Friday, September 06, 2024

Frei Luís de Sousa e canção pelo 12.º 4.ª

Carolina V.

Logo após uma breve reflexão, a canção escolhida para a peça Frei Luís de Sousa foi "The night we met" (“A noite em que nos conhecemos"), de Lord Huron. A canção fala de arrependimentos, perdas e do desejo de voltar ao passado. Estes sentimentos são sentidos na peça de Almeida Garrett, principalmente na personagem Romeiro que, no desenrolar da peça, vem a saber-se que é D. João de Portugal, o ex-marido “morto” de Madalena.

Na peça Frei Luís de Sousa, o regresso de D. João de Portugal foi um momento na peça que veio desassossegar a vida construída na sua ausência e é por esse momento que "The night we met" se relaciona com a peça. "I had all and then most of you / Some and now none of you..." ("Eu tive tudo e depois a maior parte de ti / Um pouco e agora nada..."): acredito que estes versos podem descrever o que sentiu o Romeiro, ao perceber que regressou tarde. Perdeu a esposa, toda a sua vida e o seu lugar no mundo pois Madalena refez a vida com outro homem, Manuel Coutinho. Tal como é dito na música, ele teve tudo e agora não tem nada além da identidade perdida, um enorme vazio e a culpa de ter voltado: "Take me back to the night we met..." ("Leva-me de volta à noite em que nos conhecemos...").

Ao longo de Frei Luís de Sousa, Madalena é uma personagem que tem sempre presente um pressentimento de desgraça e receios (“Sexta-feira! Ai que é sexta-feira!”) e teme ser amaldiçoada por D. João, se realmente estiver vivo. Quando aparece disfarçado de Romeiro, afirma que conhece D. João: “Como se me visse a mim mesmo no espelho”, Jorge põe-no à prova “Procurai nesses retratos, e dizei-me se algum deles pode ser” (D. João) e, sem hesitar, Romeiro responde “É aquele”. Divulga, implicitamente, a sua identidade e mostra-se indeciso entre a vontade de permanecer anónimo e a vontade de revelar a verdade: “And then I can tell myself / What the hell I'm supposed to do…” (“E então eu poderei dizer-me a mim mesmo / O que deverei eu fazer…”).

O seu regresso abalou o casamento de Madalena e Manuel, levando-os à separação, e deixou-o arrependido de tudo o que causou (“Agora é preciso remediar o mal feito. Fui imprudente, foi injusto, fui duro e cruel.”). Devido ao desejo e ansiedade de tentar voltar a ser o seu eu do passado, "I don’t know what I’m supposed to do / Haunted by the ghost of you..." ("Eu não sei o que devo fazer / Assombrado pelo teu fantasma..."), procura emendar os seus erros.

Na minha opinião, a canção encaixa-se perfeitamente na personagem Romeiro, que não sabe qual é o seu lugar: não é marido, nem soldado, é apenas “Ninguém”. É assombrado pelo que já foi e pelo que perdeu e, sem que perceba, o próprio torna-se o “fantasma” que assombra os outros, mesmo sem intenção. Por fim, o Romeiro carrega a dor da recordação, tal como a canção de Lord Huron, que representa a dor de quem volta mas que já não encontra o que deixou para trás.

Nota (da 1.ª versão): Bom (-)

 

Gonçalo S.

Tendo em conta o enredo desta obra, a música que na minha perspetiva mais se adequa a uma analogia é “Honeymoon Avenue”, da cantora norte americana Ariana Grande. A música utiliza uma “viagem de carro” para descrever uma relação amorosa que caminha na direção errada.

Esta canção assemelha-se muito à história vivida por Madalena em muitos aspetos, mas não só. Algumas partes da letra da canção são também vividas por outras personagens da história, como Telmo.

O ritmo e a voz apaixonada ao longo da canção, apesar da história contada, podem ser comparados com a lealdade de Madalena ao seu primeiro marido e ao facto de que, apesar de se ter casado novamente com outro homem (Manuel de Sousa Coutinho), nos primeiros anos do casamento ter esperança de ver o seu primeiro marido regressar. Não só Madalena como Telmo.

Isto pode ser representado por “Let's just go back to the way it was, when we were on Honeymoon Avenue (tradução: Vamos apenas voltar a como era antigamente, quando estávamos em lua de mel)” na letra da canção.

Outro exemplo da letra da canção que pode representar o stress de Madalena ao ser alimentada por esperança vários anos após o casamento (o que poderia invalidar o seu casamento atual) será “I feel like my heart is stuck in bumper-to-bumper, traffic, I'm under pressure 'cause I can't have you the way that I want, let's just go back to the way it was (tradução: sinto que o meu coração está preso de batimento em batimento, tráfego, estou sob pressão porque não te consigo ter da maneira que quero, vamos apenas voltar a como era antigamente)”.

O facto de Madalena estar presa ao passado, bem como Telmo, pode ser representado por “And you decided not to make a change, stuck in the same old lane, goin' the wrong way home (tradução: e tu decidiste não mudar nada, preso ao mesmo velho caminho, a ir na direção errada para casa)”.

Mais tarde, o primeiro marido de Madalena (D. João de Portugal) regressa, tornando o casamento atual de Madalena com Manuel inválido. Isto poderá ser representado pela seguinte parte da letra da canção: “ Hey, right when I think that we found it, well, that's when we start turnin' around. You're sayin', “Baby, don't worry”, but we're still goin' the wrong way (tradução: Quando eu finalmente penso que o tinhamos encontrado, bem, isso é quando começamos a dar a volta, tu a dizer “amor não te preocupes”, mas ainda estamos a ir na direção errada)”. Ou seja, quando Madalena pensou que tinha encontrado o seu novo amor (right when i think that we found it) e o seu casamento anterior estava resolvido, regressa o primeiro amor, tornando inválido o casamento atual (well, that’s when we start turnin’ around). “You’re sayin’ “baby, don’t worry”, but we’re still goin’ the wrong way” pode ser uma alusão a D. Manuel estar sempre a acalmar Madalena dizendo que tudo estava bem / se resolveria, apesar de estarem a piorar a situação ao longo do tempo.

Manuel decide então tornar-se frade, com o objetivo de resolver o conflito familiar, salvando-se a si e a Madalena. Esta ação pode ser representada por “I'm ready to make that turn, before we both crash and burn. 'Cause that could be the death of us, the death of us (tradução: Estou pronto para fazer essa mudança, antes de colidirmos e nos queimarmos, porque isso poderia ser a nossa morte)”.

Nota (da 1.ª versão): Bom -

 

Afonso

Composta por Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman e Will Champion, esta canção da banda Coldplay sugere um clima sereno mas pleno de introspeção sobre amor, alcançado tanto pela melodia como pela voz de Chris Martin, transmitindo sentimentos paralelos aos de várias personagens da tragédia garrettiana.

«O Cientista» («The Scientist»), simultaneamente sujeito poético e título da canção, reflete sobre os insucessos de uma relação amorosa acabada de findar, remoendo sobre os erros que possivelmente cometeu como se fossem «puzzles», «números e figuras» («numbers and figures») a serem decifrados e contrastando a racionalidade com o sentimentalismo, um pouco como o enredo da peça, que se ocupa do quebra-cabeças que é o emaranhado das duas relações de Madalena de Vilhena — a presente, com Manuel, e a passada, com D. João —, apertando-se num nó irremediável cuja única solução aparenta ser o corte dos dois fios.

