Aula 19-20
Aula 19-20 (18 [1.ª], 23 [3.ª, 5.ª], 24/out [4.ª]) Audição
do início do cap. 2 do «Sermão» (por Ary dos Santos):
A prova de exame de 2019 (1.ª
fase) incluía estas perguntas sobre o «Sermão
de Santo António», do Padre António Vieira:
Grupo I — Parte B
Leia o texto. Se necessário,
consulte as notas.
Falando
dos peixes, Aristóteles diz que só eles, entre todos os animais, se não domam
nem domesticam. Dos animais terrestres, o cão é tão doméstico, o cavalo tão sujeito,
o boi tão serviçal, o bugio1 tão amigo ou tão lisonjeiro, e até os
leões e os tigres com arte e benefícios se amansam. Dos animais do ar, afora aquelas
aves que se criam e vivem connosco, o papagaio nos fala, o rouxinol nos canta,
o açor nos ajuda e nos recreia; e até as grandes aves de rapina, encolhendo as
unhas, reconhecem a mão de quem recebem o sustento. Os peixes, pelo contrário,
lá se vivem nos seus mares e rios, lá se mergulham nos seus pegos2,
lá se escondem nas suas grutas, e não há nenhum tão grande que se fie do homem,
nem tão pequeno que não fuja dele. Os Autores comummente condenam esta condição
dos peixes, e a deitam à pouca docilidade ou demasiada bruteza; mas eu sou de mui
diferente opinião. Não condeno, antes louvo muito aos peixes este seu retiro, e
me parece que, se não fora natureza, era grande prudência. Peixes! Quanto mais
longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com eles, Deus vos livre!
Se os animais da terra e do ar querem ser seus familiares, façam-no muito embora,
que com suas pensões3 o fazem. Cante-lhes aos homens o rouxinol, mas
na sua gaiola; diga-lhes ditos o papagaio, mas na sua cadeia; vá com eles à caça
o açor, mas nas suas piozes4; faça-lhes bufonerias5 o bugio,
mas no seu cepo; contente-se o cão de lhes roer um osso, mas levado onde não
quer pela trela; preze-se o boi de lhe chamarem fermoso ou fidalgo, mas com o
jugo sobre a cerviz6, puxando pelo arado e pelo carro; glorie-se o
cavalo de mastigar freios dourados, mas debaixo da vara e da espora; e se os tigres
e os leões lhes comem a ração da carne que não caçaram nos bosques, sejam presos
e encerrados com grades de ferro. E entretanto vós, peixes, longe dos homens e
fora dessas cortesanias7, vivereis só convosco, sim, mas como peixe na
água. De casa e das portas adentro tendes o exemplo de toda esta verdade, o qual
vos quero lembrar, porque há Filósofos que dizem que não tendes memória.
Padre
António Vieira, Sermão de Santo António (aos
peixes) e Sermão da Sexagésima, edição de Margarida Vieira Mendes, Lisboa, Seara
Nova, 1978, pp. 73-74.
Notas
1 bugio – espécie de macaco. || 2 pegos
– locais onde os rios ou os mares são mais profundos. || 3 pensões – obrigações; encargos. || 4 piozes – correntes colocadas nas patas de algumas aves de caça. || 5
bufonerias – graçolas; caretas. || 6 cerviz – parte posterior do pescoço. || 7
cortesanias – hábitos de cortesãos.
4.
«Os Autores comummente condenam esta condição dos peixes, e a deitam à pouca docilidade
ou demasiada bruteza; mas eu sou de mui diferente opinião.» (linhas 8 a 10). Justifique
a opinião de Vieira relativamente aos peixes, tendo em conta a comparação entre
o comportamento dos peixes e o dos outros animais (linhas 1 a 11).
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5.
«Peixes! Quanto mais longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com
eles, Deus vos livre!» (linhas 11 e 12). Comprove a pertinência dos exemplos
apresentados por Vieira (linhas 12 a 21) para fundamentar este conselho dado
aos peixes.
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6. Complete
as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a
cada espaço. Na folha de respostas, registe apenas as letras e o número que
corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.
