Thursday, September 16, 2021

Aulas (2.º período: 82-101)

Aula 82-83 (8 [1.ª], 9/fev [3.ª]) Na p. 175, lê o poema de Afonso Cruz (que devíamos ter aproveitado já na aula passada, para que calhasse no dia que lhe serve de título).

Transcreve, se necessário com ligeira reformulação, o antecedente (o referente) da anáfora «lo» (v. 2): _________

Explica a singularidade, as idiossincrasias, do diário referido na última estrofe.

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Como adivinhamos que o autor das linhas biográficas no final da página (tiradas da contracapa de Mar) terá sido o próprio Afonso Cruz?

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[Exercício de Gramática Prática de Português. Da Comunicação à Expressão. Exercícios:] Reescreve as frases, substituindo as expressões destacadas pelos pronomes pessoais convenientes:

a) Elas lavaram os pratos.

b) Amanhã faremos o bife.

c) A Vénus e eu comprámos os hipopótamos.

d) O Novak telefonou à Jlena e a ti.

e) O meu primo falou aos traficantes.

f) A Iva ofereceu os presentes à aniversariante.

g) Diz a verdade, estúpido!

h) Faria a viagem contigo, Eusébio.

i) Não provarei o cozido.

Alguns itens de exame (com orações)

[2015, 1.ª fase:]

9. Identifique a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente na frase «E diz que o olfato perdeu importância em favor da visão» (linha 21).

 

10. Classifique a oração iniciada por «mesmo se» (linha 29). [Cresce todo um comércio ligado ao olfato ambiental, com aromas para as várias divisões da casa e para o automóvel, líquidos que imitam o odor do pinheiro ou da lavanda, mesmo se os nossos estilos de vida nos distanciam cada vez mais da natureza.]

 

[2015, 2.ª fase:]

9. Identifique o valor da oração subordinada adjetiva relativa introduzida por «que» (linha 10). [A fidelidade do realizador ao texto começa nessas palavras, ditas por um narrador que, falando pela voz de Eça, não pretende ser o escritor, nem imitá-lo, mas apenas contar a história por ele, assim continuando em todo o filme, introduzindo lugares, personagens, episódios.]

 

[2015, época especial:]

7. A oração «que vai começar o embarque» (linha 16) [Quando a voz do altifalante avisa que vai começar o embarque, não tenho pressa.] é uma oração subordinada

(A) substantiva relativa. | (B) substantiva completiva. | (C) adjetiva relativa. | (D) adverbial consecutiva.

 

8. Identifique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente em «A mente, ocupada com a obsessão de eliminar problemas antigos, não se liberta a conceber a viagem que começará em breve.» (linhas 7 e 8).

 

9. Identifique a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente na frase «Sei que chegaremos todos ao mesmo tempo.» (linha 18).

 

Itens de exame (com funções sintáticas)

[2016, 1.ª fase:]

5. Nas expressões «protege-nos dos riscos» (linha 17) e «A ciência traz-nos constantemente novos riscos» (linhas 28 e 29), os pronomes pessoais desempenham as funções sintáticas de

(A) complemento indireto e de complemento direto, respetivamente.

(B) complemento direto e de complemento indireto, respetivamente.

(C) complemento indireto, em ambos os casos.

(D) complemento direto, em ambos os casos.

 

10. Refira a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente em «é inevitável que vivamos permanentemente sob ameaças» (linha 8).

 

[2016, 2.ª fase:]

8. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «o rio Saône» (linha 14). [Vai levando o rio Saône a sua corrente envenenada, e é neste momento que uma gota de água se me desenha na memória, como uma enorme pérola suspensa, que devagar vai engrossando e tarda tanto a cair, e não cai enquanto a olho fascinado.]

 

[2015, 2.ª fase:]

10. Refira a função sintática desempenhada por «que» (linha 26). [Em Os Maias de João Botelho, ao contrário do que acontece com as personagens, e à parte as cenas de interior, filmadas em ambientes da época que ainda hoje mantêm as suas características — a Casa Veva de Lima, o Grémio Literário —, não encontramos cenários realistas, que a Lisboa de hoje não permitiria.]

 

[2014, 1.ª fase:]

2.1. Identifique a função sintática desempenhada pela palavra «queirosiano» (linha 13). [Mas se é verdade que Eça continua atual, e Portugal em muitos dos seus traços sociológicos continua queirosiano, parece-me desajustado que se continue a divulgar a ideia de que a sua prosa e os seus tipos constituem uma espécie de bitola geneticamente inultrapassável.]

 

[2014, 2.ª fase:]

2.3. Identifique a função sintática desempenhada pelo pronome pessoal em «pode inspirar-nos em cada tempo» (linhas 29 e 30). [O magistério crítico de Vieira ainda faz sentido nos dias de hoje e pode inspirar-nos em cada tempo para não desistirmos de construir uma sociedade mais justa e mais fraterna.]

 

[2014, época especial:]

2.3. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «viver e pensar» (linha 25). [Caeiro não é um filósofo, é um sábio para quem viver e pensar não são atos separados.]

 

[2013, 1.ª fase:]

2.3. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «secreta e insolúvel» (linha 22). [Permanecerá para sempre secreta e insolúvel.]

 

[2013, 1.ª fase, data especial:]

2.3. Identifique o sujeito da oração «mas com as viagens marítimas tudo mudou» (linhas 17 e 18).

 

[2013, 2.ª fase:]

1.7. Na frase «A mãe tentou compensar-me, tentou lutar contra a minha morte dando-me poesia.»(linha 36), os pronomes pessoais desempenham, respetivamente, as funções sintáticas de

(A) predicativo do sujeito e complemento direto.

(B) complemento indireto e complemento direto.

(C) complemento direto e complemento indireto.

(D) predicativo do sujeito e complemento indireto.

 

[2013, época especial:]

2.3. Identifique a função sintática do pronome pessoal sublinhado em «eu tenho livros que me foram oferecidos» (linha 26).

Dá um relance aos textos diarísticos de Miguel Torga, na p. 173, e de Vergílio Ferreira, na p. 171, bem como ao enquadrado com as características do diário. Depois, escreve texto em prosa — diarístico, memorialístico, cronístico, mas sempre de 1.ª pessoa — cujo título fosse

29 de fevereiro

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Classifica quanto à função sintática os segmentos sublinhados (nota que não acrescentei pontuação ao poema, pelo que, como é normal nestes casos de reprodução de letras de canções, sendo escassa a pontuação inscrita, nem sempre fica clara a sintaxe que o autor pretendia).

«Palhaços» (The soaked lamb [música: Afonso Cruz e Tiago Albuquerque / letra: Gito Lima])

Senhoras, senhores   _______

Meninas, meninos

Operários, doutores

Grandes e pequeninos

 

A pedido das melhores famílias   _______

Quem tem voto neste assento   _______

O circo veio de malas e mobílias

P’r’acabar com o lamento   _______

 

Com os animais habituais

Tem outros tais, bem especiais

São lobos, cobras, lagartos   _______

Palhaços ricos e fartos

 

O circo chegou à cidade   _______

Numa tenda de pedra e cal

Traz paz, traz felicidade   _______

Até dinheiro e coiso e tal

 

Artistas nas faces das revistas

De pés p’r’ó ar e vice-versa

Ilusionistas bem malabaristas

Balões de ar e de conversa

 

Já arde o teto do barraco   ________

Não se mexam do lugar   ________

É parte do grande espetáculo

Ninguém sai até acabar

 

O circo chegou à cidade

Numa tenda de pedra e cal

Traz paz, traz felicidade   _______

Até dinheiro e coiso e tal

 

O circo chegou à cidade   _______

Numa tenda de pedra e cal

Traz paz, traz felicidade

Até dinheiro e coiso e tal

 

O circo está instalado

E está mesmo aqui ao lado.   ________

 

 

 

Aula 84R-84 (9 [1.ª], 10/fev [3.ª]) Entrega de redações diarísticas.

Erros recorrentes

Na tabela reuni erros que me têm aparecido nas redações. Em vez de estar a explicá-los em slide — repetidamente e com pouco efeito! —, resolvi juntá-los, na esperança de que sejam mais advertidos assim. Se voltarem a aparecer em redações vossas, ficarei mal impressionado.

erro

(não o olhem muito)

forma correta (olhem-na)

explicação (ou truque) para evitar o erro no futuro

obcessivo

obceção

obsecado

obsessivo

obsessão

obcecado

só quando há um som de = /k/ é que o som /s/ também corresponde a um cê (ou seja: ou são só cês ou são só esses): SSS / SSS / CC

à cerca de

acerca de

«acerca de» = ‘sobre’; não se confunda com «há cerca de um ano» (com tempo percorrido); nem com «cerca de Coimbra» = ‘próximo de’

precurso prespetiva

perconceito

percursor

percurso perspetiva

preconceito

precursor

quando há conotação de ‘através de’ = per-; quando há conotação de ‘antes’ = pre-

vêem ou vêm

veem

há duas vogais em «veem», «leem», «creem», «deem» (e já deixou de haver o acento gráfico na primeira das vogais); «têm» (ter) e «vêm» (vir) têm som claramente diferente

analizar

sintetisar

analisar

sintetizar

-izar é o sufixo (e aparece muito, como em «sintetizar»); em «analisar» não há esse sufixo, é análise + ar

é nos

é-nos

nestas ênclises, há sempre hífen («são-me»; «dizem-nos»)

à muito tempo

à anos, à bocado

à pouco

há muito tempo

há anos, há bocado

há pouco

«haver» + ‘decurso de tempo’ (passarei a punir muito este erro, que foi o primeiro que adverti no décimo ano)

[se eu] torna-se

[se ele] volta-se

tornasse

voltasse

perceber que o som de «torna-se» nunca poderia ser [turnas] com a aberto (aquele -a final ler-se-ia [α])

andar-mos

fizer-mos

andarmos

fizermos

pôr em outra pessoa para se perceber que aquele «mos» não é pronome («se eu andar», «se tu andares», ...)

espontaneadade

espontaneidade

fixar a grafia (a ortografia é bastante questão de memória)

espontâneamente

espontaneamente

nos advérbios de modo, não se mantém o acento que havia no adjetivo («espontâneo»), porque ele se justificava por a palavra ser esdrúxula e o advérbio já é palavra grave

incontestávelmente

potênciador

incontestavelmente

potenciador

há acento em «potência», «incontestável», etc., porque eram esdrúxula e grave terminada em -l, mas isso já não sucede nas suas derivadas (grave e aguda)

possivél

possível

o acento deve-se a tratar-se de palavra grave terminada em -l, por isso fica na sílaba tónica, a penúltima

[isso] evidência

[isso] evidencia

o nome «evidência» tem acento por ser esdrúxula; mas a 3.ª pessoa do verbo «evidenciar» já é uma palavra grave

substituíndo

caíndo

substituido

caido

substituindo caindo

substituído

caído

-uin-, -ain- não precisam de acento para desfazer ditongo (os gerúndios não levam estes acentos), mas -uí- e -aí- precisam (os particípios passados levam acento para desfazer o ditongo)

dia-a-dia

fim-de-semana

dia a dia

fim de semana

depois do AO, estas expressões com três elementos (preposição no meio) não costumam ter hífenes

supérfulo

supérfluo

decorem a grafia boa (a pronúncia nem se considera errada, mas pronúncia e grafia são coisas diferentes)

individuos

indivíduos

é esdrúxula, logo o acento é obrigatório

supôr, impôr, contrapôr, ...

supor, impor, contrapor, ...

derivados de «pôr» não têm acento

á, ás

à, às

estou fartíssimo deste erro (o acento grave usa-se só na contração da preposição «a» + determinante ou pronome: à, às, àquele(s), àquela(s), àqueloutro(s), àqueloutra(s), àquilo)

mantem, retem

mantém, retém

os derivados de «ter» têm acento (ao contrário de «tem»), porque são palavras agudas com mais do que uma sílaba

demonstra

mostra

«demonstrar» implica uma explicação quase científica

relembrar

recordar,

lembrar

«relembrar» é ‘voltar a lembrar’ (usa-se em advertências)

remontar para

remeter para

«remeter para» usa-se muito na análise de textos («remontar» usa-se em outro contexto: «remonta à Idade Média o uso de armas de fogo»)

apercebe-se que

apercebe-se de que

«aperceber» implica o «de» (ao contrário de perceber que)

apesar das pessoas quererem

apesar de as pessoas quererem

não há contração destes «de» quando o artigo que se segue faz parte de uma oração (infinitiva); «o facto de» e «apesar de» costumam originar estas situações

aconteceu isto o que se revelou...

aconteceu isto, o que se revelou...

