Aula 36-37
Aula 36-37 (4 [1.ª, 2.ª], 6/nov [3.ª]) Correções (textos inspirados nas bandas sonoras).
compromisso — egoisticamente — paralelismos — natural —
quietismo — desvalorizar — apóstrofe — sofrimento — renovação — interrogação —
indiferença — distante — vida — confidente — classicizante — flores —
epicurista — imperturbável — preocupações — fluir
O poeta revela-se inclinado à _____, ao apagamento, ao _____, à ausência de _____ com o que quer que seja, à
rejeição do não ______. Ele exercita-se na arte de ser «aquele a quem já nada importa».
«As outras coisas
que os humanos / Acrescentam à vida» (vv.
13-14) opõem-se aqui ao que é natural, representado pelas _____ de gosto
clássico — as rosas (que o poeta prefere — v. 1) e as magnólias (que o poeta
ama — v. 2) —, pelo passar da _____ sem deixar marcas nem comprometer (notar os
_____ de construção ao gosto clássico — «Logo que a vida» / «Que a vida»
/ «Logo que», vv. 4 a 6), pelo raiar da
aurora (v. 9), pelo aparecer das flores, cada ano, com a primavera (símbolo da
______ — vv. 10-11) e pelo seu desaparecer com o outono (símbolo da
negatividade e do ______ do tempo — v. 12).
Essas outras coisas não naturais nada «aumentam na
alma» do poeta (notar a ______
retórica do v. 15) em termos positivos. Elas são o sentido de pátria (notar o
grafismo em minúscula para ______ a importância da «pátria» — v. 1 —, com tudo o que «pátria» significa a nível coletivo e individual), a busca da glória e
da virtude (v. 3 — que não deixam de ser mais preocupações), a ambição do poder
e do fazer prevalecer _______ os próprios caprichos («Que um perca e
outro vença» — v. 8).
Tudo isto, que só traz ao poeta «o desejo de
indif’rença» (v. 16 — notar a grafia
______ do termo) «e a confiança mole / Na hora fugitiva» (vv. 17-18), nada lhe acrescenta. Ele só deseja manter-se
sereno e ______, esperando que a passagem do tempo (a «hora fugitiva») se processe sem ______ («mole» — v. 17).
O destinatário do poema — o «meu amor» (v. 1) — assume aqui o papel de ______, e exprime a ideia de
solidão e intimismo. O poeta dirige-se-lhe (notar a ______ do v. 1,
encontrando-se o vocativo intercalado na frase, ao gosto clássico).
Apesar de referir esse interlocutor, Reis mostra aqui aspirar
a um ideal contemplativo (marca ______) e ser nada inclinado à comunicação
direta autêntica. Ele dirige-se ao seu amor mas não institui com ele quaisquer
laços, antes se mostra ______. O que ele pretende instituir é uma filosofia de
vida que lhe permita atravessar a existência sem _____.
Lino Moreira da Silva, Do Texto à Leitura
(Metodologia da Abordagem Textual) Com a Aplicação à Obra de Fernando Pessoa, Porto, Porto Editora, 1989 (adaptado)
[Tarefa retirada do manual Expressões.
12.º ano, Porto, Porto Editora, 2012]
Vem sentar-te comigo,
vamos não fazer nada
Viver no sofá e ver o dia
passar
Entre séries e filmes,
queijo e marmelada
Mimos e memes, e o resto
deixa p’ra lá
Vem viver numa quinta onde
só haja domingo
No campo respira-se melhor
Não falte vinho ou
lareira, e isto uma vida inteira
Seja lá o tempo que isso
for
E fazer da cama um
castelo, e do ócio profissão
Partilha-me o teu novelo,
que eu guardo-o bem na minha mão
Erguer um forte com
mantas, viver em roupa interior
Acordarmos às tantas,
dormir sem despertador
E, se for assim, eu nem
desgosto do amor
Vem deitar-te comigo, em
baixo e em cima de mim
Que esta corrida ganhas tu
E só saímos da cama quando
nos der na gana
Depois voltamos para o
round two
Anda para o meu lado, vem
dançar um bocado
Que com três copos sou o
Fred Astaire
Vem, aperta-me os braços,
que eu conto os compassos
Vem ser a minha mulher, se
for para
Fazer da cama um castelo,
e do ócio profissão
Partilhar o teu novelo,
guardá-lo bem na minha mão
Erguer um forte com
mantas, viver em roupa interior
Acordarmos às tantas,
dormir sem despertador
E, se for assim, eu nem
desgosto do amor
Nuno Lanhoso, Mitos
e Nicolaus, 2022
A canção «Nem desgosto do amor» (cfr. p. 68), de Nuno Fanhoso, cuja letra transcrevi
em cima, ainda que tenha um v. 1 anafórico de «Vem sentar-te comigo, Lídia, à
beira do rio» (p. 68), não revela a exata perspetiva assumida na ode de Ricardo Reis. Desenvolve esta ideia.
Mais do que te reportares especificamente a esta ode, podes focar-te na
filosofia de Ricardo Reis genericamente:
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . .
[A copiar:]
Ainda que tenha em comum com a ode de Reis o convite feito
pelo sujeito poético a uma mulher, a letra da canção de Lanhoso não adota a
atitude de abdicação, conformista, de absoluta cedência ao que o destino
disponha, típica do estoicismo de Ricardo Reis. Embora se comece por uma
aparente renúncia à proatividade («vamos não fazer nada», v. 1), seguem-se
depois apelos a uma fruição incontida, que tem pouco que ver com a moderação do
epicurismo-estoico («voltamos para o round two», v. 17; «acordarmos às tantas»,
v. 12; «com três copos sou o Fred Astaire», v. 19).
