Monday, September 09, 2024

Aulas (121-...)

Aula 121 (8/abr [3.ª]) Correção do comentário sobre «desimportantizar» e O’Neill:

«Desimportantizar» é um neologismo, decerto criado pelo próprio O’Neill, que não enjeitava brincar com a gramática.

Percebe-se que o processo de formação, que é de derivação, decorreu a dois tempos. «Importantizar» faz apelo ao sufixo verbal «-izar», que significa ‘tornar’. Com esta palavra derivada por sufixação O’Neill troçava dos que gostam de se fazer importantes, de se valorizar artificialmente. O prefixo «des-» tem sentido negativo, atribuível àquele que desfaz ou rejeita.

Enfim, o poeta reivindica para a sua escrita a intenção de lhe retirar os enfeites, as joias, de a fazer mais lhana (e talvez também mais ridicularizadora dos que se importantizam).

Último a sair, poemas  (a partir do minuto 29 até ao minuto 41)

Poemas de Último a sair

Roberto Leal

A vida é como um rio que desagua para o mar, que é a poesia.

 

Pelas mãos de minha mãezinha

Andei nos tempos então;

Hoje, como está velhinha,

É ela que anda p’la minha

E faz a minha obrigação.

 

Endoscopia da alma

O meu peito é feito de luz e brilho

E ontem encontrei um sinal nas costas.

Ninguém sabia se era maligno,

Começou tudo a fazer apostas.

 

A minha alma estava doente

E as minhas costas, não.

Ai que feliz de mim

E qualquer coisa que rime com ão.

 

Luciana Abreu

Havia uma velha na rua a correr

Com uma lata no cu a bater.

Quanto mais a velha corria,

Mais a lata no cu lhe batia.

 

Feijoada de ternura

Estava eu a apanhar sol,

Estavas tu no sol a apanhar.

Veio chuva e veio o sol

Estavas tua na chuva a apanhar

 

Se eu soubesse o que sei hoje,

Talvez tivesse vindo mais cedo.

Assim, não vim mais cedo,

E fiquei a fazer a feijoada de ternura.

 

Bruno Nogueira

Gosto da minha mãe.

 

Ganso daltónico

Ai, um ganso daltónico,

Ai, um ganso pateta,

Porque és daltónico,

Meu ganso pateta?

 

Se Albufeira é assim um bocado nhnhrhhihn,

Matei uma criança cheia de sarampo

E enterrei-a ao lado do primo Joel.

 

Este bife está mal passado, sr. Antunes,

E o robalo não está fresco, seu ganso daltónico.

Neste episódio de Último a sair, os poemas escritos pelas personagens (sim, são personagens: os atores estão a representar uma personagem que foi criada para fingir corresponder a eles mesmos mas que é obviamente fictícia) parodiam a má poesia. Porém, algumas das características escolhidas para construir esta caricatura da poesia são comuns a características encontráveis quer na boa poesia realista quer no modernismo.

Num comentário breve, aproxima certas características de poemas (ou de algum dos poemas) de Último a sair da escrita de Álvaro de Campos.

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Classifica quanto à função sintática os segmentos sublinhados

Antes Dela [aliás, porque não pode haver contração: de ela] Dizer Que Sim (Bárbara Tinoco)

 

Ele não sabe o nome dela

Tem medo de perguntar

Ela é como atriz de novela | ______________

Que ele gosta de ver sonhar

 

Ela não sabe o nome dele

Tem medo de perguntar

E, se as promessas coradas | ______________

Foram bebida a falar,

 

E ele não contou

Mas ela não escondeu

Com quem a noite passou, | ______________

Jura ela o seu Romeu

 

Ele quer mais

Ela também

Talvez por isso nesse dia

Ele foi vê-la à luz do dia | ______________

 

Ele gosta das formas dela | ______________

E ela diz que ele tem bom ar

O mundo finge não saber | ______________

Que ele não é rapaz de fiar

 

Ela tem um novo sorriso

Mas medo de o partilhar | ______________

Ele gosta mais do que é preciso

De a desafiar

 

Ele, que sabia de cor | ______________

As moças mais fáceis,

Engates mais rascas;

 

Ela, que ficava em casa fechada | ______________

Com medo de ser

Só mais um rabo de saias;

 

Ele agora diz que a ama, | ______________

Dormem juntos só a dormir

Gosta dela de pijama

E ela de o corrigir…

Ela agora diz que o ama,

Dormem juntos só a dormir,

Gosta dele desarmado,

E ele de a ver despir.

 

E as velhinhas, na cidade,

Sussuram no meu tempo não era assim,

Oh onde já se viu dois enamorados,

Com cara de parvos,

Antes de ela dizer que sim.

 

Mas ele ainda se lembra,

De descer aquelas escadas,

Ganhar coragem, perguntar,

E como raio tu te chamas.

Ela fingiu-se de irritada,

Ofendida pela trama, | ______________

Reuniu coragem para o amar, | ______________

Perguntou e tu como raio te chamas.

 

 

 

Aula 122-123 (22 [4.ª], 24/abr [1.ª, 3.ª]) Compreensão de trecho sobre rémora em A eloquência da sardinha, através de escolha de sinónimos.

Escolhe — circundando-a — a palavra que, no contexto em causa, seria o melhor sinónimo da palavra usada em A eloquência da sardinha (não contes com as possíveis diferenças de género ou com implicações na preposição que se lhe segue).

Este diálogo é uma arte que se perdeu. Provavelmente, nunca ninguém estabeleceu um verdadeiro diálogo com os animais marinhos, como fazemos entre humanos. No entanto, muitos dos nossos antepassados dominavam certamente algumas facetas desse diálogo, na época em que as suas existências eram indissociáveis dos ecossistemas naturais. Alguns excertos dessas conivências sobreviveram até aos nossos dias e constituem uma prova de que um dia será possível reatar esses contactos.

A civilização dos aborígenes australianos perdurou por quarenta mil anos. Este povo teve tempo para tecer com a natureza uma relação estreita e profundamente misteriosa. Entre os mistérios das suas técnicas esquecidas, os aborígenes eram capazes de conversar com a rémora, esse peixe-ventosa com quem já nos cruzámos anteriormente, quando Plínio o presumiu culpado de abrandar os navios.

Desde a «descoberta» da Austrália pelos europeus, inúmeros exploradores descreveram uma técnica de pesca original utilizada pelos aborígenes do estreito de Torres. Para capturar tartarugas, tubarões e peixes de grande porte, recorriam à ajuda de uma rémora, presa pela extremidade de uma fina corda. Os pescadores aproximavam-se lentamente da presa, a bordo de uma piroga semialagada de água, onde estavam mergulhadas as rémoras, fixadas ao fundo do casco graças às suas ventosas dorsais. Quando avistavam uma tartaruga ou um tubarão, os aborígenes descolavam a rémora do casco e atiravam-na delicadamente pela borda fora. Esta começava a nadar discretamente, ganhava a confiança do tubarão ou da tartaruga e fixava-se a eles com a sua ventosa, como é hábito fazerem na natureza. Então, os aborígenes iam puxando progressivamente o fio. A rémora não largava a presa; pelo contrário, recuava, para reforçar a aderência da ventosa. A presa caía na armadilha. Alguns exploradores ingleses contavam que a rémora chegava mesmo a puxar o fio para avisar, como num telégrafo, que a presa estava prestes a mergulhar energicamente nas profundezas, sendo por isso necessário dar-lhe mais fio. Era tanta a cumplicidade entre humanos e rémoras que, se o fio se partisse, a rémora voltava geralmente a fixar-se ao barco. Entre duas saídas para o mar, a rémora era colocada numa bacia de água límpida, e era alimentada diariamente. Graças a este método, os pescadores conseguiam capturar tartarugas, tubarões e uma grande variedade de peixes de grande porte.

Os recursos nunca foram ameaçados por esta pesca tradicional: as tradições aborígenes impunham quotas de pesca de forma natural, reservando o consumo de cada espécie a uma fase da vida. A carne dos grandes animais marinhos era destinada às pessoas idosas. Desta forma, as tribos evitavam a sobrepesca destas espécies, de reprodução lenta, mas também a intoxicação por mercúrio, que, acumulado pelos grandes predadores, é nefasto para os jovens e para as mulheres grávidas.

Os relatos dos exploradores sobre a pesca com rémora pareciam demasiado fantasiosos para serem verdadeiros aos olhos dos sábios da metrópole. No entanto, todos os nave­gadores descreviam rigorosamente a mesma técnica, com numerosas ilustrações e pormenores. E esta técnica também era utilizada fora da Austrália, pelos quatro cantos do mundo. Cristóvão Colombo foi o primeiro a mencioná-la, onde pensava serem as Índias; feitos similares foram relatados em todo o golfo das Caraíbas, em Cuba e também na Jamaica. Commerson observou-a em Moçambique em 1829, e o cônsul britânico Holmwood em Zanzibar em 1881. Mas as populações que detinham esta arte foram desaparecendo pouco a pouco; as suas culturas e as suas tradições perderam-se com o contacto com o Ocidente.

