Sunday, September 08, 2024

Aula 13

Aula 13 (1 [1.ª], 2 [3.ª], 3/out [4.ª]) Apreciação crítica de Dia Triunfal (correção e exemplo):

[Exemplo de apreciação crítica sobre a curta-metragem Dia Triunfal:]

Rita Nunes vence sem precisar de derrotar Fernando Pessoa

Dia Triunfal desafia-nos a imaginar tudo ao contrário mas não se esquece de nos dar as âncoras para reconhecermos o ponto de partida, o verdadeiro dia triunfal.

«Dia triunfal» foi como Fernando Pessoa recordaria, decerto muito fantasiosamente, o dia 8 de março de 1914, quando lhe teriam surgido, num ímpeto, os primeiros poemas assinados pelos heterónimos Alberto Caeiro (logo uma trintena de poesias de O Guardador de Rebanhos), Ricardo Reis e Álvaro de Campos. O relato desse momento «epifânico» está numa carta de mais de vinte anos depois enviada ao mais jovem poeta, e fã de Pessoa, Adolfo Casais Monteiro. O fenómeno heteronímico é talvez o aspeto mais sedutor da figura literária de Fernando Pessoa, dado até o caráter lúdico implicado na criação de três personagens-autores, ou quatro — se contarmos com o semi-heterónimo Bernardo Soares —, embora se possa dizer que bastaria a produção ortónima para que Pessoa já fosse, como é, um dos grandes escritores do século XX.

Na curta-metragem que intitulou precisamente Dia Triunfal, Rita Nunes vira do avesso o episódio já mítico, propondo-nos um novo enredo para a génese dos heterónimos. A heteronímia seria afinal uma estratégia de cinco poetas menores, um golpe de marketing genial, sugerido pelo mais histriónico e extrovertido dentre eles, Álvaro de Campos. E se tivesse havido cinco autores de carne e osso que resolvessem abdicar de publicidade individual em favor da glória de um só deles, convenientemente determinado por sorteio? E, claro, para a nova explicação poder aderir ao que firmou a história, o escolhido à sorte tinha de ser Fernando Pessoa.

Apesar da assumida desconfiança relativamente à história oficial da génese dos heterónimos, o filme não deixa de aproveitar as idiossincrasias dos quatro. Talvez Ricardo Reis seja um tanto desaproveitado (esperaríamos vê-lo a argumentar contra táticas tão industriosas) e Bernardo Soares tenha saído demasiado caricatural no seu estatuto de heterónimo secundário (por culpa também da representação estilizada do jovem ator André Teodósio?). Ao contrário, nas cenas iniciais, em ritmo vivo que resulta de se ir alternando a presença no ecrã dos quatro poetas, vemo-los a saírem do seu ambiente — que funciona como um primeiro emblema —, resultando ainda melhor o que se vai ouvindo à medida que percorrem o caminho até ao café onde os espera Fernando Pessoa. São fragmentos de alguns dos poemas mais conhecidos de cada um dos heterónimos — versos que se constituem como segundo elemento identificador —, a que se juntam ainda as indumentárias (o boné de Caeiro, o chapéu convencional de Reis, a camisola azul de Campos).

É no esforço bem sucedido que faz para que reconheçamos o que já sabemos dos heterónimos que reside boa parte do mérito desta curta. Se é certo que é um interessante achado a novidade da explicação para heteronímia e a surpresa no fecho do filme, esse sucesso assenta bastante nos momentos anteriores em que fomos chamados ao exercício de reconhecer os quatro perfis. Ou seja, de qualquer modo é sempre a invenção de Pessoa que triunfa.

Retomamos a revisão da gramática com a classificação de orações (no manual, as orações estão nas pp. 337-340), detendo-nos hoje particularmente nas orações subordinadas adverbiais.

As subordinadas adverbiais desempenham funções sintáticas de modificadores (do grupo verbal — causais, finais, temporais, comparativas — ou da frase — condicionais e concessivas).

Nos cinco períodos a seguir (de «A sua tia faleceu derivado a complicações», série Meireles), temos frases simples e frases complexas. Todas elas têm um modificador (que, neste caso, exprime causa), mas, por vezes, essa função é desempenhada por uma oração (uma subordinada adverbial causal).