Após a funesta batalha de Alcácer-Quibir, D. João esteve perdido, «correndo em círculos» («Running in circles») e condenado a vagar pelas planícies e dunas do Norte de África por vinte e um anos. Alheio aos novos desenvolvimentos na vida de Madalena, provocou despropositadamente o desmoronamento da família da amada, sentindo então culpa pelo cataclismo que se deu e desejando desaparecer de novo — confessa a Telmo que «Fui imprudente, fui injusto, fui duro e cruel» e que «D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera» —, mas nada voltaria a ser o que fora.

Contudo, Manuel e Madalena não o culpam pela tragédia, mas a si próprios: não sabendo nada do desgraçado (se estava vivo ou morto), participaram num casamento ilegítimo e moralmente condenável que, egoisticamente, colocava em causa tanto a honra e dignidade de D. João como da própria filha, por esta ser fruto de adultério (como souberam mais tarde), conforme o verso da canção «Digo-te que te pus de parte» («Tell you I set you apart»). Revelam-se, pois, arrependidos e atormentados — Manuel grita «Mas fui eu, eu que lho preparei, eu que lho dei a beber, pelas mãos… inocentes mãos!...» e pede «morra eu de vergonha, se é preciso»; Madalena, vencida pelas novidades que recebera, grita sua dor: «Estou… estás… perdidas, desonradas, infames!».

Tanto os infortúnios do «Cientista» como das personagens de Frei Luís de Sousa resumem-se numa expressão: «Ninguém disse que era fácil» («Nobody said it was easy») amar. Perante a dor tamanha a que as três personagens da tragédia foram sujeitas, após o clímax e a catástrofe decorridos, sentiram remorso pelas suas ações e, certamente, ruminaram sobre tudo o que alguma vez disseram. Se pudessem, diriam a quem amavam: quero «vir encontrar-te, pedir-te desculpa» («Come up to meet you, tell you i’m sorry»). Mas o reconhecimento da impossibilidade de tal encontro torna indubitável a vontade coletiva de voltar ao passado — conforme «Ah, vamos voltar ao início» («Oh, let’s go back to the start») —, antes da concretização de todos os presságios e agouros, desejando começar de novo, apesar da irreversibilidade do curso do tempo.

Nota (da 1.ª versão): Bom +

 

Leonor C.

A letra da canção “Say you won’t let go” (Diz-me que não vás embora), de James Arthur, pode caracterizar o sentimento de Madalena e Manuel um pelo outro. A música fala sobre um amor duradouro e sobre o desejo de construir um futuro ao lado da pessoa que nos faz acreditar no amor.

Na peça Frei Luís de Sousa, Madalena e Manuel sentem um amor intenso um pelo outro. Madalena era uma pessoa mais pensativa devido às mágoas que tinha do seu passado. Associando a canção à peça, “just say you won’t let go” (apenas diz-me que não vás embora) pode refletir-se no sentimento de Madalena. Os pensamentos negativos eram muitos, devido à dor que sentira em histórias passadas, nomeadamente com D. João de Portugal, seu anterior marido, que, “supostamente” estava morto. Esta canção pode interligar-se com o sentimento de Madalena, com o intuito de mostrar que ela não quer voltar a sofrer e quer alguém que fique presente na sua vida da maneira certa. Não quer voltar a sentir “este medo, estes contínuos terrores, que ainda não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor”.

“Foi do aprazimento geral de nossas famílias, da própria família de meu primeiro marido, que bem sabeis quanto me estima; vivemos seguros, em paz e felizes… há catorze anos. Temos esta filha, esta querida Maria, que é todo o gosto e ânsia da nossa vida.” Madalena fala com Telmo e mostra que está muito feliz com Manuel e que só queria poder esquecer as tragédias passadas, por estar feliz no atual relacionamento. A filha de Madalena era tudo para ela e Telmo tinha uma atenção especial por Maria (filha de Madalena). “I wanna live with you, Even when where ghost” (Eu quero viver contigo, mesmo que sejamos fantasmas) pode refletir o quanto Madalena gosta de Manuel, depois de tudo o que ele fez por ela. Mesmo passando por vários obstáculos, ela preferia escolher Manuel.

“I’m gonna love you till / My lungs give out” pode simbolizar a resposta de Manuel, quando se trata da mudança para a casa de D. João de Portugal, no sentido em que ele fará tudo para que ela se sinta bem, nem que tenha de ir morar para a casa do primeiro marido de Madalena.

Em suma, a canção, com a sua promessa de amor eterno, torna-se num sentimento de esperança que caracteriza ambas as personagens, em relação ao seu amor. O medo continua, e é fortalecido por lembranças que estão guardadas e por um presente que, mesmo com todo o esforço feito por Madalena, não se consegue livrar do passado.

Nota (da 1.ª versão): Bom -/Bom (-)

 

Sofia

São inúmeras as canções que podemos comparar com a peça Frei Luís de Sousa, uma obra com um enredo repleto de indícios trágicos e, também, grande valorização da pátria. Escolhi a canção “Você me vira a cabeça (me tira do sério)”, de Alcione, pois acredito que representa muito bem a tensão emocional vivida por Madalena desde o desaparecimento de D. João de Portugal.

Em sua canção, Alcione representa a dor e o sofrimento de uma mulher que está presa numa paixão, incapaz de se libertar a não ser que o parceiro a liberte. Os versos “Eu sempre estou presa / Em teus braços” descrevem muito bem como Dona Madalena se sente. Apesar de já ter construído uma família com Manuel de Souza Coutinho, sente-se “presa” na angústia de não saber o paradeiro de D. João de Portugal, de não saber se está morto ou se está vivo, como explicita durante uma conversa com Telmo “mas achas não sei que doloroso prazer em ter sempre viva e suspensa essa dúvida fatal” (ato I, cena I).

“Por que não / Me liberta dessa paixão? (...) / Por que não / Deixa livre o meu coração?” poderiam facilmente ser frases ditas por Dona Madalena a D. João de Portugal. O que ela mais deseja é algum dia ser capaz de amar Manuel Coutinho sem sentir remorsos ou culpa. Dona Madalena quer, por mais errado que isso seja, que D. João vá “embora de vez”, mesmo que isso signifique a confirmação de sua morte, pois, assim, o seu coração se encontraria finalmente “livre” para amar quem ela quisesse.

Outra grande semelhança entre a canção e a peça são as consequências causadas pela chegada de D. João ao seu palácio, onde a família de Dona Madalena está a viver após incêndio em sua antiga residência. D. João, disfarçado de Romeiro, revela a Dona Madalena que o primeiro marido está vivo: “Ide a D. Madalena de Vilhena, e dizei-lhe que um homem que muito bem lhe quis… aqui está vivo… por seu mal (…)” (ato II, cena XVI). Dona Madalena, fica desesperada com a notícia. A vergonha que sente é tanta, que deseja, por instantes, a sua própria morte “Que se não abre a terra debaixo de meus pés… Que não caem estas paredes, que me não sepultam já aqui?...” (ato II, cena XVI) se isso a salvar da humilhação. Dona Madalena e Manuel Coutinho decidem separar-se e Maria morre de desgosto por ser “filha do crime e do pecado”. A chegada de D. João estraga os planos e a vida de Dona Madalena, tal como os planos da mulher da canção são destruídos: “Você me vira a cabeça / Me tira do sério / Destrói os planos / Que um dia eu fiz p’ra mim”.

Nota (da 1.ª versão): Bom +

 

Gonçalo V.

A letra da canção “I Will Wait”, do grupo musical Mumford and Sons, quase que podia ter sido escrita pela personagem Telmo, de Frei Luís de Sousa, uma vez que expressa sentimentos muito semelhantes aos sentidos por ele – a esperança, a saudade e a resiliência associadas ao desejo de regresso por parte de alguém que amam.

