Tepecê da aula 121-122
TPC — Prepara a leitura em voz alta destas estâncias do canto III, bem como a das estâncias na
p. 182 do manual. É importante também que vás trazendo agora esta folha.
(Todas
as leituras anteriores, ainda que já aproveitadas em aula, são suscetíveis de
serem de novo pedidas — porém, sempre aos clubes a que já tinham sido
encomendadas.)
138 Do justo e duro Pedro nasce o brando
(Vede
da natureza o desconcerto!),
Remisso
e sem cuidado algum, Fernando,
Que
todo o Reino pôs em muito aperto;
Que,
vindo o Castelhano devastando
As
terras sem defesa, esteve perto
De
destruir-se o Reino totalmente,
Que um
fraco Rei faz fraca a forte gente.
139 Ou foi castigo claro do pecado
De
tirar Lianor a seu marido
E
casar-se com ela, de enlevado
Num
falso parecer mal entendido;
Ou foi
que o coração, sujeito e dado
Ao
vício vil, de quem se viu rendido,
Mole
se fez e fraco; e bem parece
Que um
baxo amor os fortes enfraquece.
[...]
142 Mas quem pode livrar-se, porventura,
Dos
laços que Amor arma brandamente
Entre
as rosas e a neve humana pura,
O ouro
e o alabastro transparente?
Quem,
de ũa peregrina fermosura,
De um
vulto de Medusa propriamente,
Que o
coração converte que tem preso,
Em
pedra, não, mas em desejo aceso?
143 Quem viu um olhar seguro, um gesto brando,
ũa suave e angélica excelência,
Que em
si está sempre as almas transformando,
Que
tivesse contra ela resistência?
Desculpado
por certo está Fernando,
Para
quem tem de amor experiência;
Mas
antes, tendo livre a fantasia,
Por
muito mais culpado o julgaria.
Luís de Camões, Os Lusíadas, edição organizada por António José Saraiva,
Lisboa, Figueirinhas, 2006 (3.ª ed.)
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