Aula 1-2
Aula 1-2 (16 [3.ª], 17 [4.ª],
19/set [1.ª]) Os parágrafos que se seguem tratam do autor de que este ano mais
falaremos, Fernando Pessoa. Deves assinalar a sua veracidade (V) ou falsidade (F). Estão escondidas subtis impossibilidades, anacronias, mas
também é preciso ter em conta que Fernando Pessoa tinha efetivamente muitas
idiossincrasias.
Fernando Pessoa chamava-se
António porque nasceu no dia de Santo António (em Lisboa, no Largo de São
Carlos, a 13 de junho de 1888).
Estudou em Durban (na
atual África do Sul, na região de Natal, então uma colónia inglesa), onde o
padrasto era cônsul. Aprendeu a dominar tão bem o inglês, que venceu prémios
literários e se distinguiu como o melhor aluno da região (o que aliás, em princípio,
lhe deveria ter dado acesso a Oxford — era o prémio oficial —, mas não
aconteceu).
Fernando Pessoa e o
Mahatma Gandhi viveram ambos na África do Sul pela mesma época (no início do
século XX).
Fazendo-se passar por
psiquiatra, com o nome de Faustino Antunes, por razões clínicas interessado em
informar-se sobre a saúde mental de um seu paciente — precisamente, o próprio
Pessoa —, já em Lisboa, em 1907, Fernando Pessoa escreveu a antigos professores
e condiscípulos da Durban High School, a pedir-lhes um retrato psicológico
daquele seu suposto doente. Houve respostas, cuidadosas e detalhadas.
Com vinte um anos, em
agosto de 1909, Pessoa viajou até Portalegre, para ir comprar maquinaria de
tipografia. É provável que nos vinte e seis anos que se seguiram, até à sua
morte, pouco mais tenha saído para lá dos arredores de Lisboa. Quanto à
tipografia que foi comprar (para a Empresa Íbis, Tipográfica e Editora), quase
nada nela se imprimiu.
Na Olisipo, editora que
criou, Pessoa publicou livros considerados escandalosos, como as Canções, de António Botto, poeta,
homossexual (e assumido frequentador dos urinóis de Lisboa), ou Sodoma divinizada, de Raul Leal, que
tinha «uma pulsão irresistível para o bizarro e o excessivo». Pessoa defendeu
sempre a liberdade de expressão, sem receio de afrontar as indignações e os
movimentos de censura.
O poema em inglês Antinous (1918), raro caso de livro de
Pessoa publicado em vida, hoje dir-se-ia ser de apologia da pedofilia e o
próprio poeta o considerava obsceno.
Os heterónimos são autores
fictícios, com biografias inventadas por Pessoa, cujos nomes subscrevem textos
concebidos pelo poeta nos estilos de cada um. Os mais importantes, os
verdadeiros heterónimos, serão Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis.
Costuma ser referido como semi-heterónimo Bernardo Soares. No entanto, se
quisermos considerar os vários autores fictícios criados por Pessoa,
contabilizaremos cento e trinta e seis.
Um dos heterónimos de
Pessoa — e que é autor de contos policiais em inglês — chama-se Cocó.
Nos primeiros trinta e
dois anos de vida, Pessoa mudou de residência mais de vinte vezes, tendo
chegado a morar na área do Agrupamento de escolas de Benfica.
«Amorzinho», «Terrível
Bebé», «Vespa vespíssima», «Bebé fera», «Bebezinho mau», «Ophelinha pequena»,
«Bombom», «Boquinha doce», «Minha bonequinha»,
«Meu Íbis chamado Ophélia», «Íbis do Íbis da Íbis do Íbis», «Bebé rabino»,
«Bebé do Nininho», «Anjinho bebé», «Anjinha bué lindinha» e «Nenuquinho
fofinho» são nomes carinhosos por que Fernando (Pessoa), nas suas cartas de
amor, trata Ofélia (Queirós), com quem namoriscou em 1920 e no final de 1929.
Há poemas de Pessoa
escritos em sessões de espiritismo e a meias com espíritos. A letra de Pessoa
surge-nos então com um desenho diferente.
O aforismo «Penso logo
existo» é da autoria de Pessoa.
O texto «Ultimatum», do
heterónimo Álvaro de Campos, publicado em 1917 no número único da Portugal Futurista, inclui, a letras
garrafais, a exclamação «Cocó!».