“I will wait, i will wait, for you [Eu vou esperar, eu vou esperar, por ti]” é uma frase que, se me dissessem que teria sido retirada de uma fala de Telmo, na primeira parte da obra, antes do regresso de D. João de Portugal, eu acreditaria. Nesta altura da história, apesar de já terem passados vinte e um anos desde a batalha de Alcácer Quibir e do desaparecimento do seu primeiro amo, Telmo mantém a crença sebastianista de que D. Sebastião e o seu senhor estão vivos. Tal como na canção existe a insistência na crença de um regresso, evidenciada pela repetição do verso anteriormente citado, também na obra de Almeida Garrett é deixada clara esta ideia por parte do homem preso no passado, através das suas conversas com D. Madalena e Maria, como se verifica em “Onze anos se passaram, e eu nunca deixei de o esperar um só dia!”, “D. João de Portugal não morreu!” e em “... o meu amo há de voltar, nem que seja do céu ou do inferno.”. Para além disto, ao ser criada quase exclusivamente pelo criado, a filha de Madalena com Manuel de Sousa Coutinho, Maria, começa a acreditar e a “esperar” um regresso de D. Sebastião, que também se assemelha ao desejo expresso na canção, e que assusta profundamente Madalena, que apresenta uma postura antagónica à do escudeiro e  à da filha.

Efetivamente, desde a primeira cena do primeiro ato em que se compara com Inês de Castro ao ler um passo d’Os Lusíadas, Madalena mostra ter um desejo precisamente contrário ao da letra da canção, apesar de já ter esperado e procurado o seu primeiro marido, durante sete anos. Após casar-se com D. Manuel e ter a sua primeira filha, a protagonista da tragédia deixa de desejar que o seu primeiro marido ainda esteja vivo, uma vez que, se tal acontecesse, o seu casamento seria ilegítimo, tal como a sua querida filha (“Não posso desejar que viva quem, vivendo, me faz criminosa!”).

Mumford and Sons escreveram a letra de uma canção que, caso tivesse sido lançada antes de 1844, ano em que é publicado Frei Luís de Sousa, Garrett podia ter colocado a ser cantada por Telmo e Maria na peça, visto que esta reflete, sumariamente, os seus desejos, enquanto que Madalena se angustiava a ouvi-los cantar.

Nota (da 1.ª versão): Bom (+)

 

Leonor M.

A canção “Dark Red”, de Steve Lacy, seria uma boa escolha musical para uma adaptação da obra Frei Luís de Sousa. Apesar das personagens de Almeida Garrett terem todas perspetivas diferentes, esta canção consegue reunir citações que se podem associar aos diferentes personagens.

D. Madalena, mulher de D. João de Portugal, que nunca chegou a voltar da batalha de Alcácer Quibir, após sete anos à sua espera, acabou por casar com Manuel de Sousa Coutinho, com o qual vai ter uma filha ilegítima, Maria. Porém, o passado de D.Madalena nunca parou de a atormentar. A sua angústia poderia ser traduzida nos versos “What if she's fine? /It’s my mind that’s wrong/ And I just let bad thoughts/ Linger for far too long” (E se ela [ele] está bem/ É a minha mente que está errada/ E eu só deixo maus pensamentos/ Perdurarem por muito tempo). 

Por outro lado, Telmo Pais, o velho aio da família, permanece extremamente leal ao amo inicial, D. João, nunca deixando de acreditar no regresso do antigo amo. Embora trate D. Madalena com o respeito devido, não consegue perdoar-lhe a infidelidade. Para ele, D. João nunca vai ser substituído: “Only you, my girl, only you” (Apenas tu minha mulher [homem], apenas tu).

Já quanto a Manuel de Sousa Coutinho, ele é apresentado como um fidalgo nobre, que acreditava piamente em valores de honra, patriotismo e liberdade. Era um ótimo marido e pai, sempre preocupado com a doença da filha e com o estado psicológico da sua mulher. Apesar de não sentir ciúmes do passado de D. Madalena e parecer um homem extremamente seguro de si, quando sabe do regresso de D. João, sente-se desesperado e infeliz, cheio de inseguranças sobre o futuro. Nessa altura, estando extremamente preocupado com o futuro da filha, que seria, portanto, resultado de um casamento ilegítimo, precisa da companhia de D. Madalena, a única que percebe a gravidade da situação. Passaria pela sua cabeça algo como “Don't you give me up, please don't give up” (Não desista de mim, por favor não desista).

D. João de Portugal, injustiçado, é ao mesmo tempo, o vilão da história. Desejava apenas rever o amor da sua vida depois de duas dezenas de anos fora. Nos seus anos na Palestina sofreu demasiado, e, com certeza, nunca deixou de pensar em D. Madalena e no estado em que ela se encontraria, “I think of her so much, it drives me crazy / I just don’t want her to leave me” (Eu penso tanto nela, faz-me ficar maluco / Eu apenas não quero que ela me deixe). Contudo, ao perceber que apenas trazia instabilidade para a vida de sua amada, vai-se embora, confessando a Telmo que o seu regresso foi imprudente.

Por fim, Maria, uma personagem extremamente frágil fisicamente, mas muito forte e perspicaz psicologicamente. Desde o início da obra ela sente que “Something bad is ‘bout to happen to me / I don't know what, but I feel it coming” (Algo mau vai acontecer comigo / Ainda não sei o quê, mas sei que está para acontecer), o que realmente acontece.  Ao longo da obra consegue perceber-se que ela sofre de algo (tuberculose) e que, ao longo do tempo, vai piorando. Depois da aparição do primeiro marido da mãe, tocada pela vergonha de ser filha ilegítima e também devido a um agravamento da sua saúde, acaba por morrer, culpando D. João pela desgraça que havia acontecido.

Nota (da 1.ª versão): Bom

 

Mariana A.

A música que escolhi chama-se "Fix You", da banda britânica Coldplay, fundada em 1997 na Inglaterra. Passa uma mensagem profunda sobre a perda, a frustração e o desejo de reparar aquilo que está arruinado, sentimentos que se refletem de forma intensa nos conflitos emocionais presentes na tragédia Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Na peça, observamos personagens que lidam com a dor da perda e com o peso das consequências das suas escolhas (o que é mencionado nas palavras da canção).

Nos primeiros versos (”When you try your best, but you don't succeed / When you get what you want, but not what you need”;“Quando tu tentas o teu melhor, mas não tens sucesso / Quando tu consegues o que queres, mas não o que precisas”), há uma grande parecença com a figura de D. Madalena. Depois de anos de sofrimento, ela reconstrói a sua vida ao lado de Manuel de Sousa Coutinho ao acreditar que o seu primeiro marido, D. João de Portugal, tinha morrido. No entanto, a felicidade alcançada revela ser uma ilusão, o regresso inesperado de D. João faz com que essa nova vida seja um pecado, segundo os valores morais e religiosos da época. Madalena queria paz e amor, mas aquilo de que ela verdadeiramente precisava, a liberdade de escolha, era-lhe negado pela sociedade.

Parte do refrão da música —“Lights will guide you home / And ignite your bones / And I will try to fix you” / “Luzes guiarão te até casa / E aquecerão os teus ossos / E vou tentar-te consertar” pode ser associada ao desejo de Madalena e de Manuel de protegerem a filha Maria, do sofrimento provocado pela revelação trágica. Tentam guiá-la, poupá-la da dor, e “consertar” a situação ao sacrificarem a própria felicidade. No entanto, como na canção, nem sempre o amor é suficiente para reparar o que está mal. Maria, que está frágil e doente, não resiste ao choque da verdade e morre, o que simboliza o fracasso de todas as tentativas dos pais para a salvarem.

