Saturday, September 07, 2024

Aula 108

Aula 108 (18 [1.ª], 19 [3.ª], 20/mar [4.ª]) Copio quatro estrofes do canto IV de Os Lusíadas (uma parte das que relatam acontecimentos da revolução de 1383-85). Recordo que tudo isto se inclui no longo discurso de Vasco da Gama ao rei de Melinde. À direita estão significados de algumas palavras ou expressões. Quando houver alternativas — separadas por barra: «/» —, circunda a correta.

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«Alteradas então do Reino as gentes || Alteradas = Agitadas / Mudadas

C’o ódio que ocupado os peitos tinha, || os peitos = os corações / as bexigas

Absolutas cruezas e evidentes || cruezas = miudezas / crueldades

Faz do povo o furor, por onde vinha; || furor = fofura / fúria

Matando vão amigos e parentes

Do adúltero Conde e da Rainha, || Conde = Andeiro / D. Henrique

Com quem sua incontinência desonesta || incontinência = descaramento / aversão a comprar no Continente

Mais, despois de viúva, manifesta. || despois = depois

 

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«Mas ele, enfim, com causa desonrado, || ele = Luís Montenegro / Andeiro

Diante dela a ferro frio morre, || a ferro frio = a golpes de punhal / engomado com ferro arrefecido

De outros muitos na morte acompanhado,

Que tudo o fogo erguido queima e corre:

Quem, como Astianás, precipitado, || Quem = bispo || Astianás = filho de Heitor (herói troiano)

Sem lhe valerem ordens, de alta torre;

A quem ordens, nem aras, nem respeito; || quem = uma abadessa || aras = altares / araras

Quem nu por ruas, e em pedaços feito.

 

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«Podem-se pôr em longo esquecimento

As cruezas mortais que Roma viu, || Roma = Roma antiga / S. S. Lázio / A. S. Roma

Feitas do feroz Mário e do cruento || Mário [e Cila] = adversários em Roma

Sila, quando o contrário lhe fugiu. || o contrário = o seu adversário

Por isso Lianor, que o sentimento || Lianor = infanta de Espanha / rainha Leonor Teles

Do morto Conde ao mundo descobriu, || Conde = Conde João Fernandes Andeiro

Faz contra Lusitânia vir Castela, || Lusitânia = Portugal

Dizendo ser sua filha herdeira dela. || dela = da Lusitânia / de Marco Paulo

 

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«Beatriz era a filha, que casada

C’o Castelhano está que o Reino pede, || Castelhano que o Reino pede = D. João de Castela

Por filha de Fernando reputada, || reputada = considerada / prostituída

Se a corrompida fama lho concede. || fama = reputação / Famalicão

Com esta voz Castela alevantada, || alevantada = incitada

Dizendo que esta filha ao pai sucede, || pai = D. Fernando / algum amante de D. Leonor Teles

Suas forças ajunta, pera as guerras, || pera = para / maçã (ou esposa do pero)

De várias regiões e várias terras.

 

               A última estância do canto IV interessa-nos por outra razão, que explicarei em aula. Para já, tenhamos noção de que se trata do final das palavras do Velho do Restelo (incluídas, é claro, no já citado relato do Gama):

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«Não cometera o moço miserando || moço miserando = Faeton (ou Faetonte) / Cristianito

O carro alto do pai, nem o ar vazio || carro alto do pai = Tesla / carro do Sol (Hélio ou Apolo)

O grande arquitector c’o filho, dando || grande arquitector = Dédalo / Souto Moura || filho = Ícaro

Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio. || mar = mar Egeu (ou mar Icário) || rio = rio Pó

Nenhum cometimento alto e nefando || alto = sublime / gigante || nefando = ímpio

Por fogo, ferro, água, calma e frio,

Deixa intentado a humana geração. || intentado = por tentar

Mísera sorte! Estranha condição!»

A alusão a Faetonte e a Ícaro justifica-se por esses episódios da mitologia serem alegorias da ______ desmedida, o mesmo pecado que o Velho do Restelo aponta aos portugueses defensores das viagens marítimas dos Descobrimentos.

Pierre Grimal, Dicionário da Mitologia Grega e Romana, tradução de Victor Jabouille, Lisboa, Difel, 1992, p. 164:



Eis a parte B do grupo I da prova nacional de 2019 (época especial):

PARTE B

Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.

                              Como quando do mar tempestuoso

               o marinheiro, lasso1 e trabalhado,

               d’ um naufrágio cruel já salvo a nado,

               só ouvir falar nele o faz medroso;

 

5                            e jura que em que2 veja bonançoso

               o violento mar, e sossegado

               não entre nele mais, mas vai, forçado

               pelo muito interesse cobiçoso;

 

                              assi, Senhora, eu, que da tormenta

10           de vossa vista fujo, por3 salvar-me,

               jurando de não mais em outra ver-me;

 

                              minh’ alma, que de vós nunca se ausenta,

               dá-me por preço4 ver-vos, faz tornar-me

               donde fugi tão perto de perder-me.

Luís de Camões, Rimas, edição de A. J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994, p. 138.

NOTAS

1 — lasso – cansado; fatigado.

2 — em que – ainda que.

3 — por – para.

4 — dá-me por preço – impõe-me; dá-me por destino.

4. Explicite a comparação que é desenvolvida ao longo do poema.

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5. Interprete a antítese «salvar-me» (verso 10) / «perder-me» (verso 14), no contexto da relação amorosa que o sujeito poético estabelece com a «Senhora».

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6. Relativamente ao soneto transcrito, apresente:

a) o esquema rimático;

b) a classificação das rimas.

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TPC — Em Gaveta de Nuvens ficam duas fichas do Caderno de Atividades (já corrigidas), sobre Camões (lírico e épico), que deves ler.

 

 

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