Em 1905, o sábio britânico Holder quis verificar ele próprio o método e capturar uma tartaruga ou um tubarão com a ajuda de uma rémora. Inspirou-se nas várias informações e descrições técnicas e tentou a sua sorte nos recifes coralinos de Cuba. Mas, a cada tentativa, a rémora limitava-se a fazer o que bem lhe apetecia. Umas vezes, simplesmente não nadava em direção à presa, outras colava-se a ela, mas, ao menor puxão do fio, largava-a, ou então adotava uma atitude de fuga, o que aguçava o apetite do tubarão, que a engolia de um só trago. Foi um fracasso. Holder concluiu que os aborígenes e os outros povos detinham certamente os segredos que lhes permitiam a pesca com a rémora, nomeadamente a forma como encorajavam a rémora a colaborar com eles e a prendiam ao fio sem que ela sentisse isso como um entrave à sua liberdade. Sugeriu que o melhor seria aprofundar o estudo da técnica antes de tentar de novo a experiência. Mas ninguém teve a oportunidade de tornar a pô-la em prática. A arte da pesca com a rémora, tradicional e difícil de reproduzir, perdeu-se com o surgimento das técnicas modernas. Os etnólogos observaram esta prática até aos anos oitenta em tribos isoladas. Mas nenhum deles pôde descrever ou entender o segredo do diálogo com a rémora, a forma de lhe pedir ajuda, de conquistar a sua confiança. Esse segredo estava certamente escondido entre os múltiplos ritos que envolviam a pesca, dissimulado numa das canções mágicas ou danças tradicionais, e transmitido unicamente por tradição oral como uma história. Hoje, já ninguém sabe falar com as rémoras.

Bill François, A Eloquência da Sardinha. Histórias extraordinárias do mundo submarino, tradução de Sandra Silva, Lisboa, Quetzal, 2021, pp. 147-150 (negros são meus)

diálogo || conversa | fala | oaristo | colóquio | entretenimento

faceta || rosto | cara | aspeto | vulto | fronte

conivência || conluio | cumplicidade | mancomunação | acordo

tecer || enfeitar | entabular | adornar | entrelaçar | matizar | ornar

culpado || réu | pecador | delinquente | acusável | criminoso

estreito || curto | delgado | canal | vínculo | acanhado | aperto | conciso

casco || miolos | inteligência | crânio | armação | cabeça

discretamente || ajuizadamente | cordatamente | engenhosamente | mudamente

reforçar || corroborar | restaurar | guarnecer | reanimar | refrescar | intensificar

fio || linha | telefone | viveza | agudeza | contexto

fixar || decorar | pegar | marcar | concentrar | coagular

límpida || fresca | inocente | ingénua | pura | cristalina

porte || atitude | tamanho | comportamento | transporte

quotas || quinhões | partes | prestações | importâncias

nefasto || fatal | triste| trágico | nocivo | duro

exploradores || especuladores | sanguessugas | aventureiros | espiões

arte || cautela | índole | profissão | perícia | feitio

inspirou || fundou | meteu | entusiasmou | bafejou

aguçava || afiava | adelgaçava | afunilava | estimulava

dissimulado || astuto | sonso | oculto | falso

No Sermão de Santo António — costuma acrescentar-se «aos peixes» para o distinguir de outros sermões de Santo António do Padre António Vieira —, a rémora aparece quer como peixe repreendido quer como peixe louvado.

No capítulo III, sob o seu exato nome, é elogiada por ______________; no capítulo V, integrada nos [peixes] pegadores, é verberada por se aproveitar do peixe maior (exemplificando os defeitos humanos de _________________).

Vejamos trechos da parte da rémora no capítulo III:

 

(ver a partir de 19:50)

Passando dos da Escritura aos da História natural, quem haverá que não louve, e admire muito a virtude tão celebrada da Rémora? No dia de um Santo Menor, os peixes menores devem preferir aos outros. Quem haverá, digo, que não admire a virtude daquele peixezinho tão pequeno no corpo e tão grande na força, e no poder, que não sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma Nau da Índia, apesar das velas, e dos ventos, e de seu próprio peso, e grandeza, a prende, e amarra mais, que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante? Oh se houvera uma Rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo! Se alguma rémora houve na terra, foi a língua de Santo António, na qual como na rémora se verifica o verso de São Gregório Nazianzeno: Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit. O Apóstolo Santiago naquela sua eloquentíssima Epístola compara a língua ao leme da Nau e ao freio do cavalo. Uma e outra comparação juntas declaram maravilhosamente a virtude da Rémora, a qual pegada ao leme da Nau é freio da Nau, e leme do leme. E tal foi a virtude, e força da língua de Santo António. O leme da natureza humana é o alvedrio, o Piloto é a razão: mas quão poucas vezes obedecem à razão os ímpetos precipitados do alvedrio? Neste leme porém tão desobediente e rebelde mostrou a língua de António quanta força tinha, como Rémora, para domar, e parar a fúria das paixões humanas. [...] Esta é a língua, peixes, do vosso grande Pregador, que também foi Rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (posto que ainda se conserva inteira) se veem, e choram na terra tantos naufrágios.

«Passando dos da Escritura aos da História natural» alude ao primeiro peixe elogiado, que é um animal bíblico, o __________, cujas virtudes eram, graças ao seu fel e ao seu coração, _________.

A seguir à rémora virão mais dois peixes «da História natural», isto é, verdadeiros, existentes na natureza, que são o torpedo (também chamado «tremelga» ou «raia elétrica») e o ___________.

As suas virtudes serão, respetivamente, a de ________________ (na reversão em termos de exemplo para os homens, significa deverem estes não ser tão indiferentes aos pecados) e a de ver para cima e para baixo (o que, na reversão para os homens, significa deverem estes ser mais __________).

«No dia de um Santo Menor, os peixes menores devem preferir aos outros». Com efeito, Santo António era um «Santo Menor», porque era um franciscano (e a ordem de S. Francisco era a Ordem dos Frades Menores). Entretanto, não nos esqueçamos que, quando o orador, o Padre Vieira, proferiu o sermão, era ____ de junho, dia de Santo António.

[quadro tirado de Fernanda Carrilho, Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira. Análise da Obra, 3.ª ed., Lisboa, Texto, 2004, p. 71]


Vejamos um excerto do capítulo V (que já não é de louvores mas de repreensões):

Nesta viagem, de que fiz menção, e em todas as que passei a Linha Equinocial, vi debaixo dela o que muitas vezes tinha visto e notado nos homens, e me admirou que se houvesse estendido esta ronha, e pegado também aos peixes. Pegadores se chamam estes, de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados que jamais os desaferram. De alguns animais de menos força e indústria se conta que vão seguindo de longe aos Leões na caça, para se sustentarem do que a eles sobeja. O mesmo fazem estes Pegadores, tão seguros ao perto, como aqueles ao longe; porque o peixe grande não pode dobrar a cabeça, nem voltar a boca sobre os que traz às costas, e assim lhes sustenta o peso, e mais a fome. Este modo de vida, mais astuto que generoso, se acaso se passou, e pegou de um elemento a outro, sem dúvida que o aprenderam os peixes do alto depois que os nossos Portugueses o navegaram; porque não parte Vizo-Rei ou Governador para as Conquistas que não vá rodeado de Pegadores, os quais se arrimam a eles, para que cá lhes matem a fome, de que lá não tinham remédio. Os menos ignorantes, desenganados da experiência, despegam-se, e buscam a vida por outra via; mas os que se deixam estar pegados à mercê e fortuna dos maiores vem-lhes a suceder no fim o que aos Pegadores do mar.

Rodeia a Nau o Tubarão nas calmarias da Linha com os seus Pegadores às costas, tão cerzidos com a pele que mais parecem remendos ou manchas naturais que os hóspedes, ou companheiros. Lançam-lhe um anzol de cadeia com a ração de quatro Soldados, arremessa-se furiosamente à presa, engole tudo de um bocado, e fica preso. Corre meia companha a alá-lo acima, bate fortemente o convés com os últimos arrancos, enfim, morre o Tubarão, e morrem com ele os Pegadores.

 

(ver de 23:30 a 25:30)



Eis aqui o grupo I do exame de Português de 2023 (2.ª fase):

GRUPO I

Parte A

Leia o poema e a observação.

ABDICAÇÃO

               Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços

               E chama-me teu filho.

                                                           Eu sou um rei

               Que voluntariamente abandonei

5             O meu trono de sonhos e cansaços.

 

               Minha espada, pesada a braços lassos,

               Em mãos viris e calmas entreguei;

               E meu cetro e coroa, — eu os deixei

               Na antecâmara, feitos em pedaços.

