se se escondesse. Numa volta da estrada está um ajuntamento debaixo duma árvore, ouvem-se gritos, mulheres que se arrepelam, vê-se um homem deitado no chão. A camioneta abranda para que os passageiros possam apreciar o espetáculo, mas Ricardo Reis diz, grita para o motorista, Pare aí, deixe ver o que é aquilo, eu sou médico. Ouvem-se al­guns murmúrios de protesto, estes passageiros vão com pressa de chegar às terras do milagre, mas por vergonha de se mostrarem desumanos logo se calam. Ricardo Reis desceu, abriu caminho, ajoelhou-se no pó, ao lado do homem, procurou-lhe a artéria, estava morto, Está morto, disse, só para dizer isto não valia a pena ter-se interrompido a viagem. Serviu para redobrarem os choros, que a família era numerosa, só a viúva, uma velha ainda mais velha que o morto, agora sem idade, olhava com os olhos secos, apenas lhe tremiam os beiços, as mãos retorciam os cadilhos do xale. Dois dos homens foram na camioneta para irem participar à autorida­de, em Fátima, ela providenciará para que o morto seja retirado dali e enterrado no cemitério mais perto.
Ricardo Reis vai sentado no seu lugar, agora alvo de olhares e atenções, um senhor doutor nesta camioneta, é grande conforto uma companhia assim, mesmo não tendo, desta vez, servido de muito, só para verificar o óbito. Os homens informavam em re­dor, Ele já vinha muito doente, devia era ter ficado em casa, mas ateimou, disse que se enforcava na trave da cozinha se o deixássemos, assim veio a morrer longe, ninguém foge ao seu destino. Ricardo Reis assentiu com a cabeça, nem deu pelo movimento, sim senhor o destino, confiemos que debaixo daquela árvore alguém espete uma cruz para edificação de futuros viajantes, um padre-nosso por alma de quem morreu sem confissão nem santos óleos, mas já a caminho do céu desde que saiu de casa, E se este velho se chamasse Lázaro, e se aparecesse Jesus Cristo na curva da estrada, ia de passagem para a Cova da Iria a ver os milagres, e percebeu logo tudo, é o que faz a muita experiência, abriu caminho pelo meio dos basbaques, a um que resistiu perguntou, Você sabe com quem está a falar, e aproximando-se da velha que não é capaz de chorar disse-lhe, Deixa que eu trato disto, dá dois passos em frente, faz o sinal da cruz, singular premonição a sua, sabendo nós, uma vez que está aqui, que ainda não foi crucificado, e clama, Lázaro, levanta-te e caminha, e Lázaro levantou-se do chão, foi mais um, dá um abraço à mulher, que enfim já pode chorar, e tudo volta ao que foi antes, quando daqui a pouco chegar a carroça com os maqueiros e a autoridade para levantarem o corpo não faltará quem lhes pergunte, Por que buscais o vivente entre os mortos, e dirão mais, Não está aqui, mas ressuscitou. Na Cova da Iria, ape­sar de muito se esmerarem, nunca fizeram nada que se parecesse.
Este é o lugar. A camioneta para, o escape dá os últimos estoiros, ferve o radiador como um caldeirão no inferno, enquanto os passageiros descem vai o motorista desatarraxar a tampa, prote­gendo as mãos com desperdícios, sobem ao céu nuvens de vapor, incenso de mecânica, defumadouro, com este sol violento não é para admirar que a cabeça nos tresvarie um pouco. Ricardo Reis junta-se ao fluxo dos peregrinos, põe-se a imaginar como será um tal espetáculo visto do céu, os formigueiros de gente avançando de todos os pontos cardeais e colaterais, como uma enorme estrela, este pensamento fê-lo levantar os olhos, ou fora o barulho de um motor que o levara a pensar em alturas e visões superiores. Lá em cima, traçando um vasto círculo, um avião lançava prospetos, seriam orações para entoar em coro, seriam recados de Deus Nosso Senhor, talvez desculpando-se por não poder vir hoje, mandara o seu Divino Filho a fazer as vezes, que até já cometera um milagre na curva da estrada, e dos bons, os papéis descem devagar no ar parado, não corre uma brisa, e os peregrinos estão de nariz no ar, lançam mãos ansiosas aos prospetos brancos, amarelos, verdes, azuis, talvez ali se indique o itinerário para as portas do paraíso, muitos destes homens e mulheres ficam com os prospetos na mão e não sabem o que fazer deles, são os analfabetos, em grande maio­ria neste místico ajuntamento, um homem vestido de surrobeco pergunta a Ricardo Reis, achou-lhe ar de quem sabe ler, Que é que diz aqui, ó senhor, e Ricardo Reis responde, É um anúncio do Bovril, o perguntador olhou desconfiado, hesitou se devia per­guntar que bovil era esse, depois dobrou o papel em quatro, me­teu-o na algibeira da jaqueta, guarda o que não presta e encontra­rás o que é preciso, sempre se encontrará utilidade para uma folhinha de papel de seda.
É um mar de gente. Ao redor da grande esplanada côncava vêem-se centenas de toldos de lona, debaixo deles acampam mi­lhares de pessoas, há panelas ao lume, cães a guardar os haveres, crianças que choram, moscas que de tudo aproveitam. Ricardo Reis circula por entre os toldos, fascinado por este pátio dos milagres que no tamanho parece uma cidade, isto é um acampamento de ciganos, nem faltam as carroças e as mulas, e os burros cobertos de mataduras para consolo dos moscardos. Leva na mão a maleta, não sabe aonde dirigir-se, não tem um teto à sua espera, sequer um destes, precário, já percebeu que não há pensões nas redonde­zas, hotéis muito menos, e se, não visível daqui, houver alguma hospedaria de peregrinos, a esta hora não terá um catre disponível, reservados sabe Deus com que antecedência. Seja o que o mesmo Deus quiser. O sol está abrasador, a noite vem longe e não se prevê que refresque excessivamente, se Ricardo Reis se transportou a Fátima não foi para se preocupar com comodidades, mas para fa­zer-se encontrado com Marcenda. A maleta é leve, contém apenas alguns objetos de toilette, a navalha de barba, o pó de sabão, o pincel, uma muda de roupa interior, umas peúgas, uns sapatos grossos, reforçados na sola, que é agora altura de calçar para evitar danos irreparáveis nestes de polimento. Se veio Marcenda, não estará debaixo destes toldos, à filha de um notário de Coimbra hão de esperá-la outros abrigos, porém, quais, onde. Ricardo Reis foi à procura do hospital, era um princípio, abonando-se na sua qualidade de médico pôde entrar, abrir caminho por entre a con­fusão, em toda a parte se viam doentes estendidos no soalho, em enxergas, em macas, a esmo por salas e corredores, ainda assim eram eles os mais calados, os parentes que os acompanhavam é que produziam um contínuo zumbido de orações, cortado de vez em quando por profundos ais, gemidos desgarradores, implorações à Virgem, num minuto alargava-se o coro, subia, alto, en­surdecedor, para voltar ao murmúrio que não duraria muito. Na enfermaria havia pouco mais de trinta camas, e os doentes podiam ser bem uns trezentos, por cada um acomodado segundo a sua condição, dez eram largados onde calhava, para passarem tinham as pessoas de alçar a perna, o que vale é que ninguém está hoje a pensar em enguiços, Enguiçou-me, agora desenguice-me, e então usa-se repetir o movimento ao contrário, assim ficou apagado o mal feito, prouvera que todos os males pudessem apagar-se de tão simples maneira. Marcenda não está aqui, nem seria de contar que estivesse, não é doente acamada, anda por seu pé, o seu mal é no braço, se não tirar a mão do bolso nem se nota. Cá fora o calor não é maior, e o sol, felizmente, não cheira mal.
A multidão cresceu, se é possível, parece reproduzir-se a si mes­ma, por cissiparidade. É um enxame negro gigantesco que veio ao divino mel, zumbe, murmura, crepita, move-se vagarosamente, entorpecido pela sua própria massa. É impossível encontrar alguém neste caldeirão, que não é do Pêro Botelho, mas queima, pensou Ricardo Reis, e sentiu que estava resignado, encontrar ou não encontrar Marcenda parecia-lhe agora de mínima importân­cia, estas coisas o melhor é entregá-las ao destino, queira ele que não encontremos e assim há de acontecer, ainda que andássemos a esconder-nos um do outro, e isto lhe pareceu estupidez tê-lo pensado por estas palavras, Marcenda, se veio, não sabe que eu aqui estou, portanto não se esconderá, logo, maiores são as proba­bilidades de a encontrar. O avião continua às voltas, os papéis coloridos descem pairando, agora já ninguém liga, exceto os que vêm chegando e veem aquela novidade, pena foi não terem posto no prospeto o desenho daquele anúncio do jornal, muito mais convincente, com o doutor de barbicha e a dama doentinha, em combinação, Se tivesse tomado Bovril não estava assim, ora aqui em Fátima não faltam pessoas em pioríssimo estado, a elas, sim, seria providência o frasco miraculoso. Ricardo Reis despiu o casaco, pôs-se em mangas de camisa, abana com o chapéu o rosto con­gestionado, de repente sentiu as pernas pesadas de fadiga, foi à procura duma sombra, aí se deixou ficar, alguns dos vizinhos dormiam a sesta, extenuados da jornada, de orações no caminho, a cobrar forças para a saída da imagem da Virgem, para a procissão das velas, para a longa vigília noturna, à luz das fogueiras e lam­parinas. Dormitou também um pouco, recostado no tronco da oliveira, a nuca apoiada no musgo macio. Abriu os olhos, viu o céu azul por entre as ramagens, e lembrou-se do rapazinho magro naquela estação, a quem a avó, devia ser avó, pela idade, dissera, Meu rico filho, que estará ele a fazer agora, com certeza descalçou os sapatos, é a primeira coisa que faz quando chega à aldeia, a se­gunda é descer ao rio, bem pode a avó dizer-lhe, Não vás ainda que está muito calor, mas ele não ouve nem ela espera ser ouvida, rapazes desta idade querem-se livres, fora das saias das mulheres, atiram pedras às rãs e não pensam no mal que fazem, um dia lhes virão os remorsos, tarde de mais, que para estes e outros animaizinhos não há ressurreições. Tudo parece absurdo a Ricardo Reis, este ter vindo de Lisboa a Fátima como quem veio atrás duma miragem sabendo de antemão que é miragem e nada mais, este estar sentado à sombra duma oliveira entre gente que não conhece e à espera de coisa nenhuma, este pensar num rapazinho visto de re­lance numa sossegada estação de caminho-de-ferro, este desejo sú­bito de ser como ele, de limpar o nariz ao braço direito, de cha­pinhar nas poças de água, de colher as flores e gostar delas e esquecê-las, de roubar a fruta dos pomares, de fugir a chorar e a gritar dos cães, de correr atrás das raparigas e levantar-lhes as saias, porque elas não gostam, ou gostam, mas fingem o contrário, e ele descobre que o faz por gosto seu inconfessado, Quando foi que vivi, murmura Ricardo Reis, e o peregrino do lado julgou que era uma oração nova, uma prece que ainda está à experiência.
O sol vai descendo, mas o calor não abranda. No terreiro imenso parece não caber um alfinete, e contudo, de toda a periferia, movem-se contínuas multidões, é um escoar ininterrupto, um de­saguar, lento à distância, mas deste lado há ainda quem procure al­cançar os melhores lugares, o mesmo estarão fazendo além. Ricar­do Reis levanta-se, vai dar uma volta pelas cercanias, e então, não pela primeira vez, mas agora mais cruamente, apercebe-se duma outra peregrinação, a do comércio e mendicância. Aí estão os po­bres de pedir e os pedinchões, distinção que não é meramente for­mal, que escrupulosamente devemos estabelecer, porque pobre de pedir é apenas um pobre que pede, ao passo que pedinchão é o que faz do pedir modo de vida, não sendo caso raro chegar a rico por esse caminho. Pela técnica não se distinguem, aprendem da comum ciência, e tanto lamuria um como suplica outro, de mão estendida, às vezes as duas, cúmulo teatral a que é muito difícil re­sistir, Uma esmolinha por alma de quem lá tem, Deus Nosso Se­nhor lhe dará o pago, Tenham dó do ceguinho, tenham dó do ceguinho, e outros mostram a perna ulcerada, o braço mirrado, mas não o que procuramos, de súbito não sabemos donde veio o hor­ror, esta cantilena gemebunda, romperam-se os portões do infer­no, que só do inferno podia ter saído um fenómeno assim, e ago­ra são os cauteleiros apregoando os números da sorte, com tanta algazarra que não nos admiremos que as rezas suspendam o voo a meio caminho do céu, há quem interrompa o padre-nosso para palpitar o três mil seiscentos e noventa e quatro, e segurando o terço na mão distraída apalpa a cautela como se lhe estivesse a cal­cular o peso e a promessa, desatou do lenço os escudos requeridos, e torna à oração no ponto em que a interrompera, o pão nosso de cada dia nos dai hoje, com mais esperança. Arremetem os vende­dores de mantas, de gravatas, de lenços, de cestos, e os desempre­gados, de braçadeira posta, que vendem postais-ilustrados, não se trata precisamente duma venda, recebem primeiro a esmola, entregam depois o postal, é uma maneira de salvar a dignidade, este pobre não é pedinchão nem é de pedir, se pede é só porque está desempregado, ora aqui temos uma ideia excelente, andarem os desempregados todos de braçadeira, uma tira de pano preto onde se leia, com todas as letras, brancas para darem mais nas vis­tas, Desempregado, facilitava a contagem e evitava que deles nos esquecêssemos. Mas o pior de tudo, porque ofende a paz das al­mas e perturba a quietude do lugar, são os vendilhões, pois são muitos e muitas, livre-se Ricardo Reis de passar por ali, que num ápice lhe meterão à cara, em insuportável gritaria, Olhe que é ba­rato, olhe que foi benzido, a imagem de Nossa Senhora em ban­dejas, em esculturas, e os rosários são aos molhos, e os crucifixos às grosas, e as medalhinhas aos milheiros, os corações de Jesus e os ar­dentes de maria, as últimas ceias, os nascimentos, as verónicas, e, sempre que a cronologia o permite, os três pastorinhos de mãos postas e joelhos pé-terra, um deles é rapaz, mas não consta do registo hagiológico nem do processo de beatificação que alguma vez se tenha atrevido a levantar as saias às raparigas. Toda a confiaria mercantil grita possessa, ai do judas vendedor que, por artes blandiciosas, furte freguês a negociante vizinho, aí se rasga o véu do templo, caem do céu da boca pragas e injúrias sobre a cabeça do prevaricador e desleal, Ricardo Reis não se lembra de ter alguma vez ouvido tão saborosa litania, nem antes nem no Brasil, é um ramo da oratória que se tem desenvolvido muito. Esta preciosa joia da catolicidade resplandece por muitos lumes, os do sofri­mento a que não resta mais esperança do que vir aqui todos os anos a contar que lhe chegue a vez, os da fé que neste lugar é subli­me e multiplicadora, os da caridade em geral, os da propaganda do Bovril, os da indústria de bentinhos e similares, os da quinqui­lharia, os da estampagem e da tecelagem, os dos comes e bebes, os dos perdidos e achados, próprios e figurais, que nisto se resume tudo, procurar e encontrar, por isso é que Ricardo Reis não para, procurar procura ele, falta saber se encontrará. Já foi ao hospital, já percorreu os acampamentos, já cruzou a feira em todos os senti­dos, agora desceu à esplanada rumorosa, mergulha na profunda multidão, assiste aos exercícios, aos trabalhos práticos da fé, as orações patéticas, as promessas que se cumprem em arrasto de jo­elhos, com as rótulas a sangrar, amparada a penitente pelos sova­cos antes que desmaie de dor e insofreável arroubo, e vê que os doentes foram trazidos do hospital, dispostos em alas, entre eles passará a imagem da Virgem Nossa Senhora no seu andor coberto de flores brancas, os olhos de Ricardo Reis vão de rosto em rosto, procuram e não encontram, é como estar num sonho cujo único sentido fosse precisamente não o ter, como sonhar com uma estra­da que não principia, com uma sombra posta no chão sem corpo que a tivesse produzido, com uma palavra que o ar pronunciou e no mesmo ar se desarticula. Os cânticos são elementares, toscos, de sol e dó, é um coro de vozes trémulas e agudas, constantemen­te interrompido e retomado, A treze de maio, na Cova da Iria, de súbito faz-se um grande silêncio, está a sair a imagem da capelinha das aparições, arrepiam-se as carnes e o cabelo da multidão, o so­brenatural veio e soprou sobre duzentas mil cabeças, alguma coisa vai ter de acontecer. Tocados de um místico fervor, os doentes estendem lenços, rosários, medalhas, com que os levitas tocam a imagem, depois devolvem-nos ao suplicante, e dizem os míseros, Nossa Senhora de Fátima dai-me vida, Senhora de Fátima permi­ti que eu ande, Senhora de Fátima permiti que eu veja, Senhora de Fátima permiti que eu ouça, Senhora de Fátima sarai-me, Senho­ra de Fátima, Senhora de Fátima, Senhora de Fátima, os mudos não pedem, olham apenas, se ainda têm olhos, por mais que Ricardo Reis apure a atenção não consegue ouvir, Senhora de Fátima põe neste meu braço esquerdo a tua mirada e cura-me se puderes, não tentarás o Senhor teu Deus nem a Senhora Sua Mãe, e, se bem pensasses, não deverias pedir, mas aceitar, isto mandaria a humil­dade, só Deus é que sabe o que nos convém.
Não houve milagres. A imagem saiu, deu a volta e recolheu-se, os cegos ficaram cegos, os mudos sem voz, os paralíticos sem mo­vimento, aos amputados não cresceram os membros, aos tristes não diminuiu a infelicidade, e todos em lágrimas se recriminam e acusam, Não foi bastante a minha fé, minha culpa, minha máxi­ma culpa. Saiu a Virgem da sua capela com tão bom ânimo de fazer alguns feitos milagrosos, e achou os fiéis instáveis, em vez de ardentes sarças trémulas lamparinas, assim não pode ser, voltem cá para o ano. Começam a tornar-se compridas as sombras da tarde, o crepúsculo aproxima-se devagar, também ele em passo de procissão, aos poucos o céu perde o vivo azul do dia, agora é cor de pérola, porém naquele lado de além, o sol, já escondido por trás das copas das árvores, nas colinas distantes, explode em vermelho, laranja e roxo, não é rodopio, mas vulcão, parece impossível que tudo aquilo aconteça em silêncio no céu onde o sol está. Daqui a pouco será noite, vão-se acendendo as fogueiras, calaram-se os vendilhões, os pedintes contam as moedas, debaixo dessas árvores alimentam-se os corpos, abrem-se os farnéis desbastados, morde-se o pão duro, leva-se o pipo ou a borracha à boca sedenta, este é o comum de todos, as variantes de conduto são conforme as posses. Ricardo Reis arranchou com um grupo debaixo de toldo, sem confianças, apenas uma irmandade de ocasião, viram-no ali com ar de quem estava perdido, de maleta na mão, uma manta que comprou enrolada no braço, reconheceu Ricardo Reis que ao menos um abrigo assim lhe conviria, não fosse refrescar a noite, e disseram-lhe, O senhor, é servido, e ele começou por dizer, Não, obrigado, mas eles insistiram, Olhe que é de boa vontade, e estava a sê-lo, como se viu logo, era um grande rancho, dos lados de Abrantes. Este murmúrio que se ouve em toda a Cova da Iria é tanto o da mastigação como das preces ainda, enquanto uns satisfazem o apetite do estômago, outros consolam as ânsias da alma, depois alternarão aqueles com estes. Na escuridão, à fraca luz das fogueiras, Ricardo Reis não encontrará Marcenda, também não a verá mais tarde, quando for a procissão das velas, não a encontrará no sono, todo o seu corpo é cansaço, frustração, vontade de su­mir-se. A si mesmo se vê como um ser duplo, o Ricardo Reis lim­po, barbeado, digno, de todos os dias, e este outro, também Ricar­do Reis, mas só de nome, porque não pode ser a mesma pessoa o vagabundo de barba crescida, roupa amarrotada, camisa como um trapo, chapéu manchado de suor, sapatos só poeira, um pe­dindo contas ao outro da loucura que foi ter vindo a Fátima sem fé, só por causa duma irracional esperança, E se você a visse, o que é que lhe dizia, já imaginou a cara de tolo que faria se ela lhe aparecesse pela frente, ao lado do pai, ou, pior ainda, sozinha, veja esse seu aspeto, acha que uma rapariga, mesmo defeituosa, se apaixona por um médico insensato, não percebe que aquilo foram sentimentos de ocasião, tenha mas é juízo, agradeça antes a Nossa Senhora de Fátima não a ter encontrado aqui, se é que ela real­mente veio, nunca imaginei que você fosse capaz de cenas tão ridí­culas. Ricardo Reis aceita com humildade as censuras, admite as recriminações, e, com a grande vergonha de se ver tão sujo, imun­do, puxa a manta por cima da cabeça e continua a dormir. Ali per­to há quem ressone sem cuidados, e detrás daquela oliveira grossa ouvem-se murmúrios que não são de prece, risinhos que não soam como o coro dos anjos, ais que não parecem de espiritual arrebatamento. A madrugada vem clareando, há madrugadores que se es­preguiçam e se levantam para espevitar o lume, é um dia novo que começa, novos trabalhos para o ganho do céu.
A meio da manhã, Ricardo Reis resolveu partir. Não ficou para o adeus à Virgem, as suas despedidas estavam feitas. O avião passara por duas vezes e lançara mais prospetos do Bovril. A camio­neta levava poucos passageiros, não admira, logo é que será a gran­de debandada. Na curva do caminho estava uma cruz de pau espetada no chão. Afinal não tinha havido milagre.