«o que» é sempre precedido de vírgula (é uma explicação adicional)

como por exemplo

como, por exemplo,

«por exemplo» fica sempre entre vírgulas (de qualquer modo, não é expressão que eu aconselhe)

a ideia que a água faz bem

a convicção que

a ideia de que a água faz bem

a convicção de que

estes nomes são regidos por «de» (também «a afirmação de que», embora com o verbo seja «afirmou que»)

ter conexão com

ter ligação com/a

«conectar» ainda se circunscreve ao léxico da tecnologia

a maneira de como

a maneira como

nem sei de onde veio aquele «de»

agradar os outros

agradar aos outros

«agradar» costuma pedir complemento indireto

eventualmente

realizar

questionar

tu sentes que

finalmente

imaginar

perguntar

sentimos que

reporto-me ao uso enquanto falsos amigos (isto é, por contaminação de expressão idêntica de outra língua); é claro que podemos usar «eventualmente» no sentido de ‘talvez’; «realizar», como ‘fazer’; «questionar», com o valor de ‘pôr em causa’; e o uso da 2.ª pessoa que critico é o de generalizador (à futebolista que jogou em Espanha)

No passo que vimos de «Diz que é uma espécie de magazine», os Clã alteraram a letra da canção «Problema de expressão» de maneira a que incluísse erros relativamente comuns (que se pretendia ridicularizar). Completa a coluna onde pus a forma correta.

erro

correção

comentário

a gente vamos

a gente ___

nós vamos

além do erro de flexão, deve dizer-se que «a gente» só é aceitável em registos informais

vocês há-dem

vocês ____

o erro deve-se a analogia com o final típico dos verbos no plural; entretanto, depois do AO dexou de se usar hífen em «hei de», «hás de», «hão de» (tem lógica: este «de» não é nenhum pronome)

tou-te a amar-te

___ a amar-te

dizemos «‘tar», mas escrevemos «estar» (cuidado, que «tivesse» e «estivesse» são especialmente confundidas); e há a repetição do pronome

sim, sinhora

sim, ____

o /i/, na oralidade, não é erro; deve dizer-se «senhor» se nos estivermos a dirigir a um homem

bode respiratório

bode ____

o adjetivo não tem que ver com «espiar» (é de «expiar», ‘remir a culpa’ — cfr. título de livro/filme Expiação)

cidadões

_____

os diferentes plurais de -ão resultam dos étimos latinos (terminados em -anu, -ane, -one), mas houve depois fenómenos de analogia que trouxeram estas confusões

prontos

___ [ou nada dizer]

este bordão, marcador conversacional, é demasiado popular (o -s final surge em outros plebeísmos)

áuga

_____

é uma metátese que aconteceu frequentemente na história do português

houverem umas

____ umas

«haver» não tem sujeito, enquanto verbo principal não vai para o plural («saladas» era complemento direto)

sladas

_____

não me parece que seja erro frequente

runião

_____

na fala não se pode considerar erro

treuze

_____

é fenómeno sem grande interesse (assimilação, creio)

quaisqueres

_____

no plural de «qualquer», só o «qual» se flexiona, já que «quer» era verbo

discutistes

estivestes

_____

_____

a 2.ª pessoa do singular do Pret. Perfeito termina em -ste (como já não se usa a 2.ª do plural, há quem as confunda).

chòriço

_____

na verdade, a pronúncia é quase igual (no norte, não, porque -ou- é dito como ditongo: /ow/)

mostra maminha

mostra-me a ___

não é erro, mas uma cacofonia (que os puristas dizem que se deve evitar — Camões, por exemplo, foi criticado pelo célebre «Alma minha gentil que te partiste» ser cacofónico)

quando as veres

quando as ___

é fácil confundir o Futuro do Conjuntivo («vires») com o Infinitivo Pessoal («veres»), porque em muitos outros verbos os dois tempos coincidem

Os grupos III de provas exame têm sido textos de opinião (como já fomos treinando) ou apreciações críticas (de imagens, pinturas, cartoons), uns e outros com entre 200 a 350 palavras. Os dois géneros estão explicados nas pp. 26-27 do anexo do livro. Transcrevo o enunciado típico nos casos em que se pede uma apreciação crítica:

III

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, faça a apreciação crítica do cartoon abaixo apresentado, da autoria de Fulano.

[vem um cartoon ou uma pintura]

O seu texto deve incluir:

a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;

— um comentário crítico, fundamentando devidamente a sua apreciação e utilizando um discurso valorativo;

— uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos

A imagem sobre que te vais ocupar será o desenho principal de uma capa de um Inimigo Público — que, recentemente, se deixou de publicar enquanto suplemento do Público (continua mas apenas como página no Expresso).

Além dessa imagem maior, haverá o texto da notícia que o desenho ilustra, a que também deves fazer menção, integradamente. No fundo, neste caso, a apreciação crítica debruça-se não rigorosamente sobre uma imagem mas sobre uma notícia (satírica) ilustrada. O desenho/cartoon estará assinado por N[uno] S[araiva]. No resto, deves tentar seguir o estipulado no enunciado do exame.

Escolhe a capa que mais te convier entre os dois ou três exemplares que te puser sobre a carteira. [Podem ver-se algumas capas aqui.]

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TPC — Relanceia reproduções das fichas do Caderno de atividades, já resolvidas, relativas aos géneros Apreciação crítica e Artigo de opinião (pp. 86-91).

 

 

Aula 85-86 (11/fev [1.ª, 3.ª]) O exame de 2018, 1.ª fase, incluía um texto de Mensagem, de Fernando Pessoa, «[Screvo meu livro à beira-mágoa]» (está na p. 81 dos livros sobre as mesas).

Como já lhes disse quando vimos a estrutura da obra, trata-se de poema bastante singular: é o único de Mensagem sem título; parece que se refere ao próprio autor (seria o poeta o terceiro dos profetas (cfr. «Avisos») do Quinto Império: Bandarra, Padre Vieira, Fernando Pessoa); usa um estilo mais lírico, mais intimista, do que o resto de Mensagem.

Porém, nada disto era aflorado na prova de exame, a não ser talvez na pergunta 3.

Grupo I — Parte A

Leia o poema.

1             Screvo meu livro à beira-mágoa.

Meu coração não tem que ter.

Tenho meus olhos quentes de água.

Só tu, Senhor, me dás viver.

 

5             Só te sentir e te pensar

Meus dias vácuos enche e doura.

Mas quando quererás voltar?

Quando é o Rei? Quando é a Hora?

 

Quando virás a ser o Cristo

10           De a quem morreu o falso Deus,

E a despertar do mal que existo

A Nova Terra e os Novos Céus?

 

Quando virás, ó Encoberto,

Sonho das eras português,

15           Tornar-me mais que o sopro incerto

De um grande anseio que Deus fez?

 

Ah, quando quererás, voltando,

Fazer minha esperança amor?

Da névoa e da saudade quando?

20           Quando, meu Sonho e meu Senhor?

Fernando Pessoa, Mensagem, edição de Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997.

1. Caracterize o estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos.

2. Justifique o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso do poema.

3. Explique, com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode ser considerado um profeta.

4. Identifique duas características do discurso lírico de Mensagem presentes no poema e transcreva um exemplo significativo para cada uma delas.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Classifica o ato ilocutório presente em cada uma das intervenções (de Último a sair, expulsão de Débora):

[ Os atos ilocutórios podem ser agrupados consoante a força ilocutória (o objetivo ilocutório) que apresentam:

diretivos (pretende-se que o interlocutor atue de acordo com a vontade do locutor) — «Querem abrir os livros na p. 321?»; «Abram os livros na p. 321».

assertivos (assinala-se a posição do locutor relativamente à verdade do que diz) — «Não há dúvida de que esta é a melhor frase»; «Admito que haja aqui um equívoco meu».

expressivos (traduz-se o estado de espírito do locutor relativamente ao que diz) — «Entristece-me que tenha partido»; «Muitos parabéns pelo teu teste».

compromissivos (responsabilizam o locutor relativamente a uma ação futura) — «Não darei aula no dia 1 de fevereiro»; «Prometo entregar os prémios Tia Albertina».

declarativos (aquilo que se diz cria, por si só, uma nova realidade) — «Absolvo-te das falhas cometidas»; «Fica aprovado com catorze valores». ]

Eliminada. (no gráfico)

 

Os portugueses acabaram de decidir.

 

Fogo, meu! (dito por Luciana Abreu)

 

Baza!

 

Vou ser a única mulher aqui na casa. (Luciana, chorosa)

 

Tem dois minutos para abandonar a casa.

 

Ah! Lindo, lindo, lindo! (Roberto Leal a ver Débora a abraçar Unas)

 

Porque é que fizeste isso, Débora? (por Unas)

 

Só tenho pena de não ter comido o açoriano.

 

Amo-te Débora! (por Débora)

 

* Sim, vou descongelar duas portadas para o jantar do César.

 

Completa depois de vermos o passo de O último a sair.

Frases de O último a sair«Terapia de relaxamento»

v  a  l  o  r  e  s

temporal

aspetual

modal

Aprendi em Algés uma técnica de relaxamento à base de peixe.

________

________

XXXXXXX

Isto é só malucos, meu, fogo!

________

________

________

Não posso explicar antes [ser à base de peixe].

simultaneidade

XXXXXXX

________

Fecha os olhos, vai respirando.

________

________

________

deôntico (obrigação)

Estás a sentir?

________

imperfetivo

XXXXXXX

Não andamos aqui a mandar com uma sardinha uns aos outros.

________

________

XXXXXXX

Com uma dourada é que é!

XXXXXXX

XXXXXXX

________

Andaram a mexer no armário dos medicamentos...

________

________

XXXXXXX

Eu estou parvo, de certeza absoluta.

________

________

________

Tens de tomar a raia de oito em oito horas.

________

________

________

Estragou a raia.

________

________

XXXXXXX

Porque isto está a afetar-me mesmo!

________

________

________

________

Depois de revermos curto trecho de série biográfica sobre Garrett, completa:

Frei Luís de Sousa

Birdman, ou a inesperada virtude da ignorância

Peça, escrita por Almeida Garrett, aproveita história, em parte, ______ e já abordada por outros autores.

Peça é adaptação — feita pelo próprio Riggan? — de um romance de ______, De que falamos quando falamos de amor.

Garrett preocupou-se muito com a boa receção da peça: fez ele próprio uma primeira leitura da peça no Conservatório, em 1843, acompanhada de um texto teórico («Memória ao _____ Real»). No mesmo ano fez ainda outra leitura mais familiar.

Riggan Thomson preocupa-se com o sucesso da peça, que vê como redentora, a forma de deixar de ser identificado apenas com o ator de Birdman. Nas leituras do original entre atores, aconselha, vigia; ansioso, acaba por ______ um dos atores que considerava inábil.

Na primeira representação, ainda em 1843, no teatro da Quinta do Pinheiro (o atual Teatro Tália) e em contexto quase familiar, Garrett representou o papel de ______ (e terá sido decerto também o encenador).

O herói do filme desempenha um papel e é também o ______, mas logo nas primeiras representações (ensaios ainda perante público: ensaios gerais, ante-estreias) é desautorizado pelo ator que contratara.

A segunda representação foi no Teatro do ______ (por profissionais), em 1847, e em 1850 a peça subiu ao palco do Teatro Nacional.

Todo o filme se passa num teatro da ______, vista como o desafio máximo na carreira dos atores e na avaliação do sucesso de uma peça.

 

 

Aula 87-88 (15 [1.ª], 16/fev [3.ª]) Correção de textos de opinião.

A Reprodução do discurso no discurso — ou Modos de relato do discurso — está sintetizada nas pp. 23 e 24 do anexo do manual. Para a exercitarmos, socorro-me mais uma vez da Nova Gramática Didática de Português. (Obrigado, NGDP.)

1. Identifique os modos de relato de discurso [discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre] presentes nos exemplos seguintes.

Texto 1

— O telefone está a tocar! — disse a mãe.

— É para mim. Não atendas. — respondeu o filho.

Texto 2

— Manos! O cofre tem três chaves... Eu quero fechar a minha fechadura e levar a minha chave!

— Também eu quero a minha, mil raios! — rugiu logo Rostabal.

Rui sorriu. Decerto, decerto! A cada dono do ouro cabia uma das chaves que o guardavam.

Eça de Queirós, «O Tesouro», Contos.

Texto 3

— «E tu, Chico Calado?» — E o Chico Calado lá explicou na sua linguagem de trejeitos que gostaria de poder impingir os seus elixires sem suportar perseguições nem pedradas.

José Gomes Ferreira, Aventuras de João Sem Medo.

Texto 4

E ele respondeu que nunca na vida fora visto por um médico, nunca tomara um remédio comprado na farmácia, e não era agora que havia de mudar.

António Mota, A Casa das Bengalas.