 

10           Minha cota de malha, tão inútil,

               Minhas esporas, de um tinir tão fútil,

               Deixei-as pela fria escadaria.

 

               Despi a realeza, corpo e alma,

               E regressei à noite antiga e calma

15           Como a paisagem ao morrer do dia.

Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio, edição de Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 2018, p. 57.

OBSERVAÇÃO: As linhas 2 e 3 constituem um único verso.

* 1. O sujeito poético metaforiza a sua existência definindo-se como um rei. Caracterize a atitude desse rei ao longo do poema.

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* 2. Relacione o sentido dos dois últimos versos do poema com a apóstrofe à «noite», presente nos versos 1 e 2.

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3. Considere as afirmações seguintes sobre o poema.

(A) Embora Fernando Pessoa seja um poeta modernista, em «Abdicação» são revelados traços de egotismo, que associamos ao Romantismo.

(B) Ao longo do poema, o sujeito poético evidencia o desejo de evasão no tempo para a época medieval.

(C) No primeiro terceto, são convocadas sensações auditivas e táteis para realçar as ideias transmitidas.

(D) O sujeito lírico, ao assumir os seus atos, expõe dúvidas existenciais relativamente às suas decisões.

(E) Ainda que escrito num tempo em que se valoriza a liberdade formal, o poema apresenta a estrutura clássica de soneto, com versos decassilábicos e com o esquema rimático abba/abba/ccd/eed.

Identifique as duas afirmações falsas. Escreva, na folha de respostas, o número do item e as duas letras que correspondem às afirmações selecionadas.

Parte B

Este excerto, extraído do Sermão de Sto. António (aos peixes), integra-se no capítulo III, no qual Vieira elogia os peixes em geral, constituindo a parte final do elogio ao Santo Peixe de Tobias.

Abria S. António a boca contra os Hereges, e enviava-se a eles1, levado do fervor e zelo da Fé e glória divina. E eles que faziam? Gritavam como Tobias2 e assombravam-se com aquele homem e cuidavam que os queria comer. Ah homens, se houvesse um Anjo que revelasse qual é o coração desse homem e esse fel que tanto vos amarga, quão proveitoso e quão necessário vos é! Se vós lhe abrísseis esse peito e lhe vísseis as entranhas, como é certo que havíeis de achar e conhecer claramente nelas que só duas cousas pretende de vós, e convosco: uma é alumiar e curar vossas cegueiras, e outra lançar-vos os Demónios fora de casa. Pois a quem vos quer tirar as cegueiras, a quem vos quer livrar dos Demónios, perseguis vós?! Só uma diferença havia entre S. António e aquele Peixe3: que o Peixe abriu a boca contra quem se lavava, e S. António abria a sua contra os que se não queriam lavar. Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! Abri, abri estas entranhas; vede, vede este coração. Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não vos prego a vós, prego aos peixes.

Padre António Vieira, Sermão de Sto. António (aos peixes) e Sermão da Sexagésima, edição de Margarida Vieira Mendes, Lisboa, Seara Nova, 1978, pp. 77-78.

NOTAS

1 enviava-se a eles – investia contra eles.

2 Tobias – personagem bíblica que gritou quando um peixe com poderes curativos investiu contra ele nas margens de um rio.

3 aquele Peixe – referência ao Santo Peixe de Tobias, cujo fel curou a cegueira do pai de Tobias e cujo coração, ao ser queimado, expulsou os demónios de sua casa.

*4. Explique as relações estabelecidas, por um lado, entre Santo António e o peixe mencionado no excerto e, por outro lado, entre os «Hereges» (linha 1) e os homens interpelados na linha 3.

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*5. Justifique o sentimento evidenciado pelo pregador no final do excerto, bem como o recurso à ironia (linhas 11 a 13 [cfr. sublinhado]).

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6. Selecione a opção que completa corretamente a frase seguinte.

Neste excerto, a estratégia argumentativa usada pelo pregador para cumprir os objetivos da eloquência («docere», «delectare» e «movere») desenvolve-se através de recursos variados, nomeadamente

(A) a interpelação a Tobias, a citação de obras clássicas e o uso de recursos como as interrogações retóricas e as gradações.

(B) o jogo com o valor polissémico de algumas palavras e o uso de recursos como as interrogações retóricas e as interjeições.

(C) a reprodução de provérbios, a interpelação a Tobias e o jogo com o valor polissémico de algumas palavras.

(D) o uso de gradações e de estruturas anafóricas, a citação de obras clássicas e a reprodução de provérbios.

Parte C

* 7. Eça de Queirós revela nos seus romances um agudo olhar crítico sobre a sociedade do seu tempo.

Escreva uma breve exposição na qual explicite dois aspetos que são objeto de crítica social em Os Maias ou em A Ilustre Casa de Ramires.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que são objeto de crítica na obra selecionada, fundamentando cada um desses aspetos em, pelo menos, um exemplo significativo;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Comece por indicar, na folha de respostas, o título da obra por si selecionada.

TPC — (i) Relanceia esta ficha corrigida sobre um passo do Sermão (próximo deste aliás); e, também, as pp. 396-397 do manual (com análise do passo do «quatro-olhos»). (ii) Se ainda não o fizeste, compra, ou tem à mão, O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago.

 

 

Aula 124 (22 [1.ª], 23 [3.ª], 24/abr [4.ª]) Na p. 196, lê os poemas «Ver claro», de Eugénio de Andrade, e «Um poema», de Miguel Torga.

Prossegue, a tinta, o comentário que já comecei:

Ambos os textos apresentam a leitura da poesia como uma experiência por que vale a pena passar. Há, porém, diferenças. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Mais uma tarefa que agradeço à Gramática Didática de Português (Santillana, 2011):

1. Identifique as figuras de estilo presentes nos excertos seguintes.

 

a)           Tentei uma brecha naquela impenetrável muralha de palavras, já cansada de andar para cá e para lá no corredor, enquanto a minha mãe, da sala perguntava, pela 756.ª vez, quem era.

Alice Vieira, Chocolate à Chuva.

 

b)           Bastava a ponta dos meus dedos sobre a mesa, e logo o coração da mesa respondia, batendo pausadamente ao ritmo do meu.

Alice Vieira, Chocolate à Chuva.

 

c)           Na primavera

o sol

faz o ninho

no beiral da minha casa.

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, «Ave», Breviário do Sol.

 

d)           São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.

Eugénio de Andrade, «As Palavras», Antologia Breve.

 

e)           [...] aquela menina casadoira,

que mora junto ao largo,

vem à varanda ver a Lua.

Manuel da Fonseca, «Noite de Verão», Obra Poética.

 

f)            Perdido num sonho:

o sol, o deserto...

Na linha dos olhos

tão longe, tão perto

ondula... a miragem?

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, «Ave», Breviário do Sol.

 

g)           Já descoberto tínhamos diante,

Lá no novo Hemisfério, nova estrela,

Luís de Camões, Os Lusíadas.

 

h)           Viva a Mademoiselle! Viva a minha precetora! Viva o papá que mandou a outra ir embora! Viva! Viva!

Augusto Gil, Gente de Palmo e Meio.

 

i)            Fidalgo: — Esta barca onde vai ora, que assi está apercebida?

Diabo: — Vai pera a ilha perdida e há de partir logo ess’ora.

Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno.

 

j)            Não há ninguém mais rico no mundo. Sou riquíssimo. Sou podre de rico. Cheiro mal de rico.

José Gomes Ferreira, Aventuras de João sem Medo.

 

k)           Batizei quase todos os poemas que escrevi. Certo dia, coloquei-os pela ordem alfabética dos títulos e deixei-os sobre a mesa a repousar, cansados de tanto trabalho com as palavras.

João Pedro Mêsseder, De Que Cor é o Desejo?

l)            Que medonho sítio!

Irene Lisboa, Uma Mão Cheia de Nada e Outra de Coisa Nenhuma.

 

m)                        — Senhor João Sem Medo: cá o meco chama-se Zé Porco... Este meu sócio é o Chico Calado, mudo de nascença... E aquele tem a alcunha de «Louro» porque passa a vida a beberricar pelas tabernas, onde improvisa cada versalhada de se lhe tirar o chapéu.

                              «Sim, senhor... — pensou João Sem Medo. — Linda coleção!»

José Gomes Ferreira, Aventuras de João sem Medo.

 

n)                          — Não acredito — disse Gil. — Você não tem fibra para ensinar a esgadanhar um bocado de Liszt a essas monas filhas de tubarões da finança e medíocres cortesãs.

Agustina Bessa-Luís, Contos Impopulares.

 

o)                          E erguendo a cabeça do bordado explicou-se melhor:

               — Quando Deus quer, até os cegos veem.

Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva.

 

p)           Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Cale-se de Alexandre e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

Luís de Camões, Os Lusíadas.