Completa:

[1.] A lilás estão passos que mostram uma característica de Fátima que se pretende evidenciar pejorativamente: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

[2.] A verde ficou um passo que me parece interessante por associar Ricardo Reis a um tema efetivamente recorrente no heterónimo Reis, o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , na medida em que . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

[3.] Relendo tudo que está assinalado a azul ao longo do longo texto reproduzido (são três as zonas que marquei a azul, mas estão por vezes distantes), comenta a «polissemia» do último período do capítulo: «Afinal não tinha havido milagre». Explica as interpretações sugeridas, fundamentando a tua análise com citações do texto. (Sugiro cerca de cento e cinquenta palavras.)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



Fernando Pessoa, já no final da vida, talvez em 1935, ou seja, bastante perto do ano em que o Ricardo Reis ficcionado viaja até Fátima (que é 1936), escreveu uma linhas sobre Fátima. O texto, que não ficou concluído, foi estudado por José Barreto, que encontrou pelo espólio de Pessoa mais trechos relacionados com Fátima. Desse texto de, presumivelmente, 1935 reproduzo apenas umas partes mais ou menos soltas (creio que fundadas em decifração de Barreto). Pode ser útil lembrar que Lourdes é o local de romagem em França que, de certo modo, terá inspirado Fátima.


            Fátima é o nome de uma taberna de Lisboa onde às vezes... eu bebia aguardente.

Um momento... Não é nada disso... fui levado pela emoção mais que pelo pensamento, e é com o pensamento que desejo escrever.

Fátima é o nome de um lugar da província, não sei onde ao certo, perto de um outro lugar do qual tenho a mesma ignorância geográfica mas que se chama Cova de qualquer santa. Nesse lugar  em um ou no outro — ou perto de qualquer deles, ou de — ambos, viram um dia umas crianças aparecer Nossa Senhora, o que é, como toda a gente sabe, um dos privilégios infinitos a que se não parte a corda.

[...] e assim como passou a haver “liberdades” em vez de “liberdade”, assim também passou a haver crenças em vez de crença, fés em vez de fé, e vários outros plurais ainda mais singulares.

[...] Seja como for, o facto é que há em Portugal um lugar que pode concorrer e vantajosamente com Lourdes. Há curas maravilhosas, a preços muito em conta; há peregrinações que dispensam o comboio (criação do estúpido etc!).

[...] O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja de Fátima, tem tomado grande incremento, com manifesto êxtase místico da parte dos hotéis, estalagens e outro comércio desses jeitos — o que, aliás, está plenamente de acordo com o Evangelho, cuidando-se de bens materiais, “Buscai-vos o Reino de Deus e todas essas coisas vos serão acrescentadas”.



[4.] Uma crítica a Fátima implícita nesta prosa de Pessoa (crítica semelhante a outra que vimos no texto de Saramago) é a de que . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Também não é muito simpática a descrição de Fátima que temos no segundo volume do Guia de Portugal, de 1927. O Guia de Portugal procurava ser um roteiro utilitário para o viajante, mas pretendia igualmente constituir uma coleção de descrições literárias da responsabilidade de bons escritores. O passo de Fátima (pp. 505-506) terá sido escrito pelo organizador da obra, Raul Proença, talvez apoiado em apontamentos de Jaime Cortesão.




[5.] Desta descrição do local (de apenas uma década após a aparição), ressalta sobretudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Ainda a propósito de Fátima não podia deixar de repetir (creio que é já a terceira vez) o passo do milagre em O Último a Sair:




TPC — A partir de agora, sentir-me-ei livre para testar a efetiva leitura de O Ano da Morte de Ricardo Reis. Além do manual, procura levar também o livro de Saramago para as aulas. Para a próxima aula presencial — isto é, a da semana de 26-29 de maio — leva, manuscrito, o conjunto de cinco respostas pedidas há pouco. Os que estão, por razões médicas ou familiares, dispensados institucionalmente das aulas presenciais — e só esses — devem pôr essas respostas no Classroom (os outros, por favor, não liguem à chamada que o Classroom vai fazer no sentido de resolverem esta tarefa e levem-me a folha na 3.ª, 4.ª, 5.ª ou 6.ª feira, respetivamente, 26, 27, 28, 29 de maio)








Aula 148-149 [= 22 da Quarentena; desconfinada 2] (26 [9.ª], 27 [5.ª], 28 [4.ª], 29/mai [3.ª]) Vai até à p. 284 do manual. O trecho de O Ano da Morte de Ricardo Reis a que as autoras do manual deram o título «Em Portugal, a onda cresce» vem na sequência de abordagem à eclosão da Guerra Civil de Espanha e de comentários (em prolepse, em parte) acerca das derivas políticas em Itália, em Portugal, na Alemanha e, agora, na Espanha.



Uma frase-lema da organização de juventude alemã — «Nós não somos nada» — leva o narrador a reportar-se à Mocidade Portuguesa, de que trata o parágrafo que podes ler agora (ll. 112-136).