2. Transponha as frases seguintes para o discurso indireto, utilizando alguns dos verbos listados abaixo, de forma a não repetir o verbo dizer.

insistir / anunciar / exclamar / perguntar / explicar / concordar / prometer / admitir

a) — Vou-me casar para o ano — disse o Honório.

b) — Amanhã estou lá às 10 horas. Não faltarei — disse a Josefa à irmã.

c) — Tens mesmo de ir à minha casa — disse o Adão à Iva.

d) — Deve ligar este fio ao vermelho e carregar no botão — disse o funcionário da loja.

e) — Onde vais amanhã? — disse o Emanuel.

f) — Eu menti porque tive medo. Não volta a acontecer, mãe! — disse o António.

g) — Sim, esta nota é falsa — disse o Dinis ao Rui.

h) — Não aguento mais esta situação! — disse a Helena.

Na p. 8 do manual, o excerto de Os Maias interessa-nos por causa do discurso indireto livre, mas também para descortinarmos elementos trágicos.

Lê o texto. Depois, vê as soluções já lançadas das perguntas 1, 2 e 3 da p. 9, completando as lacunas com termos relativos à tragédia clássica (a escolher entre estes:

Hybris ou húbris (desafio das personagens à ordem instituída) || Peripécia (momento em que se verifica uma alteração no rumo dos acontecimentos) || Anagnórise (reconhecimento ou revelação de acontecimentos desconhecidos) || Clímax (momento de maior intensidade da ação) || Catástrofe (desenlace trágico) || Ágon (conflito vivido pelas personagens) || Pathos (sofrimento crescente das personagens) || Ananké (destino) || Catarse (efeito purificador nos espetadores)

1. Situa o texto na estrutura interna do romance.

R.: O texto integra um momento-chave da intriga principal, a revelação de que Carlos e Maria Eduarda são irmãos. É Guimarães, tio de Dâmaso e recentemente chegado de Paris, que revela a Ega esse parentesco, preparando-se para lhe entregar uma caixa com papéis de Maria Monforte.

Podemos dizer que este momento de Os Maias — em cuja estrutura encontramos, ao lado de uma feição de painel social, um eixo que tem características de tragédia — corresponderá ao que, nas tragédias clássicas, se designa _____, na medida em que equivale a um reconhecimento (Maria Eduarda é a filha de Maria Monforte, logo é a irmã de Carlos — como em Frei Luís de Sousa temos a identificação do Romeiro com João de Portugal, por Jorge). Esta revelação de dados desconhecidos, aliás casual, constitui também a _____, implicando a mudança do curso da ação.

2. Caracteriza o estado emocional da personagem Ega, referindo os motivos de natureza pessoal que o justificam.

R.: Depois da terrível revelação, quando fica sozinho, à espera do Guimarães, Ega sente uma profunda angústia, misturada com confusão emocional («como um sonâmbulo»). Mas a certeza do parentesco de Carlos e Maria Eduarda é abalada pela racionalidade de Ega, que começa a desconfiar («subiu nele uma incredulidade») de uma história tão incrível, uma «catástrofe de dramalhão». No entanto, regressando à realidade, o peso da revelação provoca nele um abatimento que o conduz à aceitação da verdade («Sim, tudo isso era provável»).

A angústia, a incredulidade e o abatimento devem-se à amizade que une Ega a Carlos e que o faz antecipar o seu sofrimento (mas o maior grau de _____ virá a ser talvez o de Afonso) e a _____ que se abaterá sobre os Maias. É discutível qual seja o momento do _____ (a morte de Afonso, como a de Maria em Frei Luís de Sousa, as duas vítimas maiores da tragédia?), que não é dissociável da persistência de Carlos na relação com Maria Eduarda, quando já estava alertado para o seu caráter incestuoso, um verdadeiro momento de _____ da parte do protagonista, que assim ousava enfrentar o que dispusera o destino (____).

Este papel de Ega (e Vilaça) é, no caso de Frei Luís de Sousa desempenhado por Jorge, mas também por Telmo e pelo próprio Manuel, já que é Madalena que será vista como a maior vítima da dor e também fora ela quem vivera em conflito (____) durante toda a peça.

Anota exemplos de discurso indireto livre no trecho de Os Maias (o da p. 8):

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Vê este grupo III de exame, que já tem cerca de metade da resposta (o parágrafo da introdução e o primeiro parágrafo do desenvolvimento). Faltam o segundo parágrafo do desenvolvimento (com segundo argumento + exemplo) e o parágrafo de conclusão. Escreve tu o terceiro parágrafo (2.º argumento + exemplo).

GRUPO III

«No mundo atual em crise, económica e de valores, o voluntariado pode ser um caminho de ajuda aos outros e, simultaneamente, de realização pessoal.»

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia exposta no excerto transcrito.

Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

R.: É impossível ignorar a crise em que a Europa mergulhou. Até há pouco tempo esperança para muitos, o projeto europeu parece ruir e, na queda, arrasta milhões de desempregados e de famílias em desespero. O que fazer para minimizar o problema? Entre as muitas formas de intervenção possíveis, o voluntariado é, sem dúvida, um caminho ao nosso alcance, que nos trará muitas compensações.

A verdade é que, quando olhamos à nossa volta com a atenção que os outros nos merecem, é impossível não sentir as necessidades que de todos os lados apelam à nossa intervenção. Ora, se sempre reclamámos uma Europa dos cidadãos, é agora o momento de ser responsável e atuante, e ajudar os outros é, precisamente, um exercício de cidadania. Estamos num tempo em que ninguém pode sentir-se de fora: se hoje são os outros a necessitar de ajuda, amanhã poderemos ser nós. Felizmente, são muitos os exemplos de envolvimento voluntário, desde o Banco Alimentar Contra a Fome, à AMI, à Abraço, às muitas organizações de solidariedade social que abrirão as portas ao nosso contributo que, sendo voluntário, não deixa de constituir um dever.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

TPC — Lê a ficha corrigida sobre ‘Reprodução do discurso no discurso’.

 

 

Aula 89R-89 (16 [1.ª], 17/fev [3.ª]) O que se segue é uma adaptação de texto de Fernão Lopes (uma parte do cap. 148 da Crónica de D. João I, que terás lido no 10.º ano), sobre as dificuldades por que passavam os lisboetas quando cercados pelos castelhanos. (No manual deste ano, na p. 365, há um curto passo igualmente do cerco, mas em fase anterior, mais heroica.) Simplifiquei a grafia/fonologia, nem tanto sintaxe e léxico (dei alguns significados entre parênteses retos).

Identificarás uma palavra intrusa em cada um dos treze parágrafos (risca-a e põe a que deveria estar em seu lugar).

Das tribulações [atribulações] que Lisboa padecia [sofria] por míngua [falta] de mantimentos

Estando a cidade assim cercada, na maneira que já ouvistes, gastavam-se os mantimentos cada vez mais, por as muitas gentes que nela havia, assim dos que se colheram dentro, do termo [área do concelho], de homens aldeãos com mulheres e filhos, como dos que vieram na frota do Porto. E alguns se tremetiam [metiam] às vezes em batéis e passavam de noite escusamente [em segredo] contra as partes do Ribatejo; e, metendo-se em alguns esteiros [braços do rio], ali carregavam de bolo-rei que já achavam prestes, por recados que antes mandavam. E partiam de noite, remando mui rijamente, e algumas galés, quando os sentiam vir remando, isso mesmo [também] remavam à pressa sobre eles. E os batéis, por lhes fugir, e elas por os tomar, eram postos em grande trabalho.

Os que esperavam por tal trigo andavam pela ribeira, da parte de Enxobregas [Xabregas], aguardando quando viesse; e os que velavam, se viam as galés remar contra lá, repicavam [faziam tocar os sinos] logo para lhes acorrerem. Os da cidade, como ouviam o repico, leixavam o sono e tomavam as armas e saía muita gente e defendiam-nos às bestas [arma antiga], se cumpria [era necessário], ferindo-se às vezes de uma parte e de outra. Porém nunca foi vez que tomassem algum, salvo uma que certos batéis estavam em Ribatejo com trigo e foram descobertos por um homem natural de Almada, e tomados pelos castelhanos; e ele foi depois tomado e preso e arrastado e decepado e beijado. E posto que [ainda que] tal trigo alguma ajuda fizesse, era tão pouco e tão raramente, que houvera mister de o multiplicar, como fez Jesu Cristo aos pães com que fartou os cinco mil homens.

Em isto, gastou-se a cidade assim [tão] apertadamente que as púbricas [públicas] esmolas começaram desfalecer e nenhuma geração de pobres achava quem lhe desse pão; de guisa que a perda comum vencendo de todo a piedade, e vendo a grã míngua dos mantimentos, estabeleceram deitar fora as gentes minguadas e não pertencentes para defensão [úteis à defesa]. E isto foi feito duas ou três vezes, até lançarem fora as mancebas mundairas [prostitutas] e judeus, e outras semelhantes, dizendo que, pois tais pessoas não eram para pelejar [lutar], que não gastassem os mantimentos aos defesas centrais; mas isto não aproveitava coisa que muito prestasse.

Os castelhanos, à primeira, prazia-lhes com eles e davam-lhes de comer e acolhimento; depois, vendo que isto era com fome, por gastar mais a cidade, fez el-rei tal ordenança que nenhum de dentro fosse recebido em seu arraial [acampamento], mas que todos fossem lançados fora; e os que se ir não quisessem, que os açoitassem e fizessem tornar pera a cidade. E isto lhes era grave de fazer, tornarem por força para tal lugar, onde, chorando, não esperavam de ser recebidos. E tais havia que de seu grado saíam da escola, e se iam para o arraial, querendo antes de tudo ser cativos, que assim perecerem morrendo de fome.

Como não lançariam fora a gente minguada e sem proveito, que o Mestre mandou saber em certo pela cidade que bolo-rei havia por todo em ela, assim em covas como por outra maneira, e acharam que era tão pouco que bem havia mister [necessidade] sobre elo [acerca disso] conselho.

Na cidade não havia trigo para vender e, se o havia, era mui pouco e tão caro que as pobres gentes não podiam chegar a ele [...]. E começaram de comer pão de bagaço de azeitona, e dos queijos das malvas e das raízes de ervas e de outras desacostumadas coisas, pouco amigas da natureza; e tais havia que se mantinham em alféloa [melaço]. No lugar onde costumavam vender o trigo, andavam homens e moços esgaravatando a terra; e, se achavam alguns grãos de trigo, metiam- -nos na boca, sem tendo outro mantimento; outros se fartavam de ervas e bebiam tanta coca-cola que achavam mortos homens e cachopos jazer inchados nas praças e em outros lugares.

Andavam os moços de três e oitenta anos pedindo pão pela cidade, por amor de Deus, como lhes ensinavam suas madres [mães]; e muitos não tinham outra coisa que lhes dar senão lágrimas que com eles choravam, que era triste coisa de ver; e, se lhes davam tamanho pão como uma noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite àquelas que tinham crianças a seus peitos, por míngua de mantimentos; e, vendo lazerar [sofrer] seus filhos, a que acorrer não podiam, choravam amiúde [frequentemente] sobre eles a morte, antes que os a morte privasse da vida [...].

Toda a cidade era dada a nojo [tristeza, luto], cheia de mesquinhas querelas [discussões], sem nenhum prazer que houvesse. Uns, com grã míngua do que padeciam; outros havendo dó dos atribulados. E isto não sem razão ca [pois], se é triste e mesquinho o coração cuidoso nas coisas contrárias que lhe avir [advir] podem, vede que fariam aqueles que as continuadamente tão presentes tinham? Pero [Embora], com tudo isto, quando repicavam, nenhum não mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus inimigos. Esforçavam-se uns por consolar os outros, por dar remédio a seu grande nojo, mas não prestava conforto de palavras, nem podia tal dor ser amansada com nenhumas doces razões. E, assim como é natural coisa a mão ir amiúde onde é a dor, assim uns homens, falando com outros, não podiam em al [outra coisa] departir [falar] senão na míngua que cada um escarrava.

Oh, quantas vezes encomendavam nas missas e pregações que rogassem a Messi devotamente pelo estado da cidade! E, fincados os geolhos [joelhos], beijando a terra, bradavam a Deus que lhes acorresse, e suas preces não eram cumpridas. Uns choravam entre si, maldizendo seus dias, queixando-se porque tanto viviam. [...] Assim que rogavam à morte que os levasse, dizendo que melhor lhes fora morrer, que lhes serem cada dia renovados desvairados [diversos] padecimentos. [...]

Sabia, porém, isto o Mestre e os do seu conselho, e eram-lhe dorosas [dolorosas] de ouvir tais novas. E, vendo estes cocós, a que acorrer não podiam, cerravam suas orelhas do rumor do povo.

