Aula 92-93
Aula
92-93 (22 [1.ª], 23/fev
[3.ª]) Correção de texto argumentativo (voluntariado). [exemplo do parágrafo com o segundo
argumento e exemplo(s); e do parágrafo com a conclusão:]
Mas
não poderemos colocar esta questão apenas no plano dos direitos e dos deveres.
Fazer voluntariado vai para além dessa dimensão, que, sendo a essencial, não
esgota, contudo, o alcance da ação voluntária. É que o retorno de realização
pessoal é extraordinário, bastando escutar os testemunhos de quantos se dedicam
a ajudar os outros para compreendermos que, ao fazê-lo, estamos a ajudar-nos a
nós próprios. Inúmeros estudos atestam, por exemplo, a eficácia da colaboração
em ações de voluntariado no combate à depressão e na ajuda à construção de um
projeto de vida.
Em
suma, sejamos atuantes. Não esqueçamos que, ao apoiar os outros, damos um
sentido maior à nossa vida. Não há dúvida de que o voluntariado é um caminho de
ajuda altruísta e, «simultaneamente, de realização pessoal».
Completa o texto seguinte — que serve também para
recordar a lírica medieval —, a que retirei muitas das preposições. Depois,
na tabela, põe um visto junto de cada preposição representada. Finalmente,
circunda no texto algumas contrações
(preposição + determinante) que haja e copia alguns desses exemplos de contração
para a tabela.
As cantigas de amor são composições poéticas ____ que o trovador apaixonado
presta vassalagem amorosa à mulher como ser superior, ____ quem chama a sua
«senhor». Produto da inteligência e da imaginação, o amor é, geralmente,
«fingido», o que caracteriza estas cantigas como aristocráticas, convencionais
e cultas. ____ ambiente palaciano, são originárias da Provença.
O amor era concebido à
maneira cavaleiresca, como um «serviço». Consistia esse serviço ____ dedicar à
amada os pensamentos, os versos e os atos. O servidor está ____ com a «senhor»
como o vassalo para ____ o suserano. A regra principal deste «serviço» era,
além da fidelidade, o segredo. O cavaleiro devia fazer os possíveis para que
ninguém sequer suspeitasse do nome da sua senhora. Mas o que é próprio das
cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distância a que o amante
se coloca ____ relação à sua amada, a que chama senhor, tornando-a um objeto quase inacessível. O amor trovadoresco
e cavaleiresco é, ____ ideal, secreto, clandestino e impossível.
Quanto aos temas,
elaboraram os Provençais o ideal do amor cortês muito diferente do idílio
rudimentar nas margens dos rios ou à beira das fontes que os cantares ____
amigo nos deixam entrever. Não se trata de uma experiência sentimental ____
dois, mas de uma aspiração, ____ correspondência, a um objeto inatingível, de
um estado de tensão que, para permanecer, nunca pode chegar ao fim do desejo.
Manter este estado de tensão considera-se ser o ideal do verdadeiro amador e do
verdadeiro poeta, como se o movesse o amor do amor, mais do que o amor a
uma mulher. E não só ____ esta dirigem os poetas as suas implorações, queixas
ou graças, mas ao próprio Amor personificado, figura ____ retórica muito comum
____ os trovadores provençais e ____ eles transmitida aos galego-portugueses.
O trovador imaginava a dama
como um suserano ____ quem «servia» numa atitude submissa de vassalo, confiando
o seu destino ao «bom sen»
da «senhor». Todo um código ____ obrigações preceituava o «serviço» do amador,
que, ____ exemplo, devia guardar segredo ____ a identidade da dama, coibindo
toda a expansão pública da paixão (o autodomínio, ou «mesura», era a sua
qualidade suprema), e que não podia ausentar-se ____ sua autorização. O
apaixonado devia passar provações e fases comparáveis aos ritos de iniciação
nos graus da cavalaria.