A canção transmite um sentimento de impotência perante a dor do outro, um sentimento que ocorre durante toda a peça. Frei Luís de Sousa é uma tragédia marcada pela frustração de que há dores e que não podem ser curadas. Como em Fix You, a obra mostra-nos que há dores que nem o amor consegue evitar.

“Fix You" liga os sentimentos de hoje ao drama antigo da peça, o que nos ajuda a perceber de forma mais emotiva e atual os sentimentos presentes em Frei Luís de Sousa. Mesmo sendo de épocas diferentes, o sofrimento e a vontade de corrigir os erros continuam a estar presentes.

Nota (da 1.ª versão): Bom (-)

 

Tiago N.

A letra da canção “O Mundo a Meus Pés”, da banda Três Tristes Tigres, retrata a perda de algo que em tempos foi intenso, mas que agora se tornou estranho e irreconhecível. Esta sensação de vazio e de ausência de sentido tem muitas semelhanças com o regresso de D. João de Portugal na obra Frei Luís de Sousa, escrita por Almeida Garrett. A sua chegada inesperada, anos depois de ter sido dado como morto, tem um grande impacto na família de Madalena e Manuel de Sousa Coutinho.

Quando D. João de Portugal regressa a casa e é acolhido sem ser reconhecido, é-lhe perguntada a identidade, respondendo ele dramaticamente: “Ninguém”.  Esta negação de identidade é muito semelhante à frase repetida na canção: “Falta o nome, falha o cheiro”. A ausência de nome simboliza a perda de identidade, o desaparecimento de quem se foi. Antes, D. João era um cavaleiro e um marido mas, agora, regressa como um Romeiro sem passado nem presença. A canção diz “Já não há, Já não és / O mundo a meus pés”, o que ilustra perfeitamente o estado a que D. João chegou com o passar de vinte e um anos. Deixou de ser o centro da vida de Madalena, perdendo o seu lugar no mundo, deixando de ser aquilo que um dia fora. Madalena também sente o impacto do seu regresso, dado que aquele que um dia foi o seu marido, agora era apenas uma ameaça à família que ela construíra. Isto faz com que Madalena sinta emoções intensas e dolorosas, como se diz na letra da música: “Tudo forte tudo feio”.

Na letra da canção, a frase “faça o favor / de entrar sem fazer barulho” remete ainda para o modo silencioso e sem qualquer aviso como D. João regressa. Mas esta entrada discreta acaba por ter muitas consequências. O verso “faço a mala, faço a cama” pode ser associado à preparação para o fim e para o abandono de uma vida que já não faz sentido, o que acontece no final da peça quando Madalena e Manuel se retiram para o convento.

Em suma, a canção expressa o sentimento de perda e ausência de identidade que o regresso de D. João provoca. Estas características estão representadas tanto nos versos da música como na tragédia de Garrett. Assim, a letra de “O Mundo a Meus Pés” assemelha-se muito ao episódio do regresso de D. João.

Nota (da 1.ª versão): Bom

 

João

O enredo de Frei Luís de Sousa gira em torno da família de Manuel de Sousa Coutinho, um nobre português que vive com a sua esposa Madalena e a sua filha Maria, filha dos dois. Madalena era a viúva de D. João de Portugal, que fora declarado morto na Batalha de Alcácer Quibir. Depois de sete anos de luto e de espera, Madalena casa-se com Manuel, mas está constantemente atormentada pela possibilidade de D. João de Portugal estar vivo e regressar. Isso seria uma tragédia pois, se realmente D. João de Portugal estivesse vivo, Madalena e Manuel estariam a viver em pecado, Madalena estaria casada com dois homens ao mesmo tempo. Com o decorrer da obra, D. João de Portugal regressa mesmo, tornando o casamento de Manuel e Madalena impossível.

A canção «Tango de um Amor Proibido», de Liliana Martins, é um fado popular bastante calmo e fácil de ouvir acompanhado da guitarra portuguesa que me agrada muito. A música retrata um amor impossível e caótico que é vivido durante a noite, sem ninguém o poder descobrir. A canção mostra-nos uma paixão imensa entre dois apaixonados que só se encontram de noite quando está escuro pois sabem que o seu amor é proibido: («Amo a noite porque ela te traz p’ra mim! / E danço contigo um tango perdido que o sol jamais verá. / Amor proibido, o céu prometido que nunca se abrirá.». Estes versos refletem o tal amor proibido que não pode ser assumido à luz do dia, o mesmo de Manuel e Madalena, que, com o regresso de D. João de Portugal, não poderia acontecer.

Com isto conseguimos observar semelhanças entre a canção e a obra em relação ao amor proibido e a tristeza que este traz.

Nota (da 1.ª versão): Suficiente

 

Joana

Não haveria canção mais adequada para se adaptar a certos aspectos presentes no drama de Almeida Garrett do que Na Ausência de Ti (In Assenza Di Te), adaptação de In Assenza Di Te de Laura Pausini, escrita e interpretada por Tiago Iorc, acompanhado de Anitta. Através da melodia serena, a letra expressa, profundamente, a dor da ausência de alguém, que permanece após o final de um relacionamento, transmitindo uma sensação de melancolia e vazio.

Em Frei Luís de Sousa, quem vive esse desgosto é D. Madalena de Vilhena, mulher de Manuel de Sousa Coutinho, e, também, em certos momentos, Telmo Pais, fiel escudeiro da família. A fonte destes intensos sentimentos é D. João de Portugal, primeiro marido de Madalena e primeiro amo de Telmo, desaparecido (e dado como morto) há vinte e um anos, desde a batalha de Alcácer Quibir. Sendo assim, tanto a música como o drama envolvem as consequências da perda de um companheiro (“Que saudade de ti / Como pôde o nosso amor desfazer-se / Eu não sei esquecer-te”), sentida como um vazio existencial, como “uma lágrima nua”.

É a partir da cena VIII do primeiro ato e, mais tarde, da cena V do segundo ato que há a ligação mais óbvia entre as duas obras. “O terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa. Parece-me que é voltar ao poder dele [...], não me sai esta ideia da cabeça” ou, ainda, “Sei decerto que vou ser infeliz, que vou morrer naquela casa funesta” são comparáveis com a segunda estrofe da música de Tiago Iorc (“Agora tudo me faz lembrar-te / Nesta casa vazia de nós / Que ecoa em mim / Numa dor, numa noite sem fim”), pois ambos partilham o sofrimento emocional provocado pelas memórias que marcaram aquele lugar, a casa de D. João de Portugal, em Almada. Madalena, que se pode nomear a voz lírica, neste instante, manifesta receio em voltar a esta moradia por representar, simbolicamente, o regresso à sombra de um passado, à memória da casa de quem ela acredita estar morto, o seu primeiro marido. A canção transmite, igualmente, a ideia de que o lar, outrora um espaço de amor, se tornara um eco doloroso de perda. Há, então, a assunção da ideia de que a memória de quem uma vez se amou pode tornar-se uma presença sufocante.

Além disso, a música aborda a dificuldade de se seguir em frente e esquecer uma grande paixão/amizade – “A ausência de ti / É só o que resta em mim” –, o que encaixa perfeitamente com a situação de Telmo, que, por muito que tente, não aceita Manuel de Sousa Coutinho como seu verdadeiro amo, reforçando a sua fidelidade a D. João de Portugal – “Não posso, não posso ver… e desejo, quero, forcejo por me acostumar… mas não posso. Manuel de Sousa, [...] nunca há-de ser aquele espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor de bons… Ah, meu nobre, meu santo amo!”. Surge uma sombra do passado, cria-se um presente paralisado e um futuro comprometido com a dor.

