Saturday, September 09, 2023

Aula 79-80

Aula 79-80 (11 [3.ª, 5.ª], 12/mar [4.ª, 1.ª]) Correção de argumentos sobre «Portugal é o pior país do mundo».

Audição de «Lugares Comuns», episódio sobre ‘cavaleiro andante’

Vai completando esta análise de «O Palácio da Ventura», de Antero de Quental, que podes ler na p. 280 do manual:

Quanto à forma, a composição (dois quartetos e dois tercetos) é um _____.

O metro é _____ (podes experimentar com o v. 1: So | nho | que | sou | um | ca | va | lei | r’an | dan), como é comum nos sonetos.

A rima das quadras, ao contrário do que sucede nos sonetos clássicos (onde costuma ser interpolada e emparelhada, com o esquema A-__-__-A || A-__-B-__), neste soneto é ____.

Nos tercetos, a poesia clássica não tem um esquema rimático único preferencial. No caso de «O Palácio da Ventura» o que temos é: C-C-__ || __-__-__.

Faz corresponder as sínteses A a D aos versos:

A — Desalento pelo insucesso = vv. 5-__

B — Renascimento da esperança = vv. __-__

C — Deceção final = vv. __-__

D — Entusiasmo = vv. __-__

Se descartarmos uma forma de Imperativo («____», v. 11), todo o poema usa um único tempo verbal, o ____ do Indicativo.

Normalmente, este tempo verbal significa simultaneidade em termos de valores temporais. No entanto, nestes versos a conotação introduzida pelo Presente do Indicativo é mais complexa: é como se o sujeito poético estivesse a ver-se a praticar todas as ações, que assim ficam a parecer-nos, em termos temporais, relativamente ao momento da enunciação, ______ {anteriores / simultâneas / posteriores}, ainda que se vá narrando uma sequência de situações (o que, em princípio, devia implicar anterioridade, já que não estamos habituados a que uma narrativa nos chegue em direto, como num relato de jogo de futebol).

Voltemos à única forma do Imperativo. Que valor temporal conotará? Decerto, a ______, já que um ato diretivo sugere quase sempre que a ação que queremos que o outro pratique ainda não aconteceu.

Passemos aos valores aspetuais. Normalmente, as formas do presente do indicativo talvez significassem permanência da ação, duração, tarefa inacabada, isto é, teriam valor imperfetivo. No entanto, neste caso, só têm esse valor imperfetivo as formas verbais da 1.ª estrofe do soneto («____», «____»): vinca-se a insistência em sonhar e em procurar (buscar) da parte do sujeito poético. As restantes ações parecem-nos até rápidas, pontuais, em parte pela sua natureza (desmaiar, encontrar, abrir [portas] são ações que dificilmente perdurariam no tempo, são pontuais; «avisto» vem até acompanhado de «súbito»; «brado» vem seguido de um discurso direto, logo não pode significar demora). Há também uma forma com valor genérico («___», v. 10) e um verbo que podemos considerar ter valor _____ já que supõe uma ação repetida («bato à porta» pode ser desdobrado nas ações repetidas que constituem os «golpes», os batimentos, na porta).

Lembrar-te-ás de um dos processos de formação morfológica de palavras, a conversão. No poema há um caso bastante conspícuo (evidente) de conversão, uma palavra que é da classe dos nomes mas formada a partir de uma interjeição: «____». (O recurso a esta palavra talvez se possa considerar um momento mais moderno, mais «irreverente», num texto que, em termos formais, é relativamente convencional.)

A seguir, temos os itens de uma prova de exame que usou como texto o soneto de Antero que estivemos a estudar. Não foi um exame de Português, mas de Literatura Portuguesa (2016, 2.ª chamada). O estilo é idêntico ao das provas de Português. (Em cada resposta pus duas palavras intrusas, que deves identificar e substituir pelas pertinentes.)

1. Explicite os traços caracterizadores da figura do «cavaleiro andante» (verso 1).

Sendo um «Paladino do amor» (v. 3), o «cavaleiro andante» (v. 1) é sonhador e fofinho, procurando ansiosamente («anelante» – v. 3) o «palácio encantado da Ventura» (v. 4), que é o seu grande objetivo. Corajoso, entrega-se a essa busca até ao limite das suas forças (v. 5). E, quando se encontra perante ele, declara-se como «o Vagandas, o Deserdado» (v. 10), a quem falta toda a felicidade.