Escolhe a melhor alínea:

«são jovens patriotas que não quiseram esperar pela obrigatoriedade que há de vir» (ll. 113-114) é uma

a) analepse, como prova o uso do Pretérito Perfeito em «quiseram (esperar)».

b) prolepse, porque remete para factos posteriores ao momento da narração.

c) ironia, dado que aqueles adolescentes eram forçados à inscrição na Mocidade.

d) ironia, uma vez que a iniciativa daqueles jovens tinha cariz antinacional.



As linhas 115 a 121 são

a) elogiosas relativamente à Mocidade Portuguesa.

b) irónicas quanto à verdadeira adesão dos jovens.

c) críticas da adesão que a Mocidade Portuguesa suscitou.

d) hiperbólicas, para ridicularizarem a efetiva adesão de muitos jovens.



As listas (l. 121) incluíam os

a) combatentes na Guerra Civil de Espanha.

b) voluntários que se alistavam nas forças de Franco.

c) jovens que se tinham inscrito na Mocidade Portuguesa.

d) futuros soldados da guerra colonial.



[Assistência a trecho de José Saramago Plano B, de António Castanheira]



«Daqui por uns anos, vinte, trinta, cinquenta, que pensarão os homens maduros, os velhos, se lá chegarem, deste entusiasmo da sua mocidade [...] [?]».

O próprio narrador responde a esta pergunta nas ll. 130-136. Porém, na p. 287 do manual, num excerto de livro autobiográfico de José Saramago, As Pequenas Memórias, temos, de certo modo, a resposta do próprio autor. Lê esse excerto, «Pequena Memória».



Responde às perguntas 1 a 4 (da mesma p. 287).

1.         [à resposta a seguir faltam só as preposições, simples ou contraídas]

A ironia resulta, ___ um lado, ___ inversão ___ prioridades — «e, enfim, que ____ isso é que eu lá ia» — visto o autor intencionalmente colocar ___ fim a preparação específica destinada ___ alunos ___ Escola Industrial; resulta, ainda, ___ atribuição ___ estatuto ___ mistério ___ estes ensinamentos ___ caráter mais prático e não ___ primeiras áreas ___ conhecimento mencionadas.

2.        [à resposta faltam só adjetivos]

O que levou o ______ estudante que era então o narrador a deixar de acompanhar os acontecimentos da Guerra _____ de Espanha foi ter compreendido que os jornais eram ________, e que, naturalmente, os leitores não acediam a informação ________.

3.        [à resposta faltam só formas verbais]

O autor ________ a Mocidade Portuguesa ao regime responsável pela Censura, que _________ por «militares reformados» ao seu serviço.

4.        [à resposta faltam só nomes]

O ______ é predominantemente narrativo, seleciona a ______ mais relevante, a _______ verbal mais usada é a primeira e recorre a ______ diversas de representar o ______ («Quando a _____ [...] começou, eu já trocara», «Até ao _____, que cedo foi», «nas ______ seguintes»).





Vê o cimo da p. 286, «Diálogo argumentativo». A reflexão que aí é proposta poderia corresponder a um grupo III de exame. Imagina só que, depois da primeira apresentação (de «É tão fácil [...]» a «[...] risco?»), viria o seguinte:

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre a problemática apresentada.

No seu texto:

– explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;

– utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



Classifica as orações.

«A Terra Gira» (Os Quatro e Meia)

Eu não sei // _________

Nem como nem quando aqui cheguei. // Subordinada(s) substantivas

Sem saber,

Dou por mim a viver a correr.



E o mundo segue

Sem olhar para nós.

Queremos tudo, // _________

Mas vivemos tudo a sós. // Coordenada __________



A terra gira em contramão,

Ficamos tontos sem direção,

Corremos até nos faltar o ar // Coordenada _________

E a vida vai ficando para depois

E continuamos os dois a sonhar. // Coordenada _________



Mal me vi

No caminho até chegar aqui,

Sem contar

Corro às cegas

Sem saber onde chegar.



E o mundo segue

Sem olhar para nós.

Queremos tudo,

Mas vivemos tudo a sós.



A terra gira em contramão, // _________

Ficamos tontos sem direção, // _________

Corremos até nos faltar o ar

E a vida vai ficando para depois // _________

E continuamos os dois a sonhar.



E a terra gira em contramão,

Ficamos tontos sem direção,

Corremos até nos faltar o ar

E a vida vai ficando para depois

E continuamos os dois a sonhar.



Bis



E, mal nos encostamos aos lençóis // Subordinada adverbial _______

Com a lua iluminando este T2,

Num instante adormecemos os dois, // ________ (e Coordenada)

Mas logo chega a hora de acordar. // ________



TPC — Escreve a dissertação integral cujo segundo parágrafo já fizeste em aula (leva-a, em folha passada a limpo, para a próxima aula presencial). {Quanto aos que se mantêm a distância — D., G., I., S. —, é também esta tarefa que me devem enviar, por mail.}






Aula 150 [= 23 da Quarentena] (29/mai [9.ª, 5.ª, 4.ª, 3.ª]) Direi algumas palavras sobre as tarefas do Classroom que comentei há pouco (aula 14 ou 15: capas ou Fernando Pessoa ortónimo/processo heteronímico). Já houve tarefas de cujas concretizações gostei mais. Certas idealizações de capas levaram-me a supor que obra não estaria bem lida. Das respostas tipo 7 de exame construí a imagem de que muitos se terão baseado em informações do manual (ou até das sínteses que estavam na aula), bastante «de sebenta», cerzidas um pouco à pressa.

Quanto a bons exemplos (entre muitos outros que podia usar) socorro-me dos seguintes, ambos da turma 4.ª porque é a que estou a corrigir ao mesmo tempo que escrevo estas linhas:

[Sobre capa:]

Se eu criasse uma capa para O ano da morte de Ricardo Reis, o foco principal seria um jornal, representando a importância das notícias num livro que nos apresenta, serenamente assistida por Reis, a situação política, económica e social do país, enquadrada num contexto mundial. No jornal aberto, poder-se-ia ler alguns títulos, capazes de transportar o observador para o cenário de tormenta da época retratada na história. O fundo da capa seria composto por diversas tonalidades de cinza, assemelhando-se a um céu enublado. O título e o nome do autor localizar-se-iam, em letras a cinzento-escuro, na parte superior da capa. Na zona inferior direita observar-se-ia uma sombra de chapéu e óculos, facilmente identificável como Fernando Pessoa, imprescindível à narrativa como personagem e poeta criador de Ricardo Reis.

[Mafalda, 12.º 4.ª]

[Item 7 de exame:]

Muitas características da poesia dos heterónimos de Pessoa são reflexas das ideologias sobre as quais o ortónimo se debate nos seus poemas, embora adaptadas a cada uma das biografias por ele criadas.

Defendendo que a poesia é fingimento e o poeta um fingidor, Pessoa finge ser múltiplas pessoas, todas diferentes entre si, mas cada uma espelhando aspetos específicos da personalidade do ortónimo. Caeiro representa a vertente mais primitiva e sensacionista de Pessoa, Reis é o seu lado mais consciente e clássico e Campos revela a sua personalidade mais intimista e modernista.

Além disso, Pessoa partilha com os heterónimos linhas temáticas, nomeadamente a reflexão existencial acerca da consciência epicurista da morte de Reis ou a dor de pensar que Caeiro aproveita para exaltar as sensações e a simplicidade.

Os heterónimos, embora diferentes do ortónimo na sua poesia, são apenas a sua outra face e uma nova abordagem aos temas sobre os quais ele escreve, complementando-se.

[Rodrigo, 12.º 4.ª]

Copio ainda uma das capas concretizadas mesmo; havia outras de que gostei (as de Margarida e de Leonor, da mesma turma, a do irmão de Afonso, do 12.º 4.ª, por exemplo), mas não estou a conseguir «extraí-las»:



[Tita, 12.º 3.ª]

Também ainda antes da aula de hoje, quero expor para todos o que só expliquei no turno 2 da turma 9.ª. Percebi que essa explicação demorava demasiado e já não dei a solução desse item nas outras sete — ! — aulas-turnos idênticos. Era a pergunta sobre as evoluções fonéticas havidas desde o latim até se chegar a «perigo» e a «lugar» (p. 287 do manual, «Gramática no texto»).


O que eu teria dito se houvesse tempo vai agora neste interessante comentário oral meu a slides que só cheguei a usar num dos turnos da turma 9.ª. Aproveito para agradecer os parabéns que não me chegaram relativos à brilhante performance do relato oral da peregrinação googlemapesca por Lisboa, nomeadamente no momento do quiproquó «não conseguir dar com a entrada para a Rua do Século». Ouve com atenção até porque esta explicação será objeto de um questionário que farei em breve (enfim, tenho de os obrigar a ouvirem-me durante estes longos quinze minutos):


No resto da aula de hoje vamos centrar-nos num texto já do penúltimo capítulo de O Ano da Morte de Ricardo Reis, de novo um episódio que faz parte do eixo da panorâmica histórica que o romance vai fazendo. Usaremos o Caderno de Atividades, de que reproduzo a ficha 10 (pp. 23-25):

A minha sugestão é que leias as perguntas, penses um pouco nas respostas que darias, ensaiando-as até, mesmo que só oralmente, e passes depois a ler as respostas, que são copiadas das soluções da própria editora.





Aí vão as sugestões de respostas (repito antes cada pergunta):

1. O texto foca um momento decisivo na História europeia do século XX.

1.1. Releva as informações transmitidas sobre o tempo histórico representado no romance.

O excerto diz respeito à rendição de Badajoz, durante a Guerra Civil de Espanha. Mostra o apoio do poder português às forças falangistas, caracterizando a ideologia nacionalista que os unia; narra a destruição da cidade e o «ajuste de contas», traduzido na execução de duas mil pessoas. Ilustra, ainda, o comprometimento da rádio e dos jornais portugueses.

1.2 Comenta o efeito expressivo da ironia, no primeiro e no terceiro parágrafos.

Em «arrepia-se-nos a espinha com a marcial linguagem» (l. 4), o emprego da expressão popular inicial bem como a anteposição do adjetivo imprimem o tom irónico do elogio aparente a uma ideologia que combinava as crenças religiosas com a defesa do militarismo, uma visão épica da História nacional com a detenção de um poder ditatorial. No terceiro parágrafo, expressões como «fiesta», «entoam», «olé», usadas nas touradas, salientam com violência a dimensão do crime perpetrado na praça de touros de Badajoz.

1.3 Assinala e interpreta o emprego da enumeração, da antítese e da metáfora, no terceiro parágrafo.

Enumeração — «Posta em ruínas pelos continuados bombardeamentos, partidas as espadas, embotadas as foices, destroçados os cacetes e mocas» (ll. 26-27) — a sucessão de ações de que a cidade e os seus defensores foram vítimas, expressas sempre por formas verbais na passiva, faz sobressair a força da destruição, bem como a desigualdade de meios: de um lado, as bombas, do outro, as espadas, as foices, os cacetes e mocas.

Antítese — «e a praça de touros abriu as portas para receber os milicianos prisioneiros, depois fechou-se» (ll. 28-29) — a aparente ausência de mão humana nas duas ações envolvidas no contraste enfatiza o desamparo das vítimas.

Metáfora — «os minotauros vestidos de ganga caem uns sobre os outros» (l. 30) — realça a realidade e humanidade das vítimas, por contraposição ao caráter ficcional do mito; o modificador destaca ainda a condição social e civil da maioria, eram operários, não soldados.

2. No plaino abandonado / Que a morna brisa aquece, / De balas trespassado— Duas, de lado a lado —, / Jaz morto, e arrefece. [...] // Tão jovem! Que jovem era! / (agora que idade tem?) / Filho único, a mãe lhe dera / Um nome e o mantivera: / «O menino de sua mãe.» Refere a expressividade do diálogo intertextual estabelecido com o poema «O menino de sua mãe», de Fernando Pessoa, parcialmente transcrito.

As expressões «abandonados plainos», «de balas trespassado», «menino da sua mãe» estabelecem claramente a intertextualidade com o poema de Fernando Pessoa. Neste contexto, com um dos níveis de leitura que dele pode fazer-se: a representação da crueldade da guerra, que trespassa de balas os jovens, os «meninos» que eram amados pelas suas mães.

3. Explicita os aspetos da relação entre Ricardo Reis e Lídia ilustrados pelo texto.

Contendo implícita a referência à ligação física entre Reis e Lídia, o excerto foca mais diretamente o caráter desigual da relação, efémera e inconsequente para ele, mais profunda para ela, como se traduzirá no filho «só da sua mãe».

É também evidenciado o efeito da relação sobre Ricardo Reis, no que toca o progressivo envolvimento, intelectual e emocional, com o mundo em que vive.

Usado em dois breves momentos, o discurso direto reproduz duas vozes antagónicas, relativamente ao acontecimento narrado.

4. Transcreve cada uma das falas e realça a sua representatividade.

«Chegou a hora do ajuste de contas» (ll. 27-28); «Foram mortos dois mil» (l. 39).

A primeira fala faz ouvir a voz do general vencedor, o representante dos poderosos que encontravam na ideologia fascista a sua proteção, dominado pelo desejo de vingança. A segunda é a voz do povo vencido, das mulheres em luto pela perda dos seus filhos.

5. «talvez um recado que veio do futuro, quando enfim todas as coisas puderem saber-se.» (ll. 38-39)

Expõe e fundamenta o teu ponto de vista, sobre o significado da hipótese colocada pelo narrador.