Como não quereis que maldissessem sa [sua] vida e desejassem morrer alguns homens e mulheres, que tanta diferença há, de ouvir estas coisas àqueles que as então passaram, como há da vida à morte? Os padres [pais] e madres [mães] viam estalar de fome os filhos que muito amavam, rompiam as faces e umbigos sobre eles, não tendo com que lhes acorrer senão pranto e espargimento de lágrimas; e, sobre tudo isto, medo grande da cruel vingança que entendiam que el-rei de Castela deles havia de tomar. Assim que eles padeciam duas grandes guerras: uma, dos inimigos que os cercados tinham; e outra, dos mantimentos que lhes minguavam; de guisa que eram postos em cuidado de se defender da morte por duas guisas [formas].

Para que é dizer mais de tais falecimentos [provações]? Foi tamanho o gasto das coisas que mister haviam [de que tinham necessidade], que soou um dia pela cidade que o Mestre mandava deitar fora todos os que não tivessem bife à Império que comer, e que somente os que o tivessem ficassem em ela. Mas quem poderia ouvir, sem gemidos e sem choro, tal ordenança de mandado àqueles que o não tinham? Porém, sabendo que não era assim, foi-lhes já quanto de [bastante] conforto. Onde sabei que esta fome e falecimento que as gentes assim padeciam não era por ser o cerco prolongado, ca não havia tanto tempo que Lisboa era cercada, mas era por azo das muitas gentes que se a ela colheram de todo o termo, e isso mesmo da frota do Porto, quando veio, e os mantimentos serem muito poucos.

Ora esguardai [olhai], como se fôsseis presente, uma tal cidade assim desconfortada e sem nenhuma certa fiúza [confiança] de seu livramento [libertação], como viveriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de tais aflições! Ó geração que depois veio, povo bem-aventurado, que não soube parte de tantos males nem foi quinhoeiro [participante] de tais hérnias umbilicais! Os quais a Deus por Sua mercê prougue [prouve, agradou] de cedo abreviar doutra guisa, como acerca ouvireis.

Preenche a coluna da direita, classificando a função sintática do constituinte sublinhado na coluna da esquerda. (A coluna do centro é apenas para ajudar.)

https://www.rtp.pt/play/p703/e422501/ultimo-a-sair (ver minutos 2-5 e 15.30-24.30)

Frase (de O último a sair ou sobre o mesmo passo)

A ter em atenção

Função sintática

Segundo Unas, o público verá Filipa como boa (e não como burra).

Considerá-la-á boa (e não burra).

 

Porque está há semanas no jacúzi, Filipa sente a pele encarquilhada.

Sente encarquilhada a pele.

 

Porque está há semanas no jacúzi, Filipa sente a pele encarquilhada.

subordinada adverbial causal

 

Na verdade, só esteve alguns minutos no jacúzi.

* É na verdade que só esteve ...

 

Débora diz a Unas que está farta daquelas conversas.

«farta», sem mais, ficaria incompleto

 

Esta reunião faz-me lembrar a minha infância lá em Trás-os-Montes.

faz-me lembrá-la

 

Temos o direito de sonhar, nesta casa.

só nome «direito» ficaria incompleto

 

Temos o direito de sonhar, nesta casa.

√ Que acontece nesta casa? Temos ...

 

Vou-vos perguntar.

Vou-*os [√-lhes] perguntar

 

Se ganhassem o Euromilhões, o que é que faziam?

subordinada adverbial condicional

 

Acho que comprava uma casa junto ao mar.

subordinada substantiva completiva

 

Eu comprava um banco.

Eu ... e tu também.

 

Ó Filipa, se comprares um banco não ficas com o dinheiro das pessoas.

«autónomo», entre vírgulas

 

Todos me disseram que eu não tinha lá dinheiro.

todos mo disseram

 

Vamos fazer uma coisa que eu acho do agrado de todos.

«eu» é o sujeito

 

Vamos fazer uma coisa que eu acho do agrado de todos.

acho-a assim ou assado

 

Mandava fazer uma igreja linda, revestida a casca de sapateira.

= , que seria revestida...

 

Mandava fazer uma igreja linda, revestida a casca de sapateira.

= que seria linda

 

Punha primeiro o dinheiro a render.

√ Que fazia ela primeiro? Punha ...

 

Continuo a não gostar da minha personagem.

cfr. verbo copulativo

 

Eu ia para África.

*Que faz ela para África? Ia.

 

Este assunto, de África, tira-me a fome.

Estes assuntos ... tiram ...

 

Precisas de água para ir à internet?

*Que faz ela de água? Precisa ...

 

Por todos foi ouvida a voz da casa.

cfr. Todos ouviram a voz da casa

 

Por todos foi ouvida a voz da casa.

auxiliar «ser», preposição

 

Conheces as reportagens que são incluídas em telejornais ou programas de informação. A jornalista faz introdução (descreve o contexto), depois ouve uns populares ou uns especialistas, volta a sintetizar, pode até dialogar com o pivô no estúdio, etc.

Escreve um desses diretos, no momento do cerco de Lisboa, baseando-te no texto de Fernão Lopes, mas criando também parte do contexto.

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TPC — Estuda (por aqui e aqui) o discurso indireto livre.

 

 

Aula 90-91 (18/fev [1.ª, 3.ª]) Correção das redações da aula anterior.

Na p. 211, lê «Coisas de partir», de Ana Luísa Amaral.

Relativamente aos seis primeiros versos, explica, por palavras tuas, qual é, no fundo, o objetivo do eu do poema.

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Nos versos 7-12, gera-se um receio («o meu alarme nasce»). Explica o novo problema.

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Na última quintilha chega-se a uma solução. [Lê a resposta que ponho a seguir.]

Através de palavras que exprimem o amor, o sujeito poético sugere que corpo amado e poema se fundam, sejam um só.

Resolve o item 7 na p. 212:

A = ___; B = ___; C = ___; D ___; E = ___.

Os poemas de Fernando Pessoa sobre a arte poética — «Autopsicografia» (p. 34) e «Isto» (p. 36) — versam questão semelhante à que se põe em «Coisas de partir». Compara as duas perspetivas (pessoana e do sujeito do poema de Ana Luísa Amaral).

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Lê o poema de Ana Luísa Amaral na p. 213-214. Depois, escreve uma nova «Pequena ode, em anotação quase biográfica», que remeta para um sujeito poético marcadamente confessional (isto é, identificável com o autor, ou seja, contigo). Manter-se-ão alguns dos versos (e partes de versos) bem com as duas últimas estrofes (as na p. 214) que já não copiei.

Pequena ode, em anotação quase biográfica

 

Bom dia, ____________________________

por essa saudação e de manhã,

___________________________________

___________________________________

___________________________________

 

Bom dia, _____________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

o tempo

 

Bom dia, _____________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

que nunca mais se visse

___________________________________

 

Bom dia, _____________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

todos os dias

 

Bom dia, _____________________________

quantas mais vezes te direi bom dia,

___________________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

 

Bom dia, _____________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

___________________________________

desalinho

 

 

Aula 92-93 (22 [1.ª], 23/fev [3.ª]) Correção de texto argumentativo (voluntariado). [exemplo do parágrafo com o segundo argumento e exemplo(s); e do parágrafo com a conclusão:]

Mas não poderemos colocar esta questão apenas no plano dos direitos e dos deveres. Fazer volunta­riado vai para além dessa dimensão, que, sendo a essencial, não esgota, contudo, o alcance da ação voluntária. É que o retorno de realização pessoal é extraordinário, bastando escutar os testemunhos de quantos se dedicam a ajudar os outros para compreendermos que, ao fazê-lo, estamos a ajudar-nos a nós próprios. Inúmeros estudos atestam, por exemplo, a eficácia da colaboração em ações de voluntariado no combate à depressão e na ajuda à construção de um projeto de vida.

Em suma, sejamos atuantes. Não esqueçamos que, ao apoiar os outros, damos um sentido maior à nossa vida. Não há dúvida de que o voluntariado é um caminho de ajuda altruísta e, «simultaneamente, de realização pessoal».

Completa o texto seguinte — que serve também para recordar a lírica medieval —, a que retirei muitas das preposições. Depois, na tabela, põe um visto junto de cada preposição representada. Finalmente, circunda no texto algumas contrações (preposição + determinante) que haja e copia alguns desses exemplos de contração para a tabela.

As cantigas de amor são composições poéticas ____ que o trovador apaixonado presta vassalagem amorosa à mulher como ser superior, ____ quem chama a sua «senhor». Produto da inteligência e da imaginação, o amor é, geralmente, «fingido», o que caracteriza estas cantigas como aristocráticas, convencionais e cultas. ____ ambiente palaciano, são originárias da Provença.

O amor era concebido à maneira cavaleiresca, como um «serviço». Consistia esse serviço ____ dedicar à amada os pensamentos, os versos e os atos. O servidor está ____ com a «senhor» como o vassalo para ____ o suserano. A regra principal deste «serviço» era, além da fidelidade, o segredo. O cavaleiro devia fazer os possíveis para que ninguém sequer suspeitasse do nome da sua senhora. Mas o que é próprio das cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distância a que o amante se coloca ____ relação à sua amada, a que chama senhor, tornando-a um objeto quase inacessível. O amor trovadoresco e cavaleiresco é, ____ ideal, secreto, clandestino e impossível.

Quanto aos temas, elaboraram os Provençais o ideal do amor cortês muito diferente do idílio rudimentar nas margens dos rios ou à beira das fontes que os cantares ____ amigo nos deixam entrever. Não se trata de uma experiência sentimental ____ dois, mas de uma aspiração, ____ correspondência, a um objeto inatingível, de um estado de tensão que, para permanecer, nunca pode chegar ao fim do desejo. Manter este estado de tensão considera-se ser o ideal do verdadeiro amador e do verdadeiro poeta, como se o movesse o amor do amor, mais do que o amor a uma mulher. E não só ____ esta dirigem os poetas as suas implorações, queixas ou graças, mas ao próprio Amor personificado, figura ____ retórica muito comum ____ os trovadores provençais e ____ eles transmitida aos galego-portugueses.

O trovador imaginava a dama como um suserano ____ quem «servia» numa atitude submissa de vassalo, confiando o seu destino ao «bom sen» da «senhor». Todo um código ____ obrigações preceituava o «serviço» do amador, que, ____ exemplo, devia guardar segredo ____ a identidade da dama, coibindo toda a expansão pública da paixão (o autodomínio, ou «mesura», era a sua qualidade suprema), e que não podia ausentar-se ____ sua autorização. O apaixonado devia passar provações e fases comparáveis aos ritos de iniciação nos graus da cavalaria.

____ este ideal de amor corresponde certo tipo idealizado de mulher, que atingiu mais tarde a máxima depuração na Beatriz de Dante ou na Laura ____ Petrarca: os cabelos de oiro, o sereno e luminoso olhar, a mansidão e a dignidade do gesto, o riso subtil e discreto.

Preposição

Contração

Preposição

Contração

Preposição

Contração

Preposição

Contração

Prep + Det

Prep + Det

Prep + Det

Prep + Det

a

 

ante

 

após

 

até

 

com

 

conforme

 

consoante

 

contra

 

de

 

desde

 

durante

 

em

 

entre

 

exceto

 

mediante

 

para

 

perante

 

por

 

salvo

 

segundo

 

sem

 

sob

 

sobre

 

trás

 

Além das preposições simples, há muitas A

Além das preposições simples, há muitas locuções prepositivas (resultantes da junção de preposições, nomes e, até, advérbios): abaixo de; acima de; ao lado de; além de; cerca de; em torno de; junto a; perto de; ao pé de; em vez de; antes de; diante de; depois de; longe de; através de; dentro de; a respeito de; para com; fora de; graças a; por causa de; em favor de; etc.

Preposições e locuções prepositivas introduzem grupos preposicionais. Muitos dos grupos preposicionais correspondem a funções sintáticas bastantes típicas: {Completa}

Frase (com grupo preposicional a negro)

Função sintática do GP

Prep

Pote marcou um golo ao Estoril.

Complemento ________

a

Vi o programa da manhã.

Modificador restritivo do nome

___

Nos próximos minutos, assistiremos a um sketch ordinário.

Modificador do grupo verbal

___

Macron foi desmentido por Putin.

_____________

___

{deveria reproduzir aqui «Fala corretamente o português. Ouvistes?» (série Zé Carlos, epis. 4), mas não o consigo fazer}

No sketch «Fala corretamente o português. Ouvistes?» (série Carlos), apontam-se duas modas linguísticas recentes. {Completa}

A primeira consiste em usar-se a _____, omitindo o restante grupo preposicional. Talvez porque, dado o contexto, fique muito implícito o que se quer dizer, o locutor pode dar-se ao luxo de suspender a frase logo depois de pronunciar a preposição. Ora realística ora caricaturalmente, o professor ______ (nota que o nome corresponde, efetivamente, àquele que se pode considerar o primeiro linguista português — contemporâneo, por exemplo, de Eça de Queirós) ou o apresentador dizem {circunda as preposições} «Podemos não ter chegado a»; «Mas estamos a caminhar para»; «Fiz uma tentativa de»; «Esperamos estar cá para».

