Saturday, September 09, 2023

Filmes apresentados há uns anos (2018-2019) nas Olimpíadas da Cultura Clássica



Juntei aqui alguns trabalhos de colegas vossos das turmas de 2018-2019 concorrentes às Olimpíadas da Cultura Clássica. As notas e os comentários foram os que então deixei para cada tarefa, mas as classificações acabaram por ser corroboradas pelos resultados no concurso (o trabalho de Marta venceu e, logo a seguir, ficaram os outros filmes também por mim mais pontuados). Os temas desse ano vão entre parênteses retos. (Note-se ainda que, na altura, os filmes podiam ser um pouco maiores do que agora. Atualmente, a duração máxima de cada vídeo é de três minutos.)


[Dido e Eneias]

B. Entrezede, Guilherme, Mafalda, Natacha (11.º 5.ª/2018-19) — «Dido e Eneias, o Musical» (Muito Bom)
Já o tenho dito outras vezes. O vídeo, o cinema, implica planificar, coordenar, obriga a que nada seja feito sobre o joelho (texto, música, espaços). Também é uma arte de composição a partir de outras artes. Ora, neste trabalho, entrou a literatura — escrita de poemas e de texto —, a literatura-história — o conhecimento da Eneida e da mitologia —, a música — criação das composições —, a dança/ginástica — coreografia e execução —, a própria história do cinema, na medida em há uma óbvia intertextualidade com filmes musicais. O grande mérito deste grupo foi saber planear tudo de modo a que, em relativamente pouco tempo de filme, tenhamos imensas coisas e tão diversificadas. Todas as peripécias do mito em causa — que, como sempre nas narrativas da antiguidade e na mitologia, não são poucas — são percorridas por alusões em composições musicais, na história de adormecer ou na representação. Só não gosto, no genérico final, de «lyrics» (preferia, em português, «letra da canção»). Aí, no genérico, anotei que um dos «câmaras» foi o Tiago.

[Perseu e Andrómeda]

Marta (11.º 2.ª/2018-19) — «Perseu e Andrómeda: a magia das armas que sangram amor» (Muito Bom)
Tal como em outros vídeos de Marta fugiu-se à abordagem informativa ou de simples relato do tópico de que se trata e preferiu-se adotar formato de criação mais poética que, ainda assim, tem como pano de fundo o mito de Perseu e Andrómeda. O resultado é requintado, metafórico, difícil (permite muitas leituras), constituindo um objeto com bom gosto (destaco também o tratamento da imagem e do som), que vale por si próprio, mesmo fora do contexto escolar ou de concurso sobre cultura clássica.

Ana, Beatriz Pi, Leonor, Rita (11.º 5.ª/2018-19) — «A História de Perseu e Andrómeda» (Bom+)
Começo pelo que me parece ter falhado, e aliás um pouco desnecessariamente, que corresponde sobretudo à fase de acabamento ou edição (a leitura em off — Beatriz conseguiria fazer muito melhor, se tivesse tido tempo para ensaiar; de resto, havia no grupo quem também conseguisse fazer muito boas leituras, mas percebe-se que, nessa fase final, foi tudo já terminado pela responsável pela edição, em esforço para cumprir prazo, decerto apressadamente —; o fundo musical escolhido, quanto a mim, não resulta bem). Que faltou mais tempo é percetível também no texto, que me pareceu pouco elaborado. Com a mesma base informativa, mais ou menos wikipédica, era fácil escrever texto criativo, com ironia ou com observações mais subjetivas, embora aproveitando os mesmos dados. Quanto ao resto, só tenho a dizer bem. As imagens recolhidas mostram boa planificação (incluindo representação, adereços, escolha de cenário, diversidade das imagens), constituem uma boa ilustração das complicadas peripécias mitológicas e devem ter dado muito trabalho a planear e executar (e algum gozo a serem recolhidas). Há ritmo na forma de apresentar a intriga, há o poder de síntese e a velocidade que o cinema exige. Houve igualmente competência técnica, criatividade, não pouca informação.

[Maravilhas da antiguidade]

Eduardo, Júlia, Margarida, Rodrigo (11.º 4.ª/2018-19) — «As sete maravilhas do mundo antigo [proponho eu este outro título: ‘Os deuses é decidem as maravilhas dos homens’]» (Muito Bom)
Receava que o tratamento de um assunto destes tivesse demasiado de wikipédico e pouco de literário, criativo, expressivo. Ora o grupo teve uma ideia engenhosa, a de pôr deuses a eleger as maravilhas dos humanos: com isso, alargou o assunto clássico à mitologia e conseguiu pretexto para situação paródica, que levou a um texto bem escrito, engraçado, inteligente, sem humor falhado (não é fácil!) e a bons exercícios de representação (destaco Eduardo, num papel com mais risco). Fizeram-no sem erros (e não é fácil citar tantos nomes antigos sem cair em algum lapso). A ideia foi além disso bem acabada, não ficou a meio (veja-se a solução para a maravilha egípcia e para as outras que ficavam a faltar ainda). Assumira-se entretanto que a parte informativa era momento secundário, sem que se deixasse de ir debitando os dados que o assunto do concurso exigia, mas não investindo demasiado nesses assumidos trechos de leitura de cábulas.

Francisco B. (11.º 2.ª/2018-19) — «[As maravilhas das capacidades do ser humano]» (Bom(-))
A ideia de passar das maravilhas monumentais da antiguidade para feitos de superação desportiva é bem achada. A concretização da ideia é prejudicada por se ter centrado na figura de um surfista em particular, o que exigiu o uso extensivo de imagens não originais (teria sido preferível fazer abordagem mais genérica, por exemplo, sobre o surf enquanto maravilha, recorrendo a imagens de surf mas da responsabilidade do autor; e calculo que não fosse difícil, se pensado com mais tempo de antecedência). Quanto ao texto lido em off, como se detém muito em dados sobre o desportista em causa, acaba por não poder ser muito criativo, mas está correto, sem nenhuma falha de sintaxe ou qualquer outro lapso. Também foi bem lido e com o cuidado de procurar ser expressivo (talvez no limite do natural uma vez ou duas).



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