O narrador alude ao tempo da escrita do romance, quando a distância histórica e a liberdade de acesso à informação permitem chegar ao conhecimento dos factos.



Copia-se a seguir o poema de Fernando Pessoa «O menino da sua mãe» (a edição é de Luiz Fagundes Duarte, de livro recentemente disponibilizado online pela INCM, e de que vale a pena ler muitos outros textos: https://www.incm.pt/portal/arquivo/livros/gratuitos/Pessoana_Dispersos.pdf) a que, como se viu, se alude num passo em que O Ano da Morte de Ricardo Reis faz um jogo intertextual com textos de Pessoa:



O MENINO DA SUA MÃE

No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece,

De balas traspassado —

Duas, de lado a lado —,

Jaz morto, e arrefece.



Raia-lhe a farda o sangue.

De braços estendidos,

Alvo, louro, exangue,

Fita com olhar langue

E cego os céus perdidos.



Tão jovem! que jovem era!

(Agora que idade tem?)

Filho único, a mãe lhe dera

Um nome e o mantivera:

«O menino da sua mãe.»



Caiu-lhe da algibeira

A cigarreira breve.

Dera-lha a mãe. Está inteira

E boa a cigarreira.

Ele é que já não serve.



De outra algibeira, alada

Ponta a roçar o solo,

A brancura embainhada

De um lenço... Deu-lho a criada

Velha que o trouxe ao colo.



Lá longe, em casa, há a prece:

«Que volte cedo, e bem!»

(Malhas que o Império tece!)

Jaz morto, e apodrece,

O menino da sua mãe.

[maio de 1926]



Não me lembrava eu que este poema (que tem sido muito estudado, e cuja fonte de inspiração é, salvo erro, controvertida) terá estado proibido por alturas da guerra do Ultramar. É engraçado como o reservado Pessoa tantas vezes beliscou os poderes políticos e, neste caso, postumamente. A história é contada neste programa de rádio:


E o que não faltam são interpretações, musicadas ou só declamadas, deste poema de Pessoa, de que aliás não há manuscrito. Foi publicado ainda em vida do poeta, na revista Contemporanea, em maio de 1926. Nota a coincidência: foi no no mês da revolução do 28 de maio de 1926, que levaria ao Estado Novo, e a cujo décimo aniversário, maio de 1936, se alude no romance de José Saramago. Ouve então estas interpretações do poema (que te vão fazer ficar o texto no ouvido por muitos anos):

Por Mafalda Veiga, que há de ter estudado Pessoa, porque foi aluna da Faculdade de Letras de Lisboa:


Por Luís Cília, um dos «cantautores», que atuou entre o antes e depois do 25 de abril:


Por Carlos Mendes, cantor do grupo dos que nos anos sessenta estiveram num incipiente rock português e que ainda atua hoje:


Por Sinde Filipe, que já conhecemos tanto:


Por João Villaret (com tosses e aplausos):


Por Marília Pêra, grande atriz brasileira:


Por Paulo Autran, outro grande ator brasileiro:


TPC — (i) Responde ao questionário que farei sobre esta aula e que ainda não pus no Classroom, mas vou pôr (serão chamados a resolvê-lo entretanto, mas posso ainda demorar um dia ou dois). (ii) Aproveitava também para lhes pedir que na folha que me vão entregar para a semana com o tepecê da aula presencial pusessem estas informações (que me são úteis para tentar preparar o mais utilmente possível o que falta do ano; e, em parte, também para me satisfazer a curiosidade):

Exame(s) que vais fazer: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Cursos (faculdades mesmo, se quiseres) em que estás a apostar (como primeiras prioridades): . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .





Aula 151-152 [24 da Quarentena; desconfinada 3] (2 [9.ª], 3 [5.ª], 4 [4.ª], 5/jun [3.ª]) Completa o texto sobre a origem e evolução do português com as palavras a seguir. (O texto, que é do Caderno de atividades, tem ingenuidades que procurarei esclarecer quando o corrigirmos.)

romanização / línguas / árabes / século XIII / Condado Portucalense / África / substrato / antigo / clássico / contemporâneo / bárbaros / superstrato (duas vezes) / latinismos / romanos / latim vulgar / Reconquista / galego-português / língua românica / latim / línguas românicas / francês / Ibérica / latim literário

O português é uma __________, pois deriva do ______. Outras ________ são o castelhano, o catalão, o galego, o ______, o italiano, o romeno, o sardo.

A Península _________ foi ocupada pelos __________ a partir de 218 a.C.. Soldados, colonos e mercadores trouxeram a sua língua, o latim, tal como os hábitos, a cultura e as leis. Falavam um latim popular — ___________ —, distinto do latim das classes cultas — _______. O português deriva do latim vulgar.

Antes da ________, os povos peninsulares falavam outras línguas — sobretudo o celta — e, embora os vencidos tenham adotado a língua dos vencedores, transportaram para o latim termos dessas _______ autóctones. O latim foi ganhando novas palavras oriundas da língua celta que se falava na Península — ________ celta.

A partir de 409 d.C., os romanos foram sendo vencidos pelos _______, quando os povos germânicos começaram a chegar à Península. Como possuíam uma civilização menos organizada, adotaram a língua dos vencidos, mas introduziram-lhes palavras da sua língua — ________ germânico.

No século VIII, a Península foi invadida pelos ________. Os povos cristãos refugiaram-se a norte, nas Astúrias e, a partir daí, lutaram durante séculos, contra a presença árabe, numa luta que a História registou com o nome de ________ cristã. Muitas palavras árabes entraram, então, na língua dos cristãos — __________ árabe.

Quando Portugal nasceu como nação, em 1143, no noroeste da Península Ibérica falava-se uma língua românica já muito afastada do latim: o __________. Com a independência do ________, essa língua foi evoluindo de forma diferente em Portugal e na Galiza.

O português nasceu oficialmente no ________, com a lei de D. Dinis que obrigava ao uso do português e não do latim em todos os livros e documentos oficiais. Os mais antigos textos em português são a Notícia de Fiadores (1175), o Testamento de Afonso II (1214) e a Notícia de Torto (1211-1216).

O português foi evoluindo em três períodos: o português ________ (séculos XII-XV); o português ________ (séculos XVI-XVIII); o português ________ (a partir do século XIX).

O desenvolvimento trazido pela expansão, no século XVI, refletiu-se na língua, pois foram necessárias novas palavras para designar aspetos da nova realidade. Foram sobretudo os escritores e os cientistas que foram ao latim literário buscar as palavras que enriqueceram o português, de uma forma culta e sofisticada: os __________.

Ao mesmo tempo, com a expansão, muitas palavras oriundas da língua dos povos dos diversos continentes chegaram ao português, vindas de _______, da América, da Ásia.


Preenche a coluna da direita, classificando a função sintática do constituinte sublinhado na coluna da esquerda. (A coluna do centro é apenas para ajudar.)

Frase (de O último a sair ou sobre o mesmo passo)
A ter em atenção
Função sintática
Segundo Unas, o público verá Filipa como boa (e não como burra). Considerá-la-á boa (e não burra).
Porque está há semanas no jacúzi, Filipa sente a pele encarquilhada. Sente encarquilhada a pele.
Porque está há semanas no jacúzi, Filipa sente a pele encarquilhada. subordinada adverbial causal
Na verdade, só esteve alguns minutos no jacúzi. * É na verdade que só esteve ...
Débora diz a Unas que está farta daquelas conversas. «farta», sem mais, ficaria incompleto
Esta reunião faz-me lembrar a minha infância lá em Trás-os-Montes. faz-me lembrá-la
Temos o direito de sonhar, nesta casa. só nome «direito» ficaria incompleto
Temos o direito de sonhar, nesta casa. √ Que acontece nesta casa? Temos ...
Vou-vos perguntar. Vou-*os [√-lhes] perguntar
Se ganhassem o Euromilhões, o que é que faziam? subordinada adverbial condicional
Acho que comprava uma casa junto ao mar. subordinada substantiva completiva
Eu comprava um banco. Eu ... e tu também.
Ó Filipa, se comprares um banco não ficas com o dinheiro das pessoas. «autónomo», entre vírgulas
Todos me disseram que eu não tinha lá dinheiro. todos mo disseram
Vamos fazer uma coisa que eu acho do agrado de todos. «eu» é o sujeito
Vamos fazer uma coisa que eu acho do agrado de todos. acho-a assim ou assado
Mandava fazer uma igreja linda, revestida a casca de sapateira. = , que seria revestida...
Mandava fazer uma igreja linda, revestida a casca de sapateira. = que seria linda
Punha primeiro o dinheiro a render. √ Que fazia ela primeiro? Punha ...
Continuo a não gostar da minha personagem. cfr. verbo copulativo
Eu ia para África. *Que faz ela para África? Ia.
Este assunto, de África, tira-me a fome. Estes assuntos ... tiram ...
Precisas de água para ir à interner? *Que faz ela de água? Precisa ...
Por todos foi ouvida a voz da casa. cfr. Todos ouviram a voz da casa
Por todos foi ouvida a voz da casa. auxiliar «ser», preposição

Lê esta ode de Ricardo Reis, publicada na revista Athena, em 1924, que sugeriu a Saramago a personagem Marcenda. No autógrafo no espólio de Pessoa ainda não havia o gerúndio «Marcenda» — estava «Fanada», que o poeta riscou e substituiu por «Fananda».

«Marcenda» é o gerúndio do verbo latino marcere, ‘murchar’. Significaria ‘murchante’, ‘o que murcha’.

Saudoso já deste verão que vejo,

Lágrimas para as flores dele emprego

               Na lembrança invertida

               De quando hei de perdê-las.



Transpostos os portais irreparáveis

De cada ano, me antecipo a sombra

               Em que hei-de errar, sem flores,

               No abismo rumoroso.



E colho a rosa porque a sorte manda.

Marcenda, guardo-a; murche-se comigo

               Antes que com a curva

               Diurna da ampla terra.

Podemos considerar que Marcenda é realmente uma personagem murchante (sobretudo, quando comparada com Lídia). Desenvolve esta ideia, referindo também brevemente a ideologia da ode de Reis. Inclui pelo menos uma citação de O Ano da Morte de Ricardo Reis, que podes ir buscar aos textos no manual ou ao próprio livro de Saramago, se o trouxeste. (Esta tarefa deve ser-me enviada, por mail, por confinados, D., G., I., S.. Pode chegar-me em Word ou enquanto imagem de manuscrito.)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Classifica as orações sublinhadas.



TPC — (i) Vai revendo a gramática que estudámos este ano. (ii) Na próxima aula distante deixarei notícia de tarefa que implica leitura (deixamos cair as recitações) de poemas do ortónimo, provavelmente, os de Mensagem que já lhes estavam destinados — ainda que para efeitos de recitação — mais um outro à escolha. Explicarei melhor entretanto, mas a ideia é reunir as duas leituras num ficheiro áudio.






Aula 153 [= 25 da Quarentena] (5/jun [9.ª, 5.ª, 4.ª, 3.ª]) Começo por acrescentar uns comentários a tarefas que devolvi ou que fizeram recentemente (excertos diversos com menção de heterónimos em O Ano da Morte de Ricardo Reis e enquadramento no resto da obra [A]; comentário a poema de Pessoa em torno de Camilo Pessanha [B]; questionário sobre processos fonológicos, texto do cerco de Badajoz, ou Badalhouce, e «O Menino da sua Mãe» [C]).

A — O excerto 2 referia o telegrama que fora afinal o pretexto para Reis atravessar o Atlântico, regressando a Lisboa. Esse telegrama fora-lhe enviado por Álvaro de Campos (reparem no acento — tantos que o puseram mal! — e no «de»), que anunciava duas coisas: a morte de Pessoa; e a sua, de Campos, partida para Glasgow. Podiam ter lembrado que, segundo a carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro a explicar a génese dos heterónimos, Campos se licenciara em Engenharia Naval naquela cidade escocesa (não haveria outra ligação à cidade); quanto a mim, Saramago foi até pouco imaginativo neste ponto: eu veria Campos a emigrar para cidades mais cosmopolitas ou mais industriais ou a viajar. Por vezes fizeram confusão, pensando que se tratava de carta, o que é natural pois que a vossa geração já não lidou com telegramas. A seguir ponho um exemplo de telegrama com o aspeto que tinham (mas faltam os STOP que substituíam os pontos finais). O telegrama é apropriado a Campos (distância, modernidade, imediatismo). Era importante dizer que se trata do «reencontro» de Reis com Pessoa, logo nos primeiros capítulos do livro. O telegrama que fui buscar à net tem que ver a Sociedade Portuguesa de Escritores e é assinado por Delfim Santos, filósofo.



No excerto 3 referia-se um verso do «Poema em linha reta», de Álvaro de Campos: «eu que tenho sido cómico às criadas de hotel». Veja-se o poema todo, que revela tédio, depressão, irritação, em torno de discussão acerca de ridículo e vileza, e, por isso, não é inadequado a um momento em que Reis parece um pouco ridículo por namoriscar uma Lídia muito mais nova e que, no fundo, o servia). O «Poema em linha reta» não deixa de ter laivos do Campos mais vertiginoso («arre», «porrada», a extensão de alguns dos versos, os paralelismos repetições-enumerações, a apóstrofe «Ó príncipe»). Mas a ironia amarga é mais a do Campos abúlico do que do Campos sensacionista-futurista.