 

q)           Meio-dia

O Sol tem os seus

Caprichos: não gosta

Que o olhem

Olhos nos olhos.

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, Breviário do Sol.

 

r)            Que, da ocidental praia lusitana

Luís de Camões, Os Lusíadas.

 

s)            Era um céu alto, sem resposta, cor de frio.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares.

 

t)            Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela.

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes.

 

u)           Enquanto os vermes iam roendo esses cadáveres amarrados pelos grilhões da morte.

Alexandre Herculano, Eurico, o Presbítero.

 

v)           Eu não posso senão ser

desta terra em que nasci.

Jorge de Sena, «Quem A Tem».

 

w)          O céu tremeu, e Apolo, de torvado,

Um pouco de luz perdeu, como enfiado.

Luís de Camões, Os Lusíadas.

 

Classifica as orações sublinhadas.

Eu Não Sei Quem Te Perdeu

(Pedro Abrunhosa)

 

Quando veio, | ___________________

Mostrou-me as mãos vazias, | Subordinante

As mãos como os meus dias,

Tão leves e banais.

 

E pediu-me

Que lhe levasse o medo, | ___________________

Eu disse-lhe um segredo:

Não partas nunca mais.

 

E dançou,

Rodou no chão molhado,

Num beijo apertado

De barco contra o cais.

 

E uma asa voa

A cada beijo teu.

Esta noite sou dono do céu

E eu não sei quem te perdeu. | ___________________

 

Abraçou-me, | _____________________

Como se abraça o tempo, |  ___________________

A vida num momento,

Em gestos nunca iguais.

 

E parou,

Cantou contra o meu peito |  ___________________

Num beijo imperfeito

Roubado nos umbrais.

 

E partiu

Sem me dizer o nome,

Levando-me o perfume

De tantas noites mais.

 

E uma asa voa

A cada beijo teu.

Esta noite sou dono do céu               | ___________________

E eu não sei quem te perdeu. |  ___________________

 

Esta música é dedicada a todos os que amam, | ___________________

porque quem ama tem medo de perder. |  ___________________

           Subordinada substantiva relativa | ___________________

 

E eu gostava | ___________________

que vocês hoje fossem a minha voz | Subordinada substantiva completiva

 

E uma asa voa

A cada beijo teu.

Esta noite sou dono do céu

E eu não sei quem te perdeu.

 

TPC — (i) Relê o que vou destacar em Gaveta de Nuvens sobre figuras de estilo. (ii) Na próxima semana, terás de trazer já o livro, de José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, embora não deixando de trazer também o manual.

 

 

Aula 125-126 (28 [3.ª], 29/abr [4.ª, 1.ª (só 1.ª parte)]) Correção do questionário com sinónimos (sobre rémora).

Vai lendo o texto — trecho do discurso proferido por Saramago aquando da cerimónia de entrega do Prémio Nobel — e escolhe as melhores alíneas. Não uses outros elementos.



Do primeiro período (ll. 1-6) se pode concluir que José Saramago

a) já sabia alguma coisa de lições de poesia quando entrou para a escola técnico-profissional que frequentaria.

b) aprendeu noções sobre poesia quando frequentou a escola onde também se preparou para a profissão de serralheiro mecânico.

c) aprenderia alguma coisa sobre poesia já na sua vida de trabalho, enquanto serralheiro mecânico.

d) aprendeu poesia, mas tudo aldrabado, numas aulas que frequentou em Benfica, na JGF, salvo erro numa sala do bloco D.

 

«andava a preparar-se» (l. 4) e «exerceu» (l. 5) têm valor aspetual, respetivamente,

a) perfetivo, imperfetivo.

b) imperfetivo, perfetivo.

c) habitual, imperfetivo.

d) iterativo, imperfetivo.

 

Segundo o segundo período (ll. 6-12), Saramago

a) teve também bons mestres de arte poética.

b) foi orientado no conhecimento da poesia por bons mestres que ia encontrando à noite.

c) foi aprendendo acerca da poesia como autodidata, frequentando bibliotecas e ao sabor dos acasos das leituras.

d) aprendeu a arte poética sem orientação, sem o assombro do navegante que inventa cada lugar que descobre.

 

Do terceiro período (ll. 12-14) inferimos que

a) a leitura de O Ano da Morte de Ricardo Reis começou na biblioteca da escola industrial que Saramago frequentou.

b) a escrita de O Ano da Morte de Ricardo Reis começou na biblioteca da escola industrial que Saramago frequentou.

c) na biblioteca da escola industrial que Saramago frequentou nasceu a inspiração para O Ano da Morte de Ricardo Reis.

d) foi na tipografia da escola que Saramago frequentou que começou a produção de O Ano da Morte de Ricardo Reis.

 

Na revista Athena, Saramago, jovem adolescente,

a) publicaria O Ano da Morte de Ricardo Reis.

b) leria poemas de Ricardo Reis, que sabia ser heterónimo de Fernando Pessoa.

c) leria poemas de Ricardo Reis, ignorando tratar-se de um heterónimo de Pessoa.

d) leria poemas de Ricardo Reis, julgando tratar-se de textos de Fernando Pessoa.

 

«cartografia literária do seu país» (l. 19) é uma

a) hipérbole.

b) perífrase.

c) metáfora.

d) metonímia.

 

«um tal Fernando Nogueira Pessoa» (l. 23) visa

a) acentuar como Pessoa era ainda pouco conhecido.

b) mostrar com certa ironia a ignorância do jovem Saramago.

c) sublinhar a importância de Fernando Pessoa já então.

d) brincar com o processo heteronímico.

 

O valor aspetual de «chamava» (l. 25) e «custou» (l. 27) é, respetivamente,

a) imperfetivo, perfetivo.

b) genérico, perfetivo.

c) habitual, imperfetivo.

d) iterativo, imperfetivo.

 

«podia» (l. 31) tem valor modal

a) epistémico (probabilidade).

b) deôntico (permissão).

c) apreciativo.

d) epistémico (obrigação).

 

Nas ll. 27-28, na oração coordenada conclusiva introduzida por «por isso», desempenham as funções de sujeito, complemento direto e complemento indireto, respetivamente,

a) «saber o que ela significava», «tanto trabalho», «ao aprendiz de letras».

b) «ela», «tanto trabalho», «ao aprendiz de letras».

c) «saber», «tanto trabalho», «ao aprendiz de letras».

d) «aprendiz de letras», «tanto trabalho», «o que ela».

 

«de cor» (l. 29) e «muitos poemas de Ricardo Reis» (l. 29) desempenham as funções sintáticas de, respetivamente,

a) complemento oblíquo, sujeito.

b) modificador do grupo verbal, complemento direto.

c) modificador do grupo verbal, sujeito.

d) complemento oblíquo, complemento direto.

 

No verso de Ricardo Reis na l. 30 («Para ser grande[,] sê inteiro»), «Para ser grande» desempenha a função de

a) sujeito.

b) modificador de frase.

c) modificador de grupo verbal.

d) complemento oblíquo.

 

Na frase «Põe quanto és no mínimo que fazes (ll. 30-31), as funções sintáticas de «quanto és», «no mínimo [que fazes]» e «que fazes» são, respetivamente,

a) sujeito, complemento oblíquo, modificador apositivo do nome.

b) complemento direto, modificador do grupo verbal, modificador apositivo do nome.

c) complemento direto, complemento oblíquo, modificador restritivo do nome.

d) predicado, complemento oblíquo, modificador restritivo do nome.

 

«quanto és» (l. 30) é uma oração subordinada

a) substantiva relativa.

b) substantiva completiva.

c) adjetiva relativa restritiva.

d) adjetiva relativa explicativa.

 

As objeções de Saramago (cfr. ll. 31-34) ao verso de Ricardo Reis «Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo» devem-se ao facto de o autor de O Ano da Morte de Ricardo Reis

a) não comungar da ingenuidade e gosto pela natureza professados por Ricardo Reis.

b) não ter o mesmo ideário estoico e epicurista de Reis.

c) duvidar da atitude de que quem ensina os outros, dos «sábios».

d) não gostar de analisar o mundo.

 

«a ocupação da Renânia pelo exército nazista», «a guerra de Franco contra a República espanhola», «a criação por Salazar das milícias fascistas portuguesas» (ll. 38-40) podem ser considerados

a) merónimos do holónimo ‘Guerra’.

b) hipónimos do hiperónimo ‘Acontecimentos de 1936’.

c) itens do campo lexical ‘Guerra’.

d) itens do campo semântico ‘Acontecimentos de 1936’.

 

«da Renânia» (l. 38) desempenha a função sintática de

a) complemento do nome.

b) complemento oblíquo.

c) modificador do grupo verbal.

d) modificador restritivo do nome.

 

«Eis o espetáculo do mundo» (l. 40) pode considerar-se implicar um ato ilocutório

a) declarativo.

b) expressivo.

c) compromissivo.

d) assertivo.

