Vídeos para Olimpíadas da Cultura Clássica
A deusa
do TikTok
(Cecília, Cristian, Neves — 12.º 1.ª)
(Muito Bom) A caricatura da histeria com o TikTok, associada a Alcíone e Ceíce, foi excelente ideia («Deem muito like» é um ponto alto). Essa caricatura, já em moldes de paródia, atinge grande sofisticação no final, com os efeitos especiais da subida ao céu (lembra bastante a entrada no Paraíso, depois de envenenamento com tarte de salmão, em O Sentido da Vida, dos Monty Python). Narrativa, estapafúrdia — mas, nos tempos que correm, quase verosímil —, muito bem imaginada, com as intervenções (linguísticas) apropriadas à mesma sátira. Ritmo da narração, elevado, adequa-se à velocidade requerida por um microfilme. Boa técnica (efeitos, montagem) e boa realização (locais, representação, decerto ensaios vários). A melhor pronúncia de «Morfeu» será «M[u]rfeu» (preferível a «M[ô]rfeu»). E para quê, nos escritos, o «ph»? (do inglês, presumo). Em vez de «esperando com olhos o marido ausente», seria «esperando com longos olhos o marido ausente».
Amor com
penas —Alcíone e Ceíce
(Alice, Joana
S., Laura, Matilde — 12.º 1.ª)
(Muito Bom) É uma paródia do mito de Alcíone e Ceíce. Não se esqueceram as autoras de aproveitar aspetos quase da biologia, ou da ciência, relacionados com estas sempre complicadas intrigas da mitologia (as aves que teriam sido consequência-consolação; os dias de Alcíone; ...), que aliás acabam por ser cruciais para alguns momentos do absurdo inerente à paródia (a caraça-chapéu de ave; a embalagem de ovos; ...). Também trechos textuais têm humor inteligente. Fizeram bem em integrar no diálogo versos de Camões. E tudo foi dito sem erros (o que, no caso dos textos de Camões, não é fácil). Representação sem hesitações (tudo bem preparado, portanto). Muito competente «realização/produção» (som, efeitos, montagem, legendas).
Camões,
tens correio!
(Carol, Helena,
Joana C. — 12.º 1.ª —, Bea B. — 12.º 3.ª)
(Bom+/Muito Bom-) Situação narrativa imaginada é criativa (um Camões a receber carta que serve para referir o episódio mitológico; e, no final, a rejeitar a autoria — livro de pernas para o ar é propositado?). Texto da carta, quer na leitura em voz alta (na velocidade adequada), quer nas legendas, não tem nenhuma incorreção (como, de resto, todo o vídeo). Filme está limpamente realizado/produzido, mas imagens que servem de fundo ao relato na carta são solução talvez demasiado parcimoniosa. Por outro lado, acho que poderiam ter aproveitado melhor o tempo que era permitido (se, num concurso, se nos dá o limite de três minutos, diria que a expetativa é que não se ocupe menos de dois minutos). Exemplo: teria sido possível chegar uma nova carta (por exemplo, de Circe a queixar-se a Camões de ter sido desconsiderada em «Um mover de olhos [...]»; ou de Faetonte, ciumento com a referência a Ícaro, a seu lado, nos Lusíadas; ou Aurora, a desdizer o poeta); depois, Camões mostrar-se-ia irritado, tiraria a pala e desistia de tudo.
Quem tudo
quer tudo tem
(Miguel M.
— 12.º 1.ª)
(Muito Bom (-)) Uma primeira versão deste vídeo tinha mais cinquenta e tal segundos do que o permitido para as Olimpíadas. Com o corte dos primitivos início e final, perde-se o enquadramento mais formal no episódio de Faetonte, mas talvez até se ganhe quanto a ritmo narrativo. A transposição de aspetos do enredo da mitologia para a atualidade gera situações irónicas conseguidas (por exemplo, o contraste entre arrogância de Faetonte e a progressiva cobardia do automobilista em formação funciona bem em termos de humor). O desdobramento do autor em mais do que uma personagem é outro mérito do trabalho, bem como o cuidado em se incluir Camões no enredo.
O vento
que nos uniu e o vento que nos destruiu
(Rafaela,
Ranya — 12.º 1.ª)
(Bom+/Muito Bom-) Bom ritmo narrativo (história, devido à síntese conseguida, às legendas, aos vários pontos de filmagem, à montagem, avança a boa velocidade — até por isso, fiquei a pensar se não poderiam ter aproveitado melhor o tempo disponível depois — conclusão talvez devesse ter sido já mais lenta). Pronúncia do nome «Ceíce» não me pareceu correta: o acento obriga a hiato entre vogais E e I (deveria ser /α-í/, e não /i/, como eu ouço). E, na primeira vez em que se diz «Alcíone», também a pronúncia não foi boa (ouço «Alci[ó]ne», quando se trata de palavra esdrúxula: deve ler-se «Alcí[u]ne», como lá mais para a frente se diz). A última fala saiu demasiado rápida, lida à pressa. Finalmente, são muito perfeitos o tratamento do som ambiente e toda a montagem. Também o contraste entre cenários exteriores e dentro de casa funciona bem.