POEMA EM LINHA RETA



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.



E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.



Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida...



Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,



Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?



Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?



Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



Lembram-se decerto desta versão incluída na telenovela O Clone, mas que omite o verso em causa (provavelmente, «criadas de hotel» não seria descodificado em português do Brasil? será isso? ajudem-me, meus caros alunos brasileiros), que vimos em aula:


O excerto 5 volta a jogar com elementos que só poderiam ser bebidos na carta a Adolfo Casais Monteiro e, mais concretamente, na passagem com a biografia dos heterónimos (a morte, cedo, de Caeiro, em 1915); aproveita-se também o miradouro de Santa Catarina (Adamastor, paisagem avistada até Montijo), o que permitiria situar o passo já nessa segunda parte passada em casa própria. Há ainda referência a filmes da época: além de uma experiência no São Luís — que, já se sabe, fica na rua da PVDE, a António Maria Pereira — de cinema tridimensional, os filmes — que passaram efetivamente em 1936, em Lisboa — O Pão Nosso de Cada Dia, de King Vidor, e o ainda mais célebre Os trinta e nove degraus, de Alfred Hitchcock. Deem uma vista de olhos ao início destes dois:

O Pão Nosso de Cada Dia (só começa cerca dos cinco minutos):


Os Trinta e Nove Degraus


No excerto 7, a menção às notícias da morte de Pessoa plasmadas nos jornais permitia situarmos o passo na parte inicial do romance. Podiam citar a circunstância de Pessoa ser então visto sobretudo como o autor de Mensagem, a única obra em português que publicara (e aliás um ano antes apenas). Há aí ainda uma brincadeira com Ricardo Reis não poder ser citado como falecido também («já cá faltava o erro»).

O excerto 8 foca-se numa obra de escritor-pintor amigo de Fernando Pessoa — Nome de Guerra, de José de Almada Negreiros. Ora, é verdade que este livro de Almada só foi publicado em 1938; portanto nem Reis nem, muito menos, Caeiro seriam «deste mundo quando Almada Negreiros publicar a sua obra».

B — Sobre a correção do comentário ao poema de Pessoa em torno de Pessanha, queria só dizer-lhes que não se pode referir este poeta por «Camilo», porque esse nome, assim sem mais nada, é associado de imediato a Camilo Castelo Branco, autor de Amor de Perdição. Terá de ser «Pessanha», «Camilo Pessanha», «o autor de Clepsidra» (já agora, para Clepsidra). E fica aqui apenas um bom comentário, exemplo de muitos que poderia deixar aqui:

Neste poema de Fernando Pessoa ortónimo, o sujeito poético inveja Pessanha pela forma como escreve utilizando a intuição e não a razão ou a lógica («Ah como eu quereria / ser como aqueles em quem a inspiração é já poesia») e pelo modo como consegue compatibilizar o sentir e o pensar («Como sentias? Por que modo / O que em ti é matéria estranha / Era teu natural, teu todo?»). Fernando Pessoa e, com ele, o sujeito poético consideram que o sentir e o pensar são sentimentos incompatíveis, uma vez que não consegueria sentir sem pensar naquilo que se está a sentir e, consequentemente, deixar de o sentir.

O «eu» do poema também inveja a forma como Pessanha conseguiu mergulhar na introspeção do eu, sem nunca se confrontar com o seu ser plural e por isso não se fragmentar («E a forma toda a alma tem!...»). Para além disso, o sujeito lírico considera que Pessanha, contrariamente à teoria pessoana do fingimento poético, que defende que a poesia deve ser a expressão transfigurada do rasto de uma emoção, escreve sobre o que sente sem ter de dessa emoção se distanciar («E os teus versos são / Como o que passa no sonhar / E que é melhor que uma visão / Sem que haja de que despertar»).

Inês C. (12.º 3.ª)



C — No questionário, a pergunta com mais problemas foi a sobre «lugar» (< localem). Nas estatísticas, vi que os setenta e tal que responderam ora escolheram a apócope de um suposto verbo «lugare» (49%) ora, como era o caso, a dissimilação (outros 49%). Com efeito, aquele /-r/ é para que não haja dois sons iguais /l-/ e /-l/ (o último dissimila-se, isto é, diferencia-se do outro, em /r/). Estava explicado nos slides: localem > locale > local > logal > logar > lugar.



A segunda pergunta com menos respostas acertadas (mas já com 65%, o que é bem diferente) foi a de «Guernica». Sim, foi um episódio da guerra civil de Espanha mas concretizado por alemães (apoiantes das tropas de Franco). Esta localidade basca, bombardeada, ficou famosa também pelo quadro de Picasso. Sobre «Guernica», sugiro estes vídeos:






Para arrumarmos melhor estas matérias acerca da história do português e dos processos fonológicos, pedia-lhes que experimentassem ir resolvendo as seguintes duas fichas do Caderno de atividades. Primeiro, tentem mesmo resolver cada pergunta, respondendo; e vejam depois as soluções que vêm logo a seguir.



Agora, leiam as soluções propostas pelo próprio manual:



A seguir ponho links de quatro aulas que fiz para a Universidade Aberta há muitos anos, no início dos anos noventa. Nessa altura dava aulas na Faculdade de Letras de Lisboa e encomendaram-me estes quatro programas sobre história da língua portuguesa. O vídeo estava nos seus primórdios (as montagens não eram completamente computadorizadas, ainda se trabalhava com VHS e Beta).

Estes programas passavam ao sábado de manhã, na RTP-2, e os alunos da Aberta viam-nos, e espero que não tirassem apontamentos, porque há partes bastante amalucadas. Lembro-me de às noites de sexta-feira estarmos até às seis ou sete da manhã a fechar o programa que era para ser emitido às oito e tal (um pouco como agora estou a tentar acabar esta aula para ficar pronta para daqui a uma hora).

Não percam muito tempo a vê-los mas vale a pena relancearem estes partes, por terem a ver com as matérias que temos estado a dar:

No programa 4, os primeiros minutos referem os textos portugueses mais antigos e decorrem no ambiente da «Notícia de Torto» (ca. 1214), entre Braga e Barcelos. Note-se que na altura ainda não se tinha encontrado a «Notícia de Fiadores» (1175). O locutor vai com uma pressa extraordinária, o que tem uma explicação. Não se montava o filme em função do texto, era o texto que era escrito (por mim) para coincidir com as imagens e o pobre do locutor tinha de ler de modo a não se atrasar relativamente às imagens. Enfim... Deste programa vejam só até ao minuto 5 e pouco:


No programa 2, fala-se dos dialetos portugueses, nos minutos 12,20 a 20 (mas é tudo demasiado denso, académico; não valerá a pena):


No programa 1, aborda-se a mudança linguística e o português no mundo. Talvez seja útil já quase no fim, cerca de 18,40:


No programa 3 há uma parte sobre os cancioneiros medievais que já lhes mostrara em aula — de 7.20 a 16 —, que pode ser útil para rever a lírica trovadoresca (aconselho-a talvez apenas aos que farão exame; revejam esses quase dez minutos, a partir de 7.20, em que fala a professora Elsa Gonçalves):




Prometera pôr nesta aula uma pequena tarefa de oralidade (leitura em voz alta). Lançarão no Classroom duas leituras em voz alta. Prefiro dizer «boas», em vez de «expressivas», porque, quando dizemos «expressivas», parece que pretendemos performances histriónicas, muito dramatizadas, e nem sempre a expressividade adequada é essa.

O ficheiro que carregarão no Classroom será áudio apenas e deverá reunir a leitura do(s) texto(s) de Mensagem que estava previsto cada um ir recitar (lê-lo-ão apenas, mas usarão o texto, ou textos, que lhes estavam atribuídos quando era para ser recitação; vejam aqui) e a leitura de um texto do ortónimo publicado em vida, com entre quinze a, no máximo, uns quarenta versos, que escolherão aqui (cuidado que alguns textos iniciais são muito longos e estranhos; a partir da página 79 é que há mais textos que lhes podem interessar).

Usem só um ficheiro, onde ficará tanto o poema de Mensagem como de Dispersos (o nome do ficheiro poderá conter a página da edição de Dispersos onde começa o poema que lerão: «página #»). Escolham bem o poema — não são assim tantos textos, porque se trata apenas do que Fernando Pessoa publicou ainda em vida — e ensaiem bastante a leitura antes de gravarem. O poema, ou poemas, de Mensagem leiam-no(s) por esta edição ou por esta

Só hoje à tarde ou amanhã abrirei no Classroom o espaço para esta tarefa. Devem, portanto, ser chamados a ela hoje ou amanhã.






Aula 154-155 [26 da Quarentena, desconfinada 4] (9 [9.ª], 12/jun [3.ª], distantemente [4.ª, 5.ª]) Temos de conhecer relativamente bem três poetas contemporâneos e os que o manual escolheu foram — sigo a ordem cronológica — Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Ana Luísa Amaral. Não descarto que em exame pudessem pedir-lhes que desenvolvessem umas linhas sobre um dos poetas contemporâneos estudados no 12.º ano, talvez numa daquelas perguntas 7 do Grupo I.

Vamos lembrar Eugénio de Andrade, com um poema copiado do manual Entre Nós e as Palavras, 12.º ano (de Alexandre Dias Pinto & Patrícia Nunes; Santillana). Também os itens sobre o texto são roubados a este manual, tendo eu apenas reformulado as perguntas aqui e ali, para se tornarem mais ao estilo das de exame:



1. Explique dois efeitos de sentido provocados pela utilização do advérbio «naturalmente» no título do poema.

2. Identifique um recurso expressivo presente no primeiro período poema (vv. 1-2) e explique o seu valor expressivo.

3. Enuncie os sonhos que o eu manifesta para a vida do tu, apoiando-se também no texto.

4. Aponte a razão por que, segundo o sujeito poético, a Terra foi «atormentada / no próprio coração» (vv. 10 e 11), ilustrando a sua resposta através de citações textuais.

Desafio os que vão a exame de Português a ensaiarem mesmo as respostas a cada um destes itens. Os outros talvez possam pensar um pouco e ler depois as respostas que estão na apresntação a seguir. (Mas, antes de verem a apresentação, resolvam os fáceis itens de gramática que se seguem, já que estão corrigidos igualmente na apresntação.)

[Gramática]

O constituinte «meu filho» (v. 1) desempenha a função sintática de

a) sujeito simples.

b) vocativo.

c) modificador apositivo do nome.

d) modificador do grupo verbal.



O constituinte «que não é medida humana» (v. 3) desempenha a função sintática de

a) modificador restritivo do nome.

b) modificador apositivo do nome.

c) complemento do nome.

d) modificador da frase.



A forma verbal «sonhei» (v. 4) tem um valor aspetual

a) imperfetivo.

b) iterativo.

c) genérico.

d) perfetivo.



O constituinte «que a terra fosse limpa» (v. 4) desempenha a função sintática de

a) sujeito simples.

b) complemento direto.

c) predicativo do sujeito.

d) complemento indireto.



O pronome «-lo» (v. 7) contribui para a coesão

a) lexical.

b) interfrásica.

c) referencial.

d) temporal.



O constituinte «o pulsar da vida» (v. 13) desempenha a função sintática de

a) sujeito simples.

b) complemento direto.

c) complemento oblíquo.

d) predicativo do sujeito.



A oração «que só crimes e crimes e crimes pariam.» (v. 25) é

a) subordinada adverbial consecutiva.

b) subordinada adjetiva relativa restritiva.

c) subordinada adjetiva relativa explicativa.

d) subordinada substantiva completiva.



A oração «para que a vida / seja mais que cegueira e cobardia?» (vv. 26 e 27) é

a) subordinada adverbial causal.

b) subordinada adverbial final.

c) subordinada adverbial consecutiva.

d) subordinada adverbial concessiva.





Vê as partes que destaco de «O triunfo da PVDE», um documentário que tem muito em comum com factos referidos na parte final de O Ano da Morte de Ricardo Reis (concretamente a revolta dos marinheiros, as comemorações do X aniversário do 28 de maio de 1926, a influência da Guerra Civil de Espanha). No manual, o texto «A Partida» (pp. 288-290) tem que ver com relatos que são feitos em depoimentos que ouviremos.

Os minutos que deves mesmo ver são 5.09 a 7.16; 13.54 a 15.18; 18.43 a 25.50. As outras partes são dispensáveis.


Tens a seguir boas tabelas com exemplos de todos os tipos de orações (tirei-as de uma edição mais antiga do Plural 12). Pela ordem em que aparecem (copulativa, adversativa, ...), cria um exemplo de período com cada tipo de oração (todas as coordenadas, todas as subordinadas — total de catorze períodos, portanto).

Os períodos só devem ter duas orações (1. coordenada + coordenada copulativa; 2. coordenada + coordenada adversativa; 3. coordenada + coordenada disjuntiva; etc. [...] 6. subordinante + subordinada causal; 7. subordinante + subordinada temporal; etc.). Nos períodos com subordinadas, a ordem pode ser a que mais lhes convier (subordinada + subordinante ou ao contrário).

Exemplos devem ser realmente criativos e alguns relativos a O Ano da Morte de Ricardo Reis ou a outras matérias dadas nestes anos. Talvez devam identificar as orações, embora, sendo a ordem a mesma da tabela, eu as conseguisse reconhecer decerto.

(Esta tarefa, que serve para treino de parte importante do que testaremos em termos de gramática na penúltima aula presencial, deve ser-me levada para essa aula precisamente. No caso dos confinados — D., G., I., S. — a folha ser-me-á enviada quando puderem.)