____ este ideal de amor corresponde certo
tipo idealizado de mulher, que atingiu mais tarde a máxima depuração na Beatriz
de Dante ou na Laura ____ Petrarca: os cabelos de oiro, o sereno e luminoso
olhar, a mansidão e a dignidade do gesto, o riso subtil e discreto.
Preposição |
Contração |
Preposição |
Contração |
Preposição |
Contração |
Preposição |
Contração |
Prep +
Det |
Prep +
Det |
Prep +
Det |
Prep +
Det |
||||
a |
|
ante |
|
após |
|
até |
|
com |
|
conforme |
|
consoante |
|
contra |
|
de |
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desde |
|
durante |
|
em |
|
entre |
|
exceto |
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mediante |
|
para |
|
perante |
|
por |
|
salvo |
|
segundo |
|
sem |
|
sob |
|
sobre |
|
trás |
|
Além das preposições simples, há muitas A
Além das preposições simples, há muitas locuções prepositivas (resultantes da junção de
preposições, nomes e, até, advérbios): abaixo
de; acima de; ao lado de; além de; cerca de; em torno de; junto a; perto de; ao pé de; em vez de; antes de; diante de; depois de; longe de; através de; dentro de; a respeito de;
para com; fora de; graças a; por causa de; em favor de; etc.
Preposições e locuções prepositivas introduzem grupos preposicionais. Muitos dos
grupos preposicionais correspondem a funções sintáticas bastantes típicas: {Completa}
Frase (com grupo preposicional a negro) |
Função sintática do GP |
Prep |
Pote marcou um golo ao Estoril. |
Complemento ________ |
a |
Vi o programa da manhã. |
Modificador
restritivo do nome |
___ |
Nos
próximos minutos, assistiremos a um sketch
ordinário. |
Modificador do grupo verbal |
___ |
Macron foi desmentido por Putin. |
_____________ |
___ |
{deveria
reproduzir aqui «Fala corretamente o português. Ouvistes?» (série Zé Carlos, epis.
4), mas não o consigo fazer}
No sketch
«Fala corretamente o português. Ouvistes?» (série
A primeira consiste em usar-se a _____, omitindo o
restante grupo preposicional. Talvez porque, dado o contexto, fique muito
implícito o que se quer dizer, o locutor pode dar-se ao luxo de suspender a
frase logo depois de pronunciar a preposição. Ora realística ora
caricaturalmente, o professor ______ (nota que o nome corresponde,
efetivamente, àquele que se pode considerar o primeiro linguista português —
contemporâneo, por exemplo, de Eça de Queirós) ou o apresentador dizem {circunda as preposições} «Podemos não
ter chegado a»; «Mas estamos a caminhar para»; «Fiz uma tentativa de»;
«Esperamos estar cá para».
A segunda é começar frases por _______, quando se
esperaria o uso de outro tempo, com pessoa: «Em primeiro lugar, dizer que [...]»; «Antes de
continuarmos, aplaudir [...]»;
«Antes de mais, registar [...]». (Um
pouco à margem deste tique linguístico, repara que as frases evidenciam um dos
papéis que podem ter os grupos preposicionais, o de conectores: é o caso de «Em primeiro lugar», «Antes de
continuarmos», «Antes de mais». Outras classes gramaticais que cumprem
frequentemente esse papel de estabelecer relações entre segmentos textuais são
a conjunção, o próprio advérbio.)
Os dois fenómenos caricaturados
(suspensão da frase na preposição; começo da frase por um infinitivo) são
talvez evoluções em curso na língua portuguesa, relativas a mudanças de ordem
_____ {sintática / semântica / fonética /
ortográfica / pragmática}.
No tal sketch
chocante da série Barbosa, reflete-se sobre um problema que, ao usarmos
preposições, se nos põe muitas vezes, as exatas regências (ou regimes).
Há até dicionários para prevenir estas dificuldades, os dicionários de regências.