Nota (da 1.ª versão): Bom +

 

Carolina S.

“With Or Without You”, uma das canções mais famosas lançadas pela banda U2, e também uma das mais emblemáticas dos anos 80, fala sobre os dois lados do amor e da dependência emocional que pode surgir durante um relacionamento muito intenso.

A sua melodia comovente ajuda na intensificação dos sentimentos, quase como se nos fizesse sentir o mesmo que o sujeito lírico.

A relação descrita nesta música é cheia de contradições, mostrando que, por maior que seja o amor, por si só nunca é suficiente para manter um relacionamento. O sujeito lírico transmite um sentimento de tristeza e dor profunda, mas também transmite a ideia de existir uma ligação tão forte com a sua amada que lhe é quase impossível sair desta relação. Também na peça de Frei Luís de Sousa o amor entre Madalena e Manuel, apesar de verdadeiro, torna-se impossível devido a acontecimentos e revelações inesperadas (“Sleight of hand and twist of fate / [Um truque de magia e uma reviravolta do destino]”), tal como a confirmação de que D. João de Portugal estava vivo “(apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal — Ninguém!”). Depois desta notícia, Madalena entra num desespero total (“Meu Deus, meu Deus! Que se não abre a terra debaixo dos meus pés… Que não caem estas paredes, que me não sepultam já aqui?...”), mostrando-se “presa” e desamparada, sem saber o que fazer, assim como o eu lírico quando diz "My hands are tied / My body bruised / [As minhas mãos estão atadas / O meu corpo magoado]”, evidenciando o seu sofrimento, a sua dor.

O refrão da música, “With or without you / I can't live / [Com ou sem ti / Não consigo viver]”, transmitem a ideia de que o sujeito sente que falta sempre alguma coisa na relação, mostrando a dificuldade em viver sem a amada mas também a dificuldade que é continuar na relação, tal como Madalena sente que não conseguirá viver sem Manuel, mas, ao mesmo tempo, tem a consciência de que isso é impossível devido à sua nova realidade – o regresso do seu marido, que até então, julgava que tivesse falecido (“Que horrível destino o meu! / Ser, sem o saber, culpada e criminosa!”).

A composição musical realça as dificuldades em sair de uma relação quando o amor ainda existe, e é muito intenso. Na peça, Madalena e Manuel nunca deixaram de se amar, o que torna a história muito mais dramática e comovente, levando ao fim do seu casamento por razões que vão além dos sentimentos. Na canção, é sugerida também a luta constante e o esforço para conseguir ultrapassar as dificuldades num relacionamento, o que pode ser usado como uma reflexão do conflito que é vivido pelas personagens de Frei Luís de Sousa (“Through the storm we reach the shore / [Durante a tempestade chegamos à costa] ”). Esse mesmo conflito manifesta-se em Manuel quando confessa: “Não sei o que quero, mas sei que não posso ficar assim.” Além disso, é revelado o sentimento profundo que causa dor e sofrimento (“And you give yourself away / E tu entregaste), que se relaciona com o desespero sentido por Madalena (Oh, que cativeiro cruel é este em que me encontro!”). Assim, tanto a música como a peça revelam que o amor pode ser tanto um motivo de alegria como um motivo de sofrimento, e que as dificuldades do destino e da realidade podem impedir a felicidade, mesmo quando o amor ainda existe.

Nota (da 1.ª versão): Bom (+)

 

Lourenço

Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett é um drama caracterizado por um amor impossível ou muito difícil, tal como a canção de Adele, “Someone like you” (alguém como tu). Esta canção tem um ritmo melancólico, mas, acima de tudo, triste, tal como a tragédia de Garrett. A canção descreve uma mulher que perdeu o seu amado e que não o vai poder ter de volta, sendo assim parecida com o tema principal de Frei Luís de Sousa visto que ambas as obras têm como tema principal o sofrimento amoroso e a saudade de um antigo companheiro.

Tanto na peça de Almeida Garrett como na canção de Adele temos como personagem principal uma mulher que, devido a certas circunstâncias, tem de abdicar do amor que sente por um homem. Essas personagens são respetivamente, Madalena, que parece viver presa ao passado quando o seu marido era D. João de Portugal, que estava morto, pensava ela, e o presente, em que está acompanhada por Manuel de Sousa Coutinho, e a personagem feminina de “Someone like you”, que sente saudades da relação que tinha com o ex-namorado. Podemos ver esta dor sentida na voz da Adele quando diz “Never mind i wiil find someone like you” (não te preocupes, eu vou encontrar alguém como tu), “i wish nothing but the best for you” (não te desejo menos do que o melhor). Percebemos que Adele, como Madalena, sente com bastante emoção a perda do companheiro e tenta deixar-se levar pelas mãos do destino; portanto, mais uma vez podemos perceber que ambas sofrem por um amor impossível. No entanto, também vemos que não é guardado rancor pela companhia anterior mas sim até algum carinho, deixando uma mensagem simpática em relação ao que deseja para o futuro do antigo namorado.

Adele, na sua canção, também faz alusões ao seu passado, como Madalena também tem a mente ocupada pelo passado com D. João de Portugal ao longo da obra. Podemos ver essa alusão ao passado na canção no verso “We were born and raised in a summer haze” (nós crescemos e nascemos numa névoa de verão), fazendo, assim, uma alusão ao começo da antiga relação. Ao mencionar o passado na sua canção, a personagem mostra apego ao passado, como se não conseguisse esquecer aquele momento. Madalena também não consegue esquecer o primeiro marido, sendo então o apego ao passado mais uma ponte entre a canção e o romance de Garrett.

A peça de Almeida Garrett e “Someone like you”, de Adele, têm vários aspetos em comum, sendo o principal o sofrimento amoroso. Ambas as protagonistas são marcadas por um passado amoroso que, no presente, não poderá voltar a acontecer. Vemos também que, apesar dos tempos diferentes em que as obras foram escritas, os problemas amorosos são universais.

Nota (da 1.ª versão): Bom -/Bom (-)

 

Letícia

No final do segundo ato de Frei Luís de Sousa, D. João de Portugal surge à porta da própria casa – agora habitada pelos Vilhena-Coutinho –, disfarçado de peregrino, com um recado confidencial para D. Madalena. Apesar do aviso de Frei Jorge quanto às intenções dos peregrinos, Madalena recebe e escuta o romeiro de bom grado. A vigésima canção do álbum Fight (for your cause) (1993), dos Pearl Jam, apresenta algumas semelhanças com esta cena em particular e com  a obra em geral.

Por um lado, Madalena é a Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town, por desconfiar da identidade do romeiro, cujo rosto é “inquietante, familiar, mas não o cons[egue] recordar” (“your face/Haunting, familiar, yet / I can't seem to place it”). Jorge acaba mesmo por perguntar “Romeiro, romeiro, quem és tu?”, ao que o peregrino responde “Ninguém!”, apontando para o retrato de D. João e confirmando as suspeitas do frade. A referência ao quadro é a ação que oferece a Jorge “a chama de pensamento para iluminar o [s]eu nome” (“the candle of thought to light your name”) e que enaltece a dimensão trágica da peça ao traçar um paralelo com o retrato de Manuel de Sousa Coutinho, consumido pelas chamas.

Por outro lado, Eddie Vedder canta “Me, you wouldn't recall for I'm not my former/ It's hard when you're stuck upon the shelf” (“De mim não te lembrarias, pois já não sou o mesmo / É difícil quando já não se é desejado”). À semelhança do sujeito poético da canção, D. João admite que está demasiado diferente para ser reconhecido, como resultado de “vinte anos de cativeiro e miséria”, até mesmo por Telmo, seu confidente mais próximo (“nem já tu me conheces!”). Da mesma forma, admite que seja ainda mais difícil ser identificado por aqueles que não o desejam, pois vivem felizes na sua ausência (“contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela; hão de jurar que me não conhecem) – nomeadamente Madalena, que já constituíra família com Manuel.

