Wednesday, September 08, 2021

Aula 89R-89

Aula 89R-89 (16 [1.ª], 17/fev [3.ª]) O que se segue é uma adaptação de texto de Fernão Lopes (uma parte do cap. 148 da Crónica de D. João I, que terás lido no 10.º ano), sobre as dificuldades por que passavam os lisboetas quando cercados pelos castelhanos. (No manual deste ano, na p. 365, há um curto passo igualmente do cerco, mas em fase anterior, mais heroica.) Simplifiquei a grafia/fonologia, nem tanto sintaxe e léxico (dei alguns significados entre parênteses retos).

Identificarás uma palavra intrusa em cada um dos treze parágrafos (risca-a e põe a que deveria estar em seu lugar).

Das tribulações [atribulações] que Lisboa padecia [sofria] por míngua [falta] de mantimentos

Estando a cidade assim cercada, na maneira que já ouvistes, gastavam-se os mantimentos cada vez mais, por as muitas gentes que nela havia, assim dos que se colheram dentro, do termo [área do concelho], de homens aldeãos com mulheres e filhos, como dos que vieram na frota do Porto. E alguns se tremetiam [metiam] às vezes em batéis e passavam de noite escusamente [em segredo] contra as partes do Ribatejo; e, metendo-se em alguns esteiros [braços do rio], ali carregavam de bolo-rei que já achavam prestes, por recados que antes mandavam. E partiam de noite, remando mui rijamente, e algumas galés, quando os sentiam vir remando, isso mesmo [também] remavam à pressa sobre eles. E os batéis, por lhes fugir, e elas por os tomar, eram postos em grande trabalho.

Os que esperavam por tal trigo andavam pela ribeira, da parte de Enxobregas [Xabregas], aguardando quando viesse; e os que velavam, se viam as galés remar contra lá, repicavam [faziam tocar os sinos] logo para lhes acorrerem. Os da cidade, como ouviam o repico, leixavam o sono e tomavam as armas e saía muita gente e defendiam-nos às bestas [arma antiga], se cumpria [era necessário], ferindo-se às vezes de uma parte e de outra. Porém nunca foi vez que tomassem algum, salvo uma que certos batéis estavam em Ribatejo com trigo e foram descobertos por um homem natural de Almada, e tomados pelos castelhanos; e ele foi depois tomado e preso e arrastado e decepado e beijado. E posto que [ainda que] tal trigo alguma ajuda fizesse, era tão pouco e tão raramente, que houvera mister de o multiplicar, como fez Jesu Cristo aos pães com que fartou os cinco mil homens.

Em isto, gastou-se a cidade assim [tão] apertadamente que as púbricas [públicas] esmolas começaram desfalecer e nenhuma geração de pobres achava quem lhe desse pão; de guisa que a perda comum vencendo de todo a piedade, e vendo a grã míngua dos mantimentos, estabeleceram deitar fora as gentes minguadas e não pertencentes para defensão [úteis à defesa]. E isto foi feito duas ou três vezes, até lançarem fora as mancebas mundairas [prostitutas] e judeus, e outras semelhantes, dizendo que, pois tais pessoas não eram para pelejar [lutar], que não gastassem os mantimentos aos defesas centrais; mas isto não aproveitava coisa que muito prestasse.

Os castelhanos, à primeira, prazia-lhes com eles e davam-lhes de comer e acolhimento; depois, vendo que isto era com fome, por gastar mais a cidade, fez el-rei tal ordenança que nenhum de dentro fosse recebido em seu arraial [acampamento], mas que todos fossem lançados fora; e os que se ir não quisessem, que os açoitassem e fizessem tornar pera a cidade. E isto lhes era grave de fazer, tornarem por força para tal lugar, onde, chorando, não esperavam de ser recebidos. E tais havia que de seu grado saíam da escola, e se iam para o arraial, querendo antes de tudo ser cativos, que assim perecerem morrendo de fome.

Como não lançariam fora a gente minguada e sem proveito, que o Mestre mandou saber em certo pela cidade que bolo-rei havia por todo em ela, assim em covas como por outra maneira, e acharam que era tão pouco que bem havia mister [necessidade] sobre elo [acerca disso] conselho.