1. A sua tia faleceu devido a uma condição rara.

2. A sua tia faleceu por um motivo bastante prosaico.

3. A sua tia faleceu por causa de um duende no peito.

4. A sua tia faleceu porque repetia muitas vezes a palavra «pinhal».

5. Como tinha um duende no peito, a sua tia faleceu.

Distingue as frases complexas e as simples:

Têm duas orações as frases n.º __ e n.º __, que são também as que têm dois predicados (cujas formas verbais são: ______ e _____; _____ e _____). São, portanto, frases ________. Ao contrário, são frases simples as n.º __, n.º __ e n.º __, cada uma com uma única oração.

Em cada uma das duas frases complexas há uma oração subordinante e outra subordinada. Sublinha as orações subordinantes (as que poderiam aparecer sozinhas) e circunda as subordinadas (já fui dizendo que, neste caso, são subordinadas adverbiais causais). As palavras que introduzem essas orações («porque» e «____») são conjunções subordinativas causais.

Regressemos às frases simples. Nelas, há um sujeito («_________») e um predicado, incluindo-se aí o modificador do grupo verbal (respetivamente: «devido a uma condição rara», «________» e «______»).

Podemos reescrever as frases, substituindo os modificadores não oracionais por orações [completa 2’ e 3’] e vice versa [completa 5’]. (Repara que já o fiz para 1 e para 4. Nas orações há verbo, que marquei a itálico; nos modificadores não oracionais, não.)

1. A sua tia faleceu devido a uma condição rara.

1’. A sua tia faleceu | porque se deu uma condição rara.

2. A sua tia faleceu por um motivo bastante prosaico.

2’. A sua tia faleceu | _____________________.

3. A sua tia faleceu por causa de um duende no peito.

3’. A sua tia faleceu | visto que _______________.

4. A sua tia faleceu | porque repetia muitas vezes a palavra «pinhal».

4’. A sua tia faleceu por causa da repetição da palavra «pinhal».

5. Como tinha um duende no peito, | a sua tia faleceu.

5’. _______________________, a sua tia faleceu.

Quando a oração subordinada adverbial precede a subordinante ou fica intercalada, deve ser isolada por vírgulas (se estiver depois da subordinante, é aceitável que não se ponha vírgula, embora, por mim, ainda prefira ir pondo vírgula também). A posição da subordinada causal relativamente à subordinante costuma poder alterar-se (mas, por exemplo, no caso da frase 5 — com «como» —, a subordinada tem de estar antes da subordinante).

Nota ainda que «A sua tia faleceu derivado a complicações» é uma frase simples, em que «derivado a complicações» é o _________. No entanto, a expressão «derivado a» não é correcta (o que se deve dizer é: «devido a»).

Nos três períodos que se seguem (6-8), temos exemplos de frases com orações subordinadas adverbiais causais não finitas (infinitiva, gerundiva, participial). Distribui estas últimas designações por cada uma das orações sublinhadas.

6. Por ter um duende no peito, a sua tia faleceu. — ______________

7. Tendo um duende no peito, a sua tia faleceu. — ______________

8. Alojado o duende no peito, a sua tia faleceu. — ______________

Transforma o modificador (do grupo verbal), que sublinhei, numa oração subordinada adverbial causal.

Vim aqui de propósito  por causa dos carapaus à espanhola.

Vim aqui de propósito | ________________________

Transforma o modificador (do grupo verbal) sublinhado, que é uma oração subordinada adverbial causal, num modificador não oracional.

Pedi-te para vires hoje aqui | porque eu ando aqui com um problema.

Pedi-te para vires hoje aqui ____________________________

Divide em orações e classifica-as (destaquei os verbos, porque ajudam a identificar as orações):

Se quisesse bitoque, comia ao pé de casa, no Aires.

_________________________

Abres a manteiga e os patês das entradas com cuidado, comes tudo e, depois, enches os pacotes com miolo de pão.

_________________________

Classifica as orações que já fui delimitando:

Aconselho-te | a não referires o meu nome | quando andares a resolver esse assunto

_________________________

Fechas aquilo bem fechado | e, depois, parece | que não foi encetado.

_________________________

Classifica as orações que sublinhei quanto à função sintática que desempenham:

Olha este jogo | que eu inventei.

______________________

Olha | que são só dois douradinhos.

______________________

Fiz isso | antes de vir.

______________________

TPC — No manual, percorre as páginas mais relacionadas com classificação de orações (pp. 337-340); também úteis são as classificações de conjunções (pp. 323-324).

 

 

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