 

«meu poeta das amarguras serenas e ceticismo elegante» (40-41) reporta-se

a) a Alberto Caeiro.

b) a Fernando Pessoa.

c) ao próprio Saramago.

d) a Ricardo Reis.

 

O texto que leste é predominantemente

a) descritivo e argumentativo.

b) dialogal e narrativo.

c) narrativo.

d) explicativo.

Vejamos frases aforísticas, conotativas, de José Saramago. Por exemplo, «Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam». Se me pedissem para a traduzir em linguagem mais denotativa, escreveria:

[Aforismo de Saramago:]

«Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam»

[Tradução-paráfrase em linguagem mais objetiva:]

Todos acabam por cumprir o percurso de vida que lhes estava destinado.

Procede do mesmo modo relativamente às seguintes frases (entre parênteses ficam as obras de Saramago a que pertencem as frases — que roubei ao manual Plural 12):

«Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar.»        (O conto da ilha desconhecida)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

«Há dentro de nós uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.»    (Ensaio Sobre a Cegueira)

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«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.»      (Ensaio Sobre a Cegueira)

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«A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam.»      (Viagem a Portugal)

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«Quero estar onde estiver a minha sombra se lá é que estiverem os teus olhos.»     (O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

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«Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe.»     (A Caverna)

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«Às árvores pintadas não lhes caem as folhas.»      (A Viagem do Elefante)

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«O espírito não vai a lado nenhum sem as pernas do corpo, e o corpo não seria capaz de mover-se se lhe faltassem as asas do espírito.»         (Todos os Nomes)

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Nos atos de fala diretos, a intenção comunicativa fica explícita no que é dito; nos atos de fala indiretos, a intenção comunicativa tem de ser captada pelo interlocutor.

Os atos de fala classificam-se segundo a força ilocutória (o objetivo ilocutório):

diretivos (pretende-se que o interlocutor atue de acordo com a vontade do locutor) — «Querem abrir os livros na p. 344?»; «Abram os livros na p. 344».

assertivos (assinala-se a posição do locutor relativamente à verdade do que diz) — «Não há dúvida de que esta é a melhor frase»; «Admito que haja aqui um equívoco meu».

expressivos (traduz-se o estado de espírito do locutor relativamente ao que diz) — «Entristece-me que tenha partido»; «Muitos parabéns pelo teu teste».

compromissivos (responsabilizam o locutor relativamente a uma ação futura) — «Não darei aula no dia 13 de junho»; «Prometo entregar os prémios Tia Albertina».

declarativos (aquilo que se diz cria, por si só, uma nova realidade) — «Absolvo-te das falhas cometidas»; «Fica aprovado com catorze valores».

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TPC — Lê o primeiro capítulo de O ano da morte de Ricardo Reis. Vai já trazendo sempre o livro (mas sem esquecer também o manual).

 

 

Aula 127 (30/abr [3.ª], 2/mai [1.ª (sendo o resto da aula o que faltava de 125-126); 4.ª]) Correção do questionário de compreensão de discurso de Saramago («”Eis o espetáculo do mundo”»).

Vai até à p. 276 do manual. No cimo, relê a estância dos Lusíadas (que citáramos em aula a propósito de «O dos Castelos», de Mensagem), que repito aqui:

Eis aqui, quase cume da cabeça

De Europa toda, o Reino Lusitano,

Onde a terra se acaba e o mar começa

E onde Febo repousa no Oceano.

Este quis o Céu justo que floreça

Nas armas contra o torpe Mauritano,

Deitando-o de si fora; e lá na ardente

África estar quieto o não consente.

Luís de Camões, Os Lusíadas, III, 20

Vê também este soneto, igualmente de Camões:

Correm turvas as águas deste rio,

que as do Céu e as do monte as enturbaram;

os campos florecidos se secaram,

intratável se fez o vale, e frio.

 

Passou o verão, passou o ardente estio,

ũas cousas por outras se trocaram;

os fementidos Fados já deixaram

do mundo o regimento, ou desvario.

 

Tem o tempo sua ordem já sabida;

o mundo, não; mas anda tão confuso,

que parece que dele Deus se esquece.

 

Casos, opiniões, natura e uso

fazem que nos pareça desta vida

que não há nela mais que o que parece.

Luís de Camões, Rimas

Quer o v. 3 da est. 20 do canto III dos Lusíadas — «Onde a terra se acaba e o mar começa» —, quer o v. 1 do soneto «Correm turvas as águas deste rio» têm relações de intertextualidade com os dois primeiros períodos de O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago, que retira de cada uma dessas «citações» um efeito de ironia: no caso do primeiro período, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ; no caso da alusão ao verso do soneto, a ironia advém de  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ou seja, em ambos os casos se dá ao passo de Camões um uso mais denotativo do que o que tinha nos versos, e é esse reaproveitamento «dessacralizado» que se torna expressivo.

Lê — aliás, segundo espero, relê — tudo o que está no livro de Saramago entre «cais de Alcântara» [Caminho: p. 11, l. 5; Porto Editora e Mil Folhas: l. 4, p. 7] e «Descem os primeiros passageiros» [C, p. 13; PE, p. 10; Mf, p. 9] e mesmo as quatro linhas seguintes (até «hipnótico»), parte que foi cortada no manual.

Trata-se, como vês, de uma chegada a Lisboa, neste caso, de um vapor, que atraca no cais de Alcântara. Refere como se retrata a cidade, neste primeiro relance, e como reagem os viajantes ao ambiente que os rodeia.

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Resolve os pontos 5 e 5.1 na p. 278 [cfr.: «O viajante trepou os intérminos degraus, parecia incrível ter de subir tanto para alcançar um primeiro andar, é a ascensão do Everest, proeza ainda sonho e utopia de montanheiros»]:

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TPC — Proximamente, afixarei lista de encargos para este final de ano. (Passa a ver sempre o final da página de entrada do blogue. Por exemplo, a apresentação da correção do questionário de hoje vai aparecer lá.) Além disso, é essencial a leitura efetiva de O ano da morte de Ricardo Reis — para a próxima aula, pelo menos os três primeiros capítulos — e as melhorias em gramática que tenho pedido a tantos de vós.

 

 

Aula 128-129 (5 [3.ª], 6 [4.ª], 8/mai [1.ª]) Correção de escrito com atos de fala. Exemplo possível:

— Vê lá, Morten, se não apanhas um amarelo — aconselha o treinador pouco antes da entrada do dinamarquês. [diretivo]

— Prometo, mister, que evitarei os meus socos e pisadelas habituais — respondeu o jogador. [compromissivo]

— O português do Hjulmand já é melhor do que o meu — confessa um dos colegas portugueses. [assertivo]

— Que bom! Estão tão feliz! — grita Rui Borges, depois do segundo golo do Sporting. [expressivo]

— Apresento-lhe cartão amarelo — diz o árbitro para Eduardo Quaresma, por este ter tirado a camisola. [declarativo]

— Fico mesmo ralado com isso! Ai que triste que estou... — comenta o marcador do golo. [diretamente: expressivo; indiretamente: assertivo = essa penalização não é relevante]

O capítulo 1 de O Ano da Morte de Ricardo Reis termina com Reis, instalado confortavelmente no sofá do quarto, a ler o jornal (PE e C 28-31; Mf 21-23):