Antes de vermos mais um trecho de Clube dos Poetas Mortos, de Peter Weir, atentemos no poema de Walt
Whitman (1819-1892), «O Captain! my Captain!», que o protagonista,
John Keating, citava logo na sua apresentação aos alunos. Logo perceberemos
como Álvaro de Campos e os futuristas foram influenciados pelo
poeta americano — já para não falar dos poetas da geração beat, como Allen Ginsberg, que conhecemos de Howl (1956).
Ó CAPITÃO! MEU CAPITÃO!
Ó capitão! meu capitão! terminou a nossa terrível viagem,
O navio resistiu a todas as
tormentas, o prémio que buscávamos está ganho,
O porto está próximo, oiço
os sinos, toda a gente está exultante,
Enquanto seguem com os
olhos a firme quilha, o ameaçador e temerário navio;
Mas, oh coração! coração! coração!
Oh as gotas vermelhas e sangrentas,
Onde no convés o meu
capitão jaz,
Tombado,
frio e morto.
Ó capitão! meu capitão!
ergue-te e ouve os sinos;
Ergue-te — a bandeira
agita-se por ti, o cornetim vibra por ti;
Para ti ramos de flores e
grinaldas guarnecidas com fitas — para ti as multidões nas praias,
Chamam por ti, as massas
agitam-se, os seus rostos ansiosos voltam-se;
Aqui capitão! querido pai!
Passo o braço por baixo da tua cabeça!
Não passa de um sonho
que, no convés,
Tenhas
tombado frio e morto.
O meu capitão não responde, os seus lábios estão pálidos e imóveis,
O meu pai não sente o meu braço, não tem pulso nem vontade,
O navio ancorou são e
salvo, a viagem terminou e está concluída,
O navio vitorioso chega da
terrível viagem com o objectivo ganho:
Exultai, ó praias, e tocai, ó sinos!
Mas eu com um passo desolado,
Caminho no convés onde
jaz o meu capitão,
Tombado,
frio e morto.
Walt Whitman, Folhas de Erva [Leaves of Grass, 1855], II, trad. de
Maria de Lourdes Guimarães, Lisboa, Relógio D’Água, 2002, p. 599
Ainda antes de falar aos seus alunos em Walt Whitman,
Keating aludira a um verso do poeta romano Horácio (65 a.C.-8 a.C.), onde se
lê, em latim, carpe diem (que
podemos traduzir por ‘goza o dia’, ‘colhe o dia’, ‘desfruta do presente’). A
ode completa é esta (destaquei a negro o passo que interessa mais):
Tu não perguntes (é-nos
proibido pelos deuses saber) que fim a mim, a ti,
os deuses deram, Leucónoe,
nem ensaies cálculos babilónicos.
Como é melhor suportar o
que quer que o futuro reserve,
quer Júpiter muitos
invernos nos tenha concedido, quer um último,
este que agora o tirreno
mar quebranta ante os rochedos que se lhe opõem.
Sê sensata, decanta o
vinho, e faz de uma longa esperança
um breve momento. Enquanto
falamos, já invejoso terá fugido o tempo:
colhe cada
dia, confiando o menos
possível no amanhã.
[Horácio, ode 11 do Livro I, Odes, tradução de Pedro Braga Falcão, Lisboa, Cotovia, 2008, p. 69]
O sentido horaciano de «colhe o dia» (carpe diem) é talvez mais conformista, mais passivo, do que
aquele que sairá da interpretação comum do filme. Note-se, no último verso, o
‘confiando o menos possível no amanhã’. O sentido que lhe daria Ricardo Reis, e
à filosofia epicurista, seria, naturalmente, o antigo, o clássico.
O filme citara antes o poema inglês — de Robert Herrick
(1591-1674) — «To the Virgins, to Make Much of Time», em que se defende, a
partir do exemplo da efemeridade das rosas, que devemos aproveitar a juventude,
porque a vida é breve. Também neste passo se tratava de uma ideia comum ao epicurismo-estoicismo de Ricardo Reis.
Lê este poema do patrono da nossa escola, José Gomes Ferreira
(1900-1985):
Vive em cada minuto
a tua eternidade
— sem luto
nem saudade.
Vive-a pleno e forte
num frenesim
de arremesso.
Para que a tua morte
seja sempre um fim
e nunca um começo.
José Gomes Ferreira, Poeta
Militante, I, 3.ª ed., Lisboa,
Moraes Editores, 1977
Num comentário, compara-o com a ode de Reis «Cada um cumpre o
destino que lhe cumpre» (p. 77), procurando distinguir e/ou aproximar a
«filosofia» de cada poema.
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
TPC — Lê em Gaveta de Nuvens soluções das fichas 2 e
3 do Caderno de atividades, sobre
Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Estes trabalhos são para ser feitos com mais
estoicismo (neste caso, alguma abnegação) do que epicurismo (sei lá como colhem
o dia).
#
Português / 12.º 1.ª; 12.º 2.ª; 12.º 3.ª / Escola Secundária José Gomes Ferreira / 2025-2026
(O nome do blogue aproveita título de um livro do patrono da escola.)
<< Home