Friday, September 06, 2024

Aula 135

Aula 135 (13 [1.ª], 14 [3.ª], 15/mai [1.ª]) Entrega do trabalho com atos de fala.

Logo no capítulo II de O ano da morte de Ricardo Reis começam as deambulações de Ricardo Reis. Sai cedo para trocar por escudos algum do dinheiro inglês que trazia, o que faz no Banco _______. Percebemos que se dirigira para as bandas do Terreiro do Paço: «Da Rua do Crucifixo, onde está, ao Terreiro do Paço distam poucos metros, apeteceria escrever, É um passo, não fosse a ambiguidade da homofonia» (o narrador brinca com a proximidade linguística, fonética, entre _____ e _____).

Como vai pensativo e chove, alguém se mete com ele: «Ó senhor, olhe que aí debaixo não lhe chove». Então, Ricardo Reis «sorri de se ter distraído, sem saber porquê murmura os dois versos de João de Deus, célebres na infância das escolas, Debaixo daquela arcada passava-se a noite bem» (PE, 34; C, 34; Mf, 26).

Estas linhas aludem a um poema de João de Deus, célebre por ser um dos últimos textos da Cartilha Maternal, por onde muitos aprenderam a ler (eu, por acaso, também). A edição que copio à direita é mais recente que a da minha época mas ainda me lembro deste poema como angustiante. A menção dos dois versos de João de Deus (um poeta contemporâneo, e amigo, de Antero e de Eça) é um dos muitos exemplos de intertextualidade em O ano da morte de Ricardo Reis.

Ainda neste segundo capítulo Ricardo Reis dirige-se ao Cemitério dos _______, onde pretende visitar o jazigo de Fernando Pessoa (aliás, da avó Dionísia). De qualquer modo, não encontra o poeta, porque este tinha ______.

É igualmente neste capítulo que, por a água da chuva ter entrado pela janela do quarto no Bragança, Reis conhece _______, criada que lho vai limpar com esfregão e balde (PE, 50-51; C, 47; Mf, 37). Também o nome da criada serve para alusões intertextuais, neste caso a _______ do próprio _______: «lê alguns versos apanhados no passar das folhas, E assim, Lídia, à lareira, como estando, Tal seja, Lídia, o quadro, não desejemos, Lídia, nesta hora, Quando, Lídia, vier o nosso outono, Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira-rio, Lídia, a vida mais vil antes que a morte, já não resta vestígio de ironia no sorriso» (PE, 51-52; C, 48; Mf, 38).

O capítulo III começa com o primeiro pequeno-almoço de Reis no hotel, servido por _______. Neste capítulo há também longa digressão por Lisboa (que tentei acompanhar num tepecê que terão visto). Num momento desse passeio, a intertextualidade estende-se a uma série de obras da literatura universal. São elas:

A Eneida, de Virgílio || A Divina Comédia, de Dante || Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro || Os Lusíadas, de Luís de Camões || Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes || Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas.

cinzento = _________ | amarelo = _________ | azul = __________ | verde = _________ | rosa = ___________ | vermelho = __________

Faz corresponder a cada uma destas obras as alusões que lhes são feitas. Os sublinhados (ou cores, numa versão posterior, para se ver no ecrã) assinalam cada segmento intertextual — não contei com as referências à estátua de Camões. Trata-se quase sempre do início da obra (excetua-se Os Três Mosqueteiros, em que a alusão é abrangente):

Ricardo Reis atravessou o Bairro Alto, descendo pela Rua do Norte chegou ao Camões, era como se estivesse dentro de um labirinto que o conduzisse sempre ao mesmo lugar, a este bronze afidalgado e espadachim, espécie de D'Artagnan premiado com uma coroa de louros por ter subtraído, no último momento, os diamantes da rainha às maquinações do cardeal, a quem, aliás, va­riando os tempos e as políticas, ainda acabará por servir, mas este aqui, se por estar morto não pode voltar a alistar-se, seria bom que soubesse que dele se servem, à vez ou em confusão, os principais, cardeais incluídos, assim lhes aproveite a conveniência. São horas de almoçar, o tempo foi-se passando nestas caminhadas e desco­bertas, parece este homem que não tem mais que fazer, dorme, come, passeia, faz um verso por outro, com grande esforço, penando sobre o pé e a medida, nada que se possa comparar ao contínuo duelo do mosqueteiro D’Artagnan, só os Lusíadas comportam para cima de oito mil versos, e no entanto este também é poeta, não que do título se gabe, como se pode verificar no registo do hotel, mas um dia não será como médico que pensarão nele, nem em Álvaro como engenheiro naval, nem em Fernando como correspondente de línguas estrangeiras, dá-nos o ofício o pão, é verdade, porém não virá daí a fama, sim de ter alguma vez escrito, Nel mezzo del camin di nostra vita, ou, Menina e moça me leva­ram da casa de meus pais, ou, En un lugar de La Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, para não cair uma vez mais na tentação de repetir, ainda que muito a propósito, As armas e os barões assinalados, perdoadas nos sejam as repetições, Arma virumque cano. Há-de o homem esforçar-se sempre, para que esse seu nome de homem mereça, mas é menos senhor da sua pessoa e destino do que julga, o tempo, não o seu, o fará crescer ou apagar, por outros merecimentos algumas vezes, ou diferentemente julgados, Que serás quando fores de noite e ao fim da estrada. [PE, 77-78; C, 70-71; Mf, 56-57]

No verso do anterrosto de uma das edições de O Ano da Morte de Ricardo Reis, vemos uma lista das obras de José Saramago (independentemente dos géneros — há romances, mas também diários, livros de viagem, livros de memórias, coletâneas de crónicas, contos, poesia). Copio dezoito dos títulos:

Terra do pecado | Provavelmente alegria | Deste mundo e do outro | A bagagem do viajante | Os apontamentos | Manual de pintura e caligrafia | Objeto quase | Levantado do chão | Que farei com este livro? | Viagem a Portugal | A segunda vida de Francisco de Assis | História do cerco de Lisboa | Todos os nomes | A caverna | As intermitências da morte | As pequenas memórias | Viagem do elefante | Claraboia

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TPC — Prepara leitura em voz alta de «O Sentimento dum Ocidental» (Liga dos Campeões: partes I e II; Liga Europa: partes III e IV).

 

 

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