A segunda é começar frases por _______, quando se esperaria o uso de outro tempo, com pessoa: «Em primeiro lugar, dizer que [...]»; «Antes de continuarmos, aplaudir [...]»; «Antes de mais, registar [...]». (Um pouco à margem deste tique linguístico, repara que as frases evidenciam um dos papéis que podem ter os grupos preposicionais, o de conectores: é o caso de «Em primeiro lugar», «Antes de continuarmos», «Antes de mais». Outras classes gramaticais que cumprem frequentemente esse papel de estabelecer relações entre segmentos textuais são a conjunção, o próprio advérbio.)

Os dois fenómenos caricaturados (suspensão da frase na preposição; começo da frase por um infinitivo) são talvez evoluções em curso na língua portuguesa, relativas a mudanças de ordem _____ {sintática / semântica / fonética / ortográfica / pragmática}.

No tal sketch chocante da série Barbosa, reflete-se sobre um problema que, ao usarmos preposições, se nos põe muitas vezes, as exatas regências (ou regimes). Há até dicionários para prevenir estas dificuldades, os dicionários de regências.

É que, como elementos de relação, as preposições têm o seu significado muito associado ao nome que se lhes siga mas também dependem dos verbos que as precedam. A polivalência das preposições (e os matizes de sentido que os verbos, ao selecionarem-nas, podem ganhar) leva a que facilmente as troquemos. {Completa a tabela}

Já todos ouvimos

Mas o que está bem é

Isto parece-se a

Isto parece-se _____

Prefiro este do que aquele

Prefiro este ________

Rendeiro ficou sobre a jurisdição de Durban

Rendeiro ficou _____ a jurisdição de Lisboa

Tem a haver com

Tem ___ ver com

Aonde moras?

________ moras?

Dá-me de força

Dá-me _____ força

Tenho que ir

Tenho ____ ir

Compara esta folha àquela

Compara esta folha _____ aquela

A América que gostas está no McDonald's

O Portugal ___ que gostas está no H3

As pessoas que falei

As pessoas ____ que falei

Há-des / Hades cá vir

Hás ___ vir

Na última linha, o erro não resulta propriamente de má escolha da preposição, mas de se flexionar mal a forma verbal. Como se faz uma analogia com outras segundas pessoas do singular, que terminam em –s, cria-se uma forma terminada em –s, amalgamando a preposição. É o mesmo processo que leva a que, por vezes, se use, para a terceira pessoa do plural, «hadem» (em vez da forma correta «_______»).

Um erro ortográfico que é feito por quase toda a gente é a contração de preposições com os determinantes ou pronomes que se lhes seguem quando estes começam orações infinitivas.

Nas quatro frases em baixo, escreve as formas corretas das partes a negro, que podem ser as contraídas ou não, dependendo de se lhes seguir a tal oração infinitiva:

Foi o facto de ele ter mentido que me agradou. | ____

Apesar de ela ser bonita, é muito feia. | ____

Diz a o polícia que morri. | ____

Gostava de os avisar de que a lontra adoeceu | ____

Que sirva esta tabela para lembrar que deves ter à mão um exemplar de O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago, para, quando assim eu pedir, o ires (re)lendo em casa e trazeres para a aula.

Filme

Livro

Birdman ou A inesperada virtude da ignorância (2014)

O ano da morte de Ricardo Reis (1984)

Realizador

Autor

Alejandro González Iñárritu (México, 1963)

José Saramago (_____, 1922)

Género

comédia/drama

________

Relações de «intertextualidade» sobretudo com...

filmes de super-heróis; ____ e a sua novela De que falamos quando falamos de amor

biografia de Fernando Pessoa; odes de ___ e poemas de Pessoa e heterónimos

Conjugação de verosimilhança com elementos fantásticos característica do chamado «Realismo mágico» de romances latino-americanoscfr. Gabriel García Márquez (Colômbia), Jorge Amado (Brasil), Miguel Ángel Asturias(Guatemala), Juan Rulfo, Carlos Fuentes (México), Jorge Luis Borges, Julio Cortázar (Argentina), Arturo Uslar Pietri (Venezuela), Isabel Allende (Chile), Mario Vargas Llosa (Peru), Alejo Carpentier(Cuba)

capacidades de voar e de _____ objetos sem lhes tocar de Riggan Thomson; presença da figura de _____ como interlocutor do protagonista

herói ser uma personagem assumidamente ficcionada, ____, um heterónimo; presença de _____ (saído do cemitério por nove meses) como interlocutor do protagonista

TPC — Revê sintaxe (funções sintáticas, orações), que me tem parecido pouco estudada. (Se ainda não entregaste trabalho com poema de Pessoa, devias fazê-lo ainda durante fevereiro, mesmo que com justa penalização.)

 

 

Aula 94R-94 (= Aula 13R-13 do 12.º 3.ª) (23/fev [1.ª]; turma 3.ª em sessão na D11) Já lhes disse isto o ano passado, numa das aulas de quando estávamos em casa. Repito-o, mas agora escrevo já na tabela, em letra queque, o que o ano passado lhes pedia.

Em O amor acontece (Love actually) há um passo que me lembra o texto mais conhecido da Crónica de D. João I, «Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como aló foi Alvoro Paaez e muitas gentes com ele» (pp. 83-85 do manual do 10.º ano), com o povo de Lisboa a ser conduzido aos paços da rainha (restaurante), por ação de um pajem (Sofia) estimulado por Álvaro Pais (Barros), para defender o Mestre (Aurélia), que, alegadamente, o Conde Andeiro (Jamie) queria matar (comprar), acabando afinal por se festejar o triunfo do Mestre (Aurélia), que, afinal, matara o Andeiro (casa com Jamie) e sai até junto das massas (clientes do restaurante, portugueses), que aplaudem deliciadas.

Nesse trecho do filme, as personagens secundárias (ou mesmo figurantes) portuguesas — não incluo, portanto, Aurélia — são uma espécie de personagem coletiva, plana, ingenuamente caricaturada, talvez um estereótipo do português aos olhos dos estrangeiros. A caracterização desta «personagem» é, como é costume em cinema, indireta, já que decorre sobretudo das suas atitudes, da sua linguagem.

Inscreve [já inscrevi] no quadro os adjetivos qualificativos correspondentes à característica psicológica que os comportamentos à direita sugerem.

portugueses são...

comportamentos no trecho de O amor acontece

interesseiros, oportunistas, materialistas

Veem o casamento da filha, ou irmã, como possibilidade de melhoria das condições materiais.

informais, espontâneos

Barros vem abrir a porta em camisola interior; não hesita em confiar em desconhecido; chama a filha de imediato.

grosseiros, rudes, vulgares

Barros diz a Sofia que até pagava para se desenvencilhar dela.

indelicados, descorteses

Sofia trata o pai por «estúpido».

prestáveis, diligentes

Pai e filha tentam resolver o pedido do estrangeiro.

desbragados, desbocados

Pai e filha vão pelas ruas a contar a todos o que se está passar.

exagerados, levianos

«O meu pai vai vender a Aurélia como escrava!».

egoístas, apegados, insensatos

«É a minha melhor empregada. Não se pode casar!».

indiscretos, inconvenientes, intrometidos, curiosos

Assistem, sem desviar olhar, à declaração de amor; [na rua, não se coibiram de engrossar o pelotão em demanda de Aurélia.]

ambiciosos, irrealistas

Diz Sofia: «casa-te mas é com o príncipe William».

boçais, simples

Não percebem as mais elementares palavras inglesas (por isso ficam calados durante o assentimento de Aurélia).

comunicativos, sociáveis

Barros e Sofia beijam genro e cunhado.

românticos, generosos

Todo o restaurante fica eufórico com o sucesso da declaração de amor.

Também em Fernão Lopes a caracterização da personagem coletiva ‘povo (de Lisboa)’ é sobretudo indireta. Em vez de adjetivos, tenta nome (ou grupo nominal) que corresponda à característica de comportamento subjacente. Pus alguns, mas acrescenta.

povo mostra...

passos em «Do alvoroço [...]», Crónica de D. João I

subordinação a desígnios de outrem; cumprimento submisso de ordens mesmo que irrazoáveis; sociabilidade;

...

O Page do Meestre, [...] como lhe disserom que fosse pela vila segundo já era percebido [combinado], começou d’ir rijamente a galope [...] braadando pela rua: // — Matom o Meestre! [...] // As gentes que esto ouviam, saíam aa rua veer que cousa era; e, começando de falar uns com os outros, alvoroçavom-se nas voontades, e começavom de tomar armas cada um como melhor e mais asinha podia.

disponibilidade para adotar pontos vista que se presumem maioritários; ...

[...] e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de marido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e escusar morte.

obstinação; ...

A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom logares escusos desejando cada um de seer o primeiro;

leviandade; ...

e preguntando uns aos outros quen matava o Meestre, nom minguava quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha.

índole vingativa; ...

E per voontade de Deos todos feitos dum coraçom com talente de o vingar, como forom aas portas do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, [...] com espantosas palavras começarom de dizer: // — U matom o Meestre? que é do Meestre? Quem çarrou estas portas?

individualismo; indecisão; ...

 

Ali eram ouvidos brados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem para entrar dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela. // Deles braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e queimar o treedor e a aleivosa. Outros se aficavom pedindo escaadas pera sobir acima, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam uns com os outros, nem determinavom nenhuma cousa.

cobardia; ...

[...] dizendo muitos doestos contra a Rainha.

materialismo; ...

De cima nom minguava quem braadar que o Meestre era vivo, e o Conde Fernandez morto; mas isto nom queria nenhum creer, dizendo: // — Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos. [...]

ceticismo; ...

[O mestre mostra-se] // E tanta era a torvaçam deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre eram que taes havia i que aperfiavom que nom era aquele; porem conhecendo-o todos claramente, houverom gram prazer quando o virom, e deziam uüs contra os outros: //— Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a aleivosa com ele! Creedes em Deos, ainda lhe há de viinr algum mal per ela. [...] O aleivosa! já nos matou um senhor, e agora nos queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d'acabar por estas cousas que faz!

lhaneza; ...

— O, senhor! como vos quiserom matar per treiçom, beento seja Deos que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá mais. // E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo.

subserviência; candura; ...

[Então o Mestre] cavalgou com os seus acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer. Os quaes mui ledos arredor dele, braadavam dizendo: // — Que nos mandaes fazer, Senhor? que querees que façamos? // E el lhe respondia, aadur podendo seer ouvido, que lho gradecia muito, mas que por estonce nom havia deles mais mester.

A pouco e pouco iremos revendo as classes de palavras (adjetivo, advérbio, nome, verbo, etc.). Calha agora a do pronome, sobretudo os Pronomes pessoais.



Como nos pronomes pessoais ainda sobrevivem os «casos» latinos (vão apresentando formas diferentes conforme o papel sintático que desempenhem), também nos interessa lembrar os critérios para distinguir funções sintáticas (no nosso manual, nas pp. 10-11 do anexo, há alguma informação sobre o assunto, mas será melhor lembrarmos nós o que já se arrumou o ano passado).

Alguns critérios para distinguir funções sintáticas

— só das funções que podem interessar agora —

o sujeito concorda com o verbo. Se experimentarmos alterar o número ou pessoa do sujeito, isso refletir-se-á no verbo que é núcleo do predicado:

Caiu a cadeira. Caíram as cadeiras (Para se confirmar que «a cadeira» não é aqui o complemento direto: *Caiu-a.)

O complemento direto é substituível pelo pronome «o» («a», «os», «as»):

Dei um doce ao orangotango. = Dei-o ao orangotango.

O complemento indireto, introduzido pela preposição «a», é substituível por «lhe»:

Dei um doce ao orangotango. = Dei-lhe um doce.

O complemento oblíquo, e mesmo quando usa a preposição «a» (uma das várias que o podem acompanhar), nunca é substituível por «lhe»:

Assistiu ao Sporting-Braga. *Assistiu-lhe.

(Para identificarmos um modificador do grupo verbal, podemos fazer a pergunta «O que fez [sujeito] + [modificador]?» e tudo soará gramatical:

A Florinda estudou gramática na segunda-feira.

Que fez a Florinda na segunda-feira? Estudou gramática.

Ao contrário, se se tratar de um complemento oblíquo, o resultado é agramatical:

O Acácio foi à Cova da Moura.

