Sunday, September 08, 2024

Aula 6-7

Aula 6-7 (23 [3.ª], 24 [4.ª], 26/set [1.ª]) Correção do comentário sobre «A ceifeira»/«Gato que brincas na rua».

Quase anónima sorris

E o sol doura o teu cabelo.

Porque é que, pr’a ser feliz,

É preciso não sabê-lo?

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930-1935), Lisboa, Ática, 1955

Nesta quadra de Fernando Pessoa há uma falha de coesão frásica (justificada pela intenção de fazer rima e pelo estatuto, entre o da imitação de quadra popular e o da brincadeira assumida, que tem este quarteto). Reescreve o último verso já corrigido:

v. 3        Porque é que, pr’a ser feliz,

v. 4        __________________

O que faz que o pronome («__») tenha de ficar anteposto ao verbo (o infinitivo «saber») é o facto de a frase ser __________.

Vejamos algumas circunstâncias que obrigam à alteração da ordem mais normal no português europeu (a da {escolhe} próclise / mesóclise / ênclise): estar a frase na negativa, ficar o pronome numa subordinada completiva, tratar-se da variante sul-americana do português, ter a frase certos advérbios. Completa a coluna da direita:

Stora, por favor, dê-mo.

negativa >

Stora, por favor, não ______.

Comprei-o.

subordinação completiva >

Já te disse que ______.

Gyökeres revelou-se um craque.

variante brasileira >

Gyökeres ______ um craque.

Registo-o.

presença de certos advérbios >

Talvez _____.


Dístico

 

Ó meu menino que brincas

o dia todo na rua

e ainda pensas que a Vida

é só a vida que é tua,

fica lá no teu engano.

 

Não perguntes, não te apresses.

Sobra tempo p’ra saberes

coisas que antes não soubesses.

Sebastião da Gama, Itinerário Paralelo, Mem Martins, Arrábida, 2004

Estabelece analogias entre «Dístico», de Sebastião da Gama, e «Gato que brincas na rua» (p. 32), de Fernando Pessoa, completando a minha resposta:

O tema de «Dístico», de Sebastião da Gama, é quase o mesmo do do poema de Pessoa «Gato que brincas na rua» — também aqui o sujeito poético se dirige a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . —, mas a perspetiva é diferente: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Qual é o vocativo da quintilha? Faltará alguma vírgula?

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Explica o título «Dístico» (sabendo que não se trata de uma estrofe de dois versos, um dos significados da palavra).

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Cria um título, também de uma só palavra, para «Gato que brincas na rua» (não, não pode ser «Gato»; nem «Brincadeira», nem «Rua», nem «Que»).

______________________

Exemplo de redação possível do comentário em torno de «A ceifeira» e «Gato que brincas na rua», dois poemas de Fernando Pessoa ele-mesmo:

Em ambos os poemas o tema é a dor de pensar provocada pela intelectualização do sentir. O poeta gostaria de ser como a ceifeira, ter a sua alegre inconsciência, mas, ao mesmo tempo, saber-se possuidor dessa inconsciência. Do mesmo modo, gostaria de ser como o gato que apenas sente («sentes só o que sentes», v. 8) e, por isso, é feliz («és feliz porque és assim», v. 9), enquanto o poeta pensa («vejo-me e estou sem mim, / conheço-me e não sou eu», vv. 11-12).

[85 palavras]

Para ires resolvendo os quatro itens de «Gramática», na p. 34:

Em cada um dos itens, seleciona a opção correta.

1. Nos versos «Entrai por mim dentro! Tornai / Minha alma a vossa sombra leve!» (vv. 22-23), a dêixis pessoal é assegurada

(A) pelo pronome pessoal e pelos determinantes possessivos.

(B) pelas formas verbais e pelo pronome pessoal.

(C) pelos determinantes possessivos, pelo pronome pessoal e pelas formas verbais.

(D) pelos nomes, pelo adjetivo e pelos determinantes possessivos.

 

2. As expressões «de alegre e anónima viuvez» (v. 4) e «a vossa sombra leve» (v. 23) desempenham, respetivamente, as funções sintáticas de

(A) complemento do nome e predicativo do complemento direto.

(B) complemento do adjetivo e modificador restritivo do nome.

(C) complemento do nome e predicativo do sujeito.

(D) complemento do adjetivo e predicativo do complemento direto.

 

3. Todas as expressões desempenham a função sintática de complemento direto exceto

(A) «o campo e a lida» (v. 10).

(B) «A tua incerta voz ondeando» (v. 16).

(C) «tão breve» (v. 21).

(D) «me» (v. 24).

 

4. O verso «O que em mim sente ‘stá pensando» (v. 14) integra uma oração subordinada

(A) substantiva completiva, com a função sintática de sujeito.

(B) substantiva relativa, com a função sintática de sujeito.

(C) substantiva completiva, com a função sintática de complemento direto.

(D) substantiva relativa, com a função sintática de predicativo do sujeito.

Muitos romances, contos e filmes têm tomado a figura de Fernando Pessoa (ou dos seus heterónimos) como personagem, mais ou menos ficcionada depois. Escreve tu também um trecho narrativo — que seria fragmento de um texto «literário» maior que não tem de ficar completo — cujo início será o apontamento que copiei do espólio de Pessoa e se percebe ser um recado deixado por uma Adelaide.

O narrador pode ser homodiegético ou heterodiegético. Aliás, todos os aspetos da estrutura narrativa ficam ao teu critério. (E não tens de te preocupar demasiado com a coerência com dados históricos da biografia de Pessoa.)

“Sr. Pessoa,

Precisei de sair. Está o jantar pronto: é só sentar à mesa, tirar do lume e comer.

Adelaide”.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

TPC — Não esqueças a leitura da longa carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro acerca da génese dos heterónimos, reproduzida em Gaveta de Nuvens.

 

 

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