Um dos objetivos da oratória é delectare, ou seja, agradar ao
auditório; para o alcançar, nas linhas 13 a 20 [«Cante-lhes [...] ferro.»],
entre outros processos, Vieira socorre-se de uma construção na qual existe uma ___a)___,
que contribui para uma evidente ___b)___ do discurso.
a) |
b) |
1. estrutura paralelística ou simétrica |
1. plausibilidade |
2. enumeração de conselhos aos homens |
2. complexidade |
3. alternância entre frases simples e complexas |
3. descontinuidade |
4. sucessão de hipérboles |
4. musicalidade |
Avaliar a coerência
de um texto implica verificar se nele se cumprem os princípios (vê as definições
na p. 368) da
relevância,
não contradição,
não tautologia (ou não redundância).
Nos sketches que veremos (série Lopes da Silva) são infringidos alguns
daqueles princípios, o que faz que a situação seja incoerente e percebida como
absurda. É claro que essas infrações, neste caso, são propositadas — é a falta
de coerência que torna tudo risível.
Completarás o quadro com relevância, não contradição, não tautologia (ou não redundância).
Inspetor
que não sabe fazer perguntas |
As perguntas do inspetor não têm relação com a
informação anterior, não são pertinentes, não se cumprindo o princípio da
_______. |
Falta
por motivos profissionais |
No início, a intervenção do funcionário preguiçoso
é insuficiente em termos de informação («Passa-se isto assim, assim»). Há
depois expressões «circulares», a que falta informação («Não posso vir ao
emprego por motivos profissionais» é quase um pleonasmo), o que corresponde a
quebra do princípio de ________. |
O
que eu gosto do meu Anselmo! |
Quando Anselmo, pouco depois de ter enaltecido o
amor que os unia, diz que a mulher nem gosta dele, infringe o princípio da _______. |
Bode
expiatório |
O empregado que arca com as culpas de todas as
incompetências no escritório repete «A culpa foi minha. Não há desculpa para
o que fiz. Se alguém deve ser responsabilizado, sou eu. É impressionante a
minha irresponsabilidade!». Podemos reconhecer aqui uma infração ao princípio
da _______. |
Filho
do homem a quem parece que aconteceu não sei quê [e genérico do episódio] |
Tanto o pai como o filho, ao «pronominalizarem»
muito, omitindo palavras com referentes percetíveis, tornam a comunicação
inviável, por falta de clareza. Falha, de novo, o princípio da ________, uma
vez que não há progressão na informação que nos é dada. No genérico final, também
falha o mesmo princípio, mas por demasiadas repetições. |
Sabes
onde há gajas boas? |
A insistência na pergunta inicial, até nos
cansarmos de tanta repetição e da ênfase na bondade das «gajas», é uma infração
ao princípio da _________. Atenta-se também contra o princípio da _________,
porque a pergunta implicava que quem a fazia soubesse a resposta, o que,
inesperadamente, não sucede. |
Chamada
por engano |
Na conversa entre jornalista e senhora da Venda
Nova falha sobretudo o princípio da _______, na medida em que a interlocutora
insiste em fazer pedidos («dispensava-me o seu bidé?») que não servem o
objetivo do telefonema (falar do Iraque), estão à margem do tópico central. |
Conversa
na esplanada |
Os amigos não se interessam pela história do
indivíduo que tem uma alface de estimação: desviam-se para outro assunto («É
o Edmundo?»; «São 4h34») ou não percebem o que está a ser defendido («há
alfaces tenrinhas»; «se fosse uma alface lisa»). Infringem o princípio da _______.
|
Bomba
a bordo |
O insólito resulta de comissário e comandante
agirem como se não detivessem um saber comum (‘bombas não são desejáveis’), o
que viabiliza a interação com o bombista. |
O anúncio em cima é bom
pretexto para aplicarmos a noção de «polissemia»
(e as de «aceções», «campo semântico», «sentido conotativo»). O slogan
deste texto publicitário assenta numa estratégia de exploração do valor polissémico
de «sermão».
Explica essa estratégia
num comentário com cerca de cem palavras, aproveitando o verbete de dicionário
reproduzido à direita e não deixando de usar os termos que assinalei a negro.
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[adaptado
do manual Expressões 11]
TPC — Escreve o pequeno texto (com cinco funções sintáticas) que
te será pedido numa pergunta a que serás chamado via Classroom.
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