Classifica quanto à função sintática os constituintes sublinhados:


«Da próxima vez» (Luís Represas)

As ruas da minha cidade | _______

Abriram os olhos de encanto para te ver passar, | _______

As pedras calaram os passos

E as casas abriram janelas só para te ouvir cantar;

Porque há muito muito tempo não vinhas ao teu lugar, | _______

Ninguém sabia ao certo onde te procurar



Da próxima vez não vás sem deixar destino ou direção.

Se houver próxima vez, não esqueças: leva contigo recordação | _______

E um beijo pendurado ao peito do teu coração.



Quisemos saber como estavas, | _______

Se a vida tinha tomado bem conta de ti

Ou se a vida teve medo e eras tu que a levava refugiada em ti.

Cada verão que passava sentíamos-te chegar, | _______

Como era possível que o sol se atrevesse a brilhar!



Da próxima vez não vás sem deixar destino ou direção. | _______

Se houver próxima vez, não esqueças: leva contigo recordação

E um beijo pendurado ao peito do teu coração



Deves trazer tantas histórias,

Tantas, que algumas ficaram caídas por aí; | _______

Outras, eu tenho a certeza,

O teu fogo na alma queimou, deixaram de existir;

Só queremos saber se és a mesma que vimos partir; | _______

Não existe mundo lá fora que te possa destruir



Da próxima vez não vás sem deixar destino ou direção.

Se houver próxima vez, não esqueças: leva contigo recordação

E um beijo pendurado ao peito do teu coração. | _______



Da próxima vez não vás sem deixar destino ou direção.

Se houver próxima vez, não esqueças: leva contigo recordação | _______

E um beijo pendurado ao peito do teu coração.



TPC — (1) Completa exercício agora iniciado com frases criadas segundo tabela de coordenação e subordinação, trazendo-mo na próxima aula. (2) Na próxima presencial devo controlar quer conhecimentos de gramática quer leitura de O Ano da Morte de Ricardo Reis (livros de resumos não ajudarão, mas, por outro lado, também não é preciso «decorar» a obra — é só preciso só ter lido).






Aula 156 [= 27 da Quarentena] (10/jun [3.ª, 4.ª, 5.ª, 9.ª]) Aproveito para dar aqui informação que nos chegou agora sobre as provas de exame. Já teriam ouvido dizer que haveria este ano um sistema segundo o qual se descartariam algumas das piores respostas. Pois bem, veio agora a informação concreta sobre esse bodo (não, como o de O Século, aos pobres; mas, na verdade, aos que não estudaram toda a matéria). Como os exames são prova de seleção, cujo intuito seria comparar para efeitos de acesso à faculdade, ficam prejudicados os que se esforçaram por estudar tudo (porque, de repente, veem diluídas as vantagens de se conhecer todos os conteúdos).

É tão portuguesinho tudo isto, o fazer parecer que se beneficia alguém quando se está é a criar injustiças. E toda a gente caladinha, porque ficaria mal reivindicar que se premiasse o esforço e se zelasse por que as condições tratadas inicialmente se cumprissem até ao fim. Enfim, também todos acharam normal que se pudesse prescindir de alguns das provas de exame, quando durante três anos se contou ir a exame num dado número de disciplinas.

Bem, aqui ficam os documentos em causa. O primeiro é genérico; o segundo trata já da prova de Português especificamente. Destaquei o quadro com as novas cotações. Em baixo resumirei o segundo PDF, que precisa de ser explicado (essa explicação só é útil a quem vá a exame de Português).



Aumenta-se o valor do grupo III. Valia 40, passa a valer 44 pontos. Aumenta-se também (de 8 para 13!) o valor das perguntas do grupo II, mas tornando obrigatórias apenas as quatro primeiras (ou seja, as que dependem sobretudo da interpretação do texto, não implicam muito a gramática).

As perguntas do grupo I, que costumavam valer 16, passaram todas a valer 13 (vale agora tanto uma pergunta de resposta em dez linhas ou mais, que implica uns quinze, vinte minutos, de redação, como uma escolha múltipla sobre um texto, assente apenas na capacidade de interpretação — contingente, aliás). Todas estas sete perguntas pertencem ao grupo das que não são obrigatórias para efeitos de seleção das melhores.

É importante perceber que não são vocês que retiram as duas piores respostas. Esse processo é automático, feito informaticamente na altura das classificações.

Não significa, portanto, que os alunos devam estar a selecionar as duas perguntas a que não vão responder (no caso das perguntas fechadas seria aliás imbecil fazê-lo, porque não é relevante o tempo que estas façam perder). O aluno pode (e deve, talvez) resolver o teste todo, deixando para a informática o processo de descartar as duas piores respostas.

No entanto, perante, por exemplo, alguma pergunta do grupo I com que o aluno não estivesse a atinar — e, sobretudo, tratando-se de aluno lento na escrita, com receio de não resolver toda a prova durante o tempo dado —, é provável que fosse boa solução investir pouco nesse item, descartando-o, em última análise, se se percebesse ser preferível aproveitar o tempo em outros. Note-se, no entanto, que bastaria haver duas perguntas de gramática — da 5, 6 ou 7 (as de gramática mais «dura») — em que o aluno não acertasse (e, nestas, cada um terá consciência de estar, ou não, a conseguir responder), para aquele luxo de descartar uma ou duas perguntas da parte I ser já completamente desaconselhado.

É importante perceber que há perguntas que não entram nas duas descartáveis pelo computador (o grupo III, as quatro de escolha múltipla do grupo II). Será útil o aluno aferir primeiro se consegue resolver as três do grupo II de gramática dura (se tivesse certezas de estarem todas bem respondidas, haveria crédito para investir menos em um ou dois dos itens do grupo I, aprimorando os restantes cinco ou seis).

Grupo III ganha importância. (Vou levar-lhes corrigido aquele a que responderam há pouco; vou ver se os que vão a exame ainda treinam mais exemplos de grupo III.)

Gramática dura, indiretamente, pode também ganhar importância, já que poderá ser um «valor seguro»: as três perguntas (5, 6, 7) que antes valiam 8+8+8 [24], passaram a valer 13+13+13 [39], embora incluídas na parte que pode ser descartada em termos de pontuação — enfim, só dois itens, e fazendo que não haja essa prerrogativa para nenhum item do grupo I.

Itens do grupo I perdem importância. Se alguém tivesse a certeza de estar a acertar os itens de gramática 5, 6, 7 (grupo II), poderia investir um pouco menos num ou em dois dos itens do grupo I (o que é arriscado, mesmo assim, já que não sabemos se não nos espalhamos naqueles que achamos saber melhor).

Na prática, desvalorizando o conhecimento das matérias mais informativas (os itens sobre que incide a prerrogativa de descartar os dois piores são os que dependem mais de informação prévia, de estudo — e, ao contrário, os itens «obrigatórios» são os que assentam na capacidade de escrita ou compreensão), este tipo de classificação de provas em Português é mais simpático para os alunos que tenham jeito mesmo sem se terem aplicado grandemente do que para os que trabalharam mas ainda não têm escrita segura ou costumam atrapalhar-se nas escolhas múltiplas de compreensão de texto.

(É claro que há alunos que escrevem bem e trabalharam bem também. Mas, em geral, este modelo de correção protege quem se aplicou um pouco menos e pode injustiçar quem seguiu os programas efetivamente.)



Na aula presencial da turma 9.ª (dia 9) distribuí uma folha que prefiro pôr aqui para todas as outras turmas, porque se trata de assunto mais dedicado a quem vá a exame. É sobre os itens 7 de exames (a parte C do grupo I).

Juntei aqui as quatro perguntas 7 (Grupo I, parte C) dos exames dos dois últimos anos (os que interessam para aferir o modelo de prova). Já fizemos em aula duas delas (a sobre Maria, de Frei Luís de Sousa, e a acerca da cidade em Cesário Verde). Acrescentei uma quinta, sobre poetas contemporâneos, que desafio os que vão a exame a resolverem mentalmente, relanceando os esquemas que ficam mais à frente, relendo alguns poemas. No caso da de Lusíadas/Mensagem, deixo parte dos critérios de correção do IAVE.

2019, 1.ª fase

7.        Do diálogo de José Saramago com o «passado» emerge, em romances como Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis, uma visão crítica sobre o tempo histórico representado e sobre a sociedade desse tempo.

Escreva uma breve exposição na qual comprove a afirmação anterior, baseando-se na sua experiência de leitura de um dos romances mencionados.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que são objeto de crítica pelo narrador, fundamentando cada um desses aspetos em, pelo menos, um exemplo pertinente;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Comece por indicar, na folha de respostas, o título da obra por si selecionada.

2019, 2.ª fase

7.        Leia o excerto seguinte, retirado de uma fala de Maria em Frei Luís de Sousa (Ato I, Cena IV).

«O que eu sou... só eu o sei, minha mãe... E não sei, não: não sei nada, senão que o que devia ser não sou…»

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, edição de Maria João Brilhante, Lisboa, Comunicação, 1982, p. 110.

Escreva uma breve exposição na qual comprove que Maria se afasta daquilo que a família espera dela.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que comprovem que Maria se afasta daquilo que a família espera dela, fundamentando cada um deles com uma referência pertinente à obra;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

2018, 1.ª fase

7.        A figura do herói está presente em muitas obras estudadas ao longo do ensino secundário, embora a sua construção possa depender de diversos fatores. Escreva uma breve exposição na qual distinga o herói em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do herói em Mensagem, de Fernando Pessoa.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual explicite, para cada uma das obras, uma característica que permita distinguir o herói em Os Lusíadas do herói em Mensagem, fundamentando as características apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das obras;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.



[Tópicos sugeridos pelo IAVE nos Critérios de correção (entre outros possíveis) para este item:

Em Os Lusíadas:

os heróis são apresentados na sua dimensão humana e histórica, o que é patente, por exemplo, nos protagonistas da viagem marítima até à Índia, nomeadamente Vasco da Gama e os marinheiros, cujos feitos permitiram o desvendamento dos mares desconhecidos;

os heróis são os portugueses que, vencendo os seus medos e todos os perigos, foram capazes de superar a própria condição humana e de ascender ao plano dos deuses, como se comprova, por exemplo, quando são recompensados na Ilha dos Amores.

Em Mensagem:

os heróis não se inscrevem num tempo nem num espaço determinados, assumindo uma dimensão mítica/simbólica. É o caso de D. Sebastião, enquanto símbolo da ambição que poderá fazer renascer a glória da pátria;

os heróis situam-se na esfera da espiritualidade, como é o caso de D. Fernando, que age como instrumento da vontade divina/de uma vontade superior.]

2018, 2.ª fase

7.        Cesário Verde adota um olhar subjetivo e crítico sobre a cidade. Escreva uma breve exposição sobre a representação da cidade na poesia de Cesário Verde.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual refira uma característica da cidade enquanto espaço físico e uma característica da cidade enquanto espaço humano, fundamentando as ideias apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das características;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

[2320, 5.ª fase]

7.        Os poetas contemporâneos que estudou no 12.º ano interessar-se-iam por temas diversos, sendo ainda decerto possível encontrar nos textos de cada um linhas próprias relativamente constantes, quanto ao espaço e ao tempo (à natureza e à sociedade) ou à relação com os outros e com o quotidiano.

Escreva uma breve exposição na qual refira dois poetas estudados, distinguindo a sua atitude quanto a algumas das linhas temáticas citadas.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual refira, para cada um dos poetas escolhidos, um tipo de abordagem temática que os permita distinguir, fundamentando essas características próprias apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Aconselho os que vão a exame de Português a pensarem como enfrentariam uma pergunta destas (que implicaria recordar pelo menos dois destes poetas: Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Ana Luísa Amaral). Deixo uns esquemas, próximos dos que também estarão no manual, que poderiam fornecer os tópicos pedidos a certa altura:






A propósito do contraste Mensagem / Lusíadas, leia-se este texto de Fernando Pinto do Amaral, numa introdução a uma edição de Mensagem (Mensagem e outros poemas, INCM / Aletheia / Expresso, 2015), em que se apanham muito bem as especiais características do livro de Pessoa:

«Organizada em torno de algumas figuras centrais da História de Portugal, Mensagem tem sido comparada com Os Lusíadas, já que ambas as obras se baseiam nessa mesma História. No entanto, aquilo que em Camões é a narrativa empolgante de um passado glorioso e indissoluvelmente vinculado à nossa identidade coletiva transforma-se em Pessoa numa série de retratos ou de quadros por onde desfilam reis, heróis, navegadores ou profetas, numa sequência que, de um modo críptico, nos fala mais do futuro que do passado. Por isso Os Lusíadas são uma epopeia e nos custa aplicar com a mesma desenvoltura à Mensagem essa palavra tão carregada de sentido desde a Antiguidade. Enquanto Camões nos conta a nossa História, a atitude de Pessoa é a de subentender nos leitores o conhecimento dessa História, poupando-se ao esforço aliás inglório de no-la recontar três séculos e meio depois. Assim, mais do que a uma «epopeia» no sentido clássico do termo, Mensagem corresponde talvez a uma profecia — uma profecia obscura e luminosa como são todas as profecias dignas desse nome — que interroga o «futuro do passado» a partir da singularidade do destino português e da posição geográfica de Portugal, como rosto da Europa aberto ao Atlântico.

