Sunday, August 28, 2016

Tepecê da aula 121-122



            TPC — Prepara a leitura em voz alta destas estâncias do canto III, bem como a das estâncias na p. 182 do manual. É importante também que vás trazendo agora esta folha.
            (Todas as leituras anteriores, ainda que já aproveitadas em aula, são suscetíveis de serem de novo pedidas — porém, sempre aos clubes a que já tinham sido encomendadas.)


138       Do justo e duro Pedro nasce o brando
(Vede da natureza o desconcerto!),
Remisso e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto;
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente,
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.

139       Ou foi castigo claro do pecado
De tirar Lianor a seu marido
E casar-se com ela, de enlevado
Num falso parecer mal entendido;
Ou foi que o coração, sujeito e dado
Ao vício vil, de quem se viu rendido,
Mole se fez e fraco; e bem parece
Que um baxo amor os fortes enfraquece.

[...]

142       Mas quem pode livrar-se, porventura,
Dos laços que Amor arma brandamente
Entre as rosas e a neve humana pura,
O ouro e o alabastro transparente?
Quem, de ũa peregrina fermosura,
De um vulto de Medusa propriamente,
Que o coração converte que tem preso,
Em pedra, não, mas em desejo aceso?

143       Quem viu um olhar seguro, um gesto brando,
ũa suave e angélica excelência,
Que em si está sempre as almas transformando,
Que tivesse contra ela resistência?
Desculpado por certo está Fernando,
Para quem tem de amor experiência;
Mas antes, tendo livre a fantasia,
Por muito mais culpado o julgaria.


Luís de Camões, Os Lusíadas, edição organizada por António José Saraiva, Lisboa, Figueirinhas, 2006 (3.ª ed.)