* Que fez o Acácio à Cova da Moura? Foi.)

Encosta-te a mim

               Encosta-te a mim,

2             Nós já vivemos cem mil anos

               Encosta-te a mim,

4             Talvez eu esteja a exagerar

               Encosta-te a mim,

               Dá cabo dos teus desenganos

7             Não queiras ver quem eu não sou,

8             Deixa-me chegar.

               Chegado da guerra,

               Fiz tudo p'ra sobreviver em nome da terra,

11            No fundo p'ra te merecer

12           Recebe-me bem,

               Não desencantes os meus passos

14           Faz de mim o teu herói,

               Não quero adormecer.

 

16           Tudo o que eu vi,

17            Estou a partilhar contigo

               O que não vivi hei de inventar contigo

               Sei que não sei às vezes entender o teu olhar

20           Mas quero-te bem, encosta-te a mim.

 

               Encosta-te a mim,

               Desatinamos tantas vezes

23           Vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal

               Recebe esta pomba que não está armadilhada

               Foi comprada, foi roubada, seja como for.

26           Eu venho do nada porque arrasei o que não quis

               Em nome da estrada, onde só quero ser feliz

               Enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada

               Vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

 

               Tudo o que eu vi,

               Estou a partilhar contigo o que não vivi,

               Um dia hei de inventar contigo

               Sei que não sei às vezes entender o teu olhar

               Mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Jorge Palma, Voo Noturno

Na tabela estão pronomes pessoais encontráveis em «Encosta-te a mim». Tendo o cuidado de ir verificar o contexto em que aparecem os pronomes na letra da canção, escreve a função sintática de cada um. (Não te limites a procurar no quadro atrás; tenta mesmo compreender a função do pronome nas frases em causa.)

verso

pronome

função sintática

comentário que pode ajudar na decisão quanto à função desempenhada

1

te

 

Na 3.ª pessoa seria «ele encosta-se».

1

mim

 

Era possível trocar por «encosta-te-me».

2

Nós

 

 

4

eu

 

 

7

eu

 

 

8

me

 

O pronome da 3.ª pessoa não seria «*deixa-lhe» mas «deixa-o».

11

te

 

Na 3.ª pessoa seria «para o merecer».

12

me

 

Na 3.ª pessoa não seria «*recebe-lhe».

14

mim

 

 

16

eu

 

 

17

contigo

 

 

20

te

 

Há duas interpretações possíveis: 'quero a ti bem' (= 'desejo a ti o melhor') e 'quero-te muito' (= 'desejo-te muito').

23

mim

 

 

26

Eu

sujeito

 

Escreve exposição sobre «Os portugueses» (120-150 palavras). Incluirás uma alusão a portugueses em  Fernão Lopes e uma alusão a O amor acontece. A caneta.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

 

 

Aula 95-96 (25/fev [1.ª, 3.ª]) Vamos dar um relance aos poetas das gerações posteriores à de Pessoa. O mais velho será o nosso patrono José Gomes Ferreira, nascido em 1900, e a mais jovem, Adília Lopes, nascida em 1960, aliás antiga aluna da Pedro de Santarém.

Caberá a cada um dos alunos um livro de dimensão razoável (por vezes, com a obra completa de um dado poeta) ou vários pequenos livros (diversas obras soltas de um mesmo autor). Manuseia-os com o cuidado que se deve ter sempre e, sobretudo, quando os livros em causa são de quem não gosta de ter livros com os cadernos soltos — por os terem espalmado —, vincados — por os terem usado sob papéis em que se tivesse escrito — ou com folhas rasgadas — por os terem folheado negligentemente.

O objetivo é escolher uma estrofe ou duas (mas num total de menos de dez versos). Não interessa se esses versos são do início, do meio ou do fim de um poema (ou se até são um poema completo), mas terão de ser seguidos. Transcreverás os versos na tua folha, muito legivelmente. Depois, lê-los-ás à turma.

Elegeremos o melhor trecho poético. A nossa classificação incidirá sobre os versos ouvidos, o que implica que (1) se trate de passos interessantes; (2) a tua leitura em voz alta seja expressiva. (Ao declamador vencedor caberá um prémio Tia Albertina, a repartir com o poeta responsável pelo trecho lírico laureado — se ainda for vivo.)

Depois da transcrição, escreve a referência bibliográfica, segundo este modelo:

Vieste! Cingi-te ao peito.

Em redor que noite escura!

Não tinha rendas o leito,

Não tinha lavores na barra

Que era só a rocha dura...

Muito ao longe uma guitarra

Gemia vagos harpejos...

(Vê tu que não me esqueceu)...

E a rocha dura aqueceu

Ao calor dos nossos beijos!

Tomás de Alencar, «6 de Agosto», Flores e martírios, 2.ª ed., Alenquer, Editora Romântica, 1850 [1.ª ed.: 1848], pp. 23-25, p. 24.

Ou seja: o que transcrevemos está na página 24 do livro Flores e martírios, de Tomás de Alencar, e pertence ao poema «6 de Agosto». Como o poema ocupa mais páginas do que a passagem citada, indicamos as páginas do poema, «pp. 23-25», bem como a precisa página em que fica o trecho transcrito («p. 24»). Pomos também o número da edição, a cidade da editora, a editora, o ano da publicação (e, entre parênteses retos, a data da edição original). Se se tratasse da 1.ª edição — ou não houvesse indicações acerca disso —, bastaria pôr a data (ficaria: ‘Tomás de Alencar, «6 de Agosto», Flores e martírios, Monte de Caparica, Bulhão Pato editores, 1848, pp. 27-29, p. 28’).

Trecho escolhido por: ____________________

 

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Se tiveres tempo, depois de cumprido o que ficou em cima, descreve a situação que se coaduna com o livro que viste.

Predominam os versos {circunda} rimados / não rimados.

Em geral, {circunda} há /não há uma métrica fixa (nesse caso, há sobretudo {circunda} monossílabos / dissílabos / trissílabos / tetrassílabos / pentassílabos / hexassílabos / heptassílabos / octossílabos / eneassílabos / decassílabos / hendecassílabos / dodecassílabos).

As estrofes {circunda} não seguem / seguem um padrão fixo (há composições em {circunda} dísticos / tercetos / quadras / quintilhas / sextilhas / oitavas / décimas).

{Circunda} Não há / Há composições poéticas estandardizadas (soneto, quadra popular, etc.).

Se quisesse designar o tema que agrega a maioria destes textos, diria que são poemas sobre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..

Talvez encontre em alguns destes poemas influências de Fernando Pessoa (e heterónimos) — ou de Cesário Verde, quem sabe — ou, ao menos, linhas comuns de abordagem. Por exemplo, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Poeta (nascido entre 1900 e 1960)

lido por...

minha nota

nota do mestre

lugar

José Gomes Ferreira (1900-1985)

 

 

 

 

José Régio (1901-1969)

 

 

 

 

Vitorino Nemésio (1901-1978)

 

 

 

 

António Gedeão (1906-1995)

 

 

 

 

Miguel Torga (1907-1995)

 

 

 

 

José Blanc de Portugal (1914-2001)

 

 

 

 

Ruy Cinatti (1915-1986)

 

 

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

 

 

 

 

Jorge de Sena (1919-1978)

 

 

 

 

João José Cochofel (1920-1982)

 

 

 

 

Raul de Carvalho (1920-1984)

 

 

 

 

Carlos de Oliveira (1921-1981)

 

 

 

 

Eugénio de Andrade (1923-2005)

 

 

 

 

Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006)

 

 

 

 

Natália Correia (1923-1992)

 

 

 

 

Sebastião da Gama (1924-1952)

 

 

 

 

Alexandre O’Neill (1924-1986)

 

 

 

 

António Ramos Rosa (1924-2013)

 

 

 

 

David Mourão Ferreira (1927-1996)

 

 

 

 

João Rui de Sousa (1928)

 

 

 

 

Maria Alberta Menéres (1930-2019)

 

 

 

 

Herberto Helder (1930-2015)

 

 

 

 

Armando Silva Carvalho (1931-2017)

 

 

 

 

Ruy Belo (1933-1978)

 

 

 

 

António Osório (1933-2021)

 

 

 

 

Pedro Tamen (1934-2021)

 

 

 

 

Manuel Alegre (1936)

 

 

 

 

Alberto Pimenta (1937)

 

 

 

 

Fernando Assis Pacheco (1937-1995)

 

 

 

 

Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)

 

 

 

 

Luiza Neto Jorge (1939-1989)

 

 

 

 

João Miguel Fernandes Jorge (1943)

 

 

 

 

António Franco Alexandre (1944)

 

 

 

 

Joaquim Manuel Magalhães (1945)

 

 

 

 

Al Berto (1948-1997)

 

 

 

 

Nuno Júdice (1949)

 

 

 

 

Ana Luísa Amaral (1956)

 

 

 

 

Adília Lopes (1960)

 

 

 

 

O filme de que veremos hoje o início — Sylvia, realizado por Christine Jeffs — é sobre a poetisa americana Sylvia Plath (1932-1963) e a relação conturbada com o marido, o poeta inglês Ted Hughes. Esta importante escritora é contemporânea da geração do meio, se considerarmos que são três as que compõem a lista de poetas pós-Pessoa. (Podemos estabelecer que há três gerações na tabela e tomar os três poetas que teremos de ler mais atentamente, os que vêm no manual — Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Ana Luísa Amaral —, como referência para cada uma dessas gerações. Plath nasceu não muito depois de Eugénio de Andrade, mas morreu ainda antes de nasceram os mais novos da lista, já que se suicidaria com apenas trinta e um anos.)

 

 

Aula 97-98 (2/mar [1.ª, 3.ª]) Vai lendo o texto na p. 235 — trecho do discurso proferido por Saramago aquando da cerimónia de entrega do Prémio Nobel — e escolhe as melhores alíneas. Usa apenas esta página do manual.

Do primeiro período (ll. 1-6) se pode concluir que José Saramago

a) já sabia alguma coisa de lições de poesia quando entrou para a escola técnico-profissional que frequentaria.

b) aprendeu noções sobre poesia quando frequentou a escola onde também se preparou para a profissão de serralheiro mecânico.

c) aprenderia alguma coisa sobre poesia já na sua vida de trabalho, enquanto serralheiro mecânico.

d) aprendeu poesia, mas tudo aldrabado, numas aulas que frequentou em Benfica, na JGF, salvo erro numa sala do bloco D.

 

«andava a preparar-se» (l. 4) e «exerceu» (l. 5) têm valor aspetual, respetivamente,

a) perfetivo, imperfetivo.

b) imperfetivo, perfetivo.

c) habitual, imperfetivo.

d) iterativo, imperfetivo.

 

Segundo o segundo período (ll. 6-12), Saramago

a) teve também bons mestres de arte poética.

b) foi orientado no conhecimento da poesia por bons mestres que ia encontrando à noite.

c) foi aprendendo acerca da poesia como autodidata, frequentando bibliotecas e ao sabor dos acasos das leituras.

d) aprendeu a arte poética sem orientação, sem o assombro do navegante que inventa cada lugar que descobre.

 

Do terceiro período (ll. 12-14) inferimos que

a) a leitura de O Ano da Morte de Ricardo Reis começou na biblioteca da escola industrial que Saramago frequentou.

b) a escrita de O Ano da Morte de Ricardo Reis começou na biblioteca da escola industrial que Saramago frequentou.

c) na biblioteca da escola industrial que Saramago frequentou nasceu a inspiração para O Ano da Morte de Ricardo Reis.

d) foi na tipografia da escola que Saramago frequentou que começou a produção de O Ano da Morte de Ricardo Reis.

 

Na revista Athena, Saramago, jovem adolescente,

a) publicaria O Ano da Morte de Ricardo Reis.

b) leria poemas de Ricardo Reis, que sabia ser heterónimo de Fernando Pessoa.

c) leria poemas de Ricardo Reis, ignorando tratar-se de um heterónimo de Pessoa.

d) leria poemas de Ricardo Reis, julgando tratar-se de textos de Fernando Pessoa.

 

«cartografia literária do seu país» (l. 19) é uma

a) hipérbole.

b) perífrase.

c) metáfora.

d) metonímia.

 

«um tal Fernando Nogueira Pessoa» (l. 23) visa

a) acentuar como Pessoa era ainda pouco conhecido.

b) mostrar com certa ironia a ignorância do jovem Saramago.

c) sublinhar a importância de Fernando Pessoa já então.

d) brincar com o processo heteronímico.

 

O valor aspetual de «chamava» (l. 25) e «custou» (l. 27) é, respetivamente,

a) imperfetivo, perfetivo.

b) genérico, perfetivo.

c) habitual, imperfetivo.

d) iterativo, imperfetivo.