[...] É dessa atitude esotérica que teremos de partir para nos aproximarmos da Mensagem, cujo percurso pode condensar-se numa dúzia de protagonistas históricos bem conhecidos, mas cujo golpe de génio reside em fazer deles os intérpretes de uma via mística ou iniciática em que Pessoa terá vislumbrado um desígnio português capaz de iluminar e transcender decisivamente as circunstâncias históricas ou geográficas do rectângulo, como se Portugal fosse o protagonista de um sonho culminado em D. Sebastião, ao mesmo tempo que ele, Fernando Pessoa, aí investia também todos os sonhos do seu mundo sem fim.»

Como hoje é dia de Portugal, dia de Camões — que, como se lembra em O Ano da Morte de Ricardo Reis, nem aparece entre as figuras que Fernando Pessoa elege para cabeça de tantos poemas em Mensagem —, vejamos o mais célebre poema de Mensagem, «Mar Português», a ser lido por estrangeiros num clip feito precisamente a propósito do 10 de junho (aqui para nós, quem fez o clip não se apercebeu de que escolher a obra que é quase o reverso dos Lusíadas para assinalar o Dia de Camões não era sensato):


Relativamente a Os Lusíadas, aconselho os que vão a exame a uma revisão, se calhar, sobretudo «sebenteira». Estes tabelas serão porventura úteis:




E, para confronto com Mensagem, este Quadro comparativo

Outro assunto que gostava de ir revendo é a ortografia. A ideia é mesmo chegar a uma lista de palavras que convém ir advertindo. Hoje trataria só de um problema recorrente, que adveio também do Acordo Ortográfico (e sim, qualquer erro, mesmo por culpa do AO, em exame tem pontuação descontada). É o problema dos hífenes. A regra não é fácil. Aqui fica ela:




Entretanto, não lhes peço propriamente que resolvam a tarefa que se segue, mas antes que vejam que não seria fácil e passem logo para as soluções, um quadro que acaba por ser o mais útil disto tudo:




Palavras que talvez sejam mais úteis:

hei de

hás de

hão de

há de

fim de semana

dia a dia

mulher a dias

pôr do sol

autorretrato

autobiografia

coautor

hipermercado

segunda-feira

sexta-feira

beira-mar

além-mar

é-nos

é-lhes

e, ainda, as de que me for lembrando entretanto: #, #, #.

Começa por ouvir «Fevereiro», da banda brasileira Acidália:


Transcrevo as três quadras que constituem a letra, assinalando já três dísticos que gostaria que comentasses do ponto de vista da expressividade. É um item típico em exame, comentar o valor estilístico de uma dada frase.

Já passou o carnaval

Já pode se fantasiar de alguém que não se é

Que não quer saber

E parece ser um ser tão igual a outro qualquer



Acabou a última atração

E se perdeu na solidão da multidão

Nesse vai e vem

A contramão é sempre sem direção do vento, meu bem



Folhas em branco

Caem no meu jardim

Dia após dia

Morrem dentro de mim

Darei as minhas soluções em próxima aula, mas tenta tu também uma explicação de duas delas (fica com a tentativa manuscrita contigo; depois direi se é preciso enviar-ma; quanto aos saudosos confinados — D., G., I., S. —, enviem-mas por mail). Imagina-te a responder a um daqueles itens de exame, do Grupo I, em que se pede a explicação do valor expressivo de uma passagem.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Como estamos em feriados, não os maçarei muito mais. Lembro só os nossos encargos próximos: rever gramática toda, ter lido O Ano da Morte de Ricardo Reis (não é preciso reler, se já leram mesmo a obra), lançar no Classroom a leitura em voz alta pedida (tarefa da aula 25).

Na sexta-feira afixarei a aula que foi presencial para as turmas azaradas que não tiveram feriado e que as 4.ª e 5.ª turmas farão o favor de relancear (haverá uma tarefa pedida aí, a levar para a nossa penúltima aula).

Volto a sugerir que leiam os contos (dos três que estão no livro) que lhes tenham escapado na altura: «Sempre é uma companhia», p. 136; «George», p. 150; «Famílias desavindas», p. 163. Façam-no, porém, apenas se não trataram disso há tempos: não repitam leituras.

Finalmente, pedia-lhes que vissem se têm livros meus de que já não precisem e, se for assim, mos levassem numa das próximas aulas presenciais. (Lembrei-me agora: como farei com os Prémios Tia Albertina, que tenho cheios do vírus chinês, porque conviveram com pangolins nas feiras no oriente onde os fui adquirir na companhia de Pessanha e Campos jovem — estes andavam mais à caça de ópio —?)





Aula 157-158 [28 da Quarentena, desconfinada 5] (16 [9.ª], 17 [5.ª], 18 [4.ª], 19/jun [3.ª]) Por favor, usa o manual apenas nas pp. 288-290, as relativas ao texto «A partida», um excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Tentei pôr aqui itens à grupo II de exame (compreensão de texto; compreensão de texto com gramática leve; uns itens de gramática mais ativos) e controlar alguma coisa da leitura da obra.
O «jardim» que é referido na l. 1 é o
a) da Celeste.
b) do Adamastor.
c) da Estrela.
d) do Hotel Bragança.

O constituinte «ao jardim» (l. 1) desempenha a função sintática de
a) complemento do nome.
b) modificador do grupo verbal.
c) complemento indireto.
d) complemento oblíquo.

Em «morar aqui perto» (ll. 1-2) — sobretudo se assumirmos que é frase pensada mais pelo protagonista do que pelo narrador —, «aqui» é uma marca deítica
a) temporal.
b) espacial.
c) pessoal.
d) pessoal e espacial.

O irmão de Lídia, Daniel, era
a) da Armada e seguidor do Estado Novo.
b) da PVDE e seguidor do Estado Novo.
c) marinheiro e contra a situação política vigente.
d) da Marinha e sem convicções políticas.

«foi atingido» (ll. 11-12) tem valor aspetual
a) imperfetivo.
b) iterativo.
c) perfetivo.
d) genérico.

Quem batia palmas (l. 12) fá-lo-ia por
a) estar a favor do regime político.
b) ser contra o regime político.
c) entusiasmo infantil de quem segue um despique a que é indiferente.
d) má interpretação do que acontecia.

«os velhos» (l. 13) são
a) vizinhos de Reis que habitualmente liam jornais.
b) os professores, nomeadamente o de Português.
c) Ricardo Reis e Fernando Pessoa.
d) grupo de habitantes do bairro atraídos pelo que acontecia.

«tudo isto» (l. 16) é
a) predicativo do sujeito.
b) sujeito.
c) complemento direto.
d) predicativo do complemento direto.

O forte de Almada disparava (l. 25)
a) ao serviço dos espanhóis.
b) pelo lado dos revoltosos.
c) contra os amotinados.
d) a favor dos franquistas.

O «senhor doutor» (l. 39) é
a) Fernando Pessoa.
b) um médico.
c) um brasileiro.
d) um cocó com estudos.

«Não vás ao mar Tonho» (l. 46) recupera
a) momento passado no Dona Maria.
b) conversa havida numa deambulação por Lisboa.
c) canção que Marcenda costumava cantar.
d) canção que Lídia costumava cantar.

«vespertinos» [= ‘jornais da tarde’] (l. 73), «jornal» (74), «títulos de primeira página» (74-75), «notícia» (75), «página central dupla» (75) «outros títulos» (75-76) concorrem para a coesão
a) referencial.
b) temporal.
c) lexical.
d) interfrásica.

«parado no meio da rua» (ll. 77-78) desempenha a função sintática de
a) complemento direto.
b) predicativo do sujeito.
c) modificador restritivo do nome.
d) modificador do grupo verbal.

As palavras sublinhadas em «Lídia andará à procura do irmão, ou está em casa da mãe, chorando ambas o grande e irreparável desgosto» (ll. 85-86) conferem à passagem
a) nexo explicativo.
b) sentido de posterioridade.
c) aceção de alternativa.
d) conotação de tristeza.

O quarto referido na l. 92 é o
a) de Lídia.
b) do Alto de Santa Catarina.
c) de Reis, no Hotel Bragança.
d) de Fernando Pessoa.

«nos» (l. 100) é
a) complemento indireto.
b) complemento direto.
c) sujeito.
d) complemento oblíquo.

«só tinha para uns meses» (l. 101) reporta-se a
a) tempo de Reis em Lisboa.
b) vida póstuma de Pessoa.
c) gravidez de Lídia.
d) garrafas de aguardente do poeta.

«The god of the labyrinth» (ll. 103-104) era livro
a) de Jorge Luis Borges.
b) escrito por personagem de conto de Pessoa.
c) escrito, supostamente, por Herbert Quain.
d) escrito por heterónimo de Pessoa.

O verbo auxiliar do complexo verbal «Devia ficar» (l. 105) tem valor
a) temporal de anterioridade.
b) modal deôntico.
c) modal epistémico.
d) modal apreciativo.

«Vamos» (l. 115), dito por Pessoa e replicado logo por Reis, vale como expressão deítica
a) pessoal.
b) temporal e espacial.
c) pessoal, temporal, espacial.
d) temporal.

«Diz o jornal que os presos foram levados primeiro para o Governo Civil» (ll. 83-84) — classifica quanto à função sintática o constituinte sublinhado:
a) ________________.

«Deixo o mundo aliviado de um enigma» (ll. 112-113) — classifica quanto à função sintática os dois constituintes sublinhados:
a) ________________;
b) ________________.

Classifica as orações em «Vim cá / para lhe dizer / que não tornaremos a ver-nos» (ll. 99-100):
a) ________________;
b) ________________;
c) ________________.

Classifica as orações sublinhadas em «Ricardo Reis subiu o nó da gravata, levantou-se, vestiu o casaco» (ll. 102-103):
a) ________________;
b) ________________.

Classifica as orações em «[A] leitura é a primeira virtude / que se perde» (ll. 109-110):
a) ________________;
b) ________________.


Nesta crónica, saída no fim de semana (Público, 14 de junho de 2020, p. 7), Miguel Esteves Cardoso é mais subtil do que a maioria dos que escreveram sobre o que aconteceu à estátua do Padre António Vieira no largo Trindade Coelho.
Comenta a posição de MEC, parágrafo a parágrafo, para poderes ires sintetizando — eventualmente, apreciando criticamente — a defesa que pretende fazer.
O cronista começa por salientar que a vandalização da estátua cai sob a alçada da justiça, como qualquer malfeitoria, e que outra medida óbvia já foi tomada, mandar remover os dizeres.
Depois, MEC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Classifica quanto à função sintática os constituintes sublinhados:
Anda estragar-me os planos
(Salvador Sobral)
Ah, faltam-me as saudades e os ciúmes, | ___________
Já tenho a minha conta de serões serenos,
Quero ir dançar. | ___________

Sei por onde vou, | ___________
É o melhor caminho,
Não deixo nada ao acaso; | c. direto | ___________
Por favor, anda trocar-me o passo.

Tenho uma rotina
Para todos os dias, | ___________
Há de durar muitos anos;
Por favor, anda estragar-me os planos. | ___________

Tira os livros da ordem certa,
Deixa a janela do quarto aberta, | c. direto | ___________
Faz-me esquecer que amanhã vou trabalhar. | ___________

Ah, faltam-me as saudades e os ciúmes,
tenho a minha conta de serões serenos, | ___________
Quero ir dançar.

Um, dois...
Ah, faltam-me as saudades e os ciúmes, | ___________
Já tenho a minha conta de serões serenos,
Tardes tontas, manhãs mecânicas, | ___________
Eu quero é ir dançar.
TPC — [para todos:] Completar tarefas que porventura lhes faltem no Classroom; [para os que vão a exame de Português:] Resolver à mão a composição de um grupo III que porei na aula distante, trazendo-ma na última aula presencial (prometo corrigir depois e enviar-lhes ainda o respetivo PDF); [para os que tenham livros meus:] Trazer-mos.