Contudo, D. João “mudou não mudando de todo” (“changed by not changing at all”), uma vez que, independentemente da sua aparência, os seus valores mantiveram-se (“vontade, serena, mas indomável, que nunca foi vista mudar”). Esta impermutabilidade moral transparece quando ordena a Telmo que o incrimine na presença de Madalena, de modo a conservar a honra da mulher, visto que as suas “vidas estão a alcanç[á-la]” (“Lifetimes are catching up with me”) – tanto as duas vidas amorosas, como a vida religiosa a que se sujeita no futuro para expiar o seu pecado.

Por fim, assim como o desfecho de Elderly Woman, o desenlace das personagens pauta-se por “corações e pensamentos [que] desvanecem” (“Hearts and thoughts they fade away”), dado que o mito sebastianista e os presságios sobre o regresso de D. João acabam, mas, consequentemente, os “corações” de Madalena e Manuel, ou seja, a paixão que nutrem um pelo outro, são esbatidos pela conversão ao hábito e o coração de Maria falha devido à sua doença e à vergonha.

Nota (da 1.ª versão): Muito Bom

 

Leonor

Para escolher que canção mais se adequava para fazer este comentário, decidi rever a minha playlist do Spotify e a que mais se encaixava com os acontecimentos da obra Frei Luís de Sousa era a canção popular brasileira “Construção”, de Chico Buarque.

“Construção” é da autoria de Chico Buarque, cantor, compositor e escritor brasileiro. A música representa uma crítica social, relatando um dia comum de um trabalhador no Brasil naquela época, mas essas mesmas críticas são apresentadas através de metáforas. No fim, esse mesmo trabalhador morre, morte que foi ignorada, mostrando como o país desvalorizava os trabalhadores, sendo vítimas e totalmente “submissos” a uma sociedade rígida. Em “E tropeçou no céu como se fosse um bêbado / E flutuou no ar como se fosse um pássaro / E se acabou no chão feito um pacote flácido / E agonizou no meio do passeio público.” podemos perceber como a morte do trabalhador foi vista como insignificante, realçando-se que, apesar de acontecer perante várias pessoas, ninguém realmente se importou com a mesma.

Em Frei Luís de Sousa, podemos afirmar que Madalena, Manuel e Maria são vítimas de uma sociedade onde a honra e a boa imagem são superiores à felicidade individual e ao amor. Consegue-se perceber isso em várias cenas. No caso da Madalena, quando a mesma descobre que D. João está vivo, ela sente-se na obrigação de desistir da sua relação com Manuel, pois estaria a viver um pecado. Já Maria morre devido à vergonha após descobrir que era resultado de um pecado, mostrando como a opinião moral e religiosa da época influenciava muito a vida das pessoas. Por fim, Manuel, ao perceber que o seu casamento com Madalena era mal visto, decidiu ir para um convento e tornar-se Frei Luís de Sousa, logo, abandonando tudo, incluindo o seu amor.

“Morreu na contramão atrapalhando o tráfego” é uma metáfora bastante marcante da música de Chico Buarque, que ilustra como a morte do trabalhador foi insignificante, apenas atrapalhando as vidas das pessoas. De certa forma, a separação de Manuel e de Madalena encaixa-se bem nessa frase, uma vez que, ao descobrir-se que D. João ainda está vivo, a sociedade não é empática e compreensiva com a sua união. Tal como o homem que morreu, a separação do casal não é vista como uma tragédia.

Ao escutar a canção podemos sentir que a letra é muito repetitiva, podendo criar a sensação de que o trabalhador se encontra num ciclo definido e que nada mudará. Na obra de Garrett, mesmo que os personagens tentem mudar o rumo das suas vidas (por exemplo, mudar as suas escolhas), o fim trágico é inevitável. Desta forma, tanto o funcionário como as personagens não possuem controle das próprias vidas.

É possível relacionar a obra Frei Luís de Sousa, com a música “Construção”, uma vez que, tanto na obra como na canção, a vida das personagens é muito influenciada pela sociedade.

Nota (da 1.ª versão): Bom

 

Margarida

A angústia e a repulsa por si próprio expressas na canção "Creep", dos Radiohead, lembram certas personagens de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. A frase «I don’t belong here» poderia, facilmente, ser dita por qualquer um dos protagonistas pois todos se veem tragicamente fora do lugar ou da vida.

Madalena de Vilhena, como vive sempre cheia de medo e culpa, mostra a falta de esperança da canção. O verso "I don't belong here" (Eu não pertenço aqui) é a sua tristeza constante, que está presa entre o amor por Manuel de Sousa Coutinho e o fantasma do passado, D. João de Portugal. Madalena sente que não é possível ser feliz, o que mostra a mesma falta de esperança que se sente em "Creep".

Esse mesmo verso, “ I don’t belong here” (Eu não pertenço aqui), pode ser usado com D. João de Portugal, primeiro marido de Madalena. D. João, quando volta, sente que não pertence àquele mundo. O seu regresso faz com que se sinta um intruso na vida de Madalena e de Manuel, é uma lembrança constante do passado. A frase “Eu não sou ninguém” é, portanto, uma declaração da perda de identidade.

O próprio Manuel de Sousa Coutinho, o herói trágico que, ao saber que o primeiro marido de Madalena afinal ainda está vivo, vê a sua vida, construída ao lado de Madalena ao longo de catorze anos, a desmoronar-se. Ou seja, o que o define (como o nome, o casamento, a paternidade), tudo se apaga. Aproxima-se, assim, da canção escrita por Thom Yorke, “I’m a weirdo / What the hell am I doing here?” (Eu sou um esquisito / O quê que estou aqui a fazer?), porque Manuel também se sente deslocado e fora do sítio.

Até Telmo Pais, o velho aio da família, sofre com a sua situação. Dividido entre a lealdade à família de Manuel de Sousa Coutinho e a memória do seu antigo amo, D. João, ele representa a luta entre o passado e o presente, entre o que deve fazer e o que quer fazer. A sua incapacidade de mudar o que vai acontecer e a preocupação constante com o futuro inevitável mostram a mesma falta de poder e a mesma  frustração que se sente na canção. E, se alguém neste drama poderia cantar literalmente «I want a perfect body / I want a perfect soul», seria Maria, por causa da sua doença, a tuberculose.

Tanto em Frei Luís de Sousa como em "Creep", sentimos a dor de não pertencer, o sofrimento de viver preso ao passado e a procura constante de um lugar a que se possa chamar casa. A peça de Garrett, tal como a canção dos Radiohead, é uma representação da vida, da procura por um significado.

Nota (da 1.ª versão): Bom -

 

Mariana Rodrigues

A canção que escolhi foi “In the Night”, do cantor canadiano The Weeknd. Procurei escolher uma sua música pois é o meu cantor favorito e achei que esta se encaixava perfeitamente em alguns temas de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, pois este tema musical é sobre uma mulher que vive com um passado sombrio e doloroso. Ela enfrenta o sofrimento em silêncio, mas é atormentada pela presença do passado.

A canção vai-se aproximar muito da personagem Madalena de Vilhena, tendo em conta que se baseia em três temas: o passado sombrio, as vozes do passado e a repressão silenciosa.