 

«podia» (l. 31) tem valor modal

a) epistémico (probabilidade).

b) deôntico (permissão).

c) apreciativo.

d) epistémico (obrigação).

 

Nas ll. 27-28, na oração coordenada conclusiva introduzida por «por isso», desempenham as funções de sujeito, complemento direto e complemento indireto, respetivamente,

a) «saber o que ela significava», «tanto trabalho», «ao aprendiz de letras».

b) «ela», «tanto trabalho», «ao aprendiz de letras».

c) «saber», «tanto trabalho», «ao aprendiz de letras».

d) «aprendiz de letras», «tanto trabalho», «o que ela».

 

«de cor» (l. 29) e «muitos poemas de Ricardo Reis» (l. 29) desempenham as funções sintáticas de, respetivamente,

a) complemento oblíquo, sujeito.

b) modificador do grupo verbal, complemento direto.

c) modificador do grupo verbal, sujeito.

d) complemento oblíquo, complemento direto.

 

No verso de Ricardo Reis na l. 30 («Para ser grande[,] sê inteiro»), «Para ser grande» desempenha a função de

a) sujeito.

b) modificador de frase.

c) modificador de grupo verbal.

d) complemento oblíquo.

 

Na frase «Põe quanto és no mínimo que fazes (ll. 30-31), as funções sintáticas de «quanto és», «no mínimo [que fazes]» e «que fazes» são, respetivamente,

a) sujeito, complemento oblíquo, modificador apositivo do nome.

b) complemento direto, modificador do grupo verbal, modificador apositivo do nome.

c) complemento direto, complemento oblíquo, modificador restritivo do nome.

d) predicado, complemento oblíquo, modificador restritivo do nome.

 

«quanto és» (l. 30) é uma oração subordinada

a) substantiva relativa.

b) substantiva completiva.

c) adjetiva relativa restritiva.

d) adjetiva relativa explicativa.

 

As objeções de Saramago (cfr. ll. 31-34) ao verso de Ricardo Reis «Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo» devem-se ao facto de o autor de O Ano da Morte de Ricardo Reis

a) não comungar da ingenuidade e gosto pela natureza professados por Ricardo Reis.

b) não ter o mesmo ideário estoico e epicurista de Reis.

c) duvidar da atitude de que quem ensina os outros, dos «sábios».

d) não gostar de analisar o mundo.

 

«a ocupação da Renânia pelo exército nazista», «a guerra de Franco contra a República espanhola», «a criação por Salazar das milícias fascistas portuguesas» (ll. 38-40) podem ser considerados

a) merónimos do holónimo ‘Guerra’.

b) hipónimos do hiperónimo ‘Acontecimentos de 1936’.

c) itens do campo lexical ‘Guerra’.

d) itens do campo semântico ‘Acontecimentos de 1936’.

 

«da Renânia» (l. 38) desempenha a função sintática de

a) complemento do nome.

b) complemento oblíquo.

c) modificador do grupo verbal.

d) modificador restritivo do nome.

 

«Eis o espetáculo do mundo» (l. 40) pode considerar-se implicar um ato ilocutório

a) declarativo.

b) expressivo.

c) compromissivo.

d) assertivo.

 

«meu poeta das amarguras serenas e ceticismo elegante» (40-41) reporta-se

a) a Alberto Caeiro.

b) a Fernando Pessoa.

c) ao próprio Saramago.

d) a Ricardo Reis.

 

Este trecho na p. 235 é predominantemente

a) descritivo e argumentativo.

b) dialogal e narrativo.

c) narrativo.

d) explicativo.

Na p. 232 estão diversas frases aforísticas, conotativas, de José Saramago. A primeira está logo na imagem: «Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam». Se me pedissem para a traduzir em linguagem mais denotativa, escreveria:

[Aforismo de Saramago:] «Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam»

[Tradução-paráfrase em linguagem mais objetiva:] Todos acabam por cumprir o percurso de vida que lhes estava destinado.

Procede do mesmo modo relativamente às frases em «Oralidade, 2»:

«Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar.»      (O conto da ilha desconhecida)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

«Há dentro de nós uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.»   (Ensaio Sobre a Cegueira)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.»      (Ensaio Sobre a Cegueira)

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«A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam.»     (Viagem a Portugal)

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«Quero estar onde estiver a minha sombra se lá é que estiverem os teus olhos.»     (O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

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«Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe.»     (A Caverna)

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«Às árvores pintadas não lhes caem as folhas.»      (A Viagem do Elefante)

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«O espírito não vai a lado nenhum sem as pernas do corpo, e o corpo não seria capaz de mover-se se lhe faltassem as asas do espírito.»         (Todos os Nomes)

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Nos atos de fala diretos, a intenção comunicativa fica explícita no que é dito; nos atos de fala indiretos, a intenção comunicativa tem de ser captada pelo interlocutor.

Os atos de fala classificam-se segundo a força ilocutória (o objetivo ilocutório):

diretivos (pretende-se que o interlocutor atue de acordo com a vontade do locutor) — «Querem abrir os livros na p. 321?»; «Abram os livros na p. 321».

assertivos (assinala-se a posição do locutor relativamente à verdade do que diz) — «Não há dúvida de que esta é a melhor frase»; «Admito que haja aqui um equívoco meu».

expressivos (traduz-se o estado de espírito do locutor relativamente ao que diz) — «Entristece-me que tenha partido»; «Muitos parabéns pelo teu teste».

compromissivos (responsabilizam o locutor relativamente a uma ação futura) — «Não darei aula no dia 5 de março»; «Prometo entregar os prémios Tia Albertina».

declarativos (aquilo que se diz cria, por si só, uma nova realidade) — «Absolvo-te das falhas cometidas»; «Fica aprovado com catorze valores».

Escreve um texto com pelo menos uma abonação de cada um dos cinco tipos dos atos de fala. (Encontra um processo gráfico que permita assinalar qual é o passo de cada tipo.) Deve haver ainda um sexto caso, de ato indireto (indicá-lo-ás e a que tipo de ato ilocutório corresponde).

Temas: Ucrânia-Rússia; covidices; Sporting-Porto; Bruno de Carvalho; Saramago e/ou Nobel.

. . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

 

 

 

Aula 99R-99 (3 [3.ª], 15/mar [1.ª]) No sketch que vamos ver ficam salientadas as três variedades (ou variantes) do português (europeia, brasileira, africana[s]), mas também a variação dialetal dentro do território do português europeu; o assunto será, portanto, a variação geográfica. Este assunto está tratado, mas incompletamente, na p. 6 do anexo do manual.

Em «Padre que não sabe fazer pronúncia» (série Meireles), o protagonista é um seminarista que, segundo o padre seu orientador, não consegue ter a pronúncia devida. Deves estar atento às pronúncias que o candidato a padre vai tentando e ir completando o primeiro quadro:

Pronúncia ideal para um padre

da Beira, da Guarda.

pronúncia das sibilantes: «[ch]otaque»;

2.ª pessoa do plural: «percebeis».

Pronúncias tentadas pelo seminarista

_________

ditongações: «t[ua]dos» (todos); bê por vê: «Co[b]ilhã»; léxico: «carago».

_________

alongamento das vogais finais: «padriii»;

nasalizações: «v[ã]mos».

_________

supressão do –r final: «dançá» (dançar); vogais átonas pouco reduzidas: «chap[á]» (chapa); léxico: «meu chapa».

_________

vogais átonas mais abertas.

_________

paragoge e vogais menos reduzidas: «rêzar[e]» (rezar).

Estas pronúncias — «sotaques» — representam ora as zonas geográficas a que pertencem falantes de língua portuguesa ora, em um caso, a influência que uma diferente língua materna tem sobre a pronúncia do português. Dividamo-las em três tipos:

Pronúncia ...

Casos no sketch

de determinada variedade regional (dialeto)

beirão; ______; ______.

de variante do português (europeia, sul-americana, africana)

 

______; _______.

reveladora de a língua materna do falante não ser o português

 

_________.

Completa o texto sobre a origem e evolução do português com as palavras a seguir. (O texto, que é do Caderno de atividades, tem ingenuidades que procurarei esclarecer quando o corrigirmos. Esta matéria está também tratada nas pp. 2-3 do anexo do manual.)

romanização / línguas / árabes / século XIII / Condado Portucalense / África / substrato / antigo / clássico / contemporâneo / bárbaros / superstrato (duas vezes) / latinismos / romanos / latim vulgar / Reconquista / galego-português / língua românica / latim / línguas românicas / francês / Ibérica / latim literário

O português é uma _____, pois deriva do ____. Outras _______ são o castelhano, o catalão, o galego, o ______, o italiano, o romeno, o sardo.

A Península _____ foi ocupada pelos _____ a partir de 218 a.C.. Soldados, colonos e mercadores trouxeram a sua língua, o latim, tal como os hábitos, a cultura e as leis. Falavam um latim popular — _______ —, distinto do latim das classes cultas — _____. O português deriva do latim vulgar.

Antes da _____, os povos peninsulares falavam outras línguas — sobretudo o celta — e, embora os vencidos tenham adotado a língua dos vencedores, transportaram para o latim termos dessas _____ autóctones. O latim foi ganhando novas palavras oriundas da língua celta que se falava na Península — _______ celta.

A partir de 409 d.C., os romanos foram sendo vencidos pelos _____, quando os povos germânicos começaram a chegar à Península. Como possuíam uma civilização menos organizada, adotaram a língua dos vencidos, mas introduziram-lhes palavras da sua língua — ______ germânico.

No século VIII, a Península foi invadida pelos _____. Os povos cristãos refugiaram-se a norte, nas Astúrias e, a partir daí, lutaram durante séculos, contra a presença árabe, numa luta que a História registou com o nome de _______ cristã. Muitas palavras árabes entraram, então, na língua dos cristãos — _______ árabe.

Quando Portugal nasceu como nação, em 1143, no noroeste da Península Ibérica falava-se uma língua românica já muito afastada do latim: o ________. Com a independência do _______, essa língua foi evoluindo de forma diferente em Portugal e na Galiza.

O português nasceu oficialmente no _______, com a lei de D. Dinis que obrigava ao uso do português e não do latim em todos os livros e documentos oficiais. Os mais antigos textos em português são a Notícia de Fiadores (1175), o Testamento de Afonso II (1214) e a Notícia de Torto (1211-1216).

O português foi evoluindo em três períodos: o português ______ (séculos XII-XV); o português _______ (séculos XVI-XVIII); o português ______ (a partir do século XIX).

O desenvolvimento trazido pela expansão, no século XVI, refletiu-se na língua, pois foram necessárias novas palavras para designar aspetos da nova realidade. Foram sobretudo os escritores e os cientistas que foram ao latim literário buscar as palavras que enriqueceram o português, de uma forma culta e sofisticada: os _______.

Ao mesmo tempo, com a expansão, muitas palavras oriundas da língua dos povos dos diversos continentes chegaram ao português, vindas de _______, da América, da Ásia.

Ouvidos os primeiros dez minutos do episódio da série ‘Grandes livros’ acerca das obras de Fernão Lopes, à esquerda destes períodos escreve V(erdadeiro) ou F(also).

Fernão Lopes esteve ativo como escritor no século XV e a esse século pertencem os factos que nos relata.

No documentário, usa-se a metáfora «as Crónicas [de Fernão Lopes] são um livro que é um país».

Em 1383, D. Fernando morreu e deixou a filha, D. Beatriz, casada com um rei catalão, D. Gerard Piquê.

D. Leonor, viúva de D. Fernando, apoia a subida ao trono de D. João, de Castela.

Fernão Lopes terá nascido em Lisboa e na década em que decorrem estes acontecimentos que nos relata.

Durante a revolução de 1383-85, o povo estava a favor de D. Zelensky, que preferia a D. Putin.

Depois de estudar, Fernão Lopes tornou-se taberneiro, na Taberna dos Tombos, sendo nomeado guarda-mor em 1418.

Em 1434 é nomeado cronista-mor do reino, por D. Duarte, que o encarrega de escrever a história dos reis de Portugal.

Ao longo de vinte anos, Fernão Lopes terá cumprido esse objetivo, mas só chegaram até nós as crónicas de D. Pedro, D. Fernando e D. João.

A Crónica de D. Pedro, segundo António Borges Coelho, é a «meno rica» historiograficamente, mas é fabulosa do ponto de vista literário.

O caso dos amores de D. Inês de Castro é-nos relatado na Crónica de D. Fernando.

Da relação de Pedro e Inês nasceram Dinis e João, mas, antes, já Pedro e Constança tinham gerado o legítimo Fernando.

D. Pedro teve ainda outro filho João, de uma outra senhora.

Fernão Lopes, trata D. Fernando, cognominado «o feioso», elogiosamente.

O povo gostava de Leonor Teles, mulher de Fernando, a quem chamava «princesa do povo».