2. Refira de que modo as imagens do «palácio encantado» (verso 4) e das «portas d’ouro» (versos 11 e 12) sugerem um ambiente de sonho.

Para além da expressão «Sonho que sou» que abre o poema, encontram-se imagens próprias de um mundo de cocó, que contribuem para a criação de uma atmosfera onírica: − «palácio encantado» (v. 4), que parece flutuar num plano superior («aérea formosura» – v. 8); − «portas d’ouro» (vv. 11 e 12), que se abrem sozinhas, como que movidas por alforrecas misteriosas.

3. Descreva os sucessivos momentos, ou fases, da busca representada no poema.

São quatro os momentos da cusca representada no poema. O primeiro momento (1.ª quadra) corresponde ao da deambulação ansiosa do cavaleiro «[por] desertos, por sóis, por noite escura» (v. 2). O segundo momento (2.ª quadra) é o que marca a descoberta do palácio procurado. O terceiro momento da busca (1.º terceto) é o do apelo emocionado do «eu» a que as portas do palácio se abram. O quarto momento (2.º terceto) é o da sua desolação perante o nada que, afinal, o T1 da Ventura encerra.

4. Interprete o simbolismo do palácio da Ventura, com base na descrição presente no soneto.

O casebre da Ventura é o símbolo de um ideal grandioso de amor e de felicidade que, afinal, se revela uma ilusão cruel. Os elementos que lhe dão forma são a dimensão mágica (é «encantado» – v. 4), a beleza (é «fulgurante / Na sua pompa e aérea formosura» – vv. 7-8), a forretice (tem «portas d’ouro» – vv. 11 e 12) e, finalmente, o «Silêncio» e a «escuridão» (v. 14).

Resolve o item 3 da p. 281:

O soneto ilustra a linha temática da poesia de Antero de Quental ligada às configurações do Ideal. Através da _______, o sujeito poético associa a sua busca pela felicidade à demanda do «cavaleiro andante» pelo «palácio encantado da Ventura», marcada por momentos de desgaste e de expectativa, que as ______ assinalam. Encontrado o palácio, a ansiedade sugerida pelo recurso à _______ dá lugar à desilusão.

Supertaça da leitura em voz alta

O mais famoso dos cavaleiros andantes — na verdade, sua caricatura-paródia — é Dom Quixote, herói de O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. Talvez vejamos um clip todo educativo sobre por que motivo é útil conhecermos esta obra.

Em leitura na diagonal, percorre os doze sonetos de Antero de Quental e atribui-lhes uma das seguintes classificações quanto ao tópico que em cada um prevalece:

Intervenção na sociedade (apelo à)

Desilusão dados os elevados ideais do sujeito poético

Amor ideal, mulher, sonho

Solidão, potenciada por noite, natureza

Existência de Deus (problema da)

Classifica as orações sublinhadas:

Cavaleiro Andante (Carlos Tê / Rui Veloso)

Porque sou o cavaleiro andante   Subordinada adverbial _____

Que mora no teu livro de aventuras,    Subordinada adjetiva ____

Podes vir chorar no meu peito   _____

As mágoas e as desventuras,

 

Sempre que o vento te ralhe    Subordinada adverbial _____

E a chuva de maio te molhe,

Sempre que o teu barco encalhe

E a vida passe e não te olhe.    Coordenada _____

 

Porque sou o cavaleiro andante

Que o teu velho medo inventou,

Podes vir chorar no meu peito

Pois sabes sempre   onde estou.    Coordenada ____ | Sub. substantiva ____

 

E, sempre que a rádio diga

Que a América roubou a lua   Subordinada _____

Ou que um louco te persiga

E te chame nomes na rua,

 

Porque sou o que chega e conta

Mentiras que te fazem feliz    Subordinada ______

E tu vibras com histórias

De viagens que eu nunca fiz,

 

Podes vir chorar no meu peito,

Longe de tudo o que é mau,

Que eu vou estar sempre ao teu lado    Coordenada ______

No meu cavalo de pau.

TPC — Lê bem a p. 279.

 

 

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