«[...], são estas as notícias da minha terra natal, e dizem, O chefe do Estado inaugurou a exposição de homenagem a Mousinho de Albuquerque na Agência Geral das Colónias, não se podem dispensar as imperiais comemorações nem esquecer as figuras imperiais, Há grandes receios na Golegã, não me lembro onde fica, ah Ribatejo, se as cheias destruírem o dique dos Vinte, nome muito curioso, donde lhe virá, veremos repetida a catástrofe de mil oitocentos e noventa e cinco, noventa e cinco, tinha eu oito anos, é natural não me lembrar, Letizia e Leonor abraçam-se emocionadas após meses sem se verem, estas ainda não tinham nascido no meu tempo, A mais alta mulher do mundo chama-se Elsa Droyon e tem dois metros e cinquenta centímetros de altura, a esta não a cobriria a cheia, e a rapariga, como se chamará, aquela mão paralisada, mole, foi doença, foi acidente, Quinto concurso de beleza infantil, meia página de retratos de criancinhas, nuazinhas de todo, ao léu os refegos, alimentadas a farinha lactobúlgara, alguns destes bebés se tornarão criminosos, vadios e prostitutas por assim terem sido expostos, na tenra idade, ao olhar grosseiro do vulgo, que não respeita inocências, e associou isso à notícia seguinte Cardeais proibidos de ler jornais, ver TV e usar a Net durante conclave, Prosseguem as operações na Etiópia, e do Brasil que notícias temos, sem novidade, tudo acabado, Avanço geral das tropas italianas, não há força humana capaz de travar o soldado italiano na sua heróica arrancada, que faria, que fará contra ele a lazarina abexim, a pobre lança, a mísera catana, O advogado da famosa atleta anunciou que a sua constituinte se submeteu a uma importante operação para mudar de sexo, dentro de poucos dias será um homem autêntico, como de nascimento, já agora não se esqueçam de mudar-lhe também o nome, que nome, Bocage perante o Tribunal do Santo Ofício, quadro do pintor Fernando Santos, belas-artes por cá se fazem, No Coliseu está A última Maravilha com a azougada e escultural Vanise Meireles, estrela brasileira, tem graça, no Brasil nunca dei por ela, culpa minha, aqui a três escudos a geral, fauteuil a partir de cinco, em duas sessões, matinée aos domingos, O Politeama leva As Cruzadas, assombroso filme histórico, Em Port-Said desembarcaram numerosos contingentes ingleses, tem cada tempo as suas cruzadas, estas são as de hoje, constando que seguiram para a fronteira da Líbia italiana, Ataque a hospital dos Médicos Sem Fronteiras no Sudão do Sul faz pelo menos sete mortos, Lista de portugueses falecidos no Brasil na primeira quinzena de dezembro, pelos nomes não conheço ninguém, não tenho que sentir desgosto, não preciso pôr luto, mas realmente morrem muitos portugueses por lá, Bodos aos pobres por todo o país de cá, ceia melhorada nos asilos, que bem tratados são em Portugal os macróbios, bem tratada a infância desvalida, florinhas da rua, e esta notícia, O presidente da câmara do Porto telegrafou ao ministro do Interior, em sessão de hoje a câmara municipal da minha presidência apreciando o decreto de auxílio aos pobres no inverno resolveu saudar vossa excelência por esta iniciativa de tão singular beleza, e outras, Fontes de chafurdo cheias de dejetos de gado, lavra a varíola em Lebução e Fatela, há gripe em Portalegre e febre tifoide em Valbom, morreu de bexigas uma rapariga de dezasseis anos, pastoril florinha, campestre, lírio tão cedo cortado cruelmente, Cinco pessoas passam trinta e seis horas cercadas por jacarés após avião fazer aterragem de emergência em pântano, Tenho uma cadela fox, não pura, que já teve duas criações, e em qualquer delas foi sempre apanhada a comer os filhos, não escapou nenhum, diga-me senhor redator o que devo fazer, O canibalismo das cadelas, prezado leitor e consulente, é no geral devido ao mau arraçoamento durante a gestação, com insuficiência de carne, deve-se-lhe dar comida em abundância, em que a carne entre como base, mas a que não faltem o leite, o pão e os legumes, enfim, uma alimentação completa, se mesmo assim não lhe passar a balda, não tem cura, mate-a ou não a deixe cobrir, que se avenha com o cio, ou mande capá-la. Agora imaginemos nós que as mulheres mal arraçoadas durante a gravidez, e é o mais do comum, sem carne, sem leite, algum pão e couves, se punham também a comer os filhos, e, tendo imaginado e verificado que tal não acontece, torna-se afinal fácil distinguir as pessoas dos animais, este comentário não o acrescentou o redator, nem Ricardo Reis, que está a pensar noutra coisa, que nome adequado se deveria dar a esta cadela, não lhe chamará Diana ou Lembrada, e que adiantará um nome ao crime ou aos motivos dele, se vai o nefando bicho morrer de bolo en­venenado ou tiro de caçadeira por mão do seu dono, teima Ricardo Reis e enfim encontra o certo apelativo, um que vem de Ugolino delia Gherardesca, canibalíssimo conde macho que manjou filhos e netos, e tem atestados disso, e abonações, na História dos Guelfos e Gibelinos, capítulo respetivo, e também na Divina Comédia, canto trigésimo terceiro do Inferno, chame-se pois Ugolina à mãe que come os seus próprios filhos, tão desnaturada que não se lhe movem as entranhas à piedade quando com as suas mesmas queixadas rasga a morna e macia pele dos indefesos, os trucida, fazendo-lhes estalar os ossos tenros, e os pobres cãezinhos, gementes, estão morrendo sem verem quem os devora, a mãe que os pariu, Ugolina não me mates que sou teu filho, Turista mata prostituta transgénero, retira-lhe o coração e come pulmão direito da vítima.

A folha que tais horrores explica tranquilamente cai sobre os joelhos de Ricardo Reis, adormecido. Uma rajada súbita fez estremecer as vidraças, a chuva desaba como um dilúvio. Pelas ruas ermas de Lisboa anda a cadela Ugolina a babar-se de sangue, rosnando às portas, uivando em praças e jardins mordendo furiosa o próprio ventre onde já está a gerar-se a próxima ninhada.

(i) Circunda o que não é texto dos jornais nem comentário de narrador/personagem, mas assunto que preocupa Reis e interfere na sua leitura;

(ii) Sublinha as cinco notícias que acrescentei (tiradas de jornais de anteontem).

Escreve na coluna focalização N (= citação de notícia), P (= citação de anúncio publicitário), RR (comentário de Ricardo Reis), narr (= discurso do narrador):

Trecho do final do cap. I de O Ano da Morte de Ricardo Reis

linha

focalização

O chefe do estado inaugurou a exposição...

1-2

 

não se podem dispensar as imperiais comemorações

2-3

 

Há grandes receios na Golegã

3-4

 

ah Ribatejo

4

 

nome muito curioso

5

 

veremos repetida a catástrofe de mil oitocentos e noventa e cinco

5-6

 

meia página de retratos de criancinhas, ... inocências

11-14

 

... na sua heroica arrancada ...

17-18

 

No Coliseu está

23

 

A última Maravilha, com a azougada e escultural Vanise Meireles, estrela brasileira

23-24

 

As Cruzadas, assombroso filme histórico,

26

 

lavra a varíola em Lebução e Fatela

37

 

Responde ao item 1 de em «Entre textos» (p. 281 do manual):

a. Ricardo Reis traz consigo bens pessoais, livros e folhas com poemas de Fernando Pessoa.

_________________

b. A ação inicia-se no final do mês de dezembro de 1935.

_________________

c. O título e o nome do autor do livro que Ricardo Reis trouxe do Highland Brigade sugerem a indefinição e a dimensão labiríntica do percurso pessoal e social que o heterónimo fará em Lisboa.

_________________

d. Durante o primeiro jantar no hotel, Ricardo Reis vê pela primeira vez Lídia.

_________________

Completa, no estilo das frases que já lancei, o acróstico com «Poetas Contemporâneos», título da unidade que o manual dedica a Miguel Torga, Alexandre O’Neill, Nuno+ Júdice, Ana Luísa Amaral.

Vai consultando o livro, mas não transcrevas passos (pelo menos, literalmente). Evita os dados biográficos ou aspetos meramente informativos e factuais. Tenta aproveitar mais os estilos de cada poeta, as linhas de sentido mais comuns nos seus textos, as características da sua escrita.

Seria interessante incluir citações dos poemas também, naturalmente curtas.

P    ublicidade — Ter Alexandre O’Neill trabalhado como copywriter talvez tenha contribuído para o estilo sintético, incisivo, alegre, visual, de boa parte sua poesia.

O   ________________

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E     ________________

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T     ________________

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A    ________________

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S     ________________

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C    ________________

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O   ________________

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N    ________________

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T    elúrica — Diz-se da poesia de Miguel Torga, que

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E    ________________

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M   iguel — Quando se aborda o pseudónimo escolhido por Adolfo Rocha, salienta-se sempre o iberismo de «Miguel», primeiro nome dos escritores espanhóis Cervantes e Unamuno.

P    ________________

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O   ________________

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R    ________________

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    ncoras — Por vezes, os poemas de Ana Luísa Amaral aproveitam o quotidiano («Pequenos ritos: o lavar dos dentes / ao abrir o dia»), que, claro, não podemos jurar corresponda ao dia a dia da autora.

N    ________________

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E    ________________

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O   ________________

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S     ________________

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TPC — Lê o conto de Jorge Luis Borges «Análise da obra de Herbert Quain». Vai revendo gramática (começa por funções sintáticas; depois, orações). E, claro, continuando sempre a leitura de O Ano da Morte de Ricardo Reis.

 

 

Aula 130 (6 [1.ª], 7 [3.ª], 8/mai [4.ª]) Este parágrafo diz respeito ao momento em que Ricardo Reis vê pela primeira vez Marcenda. Nesta altura, ainda no cap. I de O Ano da Morte de Ricardo Reis, Reis ainda nem sabe o nome da rapariga. O passo está nas pp. 25-26 (PE); 25-27 (C); 19-20 (Mf).