Aula 159 [29 da Quarentena] (19/jun [9.ª, 5.ª, 4.ª, 3.ª]) Ainda a propósito de estátuas derrubadas e a pensar sobretudo em quem goste de história, aconselho-lhes a primeira parte deste «E o resto é história», talvez os primeiros vinte minutos. Rui Ramos refere aí também as celebrações do terceiro centenário da morte de Camões (que são importantes para o contexto de «O sentimento dum ocidental», de Cesário Verde; mas a estátua de Camões é focada também em Os Maias, de Eça, e em O Ano da Morte de Ricardo Reis, de Saramago):
Queria deixar-lhes um bom exemplo da tarefa 16 da Quarentena, que devolvi recentemente:
A estátua de Fernando Pessoa prevalece no Chiado despovoado. [Frase simples]
Embora a pandemia da Covid-19 tenha forçado o refúgio da população portuguesa, a representação do poeta permanece imperturbável. [Subordinada adverbial concessiva + Subordinante]
Enquanto uma catástrofe devasta o país, Pessoa emerge como um símbolo de perseverança. [Subordinada adverbial temporal + Subordinante]
O poeta apresenta uma pose serena, encara as adversidades com lucidez e inspira confiança na superação desta calamidade. [Coordenada + Coordenada assindética + Coordenada copulativa]
O pânico domina a humanidade, mas a visão pessoana de um quinto império determina que o povo lusitano reconquistará a grandiosidade perdida. [Coordenada + Coordenada adversativa + Subordinada substantiva completiva]
Pessoa exige a elevação da nação portuguesa perante uma ameaça mundial. [Frase simples]
(Pedro, 12.º 4.ª)
Queria ainda deixar-lhe as regras de translineação, mostrando-lhes como se parte uma palavra quando se atinge a linha da margem. Muitos, para evitarem fazer a translineação, deixam imenso espaço vago antes de chegar à margem, trocando logo de linha. Não fica bem. Outros partem mal a palavra. Ora as regras a que se deve sujeitar essa partição são poucas. Ficam aqui inventariadas (fui buscá-las à Gramática Prática de Português (Lisboa, Raiz, 2014):

Continuando a retomar assuntos tratados na última aula presencial, tentarei explicar a seguir a estrutura da prova de Português. O vídeo ainda demora dezassete minutos. Não perca tempo com ele quem não vá a exame de Português. Os que vão a exame vejam-no. Mesmo assim há (i) aspetos que não estão definidos (vamos ainda perceber como vai ser; se souber, dir-lhes entretanto); (ii) aspetos de que não falei e de que podia já ter falado, mas que prefiro deixar para explicações posteriores. (Antecipo já um lapso meu no vídeo: digo a certa altura que os erros com desconto de dois pontos são os de sintaxe e de pontuação, mas queria dizer «os de sintaxe e propriedade lexical»; os erros de ortografia e de pontuação implicam desvalorização de um ponto — e já não é pouco!)
O resto da aula de hoje está sobretudo pensado para os de exame, mas queria que todos o seguissem. (O tepecê é que é já só para os que vão a exame de Português.)
Para se ter uma perspetiva de uma prova de exame inteira, resolvi, aproveitando trechos de provas sugeridas aqui e ali, dar-lhes uma prova seguida, criada assim de bocados diversos. No meu vídeo de há pouco esqueci-me de lembrar o tempo de uma prova de Português: duas horas + trinta minutos de tolerância (que devem aproveitar mesmo; peço-lhes que não saiam antes do tempo — vá lá, façam-me esse favor). De qualquer modo, não lhes peço que resolvam mesmo este modelo aqui criado. Darei as soluções das perguntas do grupo I; o grupo II é que procurarão fazer, lançando as respostas no Classroom (quando a tanto os chamar, durante o fim de semana); o grupo III é o tal tepecê que só farão os que forem a exame.
A prova que se segue é baseada numas do manual Palavras, 12 (de Maria João Pereira & Fernanda Belo Delindro; Porto, Areal, 2017), a quem peço desculpa deste roubo, com recortes e adaptações. As respostas aos itens do grupo I estão no final da aula; mas não deixes de pensar como os resolverias (os de exame deviam mesmo munir-se de papel e caneta e fazerem, ainda que não seja para me levarem). O grupo II deves resolvê-lo no Classroom quando fores a isso chamado, mas vai já anotando agora as respostas que darias. O grupo III será feito só pelos que vão a exame de Português e me levarão a sua solução para a aula presencial.
Grupo I
A
Lê o poema e consulta as notas.

1. A viagem representada no poema assume um caráter metafórico. Identifica os diferentes momentos dessa viagem.
2. Indica quatro características do sujeito poético.
3. Explicita o efeito de sentido resultante do discurso parentético na primeira estrofe.
4. Interpreta a importância dos dois últimos versos na construção do sentido do poema.
B
Lê estas estrofes da segunda parte de «O Sentimento dum Ocidental», de Cesário Verde.

5. Mostra como a descrição da cidade contribui para o contraste entre o tempo passado e o presente.
6. Explicita a intenção crítica do sujeito poético.
C
7. «Elemento de ligação entre o passado e a certeza adivinhada do futuro, o mar é o símbolo do ser-se português."
Artur Veríssimo, Dicionário de Mensagem, Porto: Areal, 2000, p. 80.
Fazendo apelo à tua experiência de leitura de Os Lusíadas e Mensagem, escreve uma exposição sobre a relevância do mar nestas duas obras literárias.
A sua exposição deve incluir:
uma introdução ao tema;
um desenvolvimento no qual explicite, para cada uma das obras, uma característica que permita perceber a importância do mar em Os Lusíadas e em Mensagem, fundamentando as características apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das obras;
uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
Grupo II
Lê o texto. [Normalmente, neste grupo haveria só sete itens; ficam dez, no entanto, para que no Classroom o questionário tenha dez perguntas. Aí adaptarei as últimas perguntas a escolhas múltiplas, mas olhem que nas provas são de escrita mesmo.]

1. Este texto tem como principal intenção comunicativa
a) expor informação objetiva sobre a pesca bacalhoeira.
b) veicular informação de caráter social sobre a atividade da pesca longínqua.
c) apresentar uma opinião fundamentada sobre a pesca na Terra Nova.
d) expor uma opinião sobre o trabalho dos pescadores portugueses no Atlântico Noroeste.
2. Joana Princesa é o nome
a) do navio que Pepe Brix descreveu durante três meses e meio.
b) de um dos navios sobreviventes da pesca bacalhoeira.
c) de um barco de cruzeiro.
d) do navio que deu notoriedade ao trabalho de Pepe Brix.
3. A pesca na Terra Nova inicia-se
a) no ano de 1497.
b) por razões políticas e económicas.
c) por causa de um aumento significativo de consumo de peixe na Europa.
d) por iniciativa de Giovanni Caboto.
4. A expressão «tremendas odisseias» (l. 13) valoriza
a) o trabalho dos pescadores na Terra Nova.
b) a ousadia dos pescadores portugueses na Terra Nova.
c) os acontecimentos trágicos e variados enfrentados pelos pescadores portugueses.
d) a coragem do genovês Caboto.
5. A expressão «com o coração nas mãos» (l. 20) evidencia
a) a angústia das tripulações portuguesas.
b) a amizade que unia as tripulações portuguesas.
c) a insensibilidade dos portugueses.
d) a devoção das tripulações portuguesas.
6. 0 segmento «A pesca longínqua entrava agora numa nova fase» (ll. 28-29) estabelece com o momento presente
a) uma relação de simultaneidade.
b) uma relação de posteridade.
c) uma relação de oposição.
d) uma relação de anterioridade.
7. No excerto «Hoje, (...) esses corajosos pescadores (...) continuam a prescindir do conforto das suas casas.» (ll. 30-32) está presente a modalidade
a) epistémica com valor de certeza.
b) apreciativa.
c) epistêmica com valor de probabilidade.
d) deôntica com valor de permissão.
8. Identifica a função sintática da expressão sublinhada em «demanda do peixe» (l. 7).
9. Classifica a oração «que existia entre os pequenos botes empilhados» (l. 18).
10. Identifica o referente do pronome presente em «que experimentaram a fragilidade desses botes» (ll. 23-24).
Grupo III
[Num exame há apenas um tema. Aqui, deixo duas alternativas, farás a que prefiras. Como dissera, esta parte é só para os que vão a exame. É o tepecê]
Hipótese 1
O mar é um local de incertezas, de perigos, de morte; é também fonte de sedução e de prazer.
Redige um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras, em que defendas o teu ponto de vista sobre a ideia exposta. Para fundamentares a tua perspetiva, recorre a dois argumentos, ilustrando cada um deles com um exemplo significativo.
Hipótese 2
Mudar de cidade é, para muitas pessoas, uma necessidade, um prazer, um fator imprescindível para o cumprimento dos seus objetivos pessoais e profissionais.
Redige um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras, em que defendas o teu ponto de vista sobre a ideia exposta.
Para fundamentares o teu ponto de vista, recorre a dois argumentos, ilustrando cada um deles com um exemplo significativo.
Soluções para Grupo I
1. A viagem pode ser entendida como uma metá­fora da vida humana.
Antes da viagem, temos preparativos do barco (vv. 1-2) e partida apressada do «cais» (vv. 12-13), isto é, o «eu» toma a decisão de iniciar a «aventura da vida».
Depois, há a navegação em pleno mar (vv. 14-18), durante a qual o sujeito corta as «ondas», lutando com determinação contra as adversidades da vida, de modo a concretizar os objetivos do seu percurso pessoal.
2. O sujeito poético é:
sonhador (vv. 1-3 e 5-11); acredita no «sonho» de uma vida durante a qual procura o «velho paraíso» perdido, para alcançar a felicidade plena;
insatisfeito (v. 13); rejeita um modelo de vida em que a paz é «tolhida»;
determinado (vv. 3 e 15-18); apesar das adversidades, persiste na concretização do seu objetivo;
lúcido (vv. 16-17); a existência humana é efémera, por isso não há lugar para ilusões;
aventureiro (vv. 19-20); enfrenta a incerteza e o risco.
3. O discurso parentético constitui um aparte no relato do percurso da «viagem» e introduz um momento de reflexão em que o «eu» apresenta os fundamentos da sua atitude, enquanto regra de vida que pretende generalizada a toda a humanidade. 0 ser humano deve lutar pela felicidade absoluta, consciente de que a vida que nos é «concedida» é única e muito curta. Os parênteses destacam a importância desta tese no poema, aquela que está na base da sua atitude.
4. Os dois últimos versos congregam as ideias já apresentadas anteriormente. De facto, o «eu» salienta que em «qualquer aventura» se deve privilegiar a busca e não a chegada, isto é, vale a pena procurar, mesmo que não se alcance o ob­jetivo. Mesmo consciente de que a morte é inevitável (vv. 15-17), o sujeito persiste na procura do sonho como se fosse essa demanda que con­fere o verdadeiro sentido à existência humana.
5. O contraste entre os dois tempos põe em evidência a grandiosidade do passado e a vulgaridade do presente. De facto, o ambiente citadino que o sujeito descreve enquanto deambula apresenta-se como um espaço trivial, um «recin­to público e vulgar, / Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras», contrastando com a estátua de Camões, «Um épico de outrora» com «proporções guerreiras», que ascende de forma «monumental». Percebe-se aqui uma clara alusão aos Descobrimentos, um tempo de grandeza e riqueza, e ao papel de Camões no engrandecimento dos portugueses, por oposição ao presente triste e medíocre.
6. O sujeito poético apresenta uma clara intenção crítica face a alguns setores da sociedade. Efetivamente, denuncia a desigualdade social em «Inflama-se um palácio em face de um casebre», a repressão dos mem­bros do clero através das expressões «a nódoa negra e fúnebre do clero» e o «inquisidor severo», e a repressão militar em «Partem patrulhas de cavalaria» e «A pé, outras, (...) derramam-se por toda a capital».
7. Tanto em Os Lusíadas como em Mensagem, são enaltecidos os feitos dos portugueses que, no passado, os levaram à construção de um grande império territorial.
Efetivamente, em Os Lusíadas, a insatisfação humana e a procura do desconhecido, características evidenciadas pelo povo português, permitiram alcançar os objetivos de Portugal — a chegada à Índia por mar. O mar espelha, assim, o português desvendador e dominador de mundos. Do mesmo modo, o mar «sagrado português» sur­ge como símbolo da ação e de toda a procura em Mensagem. Mas, a partir da aventura temporal que foram as Descobertas, traça-se um plano para o futuro, o da aventura espiritual e transcendente. A construção de um novo Império, espiritual e cultural, permitirá repor os valores patrióticos, tendo os portugueses uma missão a cumprir.
Concluindo, o mar faz a ligação passado-futuro, na medida em que o sucesso das Descobertas se apresenta como um ensinamento para o futu­ro. Mensagem inspira-se na aventura temporal para propor uma outra. uma aventura de natureza espiritual porque falta «cumprir Portugal».

TPC — Para os de exame: leva para a aula presencial a tua solução para o grupo III. (Entretanto, em breve todos serão chamados a resolver no Classroom o questionário que constituía o grupo II.)




Aula 160-161 [30 da Quarentena; desconfinada 6] (23 [9.ª], 24 [5.ª], 25 [4.ª], 6/jun [3.ª]) Sobre trabalhos diversos (correções); cfr. Apresentação.
Correção do questionário sobre «A Partida» (cfr. Apresentação).
[Repito tarefa do 11.º ano, aula 25-26:]
Transcrevi algumas frases da apresentação de Bruno Nogueira em O último a sair. Se as palavras sublinhadas forem deíticos, marca-as com E(spacial), T(emporal) ou P(essoal).
Eu sou o Bruno Nogueira e este é o meu mundo.
Como é que eu me defino? Humilde, muito humilde.
Conhecias a palavra? É espanhol.
O meu maior defeito é ser um coração de manteiga e as pessoas aproveitarem-se disso.
O meu padrinho, na noite de Páscoa, chamou-me para eu ir à despensa, para ver se havia um busca-polos.
Este é o meu quarto. / Todas as semanas, trago um idoso de um lar. / Andor.
Identifica o valor temporal, aspetual ou modal dos segmentos sublinhados:
Minha mãe está sempre certa
(Os Quatro e Meia)

Completa a tabela. (Na coluna da esquerda, a sobre a obra de José Saramago, uso vários trechos tirados do manual Entre Nós e as Palavras, de Alexandre Dias Pinto e Patrícia Nunes.)

Completa (em geral, com termos de narratologia ou com nomes de personagens):

Antes dos exames — Durante a semana que vem irei pondo no blogue o que pense ser útil para os que vão a exame (cfr. Cábulas para exame). Mas devem ir aproveitando para, com o que têm (manuais dos três anos, folhas nossas, o que já está no blogue), relembrar ou melhorar matérias. Também nessa semana antes da do exame devolverei corrigida a dissertação de grupo III que me trouxeram. E posso ir esclarecendo por mail dúvidas (concretas!) que me ponham.



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