O passado sombrio é notório ao longo de toda a canção. A canção fala da vida de uma mulher marcada por traumas profundos, que carrega cicatrizes silenciosas e enfrenta um sofrimento constante. É a nossa ponte com a obra de Almeida Garrett, podendo a canção ser uma metáfora direta de Madalena. Esta personagem vive amargurada pelo seu casamento passado, com um homem presumivelmente morto, que a segue na sua nova vida com Manuel. O regresso de D. João faz Madalena desabar, como a mulher da canção que se quebra interiormente.

As vozes do passado estão muito presentes no refrão da canção escolhida  em “In the night, she hears him calling..” (À noite, ela ouve-o a ligar…). A ligação feita com Madalena é o seu passado obscuro, que a persegue constantemente e que acaba mesmo por voltar. Este passado sempre presente na cabeça das duas mulheres pode ter origem em alguns sentimentos específicos como, por exemplo, e de culpa. No caso de Madalena, a culpa é evidente por se ter casado com Manuel, depois da “morte” de D. João.

Por fim, a repressão silenciosa consiste na vivência da dor em silêncio, sem haver expressão direta dos sentimentos. A mulher da canção sofre em silêncio e o mesmo acontece com Madalena e com outras personagens de Frei Luís de Sousa, pois são vítimas de convenções sociais e religiosas.

Assim sendo, este tema musical de The Weeknd pode ser lido como um retrato musical da angústia feminina silenciosa, do peso da memória, e do inevitável colapso causado por um passado mal resolvido, exatamente o que Frei Luís de Sousa dramatiza.

Nota (da 1.ª versão): Suficiente +

 

André

Pensei no que mais me marcou durante a leitura da peça Frei Luís de Sousa (neste caso, a situação de D. Madalena) e achei que a canção “Talking To The Moon”, de Bruno Mars, representa, de certa forma, como D. Madalena não parava de pensar no regresso de D. João, mesmo tendo sido ele assumido como morto por quase todos. Certamente, a nível de relacionamentos, D. Madalena não amava D. João, ao contrário do sujeito lírico apresentado na música, mas a parecença vem da ânsia de que uma pessoa que já não se encontra tão próxima como em tempos esteve regresse algum dia.

Logo no início da canção temos a frase: “I know you're somewhere out there, somewhere far away” (Eu sei que estás por aí, em algum lugar longínquo) e pouco a seguir: “My neighbors think I'm crazy, but they don't understand” (Os meus vizinhos pensam que eu sou louco, mas eles não percebem). Estes versos parecem uma referência à forma como D. Madalena nunca deixou de acreditar com uma certeza estranhamente persistente, mesmo contra a lógica e o tempo, de que D. João pode não estar morto e em algum lugar longínquo, fazendo mesmo com que Manuel achasse que Madalena ainda era prisioneira do seu relacionamento passado, já que esse acontecimento era improvável. Quase de seguida, é dita na canção a frase “At night, when the stars light up my room, I sit by myself” (À noite, quando as estrelas iluminam o meu quarto, eu sento-me sozinho) que poderia remeter para o início da peça, onde vemos que Madalena se encontra sentada sozinha a pensar sobre Inês de Castro e refletindo sobre a sua desgraça vinda do luto que ainda decorria (“contínuos terrores que ainda não me deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade (…) que desgraça a minha!”). Na música, também existe um tom de agonia e tristeza pelos tempos já não serem os mesmos, e as situações fazem tanto o sujeito lírico como D. Madalena ficarem “loucos” ou fora de si, só de pensarem nelas. Ambas as histórias contadas, tanto na peça como na música, mostram que estes sujeitos têm fantasmas do passado que os impedem de viver a vida normalmente e projetam a sua dor de formas diferentes (o sujeito lírico fala com a lua e o vazio; D. Madalena reflete sobre o passado com arrependimento)

Portanto, acho que a tragédia de D. Madalena está bastante aprofundada ao longo de toda a peça. A música "Talking to the Moon" representa, de forma essencial, o seu estado emocional, especialmente a solidão, a incerteza e a ligação persistente a alguém que já não faz parte do seu presente. Tanto a canção como a peça mostram como certos sentimentos nossos permanecem para o resto das nossas vidas.

Nota (da 1.ª versão): Bom

 

Edwin

A canção “Senhor do tempo”, de Charlie Brown Jr., tem uma certa semelhança com Frei Luís de Sousa pois transmite-nos uma certa perspetiva sobre o tempo e o peso do passado, as feridas que o tempo não cura e a perda e a destruição. A letra da canção diz que o tempo é um “rei”, ou seja, uma força que comanda tudo. Podemos ver nisto uma reflexão sobre o tempo e relacioná-la com a tragédia na peça, onde o tempo acaba por conduzir as personagens e, principalmente, Madalena, ao sofrimento por viver preocupada e angustiada, durante muito tempo, pela perda do seu primeiro marido, D. João de Portugal (depois da batalha, Madalena esperou por ele durante sete anos e vive uma vida ilusória com o seu segundo marido, Manuel de Sousa).

Também podemos relacionar a canção com a obra de Garrett pelo sentimento de culpa de Madalena, por ter reconstruído a sua vida com Manuel de Sousa Coutinho, enquanto ainda havia a possibilidade de D. João estar vivo.

Madalena também acreditava em algum momento que o tempo deveria trazer um certo alívio, mas a verdade é que, para ela, o tempo só trazia mais angústia e agonia, com medo de que o passado regressasse.

Quanto ao verso “a vida é uma lição”, podemos associá-lo à vida de Madalena pois parece que o tempo lhe deu uma chance de recomeçar mas, do nada, o passado volta, destruindo a sua paz e reabrindo certas feridas que nunca foram curadas pelo tempo nem pelo silêncio.

A canção de Charlie Brown ajuda-nos a compreender de forma mais direta e fácil que o tempo deveria curar as feridas do passado, mas, na verdade, foi um tempo falso que só veio a adiar a verdade. A partir da passagem “o tempo passa e um dia a gente aprende”, podemos dizer que isso se aplicou na vida de Madalena e Manuel de Sousa pois ambos acreditaram que o tempo tinha resolvido os seus assuntos e feridas, mas, com o regresso inesperado de D. João, o tempo revelou-se falso e traiçoeiro, toda vida do casal se desmoronou, implicando o afastamento de Madalena de Manuel e a morte da sua filha Maria, que não conseguiu suportar a dor.

Ficamos a saber que o tempo é realmente falso e que, quando quer vencer-nos, vence mesmo.

Nota (da 1.ª versão): Suficiente

 

Eliana

A tragédia romântica de Almeida Garrett é uma obra marcante que expõe o drama que pode haver no amor. Na canção do grupo musical MPB4, composta por Chico Buarque, é exposta a solidão da mulher que foi esquecida. A letra narra a história de uma senhora chamada Tereza, descrita como quieta, silenciosa e melancólica, no fundo, como a personagem Madalena, protagonista da peça.

Por exemplo, em ambas as obras as mulheres sofreram com algo que as marcou profundamente, podendo ser o “abandono” de Madalena causado por D. João de Portugal e o abandono de Tereza por uma personagem cujo nome desconhecemos. Ambas sofreram com o abandono e parecem ter esse assunto constantemente na mente, quase que imune ao tempo. Parece que Tereza sente muita saudade dessa memória que a marcou; Madalena, ao contrário, sente-se marcada por, de certo modo, João não a abandonar.

A Madalena, a memória nunca a deixou livre (cp.: “Dezoito anos!... E em todo esse tempo nunca deixei de sonhar contigo.”) e o sentimento permaneceu vivo. Tereza aparenta ser deixada para sempre pelo seu amor (“Tira o meu lugar da mesa, não me espere não, não vou não”), deixada numa dor silenciosa e emocionalmente paralisada.