É que, como elementos de relação, as preposições
têm o seu significado muito associado ao nome que se lhes siga mas também
dependem dos verbos que as precedam. A polivalência das preposições (e os
matizes de sentido que os verbos, ao selecionarem-nas, podem ganhar) leva a que
facilmente as troquemos. {Completa a
tabela}
Já todos
ouvimos |
Mas o que
está bem é |
Isto parece-se a |
Isto parece-se _____ |
Prefiro este do que aquele |
Prefiro este ________ |
Rendeiro ficou sobre a jurisdição de Durban |
Rendeiro ficou _____ a
jurisdição de Lisboa |
Tem a
haver com |
Tem ___ ver com |
Aonde moras? |
________ moras? |
Dá-me de
força |
Dá-me _____ força |
Tenho que
ir |
Tenho ____ ir |
Compara esta folha àquela |
Compara esta folha _____ aquela |
A América que gostas está no McDonald's |
O Portugal ___ que gostas está no H3 |
As pessoas que falei |
As pessoas ____ que falei |
Há-des / Hades cá vir |
Hás ___ vir |
Na última linha, o erro não resulta propriamente
de má escolha da preposição, mas de se flexionar mal a forma verbal. Como se
faz uma analogia com outras segundas pessoas do singular, que terminam em –s, cria-se uma forma terminada em –s, amalgamando a preposição. É o mesmo
processo que leva a que, por vezes, se use, para a terceira pessoa do plural,
«hadem» (em vez da forma correta «_______»).
Um erro ortográfico que é feito por quase toda a
gente é a contração de preposições com os determinantes ou pronomes que se lhes
seguem quando estes começam orações infinitivas.
Nas quatro frases em baixo, escreve as formas
corretas das partes a negro, que podem ser as contraídas ou não, dependendo de
se lhes seguir a tal oração infinitiva:
Foi o facto de ele ter mentido que me agradou. |
____
Apesar
de ela ser bonita, é muito feia. |
____
Diz
a o polícia que morri. | ____
Gostava
de os avisar de que a lontra adoeceu
| ____
Que sirva esta tabela para lembrar que deves ter à mão um
exemplar de O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago, para,
quando assim eu pedir, o ires (re)lendo em casa e trazeres para a aula.
Filme |
Livro |
Birdman ou A inesperada
virtude da ignorância (2014) |
O ano da morte de Ricardo
Reis (1984) |
Realizador |
Autor |
Alejandro González
Iñárritu (México, 1963) |
José Saramago (_____,
1922) |
Género |
|
comédia/drama |
________ |
Relações
de «intertextualidade» sobretudo com... |
|
filmes de super-heróis;
____ e a sua novela De que falamos quando falamos de amor |
biografia de Fernando
Pessoa; odes de ___ e poemas de Pessoa e heterónimos |
Conjugação
de verosimilhança com elementos fantásticos característica do chamado
«Realismo mágico» de romances latino-americanos — cfr. Gabriel
García Márquez (Colômbia), Jorge Amado (Brasil), Miguel Ángel
Asturias(Guatemala), Juan Rulfo, Carlos Fuentes (México), Jorge Luis Borges,
Julio Cortázar (Argentina), Arturo Uslar Pietri (Venezuela), Isabel Allende
(Chile), Mario Vargas Llosa (Peru), Alejo Carpentier(Cuba) |
|
capacidades de voar e de
_____ objetos sem lhes tocar de Riggan Thomson; presença da figura de _____
como interlocutor do protagonista |
herói ser uma personagem
assumidamente ficcionada, ____, um heterónimo; presença de _____ (saído do
cemitério por nove meses) como interlocutor do protagonista |
TPC — Revê sintaxe (funções sintáticas,
orações), que me tem parecido pouco estudada. (Se ainda não entregaste trabalho
com poema de Pessoa, devias fazê-lo ainda durante fevereiro, mesmo que com
justa penalização.)
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