Passarificação
(Margarida,
Mariana — 12.º 1.ª)
(Muito Bom) Adoção de estilo «à cinema mudo» (com os competentes quadros com legendas, os gestos e as expressões muito notórios, o preto e branco) resulta bem. E, no entanto, o tratamento musical e do som no filme é crucial (e mostra domínio técnico muito seguro). O final, com uma interrupção irónica e muito inteligente — mas talvez demasiado apressada para a compreensão de quem assista ao vídeo sem querer voltar atrás e ver de novo —, mostra uma desconstrução do estilo adotado antes, que é original e tem a vantagem adicional de permitir um momento de declamação de Camões (que talvez pudesse ser mais lenta — fiquei com a ideia de que a aproximação do limite de tempo terá levado a essa velocidade quase excessiva). E gosto do título.
Redes
fraudulentas
(Frederico,
Matias, Miguel B., Tiago — 12.º 1.ª)
(Muito Bom (-)) Transpõe-se a figura de Circe para os tempos das redes sociais e da publicidade enganosa (a bebida dá lugar a comprimidos; a sedução de Circe corresponde ao poder imediato da faculdade de encomendar pela net; mantém-se, isso sim, a metamorfose em animal — era mais engraçado que tivessem arranjado um suíno, mas compreendo as dificuldades em providenciá-lo). O vídeo termina com essa metamorfose, e com Ulisses indiferente (ou mesmo contente: «fixe!»), o que é solução um pouco trocista, como se o foco no telemóvel fosse tão absorvente, que o herói se desinteressasse até de correr em auxílio do companheiro. Ainda assim, creio que teria sido melhor desfecho, até porque ainda restava meio minuto, fazer que Ulisses interviesse (talvez com alguma panaceia que passasse por citar Camões, que fica um pouco em falta). Muito bons domínio técnico e representação.
Primeiro
a ficar — mashup mitológico
(Beatriz,
Clara, Francisca — 12.º 3.ª)
(Bom+/Muito Bom-) A estratégia narrativa assenta num repto da «voz» de um programa ao género dos do Big Brother («Primeiro a ficar», por brincadeira com «Último a sair»); na verdade, desafio é alterado depois, de modo a que a tarefa musical inclua também Camões. Seguem-se versos em geral bem concebidos, músicas que que devem ser avaliadas segundo o grau de verosimilhança (seriam as canções esperáveis das concorrentes de um «Primeiro a ficar»? — sim, creio que sim; o que me isenta de procurar a avaliar as performances musicais segundo critérios absolutos, o que ainda menos saberia fazer). Tudo está bem realizado e representado. Legendas, nem sempre. Em vez de «campos maltados», «campos esmaltados». Em canção (e nas legendas), «que nos Lusíadas Camões falou» ficaria melhor como «sobre que nos Lusíadas Camões falou»; «Etiopia», «Etiópia»; «Reinou», «reinou». Também nas legendas, não se percebe por que motivo só as falas de Francisca (e uma de Clara) são identificadas. E aparece ora «Títono» ora «Titono» (creio que é preferível «Titono»); e «Orion» será «Oríon».
Podcast
Sabi
(Bea A., Sarah
— 12.º 3.ª)
(Bom (+)) Foi uma boa ideia aproximar o episódio de Circe de situações que acontecerão «na noite» (drogar bebidas de raparigas para depois delas abusar). A concretização implicava, creio, maior formalidade (mesmo se num estilo relativamente coloquial e, é claro, em registo oral, um podcast obrigava a um texto um pouco mais fixado — a um «improviso» guiado por papel). A abordagem tão improvisada resulta, salvo erro, de não ter havido mais tempo de preparação (ou é mesmo boa representação?). Talvez se devesse também enquadrar a peripécia de Circe no resto das aventuras de Ulisses na Odisseia. Do ponto de visto fílmico, narrativo, destaco o começo e o final não marcados, apanhando-se o podcast já em curso e despedindo-nos também sem uma conclusão.
Carta ao
crepúsculo
(Afonso — 12.º 4.ª)
(Bom +) Muito bom trabalho de edição, que, de certo modo, consegue esconder que se trata de vídeo em que o fulcral é o áudio. Texto também geralmente bem escrito (em baixo, deixo algumas correções ou dúvidas). Leitura em voz alta é que ainda mostra raras pequenas hesitações (creio que mais porque o autor ainda não consegue manter fluência perfeita num texto tão longo, do que por falta de ensaio ou repetições). Algumas correções da redação: «se perderem interesse e esquecê-los» (se perderem interesse e os esquecer); «Se nós nos recusássemos a conformar» ficaria melhor assim: «Se nos recusássemos a conformar-nos» ou «Se nos recusássemos a conformarmo-nos»; «e nunca perdêssemos isso de mente» (creio que é «de vista»); «Do que se vê à vista alheia» (creio que era «à vista desarmada»). Quanto à pronúncia: de «Oríon» deve ter em conta que a tónica será no i (a pronúncia que se ouve no vídeo justificava-se se escrevêssemos a palavra como esdrúxula: «Órion»); quando se diz «Títero», não era «Titono»?
Aurora —
a eterna apaixonada
(Tiago N. — 12.º 4.ª)
(Bom (+)) Poema está bem escrito — em geral, boa sintaxe; não controlei métrica, mas os versos apropriam-se ao ritmo. Há algum desperdício das potencialidades de um vídeo (trata-se sobretudo de um áudio), embora se deva dizer que o bom acabamento, o «asseio» do documento são indiscutíveis. «*Amor cega, a razão» não está bem escrito: não pode haver vírgula, é claro: «Amor cega a razão» (na transcrição no final, do poema seguido, já não se cometeu o erro). Quanto à pronúncia de «Oríon», dada esta grafia, terá mesmo de ter a tónica no i. «Compôr» não tem acento (só «pôr» tem acento; os derivados de «pôr» não têm acento).
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