Aula 11-12
Aula 11-12 (30/set [3.ª], 1 [4.ª], 3/out [1.ª]) Correção de
questionário de compreensão de carta sobre génese dos heterónimos.
O texto informativo que se
segue apresenta a obra de Álvaro de Campos. Atendendo às relações
indicadas entre parênteses, completa-o com os conectores apropriados, de
entre os transcritos abaixo:
| mas sobretudo | depois
da | e | não só | portanto | realmente | ao
mesmo tempo | por isso | igualmente | mas | ou |
em vez da |
Álvaro de Campos goza de
um estatuto especial entre os heterónimos, ____ (enumeração) por ser aquele que
tem um perfil biográfico mais completo, ____ (enumeração), porque Pessoa fez
dele um poeta atual, modernista e vanguardista [...].
Na época em que foi
criado, em conjunto com os outros heterónimos, a função de Campos estava, _____
(conclusão), circunscrita a um vanguardismo europeísta _____ (oposição) _______
(tempo) nacional, aproximando-se do Futurismo no que respeita ao culto das
tecnologias ______ (adição) da ciência moderna [...].
Foi ______ (confirmação) a
este heterónimo que Pessoa atribuiu a autoria de dois incisivos textos
programáticos do Modernismo: o «Ultimatum»,
que foi publicado em 1917 na revista Portugal
Futurista [...]; os «Apontamentos
para uma estética não aristotélica», que viram a luz na revista Athena (1924-1925), contêm a proposta de
uma nova estética, adaptada aos tempos modernos, e, ______ (consequência),
baseada na ideia de força ______ (contraste) aristotélica (10) _____
(alternativa) helénica ideia de beleza.
[...] «Opiário» representa
a época pré-modernista de Pessoa. Ficticiamente anterior às grandes odes
sensacionistas, foi _______ (certeza) composto vários meses ______
(sequencialização temporal) «Ode Triunfal».
[tarefa tirada do manual Expressões,
12.º ano, com texto de António Apolinário Lourenço]
Na p. 84 do manual,
resolve estes itens sobre Álvaro de Campos, depois de ouvirmos gravação
com texto de João Pedro George:
Nos itens 1. a 4.,
seleciona a opção correta.
1. No início do texto, a
apresentação de Álvaro de Campos como heterónimo que «se desprendia do seu
criador para ganhar vida própria» decorre, entre outros aspetos,
(A) do seu envolvimento nas interações sociais de
Pessoa.
(B) das diferenças entre a sua poesia e a do
ortónimo.
(C) da quantidade de elementos biográficos criados
por Pessoa.
(D) do seu posicionamento político divergente do
de Fernando Pessoa.
2. Relativamente a Fernando
Pessoa, Álvaro de Campos representa
(A) contraste.
(B) desinibição.
(C) rigor.
(D) imitação.
3. As odes produzidas por
Álvaro de Campos
(A) coincidem tematicamente com as odes de Ricardo
Reis.
(B) são marcadas por uma melancolia profunda.
(C) exaltam as viagens marítimas do passado.
(D) celebram a vida de forma efusiva.
4. Às duas fases da produção
poética de Álvaro de Campos corresponde, de acordo com o texto, um contraste
entre
(A) subjetividade e objetividade.
(B) tradição e modernidade.
(C) exterioridade e interioridade.
(D) realidade e ficção.
5. De acordo com a
informação apresentada, completa o esquema.
Fases da poesia de Álvaro
de Campos
Fase sensacionista |
Fase metafísica, _______ |
Características: sensibilidade
sobre-excitada, revolta interior, choque e _____, atenção à vida em renovação
constante, interesse pelo mundo ______, linguagem metafórica, discurso nem
sempre lógico. |
Características:_______, melancolia
profunda, intimismo, luta contra o excesso de _______. |
A «Ode triunfal»,
de Álvaro de Campos, é muito maior do que os excertos que vemos nas pp.
85-88 do manual (vai até lá). Como as outras grandes odes
futuristas-sensacionistas deste heterónimo («Ode marítima», «Saudação a Walt
Whitman», «A passagem das horas»), é um poema de várias páginas, torrencial.
(Como tepecê, aliás, sugiro que dês uma vista de olhos ao resto da «Ode triunfal», através de http://arquivopessoa.net/.)
Para já, ponho os versos
que se seguem ao v. 32 (a partir do qual o manual faz muitos cortes), mas sem
que cheguemos, sequer, a meio do poema. A fechar, incluí os versos que causaram
polémica há uns anos por terem sido censurados num manual (no nosso, optou-se
por nem chegar perto dessa parte).
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das
correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras
do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às
docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos
portos!
Atividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos
hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la
foule!
Tudo o que passa, tudo o que para às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente
bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família
vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa
o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por
dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam,
lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e
se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur
disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes
—
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta
branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
E com o tato (o que palpar-vos representa para
mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis
vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da
agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da
Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos
escritórios!
[...]
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre
a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo
e amo-o! —
Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de
escada.