Pessoa teve intervenção
decisiva num episódio espetacular que envolveu o mágico internacional, e
espião, Aleister Crowley, que se teria suicidado (ou teria sido assassinado) na
Boca do Inferno.
O poema de Álvaro de
Campos cujo primeiro verso é «Ao volante do Chevrolet pela estrada de Cintra»,
de 1928, teve que ver com a promoção de um modelo daquela marca de automóveis
que acabava de ser comercializado em Portugal.
Fernando Pessoa deu-se
sempre bem com padrasto, com o irmão do padrasto e com o cunhado com que teve
de coabitar.
Ia aos escritórios em que
trabalhava também ao domingo.
Foi dispensado da
colaboração em O Jornal porque a
Associação dos Motoristas de Lisboa protestou, ofendida com uma referência que
Pessoa fizera numa das suas crónicas aos chauffeurs
(que, segundo ele, guiariam mal).
Já no último ano de vida,
em 1935, Pessoa não compareceu na sessão de entrega de prémios de concurso
literário do SPN (Secretariado de Propaganda Nacional), que vencera na
categoria ‘poema’, com o livro Mensagem,
no valor de cinco mil escudos (correspondente a mais do que um salário anual de
um professor).
Como causa da morte de
Fernando Pessoa, a 30 de novembro de 1935, tem-se indicado uma crise hepática
(teria o fígado demasiado deteriorado pelo muito que bebia). A última frase que
escreveu, já no Hospital de São Luís dos Franceses, para onde fora levado dois
dias antes, foi «I know not what tomorrow will bring».
Veremos o episódio de As minhas coisas favoritas (de Nuno Markl) de que trata «Letras Prévias», na p. 14 do manual, «Aqueles momentos imediatamente a seguir a acabar um livro incrível».
Não vale a pena, porém,
seguir muito o que se indica aí, a não ser talvez para decidir a resposta do
ponto 1.3:
1.3. Seleciona opção que
completa adequadamente a frase.
No final da rubrica
radiofónica, os locutores trocam impressões sobre
(A) autores preferidos.
(B) questões práticas de
leitura.
(C) aspetos gráficos dos
livros.
(D) experiências de
leitura da mesma obra.
Eis os títulos de outras
crónicas de Nuno Markl sobre as minhas coisas favoritas:
Arrancar um autocolante de
uma vez.
Escrever com um lápis bem
afiado.
A maneira como os cães nos
recebem.
Meter os pés na areia
molhada.
Cafuné.
Pizza.
Lojas chinesas.
Quando o gelado sai com a
consistência perfeita.
Entrar numa casa de banho
pública vazia.
Quando chega uma
encomenda.
Partir um ovo de maneira
perfeita.
Conseguir tirar uma coisa
presa no dente.
Comer coisas extremamente
tostadas.
Acordar e perceber que é
sábado.
Frascos que a abrir fazem
«ploc».
A chuva.
Ver filmes de terror.
Tirar um soutien ao fim do
dia.
Uma alegria do
estacionamento.
Entrar numa cama lavada.
Chegar a casa.
Karaoke.
Dar a coisa certa aos
entes queridos.
Mexer em barrigas de cães
oferecidos.
Tomar duche depois de um
treino.
Buffet de pequeno-almoço
de hotel.
Segundos de amor numa
escada rolante.
Acompanhar sopa com
batatas fritas.
Encontrar objetos de
infância na casa dos pais.
Comer chantilly da lata.
Sestas.
Cantar no carro.
Ter conversas profundas
com os filhos.
O momento mágico em que
uma cãibra desaparece.
Esvaziar o recycle bin no
computador.
A semana entre o Natal e o
Ano Novo.
Ir a hortos.
Pôr um bebé a arrotar.
Encontrar dinheiro em
bolsos de casacos.
Encontrar lugar à porta.
Séries, podcasts e
documentários de crimes reais.
Ter o carro lavado.
Rebentar bolhas de
plástico de embalagens.
Coçar as costas.
Gomas.
Dar banho ao cão.
Sem repetires nenhum dos
itens em cima, escreve uma lista tua de «coisas favoritas», procurando
seguir o estilo adotado por Markl:
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Escreve, com um
desenvolvimento semelhante ao das crónicas que vimos, um texto sobre uma — só
uma — das tuas coisas favoritas.
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TPC
— Em Gaveta de Nuvens lê «Preceitos para o trabalho ao longo do ano».
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