Outro exemplo de semelhança é a forma como as personagens são esquecidas, a repetição do nome da Tereza na música (“Tereza, Tereza, Tereza, Tereza”) como se estivessem à sua procura pois o silêncio apaga a sua existência, o que é igual ao sentimento de Maria de Noronha: “Já não sou Maria de Noronha…sou apenas uma sombra”; “Sinto me morta entre os vivos” (ato lll e ato ll). Isto dá a entender que o sofrimento silencioso de ambas faz com que sejam invisíveis socialmente.

Podemos concluir que as protagonistas femininas de canção e peça são constantemente solitárias e caminham num clima melancólico depois das feridas que as marcaram. Embora sejam de épocas diferentes, a sua linguagem funciona como um espelho de emoções humanas. Enquanto que Madalena que é uma mulher antiga portuguesa que está acorrentada aos valores sociais e religiosos da época e sofre com remorsos do passado e uma reviravolta do presente, a Tereza, que parece vir de um contexto mais atual, sofre com uma ausência irreversível causada pelo abandono físico e emocional.

Nota (da 1.ª versão): Suficiente +

 

Francisco

Ouvi pela primeira vez a música “Amar pelos dois” enquanto assistia com os meus pais ao festival da canção em 2017 (que, aliás, acabou por ser ganho por nós graças a esta mesma música). Cantada por Salvador Sobral e composta por sua irmã, Luísa Sobral, a canção, apresenta-nos uma grande e profunda paixão por parte do sujeito poético pelo seu amado e diz-nos como o facto de este amor ser impossível o atormenta. Desta forma, “Amar pelos dois” relaciona-se com vários aspetos da peça Frei Luís de Sousa, tanto pela ideia geral que expressa como por momentos específicos presentes na letra da canção.

Os dois versos “Meu bem, ouve as minhas preces / Peço que regresses, que me voltes a querer” expressam a angústia, saudade e inquietação que o sujeito poético sente por não poder estar com o seu grande amor. Esta mesma situação observa-se em relação a D. Madalena quando, no Ato III, cena VII, tenta uma última vez convencer Manuel de Sousa Coutinho a permanecer com ela: “Tudo! quem sabe? Eu parece-me que não. Olha… Mas não daríamos nós, com demasiada precipitação, uma fé tão cega, uma crença tão implícita a essas misteriosas palavras de um romeiro, um vagabundo… um homem, enfim, que ninguém conhece? Pois dize…”. Os mesmos sentimentos são novamente demonstrados por Madalena na cena IX quando desabafa com Deus num último ato de desespero dada a sua situação: ”Oh, Deus, Senhor meu! pois já, já? Nem mais um instante, meu Deus? - Cruz do meu Redentor, ó cruz preciosa, refúgio de infelizes, ampara-me tu, que me abandonaram todos neste mundo, e já não posso com as minhas desgraças… e estou feita um espetáculo de dor e de espanto para o céu e para a terra!”.

Por outro lado, tomando uma abordagem mais específica, focando-nos apenas no último verso da canção (“O meu coração pode amar pelos dois”), percebe-se uma clara semelhança com o comportamento do personagem Romeiro/D. João de Portugal, quando toma a decisão típica de herói romântico de se sacrificar. Isto dá-se na cena V do Ato III, quando D. João pede a Telmo para mentir a todos, afirmando que o Romeiro era, na verdade, apenas um impostor enviado pelos inimigos de Manuel de Sousa Coutinho, legitimando novamente, assim, o atual casamento de Madalena: “Basta: vai dizer-lhe que… que tudo isto foi vil e grosseiro embuste dos inimigos de… dos inimigos desse homem que ela ama… E que sossegue, que seja feliz. Telmo, adeus!”.

Assim, D. João mostra que, por tanto amar a sua “honrada e virtuosa mulher”, decide abdicar da sua própria identidade e do amor da sua vida pelo, qual vinte e um anos ansiosamente esperou, desde que isso impedisse a destruição da família de Madalena.

Nota (da 1.ª versão): Bom (+)

 

Manuel

Quando ouvi a canção “Estrela do Mar”, de Jorge Palma, senti que ela, de alguma forma, se ligava ao momento mais marcante, na minha opinião, da peça Frei Luís de Sousa, que é o regresso de D. João de Portugal. D. João volta na esperança de recuperar a sua mulher e a vida que tinha deixado para trás, mas tudo mudou.

A letra da canção transmite uma sensação de perda e de tristeza, mas “Voltei para te ver, mas não te encontrei” percebemos que se encaixa exatamente com o que D. João sente ao voltar e perceber que Madalena já seguiu a sua vida e, de certa forma ,o esquece em vez de encontrar alguém que estivera à sua espera.

Também conseguimos perceber uma ideia na canção de que, por mais que se tente voltar ao passado, não será como antigamente. Isso também é muito sentido na peça quando D. João percebe que já não pertence àquela família, casa, vida. O tempo foi passando e Madalena teve decisões que não se podem desfazer mais sem consequências graves.

O mais triste é ver como a presença de D. João, em vez de ser motivo de alegria, acaba por trazer dor. A família naquele momento acaba por ser definitivamente destruída.

No fundo, tanto a canção como a peça têm em comum um pensamento de que nem sempre o amor é suficiente para curar o tempo perdido, e ,às vezes, a melhor forma de amar é deixar ir.

Nota (da 1.ª versão): Suficiente

 

Mada

Neste comentário escolhi relacionar alguns excertos da letra da música “Happier than Ever”, de Billie Eilish, com a obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Acho interessante que a letra da música poderia ser um pensamento ou até uma fala de uma das personagens da obra, D.Madalena de Vilhena.

O sujeito lírico da música expressa um sentimento de alívio e superação de um amor passado, a canção aborda o final de um relacionamento tóxico e a libertação emocional que se lhe segue. A letra da canção transmite frustração, traição e recuperação de uma relação com alguém que teria magoado o “eu”. Toda a letra faz alusão a um processo de encontrar felicidade e liberdade pessoal. Assim, conseguimos encontrar no tom e nas emoções divulgadas na música, algumas parecenças entre D. Madalena e o sujeito lírico.

Logo no início da canção, Billie Eilish canta os versos “When I'm away from you I'm happier than ever” (quando estou longe de ti, estou mais feliz que nunca). Este verso é facilmente associado a D. Madalena, que, tal como o sujeito lírico, se sente mais feliz que nunca sem a presença do seu “ex-marido”, D. João. D. Madalena entra em pânico só de pensar na possibilidade de D. João ainda estar vivo, visto que tem já uma família com D. Manuel (mesmo sendo Maria filha de D. João). Em “Give me a day or two To think of something clever To write myself a letter To tell me what to do, mm-mm” (Dá-me um dia ou dois para pensar em algo inteligente para escrever a mim própria uma carta para dizer a mim própria o que fazer), como percebemos na letra da canção, existe uma certa insegurança e incerteza sobre o que fazer em relação a esta pessoa que,  pelo que nos transmite o “eu”,  a teria magoado muito. No caso de D. Madalena também esta se sente insegura e assustada até pela eventualidade do regresso do primeiro marido, no entanto não por este a ter magoado mas por se sentir culpada de ter “substituído” D. João mesmo não tendo certezas de que teria morrido mas sendo essa a hipótese mais provável.

Também no excerto “I don't relate to you I don't relate to you, no” (não me identifico contigo, não me identifico contigo, não), que expressa desinteresse e frustração, podemos encontrar semelhanças com D. Madalena, que transmite uma sensação enorme de desconforto e frustração com toda a situação da possível sobrevivência de D. João.

Nota (da 1.ª versão): Bom (+)

 

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