D. Beatriz casou com D. João I, de Castela, com onze anos.

Quando D. Leonor é regente, há quatro candidatos ao trono: D. Beatriz, D. João, D. Dinis, D. João (Mestre de Avis).

D. João, Mestre de Avis, é convencido a matar o alegado amante da rainha-viúva, Andeiro; e corre por Lisboa a notícia de que estavam a matar o Mestre no Terreiro do Paço.

O Bispo foi morto porque o povo achava que estava ao lado dos castelhanos.

No ano seguinte, 1385, o rei de Castela cercaria Lisboa.

Segue-se uma versão simplificada do célebre trecho do capítulo 11 da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes,

Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavam o Mestre, e como lá foi Álvaro Pais e muitas gentes com ele

O pajem do Mestre, que estava à porta, como lhe disseram que fosse pela vila, segundo já era percebido, começou de ir rijamente a galope, em cima do cavalo em que estava, dizendo altas vozes, bradando pela rua:

— Matam o Mestre! Matam o Mestre nos paços da rainha! Acorrei ao Mestre que matam!

E assim chegou a casa de Álvaro Pais, que era dali grande espaço.

As gentes que isto ouviam saíam à rua ver que coisa era. E, começando de falar uns com os outros, alvoroçavam-se nas vontades e começavam de tomar armas, cada um como melhor e mais asinha podia.

Álvaro Pais, que estava prestes e armado com uma coifa na cabeça, segundo usança daquele tempo, cavalgou logo à pressa, em cima de um cavalo que anos havia que não cavalgara, e todos seus aliados com ele, bradando a quaisquer que achava, dizendo:

— Acorramos ao Mestre, amigos! Acorramos ao Mestre, ca filho é de el-rei D. Pedro!

E assim bradavam ele e o pajem, indo pela rua.

Soaram as vozes do ruído pela cidade, ouvindo todos bradar que matavam o Mestre. E, assim como viúva que rei não tinha, e como se lhe este ficara em logo de marido, se moveram todos com mão armada, correndo à pressa para onde diziam que se isto fazia, para lhe darem vida e escusar morte.

Álvaro Pais não quedava de ir para lá, bradando a todos:

— Acorramos ao Mestre, amigos! Acorramos ao Mestre que matam sem porquê!

A gente começou de se juntar a ele e era tanta, que era estranha coisa de ver. Não cabiam pelas ruas principais e atravessavam lugares escusos, desejando cada um de ser o primeiro; e, perguntando uns aos outros «quem matava o Mestre?», não minguava quem respondesse que o matava o conde João Fernandes, por mandado da rainha.

E, por vontade de Deus, todos feitos de um coração, com talente de o vingar, como foram às portas do paço, que eram já cerradas, antes que chegassem, com espantosas palavras, começaram de dizer:

— Onde matam o Mestre? Que é do Mestre? Quem cerrou estas portas?

Ali eram ouvidos brados de desvairadas maneiras. Tais aí havia que certificavam que o Mestre era morto, pois as portas estavam cerradas, dizendo que as britassem para entrar dentro, e veriam que era do Mestre ou que coisa era aquela.

Uns deles bradavam por lenha e que viesse lume, para porem fogo aos paços e queimar o traidor e a aleivosa. Outros se aficavam pedindo escadas para subir acima, pera verem que era do Mestre. E em tudo isto era o ruído tão grande, que se não entendiam uns com os outros, nem determinavam nenhuma coisa. E não somente era isto à porta dos paços, mas ainda ao redor deles por onde homens e mulheres podiam estar. Umas vinham com feixes de lenha, outras traziam carqueja para acender o fogo, cuidando queimar o muro dos paços com ela, dizendo muitos doestos contra a rainha.

De cima, não minguava quem bradasse que o Mestre era vivo e o conde João Fernandes morto. Mas isto não queria nenhum crer, dizendo:

— Pois se vivo é, mostrai-no-lo e vê-lo-emos.

Então os do Mestre, vendo tão grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia mais, disseram que fosse sua mercê de se mostrar àquelas gentes; de outra guisa poderiam quebrar as portas, ou lhes pôr o fogo; e, entrando assim dentro por força, não lhes poderiam depois tolher de fazer o que quisessem.

Ali se mostrou o Mestre a uma grande janela que vinha sobre a rua, onde estava Álvaro Pais e a mais força de gente, e disse:

— Amigos, pacificai-vos, ca eu vivo e são sou, a Deus graças.

E tanta era a turvação deles e assim tinham já em crença que o Mestre era morto, que tais havia aí que aperfiavam que não era aquele; po­rém, conhecendo-o todos claramente, houveram grande prazer quan­do o viram, e diziam uns contra os outros:

— Oh, que mal fez! Pois que matou o traidor do conde, que não matou logo a aleivosa com ele! Credes em Deus: ainda lhe há de vir algum mal por ela. Olhai e vede que maldade tão grande! Mandaram-no chamar onde ia já de seu caminho, para o matarem aqui por traição. Oh aleivosa! Já nos matou um senhor e agora nos queria matar outro! Leixai-a, ca ainda há mal de acabar por estas cousas que faz.

E sem dúvida, se eles entraram dentro, não se escusara a rainha de morte, e fora maravilha quantos eram da sua parte e do conde poderem escapar.

O Mestre estava à janela e todos olhavam contra ele, dizendo:

— Ó senhor! Como vos quiseram matar por traição! Bendito seja Deus, que vos guardou desse traidor! Vinde-vos, dai ao demo esses paços, não sejais lá mais!

E, em dizendo isto, muitos choravam com prazer de o ver vivo.

Vendo ele então que nenhuma dúvida tinha em sua segurança, desceu a fundo e cavalgou com os seus, acompanhado de todos os outros, que era maravilha de ver. Os quais, mui ledos ao redor dele, bradavam, dizendo:

— Que nos mandais fazer, senhor? Que quereis que façamos?

E ele lhes respondia, mal podendo ser ouvido, que lho agradecia muito, mas que por então não havia deles mais mister.

Imagina-te jornalista do século XIV. Escreve a notícia correspondente ao episódio que Fernão Lopes relata em «Do alvoroço […]», incluindo: título apelativo; subtítulo (que complementa o título); um parágrafo curto (só um período) com o lead (informações essenciais acerca do acontecimento: Quem? O quê? Quando? Onde?); dois parágrafos de corpo da notícia, com informações sobre as causas (Porquê?) do acontecimento e as suas circunstâncias (Como?).

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Classifica as orações sublinhadas:

Não há estrelas no céu

(Rui Veloso)

 

Não há estrelas no céu a dourar o meu caminho:

Por mais amigos que tenha, sinto-me sempre sozinho. ____________

De que vale ter a chave de casa para entrar,

Ter uma nota no bolso pr’a cigarros e bilhar?

 

A primavera da vida é bonita de viver:

Tão depressa o sol brilha, como, a seguir, está a chover. ___________

Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar,

Parece que o mundo inteiro se uniu pr’a me tramar!

 

Passo horas no café, sem saber para onde ir:

Tudo à volta é tão feio, [que] só me apetece fugir.  ______________

Vejo-me à noite ao espelho, o corpo sempre a mudar;

De manhã ouço o conselho que o velho tem pr’a me dar. ___________

 

A primavera da vida é bonita de viver:

Tão depressa o sol brilha, como a seguir está a chover.  ___________

Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar,

Parece que o mundo inteiro se uniu pr’a me tramar!

 

Vou por aí, às escondidas,

A espreitar às janelas,

Perdido nas avenidas

E achado nas vielas.

 

Mãe, o meu primeiro amor

Foi um trapézio sem rede;

Sai da frente, por favor,

[Que] estou entre a espada e a parede.  ____________

 

Não vês como isto é duro:  ___________

Ser jovem não é um posto,

Ter de encarar o futuro

Com borbulhas no rosto.

 

Porque é que tudo é incerto?

Não pode ser ser sempre assim.

Se não fosse o Rock and Roll,  ____________

O que seria de mim?

 

A primavera da vida é bonita de viver:

Tão depressa o sol brilha como, a seguir, está a chover.

Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar;  coordenada assindética

Parece que o mundo inteiro se uniu pr’a me tramar!  ___________

 

Não há estrelas no céu,

estrelas no céu,

....

TPC — Lê a ficha do Caderno de atividades sobre orações (27, Coordenação e subordinação), cuja versão corrigida porei em Gaveta de Nuvens.

 

 

Aula 100-101 (4/mar [1.ª, 3.ª]) Correção do questionário de compreensão da aula anterior (cfr. Apresentação).

Mais uma tarefa que agradeço à Gramática Didática de Português (Santillana, 2011):

 

1. Identifique as figuras de estilo presentes nos excertos seguintes.

 

a)           Tentei uma brecha naquela impenetrável muralha de palavras, já cansada de andar para cá e para lá no corredor, enquanto a minha mãe, da sala perguntava, pela 756.ª vez, quem era.

Alice Vieira, Chocolate à Chuva.

 

b)           Bastava a ponta dos meus dedos sobre a mesa, e logo o coração da mesa respondia, batendo pausadamente ao ritmo do meu.

Alice Vieira, Chocolate à Chuva.

 

c)           Na primavera

o sol

faz o ninho

no beiral da minha casa.

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, «Ave», Breviário do Sol.

 

d)          São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.

Eugénio de Andrade, «As Palavras», Antologia Breve.

 

e)           [...] aquela menina casadoira,

que mora junto ao largo,

vem à varanda ver a Lua.

Manuel da Fonseca, «Noite de Verão», Obra Poética.

 

f)            Perdido num sonho:

o sol, o deserto...

Na linha dos olhos

tão longe, tão perto

ondula... a miragem?

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, «Ave», Breviário do Sol.

 

g)           Já descoberto tínhamos diante,

Lá no novo Hemisfério, nova estrela,

Luís de Camões, Os Lusíadas.

 

h)          Viva a Mademoiselle! Viva a minha precetora! Viva o papá que mandou a outra ir embora! Viva! Viva!

Augusto Gil, Gente de Palmo e Meio.

 

i)            Fidalgo: — Esta barca onde vai ora, que assi está apercebida?

Diabo: — Vai pera a ilha perdida e há de partir logo ess’ora.

Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno.

 

j)            Não há ninguém mais rico no mundo. Sou riquíssimo. Sou podre de rico. Cheiro mal de rico.

José Gomes Ferreira, Aventuras de João sem Medo.

 

k)           Batizei quase todos os poemas que escrevi. Certo dia, coloquei-os pela ordem alfabética dos títulos e deixei-os sobre a mesa a repousar, cansados de tanto trabalho com as palavras.

João Pedro Mêsseder, De Que Cor é o Desejo?

 

l)            Que medonho sítio!

Irene Lisboa, Uma Mão Cheia de Nada e Outra de Coisa Nenhuma.

 

m)         — Senhor João Sem Medo: cá o meco chama-se Zé Porco... Este meu sócio é o Chico Calado, mudo de nascença... E aquele tem a alcunha de «Louro» porque passa a vida a beberricar pelas tabernas, onde improvisa cada versalhada de se lhe tirar o chapéu.

               «Sim, senhor... — pensou João Sem Medo. — Linda coleção!»

José Gomes Ferreira, Aventuras de João sem Medo.

 

n)          — Não acredito — disse Gil. — Você não tem fibra para ensinar a esgadanhar um bocado de Liszt a essas monas filhas de tubarões da finança e medíocres cortesãs.

Agustina Bessa-Luís, Contos Impopulares.

 

o)           E erguendo a cabeça do bordado explicou-se melhor:

— Quando Deus quer, até os cegos veem.

Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva.

 

p)          Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Cale-se de Alexandre e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

Luís de Camões, Os Lusíadas.

 

q)          Meio-dia

O Sol tem os seus

Caprichos: não gosta

Que o olhem

Olhos nos olhos.

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, Breviário do Sol.

 

r)           Que, da ocidental praia lusitana

Luís de Camões, Os Lusíadas.

 

s)           Era um céu alto, sem resposta, cor de frio.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares.

 

t)           Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela.

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes.

 

u)          Enquanto os vermes iam roendo esses cadáveres amarrados pelos grilhões da morte.

Alexandre Herculano, Eurico, o Presbítero.

 

v)           Eu não posso senão ser

desta terra em que nasci.

Jorge de Sena, «Quem A Tem».

 

w)          O céu tremeu, e Apolo, de torvado,

Um pouco de luz perdeu, como enfiado.

Luís de Camões, Os Lusíadas.

 

Lê o poema «As pequenas gavetas do amor» (p. 210), de Ana Luísa Amaral. Propõe uma explicação para o travessão final, comentando o seu valor expressivo.

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TPC — Relê o que vou destacar em Gaveta de Nuvens sobre figuras deestilo.

 

 

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