A porta abriu-se outra vez, agora entrou um homem de meia-idade, alto, formal, de rosto comprido e vincado, e uma rapariga de uns vinte anos, se os tem, magra, ainda que mais exato seria dizer delgada, dirigem-se para a mesa fronteira à de Ricardo Reis, de súbito tornara-se evidente que a mesa estava à espera deles, como um objeto espera a mão que frequentemente o procura e serve, serão hóspedes habituais, talvez os donos do hotel, é interessante como nos esquecemos de que os hotéis têm dono, estes, sejam-no ou não, atravessaram a sala num passo tranquilo como se estivessem em sua própria casa, são coisas que se notam quando se olha com atenção. A rapariga fica de perfil, o homem está de costas, conversam em voz baixa, mas o tom dela subiu quando disse, Não, meu pai, sinto-me bem, são portanto pai e filha, conjunção pouco costumada em hotéis, nestas idades. O criado veio servi-los, sóbrio mas familiar de modos, depois afastou-se, agora a sala está silenciosa, nem as crianças levantam as vozes, estranho caso, Ricardo Reis não se lembra de as ter ouvido falar, ou são mudas, ou têm os beiços colados, presos por agrafes invisíveis, absurda lembrança, se estão comendo. A rapariga magra acabou a sopa, pousa a colher, a sua mão direita vai afagar, como um animalzinho doméstico, a mão esquerda que descansa no colo. Então Ricardo Reis, surpreendido pela sua própria descoberta, repara que desde o princípio aquela mão estivera imóvel, recorda-se de que só a mão direita desdobrara o guardanapo, e agora agarra a esquerda e vai pousá-la sobre a mesa, com muito cuidado, cristal fragilíssimo, e ali a deixa ficar, ao lado do prato, assistindo à refeição, os longos dedos estendidos, pálidos, ausentes. Ricardo Reis sente um arrepio, é ele quem o sente, ninguém por si o está sentindo, por fora e por dentro da pele se arrepia, e olha fascinado a mão paralisada e cega que não sabe aonde há de ir se a não levarem, aqui a apanhar sol, aqui a ouvir a conversa, aqui para que te veja aquele senhor doutor que veio do Brasil, mãozinha duas vezes esquerda, por estar desse lado e ser canhota, inábil, inerte, mão morta mão morta que não irás bater àquela porta. Ricardo Reis observa que os pratos da rapariga vêm já arranjados da copa, limpo de espinhas o peixe, cortada a carne, descascada e aberta a fruta, é patente que filha e pai são hóspedes conhecidos, costumados na casa, talvez vivam mesmo no hotel. Chegou ao fim da refeição, ainda se demora um pouco, a dar tempo, que tempo e para quê, enfim levantou-se, afasta a cadeira, e o rumor do arrastamento, acaso excessivo, fez voltar-se o rosto da rapariga, de frente tem mais que os vinte anos que antes parecera, mas logo o perfil a restitui à adolescência, o pescoço alto e frágil, o queixo fino, toda a linha instável do corpo, insegura, inacabada. Ricardo Reis sai da sala de jantar, aproxima-se da porta dos monogramas, aí tem de trocar vénias com o homem gordo que também ia saindo, Vossa excelência primeiro, Ora essa, por quem é, saiu o gordo, Muito obrigado a vossa excelência, notável maneira esta de dizer, Por quem é, se tomássemos todas as palavras à letra, passaria primeiro Ricardo Reis, porque é inúmeros, segundo o seu próprio modo de entender-se.

Repara nestes itens (que roubei ao manual Plural). Responde, completando o que já fui escrevendo:

1. Na descrição da rapariga (ll. 14-25), salienta o valor expressivo da comparação; da metáfora; da enumeração.

A comparação « . . . . . . . . . . . . . . . . . . » (l. 15) vinca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

A metáfora — «cristal fragilíssimo» (l. 19) — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

A enumeração surge num passo que inclui igualmente a figura de estilo anáfora, já que se trata de três segmentos introduzidos por «aqui» (ll. 22-23). Essa sucessão de três circunstâncias em que . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

2. «Mas logo o perfil a restitui à adolescência» (l. 31) — Releva a importância da adjetivação na imagem final da personagem.

Comecemos por sublinhar os adjetivos do retrato final da personagem {sublinha tu}: «o pescoço alto e frágil, o queixo fino, toda a linha instável do corpo, insegura, inacabada» (ll. 31-32). Esta adjetivação  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Tendo em conta o que se passa no excerto que leste, cria curtos monólogos interiores (ou intervenções só pensadas) das seguintes personagens (as falas poderão ser paródicas ou não; será uma mais-valia se mostrarem conhecimento da obra). (Exemplo meu: ‘Marcenda — «Que cavalheiro tão distinto que está ali! Oxalá não se aperceba de que esta minha mão esquerda é tão inútil quanto as do guarda-redes Onana.»’.)

Pai de Marcenda — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Marcenda — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Criado que serve — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Criados da copa (da cozinha) — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Lê esta ode de Ricardo Reis, a décima oitava de uma vintena que Pessoa publicou na revista Athena, em 1924, que sugeriu a Saramago a personagem Marcenda. No autógrafo no espólio de Pessoa ainda não havia o gerúndio «Marcenda» (cfr. v. 10) — estava um particípio passado «Fanada» (murcha), que o poeta riscou e substituiu por «Fananda» (‘murchante’). E tenho dúvidas sobre se Saramago percebeu que «Marcenda» era um gerúndio; admito que tenha julgado que era mesmo um nome próprio feminino.

                              XVIII

Saudoso já deste verão que vejo,

Lágrimas para as flores dele emprego

               Na lembrança invertida

               De quando hei de perdê‑las.

Transpostos os portais irreparáveis

De cada ano, me antecipo a sombra

               Em que hei de errar, sem flores,

               No abismo rumoroso.

E colho a rosa porque a sorte manda.

Marcenda, guardo‑a; murche‑se comigo

               Antes que com a curva

               Diurna da ampla terra.

Uso um questionário tirado de Alexandre Dias Pinto & Patrícia Nunes, Entre nós e as palavras, 12.º ano, Caderno de atividades e avaliação contínua, Barcarena, Santillana, 2017, p. 56:

1. Identifique o sujeito da seguinte frase: «O Livro do desassossego, assinado pelo semi-heterónimo Bernardo Soares, é composto por diversos fragmentos.»

_________________

2. Qual é a função sintática do vocábulo «futurista» na frase «A "Ode triunfal" pertence à fase futurista de Campos.»?

_________________

3. Na frase «Caeiro, o poeta bucólico, escreveu "O guardador de rebanhos".» o constituinte «poeta bucólico» desempenha a função sintática de complemento do nome?

_________________

4. Na frase «Os alunos lembram-se da teoria do fingimento», qual é a função sintática do constituinte «da teoria do fingimento»?

_________________

5. Na frase «As críticas que Camões faz na sua epopeia continuam atuais.», o adjetivo desempenha a função sintática de complemento direto?

_________________

6. Na frase «Os alunos consideram O ano da morte de Ricardo Reis a melhor obra de Saramago.», indique a função sintática do constituinte «a melhor obra de Saramago».

_________________

7. Qual é a função sintática desempenhada pelos advérbios na frase «Ruy Belo procura intervir social e politicamente através da poesia.»?

_________________

8. Em «Ela canta, pobre ceifeira, / Julgando-se feliz talvez», qual é a função sintática do advérbio?

_________________

9. Qual é a função sintática do pronome relativo na frase «Os poemas que Cesário Verde escreveu foram editados por Silva Pinto.»?

_________________

10. Na frase «É incrível que Fernando Pessoa se tenha desdobrado em tantos heterónimos.», a oração introduzida pela conjunção «que» é uma subordinada (adverbial) consecutiva?

_________________

11. Classifique a oração subordinada na frase «O Padre António Vieira critica os colonos do Maranhão, onde pregou o seu sermão.».

_________________

12. Classifique a oração subordinada na frase «Ainda que a mãe a tentasse demover, Inês Pereira casa-se com o Escudeiro.».

_________________

13. A oração introduzida pela conjunção na frase «Os alunos gostaram do conto "Famílias desavindas", de Mário de Carvalho, pois tem uma dimensão irónica.» é uma subordinada causal?  

_________________

14. No verso «O mito é o nada que é tudo.», a oração subordinada é um(adjetiva) relativa restritiva?

_________________

15. Classifique a oração «Quem tem hábitos de leitura» na frase «Quem tem hábitos de leitura tem mais facilidade na língua portuguesa.»

_________________

16. Na frase «Camões é o nosso cantor épico, logo é um símbolo nacional.», classifique a oração introduzida pela conjunção.

_________________

TPC — Resolve os itens de gramática na folha da aula.

 

 

Reproduz-se aqui essencialmente a aula 133-134, uma vez que as tarefas da aula 131-132 ora correspondem a tarefas já realizadas na aula 121 de uma das turmas (cfr.) ora serão aproveitadas na aula 133-134 de outras turmas.