[...]
Uso um ensaio (que também
está no manual, na p. 91) — de Lino Moreira da Silva, sobre linguagem
da «Ode triunfal» — a que acrescentei, entre parênteses curvos, citações do
poema e, entre parênteses retos, os números dos versos. Completa essa minha
ampliação do original com os exemplos que encontres nas três estrofes iniciais
(vv. 1-32, pp. 85-86). (Pus ainda outros exemplos, de versos já não
reproduzidos no manual.)
E a preocupação do poeta é
ainda fazer corresponder o modo de exteriorização daquilo que sente àquilo que
diz que sente, isto é: o nível da expressão ao nível do conteúdo. E assim todas
essas manifestações da dinâmica da vida moderna são apresentadas por ele
repetitivamente, desordenadamente, em catadupa, sugerindo o movimento das
máquinas e a pressa em usufruir de tudo, em ser tudo e ser de tudo, a emoção e
a ansiedade que o invadem. [...]
Ao sentido de modernidade
que deseja transmitir, e a que recorre para sentir
tudo de todas as maneiras — conferindo poeticidade a temáticas não usuais,
como motores, fábricas, energia [...] —, faz o poeta corresponder um nível de
expressão carregado de nomes concretos e abstratos («Inconsciente», «Matéria»),
isolados ou em conjuntos («aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos,
mínimos, / Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar, /
Engenhos, brocas, máquinas rotativas» [vv. 102-104]), fonemas substantivados
(«____ eterno» [v.
5]), topónimos («Panamá, Kiel, Suez» [108]), antropónimos («____», «Virgílio»,
«Alexandre», «_____»), estrangeirismos («souteneur»; «escrocs»; «la
foule»), maiúsculas desusadas («Momento», «Horizonte», «Nova Revelação»,
«Inconsciente», «Matéria»), adjetivação expressiva («excesso ______ de vós»
[14]), simples e múltipla («____ ruídos
______» [10]; «flora estupenda, negra, artificial e insaciável»),
polissíndetos («_______» [16]; «por
estas correias de transmissão __ por estes êmbolos __ por estes volantes»
[24]), metáforas («_______»
[25], «frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita» [112]), apóstrofes
(«____, _____» [5]), anáforas («______» [8-9]; «Amo-vos [...] /
Amo-vos»), personificações («________» [6]; «átomos que hão de _______» [22]), sinestesias («tenho os lábios secos […] / ______»
[10-11]; «bebedeira dos metais»; «rubro ruído»), perífrases, iterações (retoma
de «ó» de apóstrofes), gradações («Atirem-me para dentro das fornalhas! /
Metam-me debaixo dos comboios! / Espanquem-me a bordo de navios» [63-65]),
comparações («______» [15]; «exprimir-me
todo _______» [26]; «ser
completo como uma ____» [27]; «ir
na vida triunfante como um automóvel último-modelo» [28]; «um orçamento
é tão natural como uma árvore / e um parlamento tão belo como uma borboleta»),
neologismos («______» [28]; «aeroplanos»), grande variedade de formas verbais
(por todo o texto), advérbios expressivos («amo-vos carnivoramente»), gerúndios
expressivos («rugindo, rangendo,
ciciando, ______, ferreando» [25]), musicalidade e ritmo (por
todo o texto), aliterações («dolorosa luz das grandes ______» [1]; «rodas, engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno» [5]), interjeições («Olá», «Ah», «Eia», «Hup-lá», «Hé-lá»),
rimas internas, onomatopeias («_____»
[5] «Z-z-z-z-z-z-z-z-z!» [125]; «hô-ô-ô» [113]), etc...
E tudo isto surge
caoticamente e esfuziantemente organizado, em verso livre branco e estrofes
heteromórficas, manifestando euforia, descontrolo emocional, admiração pelo
progresso e pela técnica.
[Sobre a
forma da ode em Álvaro de Campos:]
«Definida como um poema
lírico dividido em estrofes semelhantes entre si pelo número e medida dos
versos [como sucede nas odes de Ricardo
Reis], a ode ganha em Campos características completamente
diversas. Trata-se, no seu caso, de composições em longos versos brancos,
alternando com versos curtos, à maneira de Walt Whitman. São odes futuristas,
destinadas a cantar (como se preceitua para este tipo de poema) a máquina e a
vida moderna.»
Manuela Parreira da Silva,
«Odes», Fernando Cabral Martins (coord.), Dicionário
de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, Lisboa, Caminho, 2008
Depois de leres o trecho
sobre «ode» (e, especialmente, «ode» à Campos) que deixei em cima, escreve boa
parte de uma ode, ao estilo do Campos futurista-sensacionista, acerca de uma
realidade qualquer (que conheças suficientemente). Título será «Ode a/à/ao
______ {nome}» ou «Ode _______ {adjetivo}».
Ode ____________
.
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TPC — Dá uma vista de olhos
ao resto da «Ode triunfal», para que lincarei no tepecê em Gaveta
de Nuvens.
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