Aula 131-132 (9 [1.ª, 4.ª (na primeira parte deste bloco,  na turma 4, deu-se a aula 130, a que a turma não assistira por estar em «Vozes da democracia»)], 10/mai [3.ª (esta segunda parte da aula não acontecerá na turma 3.ª, que já a teve na aula 121])

Aula 133-134 (13 [4.ª], 15/mai [1.ª, 3.ª]) Correção do trabalho de casa com questionário de gramática.

Veremos quatro trailers de filmes que adaptaram obras de José Saramago, para depois se votar no filme que, se ainda for caso disso, seria mais interessante ver em aula:

Escreve uma apreciação crítica acerca do paratexto de dois exemplares de O Ano da Morte de Ricardo Reis, o do teu exemplar, e o de que vê a capa na p. 231. Procura mostrar já algum conhecimento do enredo.

(As regras da apreciação crítica estão na p. 354.) Desta vez, o objeto da apreciação crítica é O Ano da Morte de Ricardo Reis mas nos seus aspetos, digamos, exteriores, materiais.

Algum vocabulário porventura útil: Sobrecapa | Capa | Folha de guarda |Anterrosto | Portada, página de rosto, frontispício | Contraportada | Orelhas, abas ou badanas | Colofão | Contracapa | Lombada | Sinopse | Biografia | Bibliografia | Ilustrações | Autor ! Editor | Título | Subtítulo | Epígrafe | Dedicatória | Título corrente (nos cabeçalhos) | Rodapés

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Classifica as funções sintáticas dos constituintes sublinhadas (e, por vezes, entre parênteses, a oração):

Já sei namorar (Tribalistas)

 

Já sei namorar
Já sei beijar de língua
Agora, só me resta sonhar
Já sei onde ir | _________ (subordinada _________)
Já sei onde ficar
Agora, só me falta sair

 

Não tenho paciência
p’ra televisão | _________
Eu não sou audiência
para a solidão
Eu sou de ninguém | _________
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem | _________
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo | _________
E todo mundo é meu também

 

Já sei namorar
Já sei chutar a bola | _________
Agora, só me falta ganhar | _________
Não tenho juiz
Se você quer a vida em jogo | _________ (subordinada _________)
Eu quero é ser feliz

 

Não tenho paciência
p’ra televisão
Eu não sou audiência
para a solidão
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem | _________
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu também | _________

 

‘Tou te querendo como ninguém | _________
‘Tou te querendo como Deus quiser
‘Tou te querendo como eu te quero
‘Tou te querendo como se quer
‘Tou te querendo como se quer

TPC — Lê Caderno de encargos até ao fim do ano.

 

 

Aula 135 (13 [1.ª], 14 [3.ª], 15/mai [1.ª]) Entrega do trabalho com atos de fala.

Logo no capítulo II de O ano da morte de Ricardo Reis começam as deambulações de Ricardo Reis. Sai cedo para trocar por escudos algum do dinheiro inglês que trazia, o que faz no Banco _______. Percebemos que se dirigira para as bandas do Terreiro do Paço: «Da Rua do Crucifixo, onde está, ao Terreiro do Paço distam poucos metros, apeteceria escrever, É um passo, não fosse a ambiguidade da homofonia» (o narrador brinca com a proximidade linguística, fonética, entre _____ e _____).

Como vai pensativo e chove, alguém se mete com ele: «Ó senhor, olhe que aí debaixo não lhe chove». Então, Ricardo Reis «sorri de se ter distraído, sem saber porquê murmura os dois versos de João de Deus, célebres na infância das escolas, Debaixo daquela arcada passava-se a noite bem» (PE, 34; C, 34; Mf, 26).

Estas linhas aludem a um poema de João de Deus, célebre por ser um dos últimos textos da Cartilha Maternal, por onde muitos aprenderam a ler (eu, por acaso, também). A edição que copio à direita é mais recente que a da minha época mas ainda me lembro deste poema como angustiante. A menção dos dois versos de João de Deus (um poeta contemporâneo, e amigo, de Antero e de Eça) é um dos muitos exemplos de intertextualidade em O ano da morte de Ricardo Reis.

Ainda neste segundo capítulo Ricardo Reis dirige-se ao Cemitério dos _______, onde pretende visitar o jazigo de Fernando Pessoa (aliás, da avó Dionísia). De qualquer modo, não encontra o poeta, porque este tinha ______.

É igualmente neste capítulo que, por a água da chuva ter entrado pela janela do quarto no Bragança, Reis conhece _______, criada que lho vai limpar com esfregão e balde (PE, 50-51; C, 47; Mf, 37). Também o nome da criada serve para alusões intertextuais, neste caso a _______ do próprio _______: «lê alguns versos apanhados no passar das folhas, E assim, Lídia, à lareira, como estando, Tal seja, Lídia, o quadro, não desejemos, Lídia, nesta hora, Quando, Lídia, vier o nosso outono, Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira-rio, Lídia, a vida mais vil antes que a morte, já não resta vestígio de ironia no sorriso» (PE, 51-52; C, 48; Mf, 38).

O capítulo III começa com o primeiro pequeno-almoço de Reis no hotel, servido por _______. Neste capítulo há também longa digressão por Lisboa (que tentei acompanhar num tepecê que terão visto). Num momento desse passeio, a intertextualidade estende-se a uma série de obras da literatura universal. São elas:

A Eneida, de Virgílio || A Divina Comédia, de Dante || Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro || Os Lusíadas, de Luís de Camões || Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes || Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas.

cinzento = _________ | amarelo = _________ | azul = __________ | verde = _________ | rosa = ___________ | vermelho = __________

Faz corresponder a cada uma destas obras as alusões que lhes são feitas. Os sublinhados (ou cores, numa versão posterior, para se ver no ecrã) assinalam cada segmento intertextual — não contei com as referências à estátua de Camões. Trata-se quase sempre do início da obra (excetua-se Os Três Mosqueteiros, em que a alusão é abrangente):

Ricardo Reis atravessou o Bairro Alto, descendo pela Rua do Norte chegou ao Camões, era como se estivesse dentro de um labirinto que o conduzisse sempre ao mesmo lugar, a este bronze afidalgado e espadachim, espécie de D'Artagnan premiado com uma coroa de louros por ter subtraído, no último momento, os diamantes da rainha às maquinações do cardeal, a quem, aliás, va­riando os tempos e as políticas, ainda acabará por servir, mas este aqui, se por estar morto não pode voltar a alistar-se, seria bom que soubesse que dele se servem, à vez ou em confusão, os principais, cardeais incluídos, assim lhes aproveite a conveniência. São horas de almoçar, o tempo foi-se passando nestas caminhadas e desco­bertas, parece este homem que não tem mais que fazer, dorme, come, passeia, faz um verso por outro, com grande esforço, penando sobre o pé e a medida, nada que se possa comparar ao contínuo duelo do mosqueteiro D’Artagnan, só os Lusíadas comportam para cima de oito mil versos, e no entanto este também é poeta, não que do título se gabe, como se pode verificar no registo do hotel, mas um dia não será como médico que pensarão nele, nem em Álvaro como engenheiro naval, nem em Fernando como correspondente de línguas estrangeiras, dá-nos o ofício o pão, é verdade, porém não virá daí a fama, sim de ter alguma vez escrito, Nel mezzo del camin di nostra vita, ou, Menina e moça me leva­ram da casa de meus pais, ou, En un lugar de La Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, para não cair uma vez mais na tentação de repetir, ainda que muito a propósito, As armas e os barões assinalados, perdoadas nos sejam as repetições, Arma virumque cano. Há-de o homem esforçar-se sempre, para que esse seu nome de homem mereça, mas é menos senhor da sua pessoa e destino do que julga, o tempo, não o seu, o fará crescer ou apagar, por outros merecimentos algumas vezes, ou diferentemente julgados, Que serás quando fores de noite e ao fim da estrada. [PE, 77-78; C, 70-71; Mf, 56-57]

No verso do anterrosto de uma das edições de O Ano da Morte de Ricardo Reis, vemos uma lista das obras de José Saramago (independentemente dos géneros — há romances, mas também diários, livros de viagem, livros de memórias, coletâneas de crónicas, contos, poesia). Copio dezoito dos títulos:

Terra do pecado | Provavelmente alegria | Deste mundo e do outro | A bagagem do viajante | Os apontamentos | Manual de pintura e caligrafia | Objeto quase | Levantado do chão | Que farei com este livro? | Viagem a Portugal | A segunda vida de Francisco de Assis | História do cerco de Lisboa | Todos os nomes | A caverna | As intermitências da morte | As pequenas memórias | Viagem do elefante | Claraboia

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

TPC — Prepara leitura em voz alta de «O Sentimento dum Ocidental» (Liga dos Campeões: partes I e II; Liga Europa: partes III e IV).

 

 

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