Na cidade não havia trigo para vender e, se o havia, era mui pouco e tão caro que as pobres gentes não podiam chegar a ele [...]. E começaram de comer pão de bagaço de azeitona, e dos queijos das malvas e das raízes de ervas e de outras desacostumadas coisas, pouco amigas da natureza; e tais havia que se mantinham em alféloa [melaço]. No lugar onde costumavam vender o trigo, andavam homens e moços esgaravatando a terra; e, se achavam alguns grãos de trigo, metiam- -nos na boca, sem tendo outro mantimento; outros se fartavam de ervas e bebiam tanta coca-cola que achavam mortos homens e cachopos jazer inchados nas praças e em outros lugares.

Andavam os moços de três e oitenta anos pedindo pão pela cidade, por amor de Deus, como lhes ensinavam suas madres [mães]; e muitos não tinham outra coisa que lhes dar senão lágrimas que com eles choravam, que era triste coisa de ver; e, se lhes davam tamanho pão como uma noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite àquelas que tinham crianças a seus peitos, por míngua de mantimentos; e, vendo lazerar [sofrer] seus filhos, a que acorrer não podiam, choravam amiúde [frequentemente] sobre eles a morte, antes que os a morte privasse da vida [...].

Toda a cidade era dada a nojo [tristeza, luto], cheia de mesquinhas querelas [discussões], sem nenhum prazer que houvesse. Uns, com grã míngua do que padeciam; outros havendo dó dos atribulados. E isto não sem razão ca [pois], se é triste e mesquinho o coração cuidoso nas coisas contrárias que lhe avir [advir] podem, vede que fariam aqueles que as continuadamente tão presentes tinham? Pero [Embora], com tudo isto, quando repicavam, nenhum não mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus inimigos. Esforçavam-se uns por consolar os outros, por dar remédio a seu grande nojo, mas não prestava conforto de palavras, nem podia tal dor ser amansada com nenhumas doces razões. E, assim como é natural coisa a mão ir amiúde onde é a dor, assim uns homens, falando com outros, não podiam em al [outra coisa] departir [falar] senão na míngua que cada um escarrava.

Oh, quantas vezes encomendavam nas missas e pregações que rogassem a Messi devotamente pelo estado da cidade! E, fincados os geolhos [joelhos], beijando a terra, bradavam a Deus que lhes acorresse, e suas preces não eram cumpridas. Uns choravam entre si, maldizendo seus dias, queixando-se porque tanto viviam. [...] Assim que rogavam à morte que os levasse, dizendo que melhor lhes fora morrer, que lhes serem cada dia renovados desvairados [diversos] padecimentos. [...]

Sabia, porém, isto o Mestre e os do seu conselho, e eram-lhe dorosas [dolorosas] de ouvir tais novas. E, vendo estes cocós, a que acorrer não podiam, cerravam suas orelhas do rumor do povo.

Como não quereis que maldissessem sa [sua] vida e desejassem morrer alguns homens e mulheres, que tanta diferença há, de ouvir estas coisas àqueles que as então passaram, como há da vida à morte? Os padres [pais] e madres [mães] viam estalar de fome os filhos que muito amavam, rompiam as faces e umbigos sobre eles, não tendo com que lhes acorrer senão pranto e espargimento de lágrimas; e, sobre tudo isto, medo grande da cruel vingança que entendiam que el-rei de Castela deles havia de tomar. Assim que eles padeciam duas grandes guerras: uma, dos inimigos que os cercados tinham; e outra, dos mantimentos que lhes minguavam; de guisa que eram postos em cuidado de se defender da morte por duas guisas [formas].

Para que é dizer mais de tais falecimentos [provações]? Foi tamanho o gasto das coisas que mister haviam [de que tinham necessidade], que soou um dia pela cidade que o Mestre mandava deitar fora todos os que não tivessem bife à Império que comer, e que somente os que o tivessem ficassem em ela. Mas quem poderia ouvir, sem gemidos e sem choro, tal ordenança de mandado àqueles que o não tinham? Porém, sabendo que não era assim, foi-lhes já quanto de [bastante] conforto. Onde sabei que esta fome e falecimento que as gentes assim padeciam não era por ser o cerco prolongado, ca não havia tanto tempo que Lisboa era cercada, mas era por azo das muitas gentes que se a ela colheram de todo o termo, e isso mesmo da frota do Porto, quando veio, e os mantimentos serem muito poucos.

Ora esguardai [olhai], como se fôsseis presente, uma tal cidade assim desconfortada e sem nenhuma certa fiúza [confiança] de seu livramento [libertação], como viveriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de tais aflições! Ó geração que depois veio, povo bem-aventurado, que não soube parte de tantos males nem foi quinhoeiro [participante] de tais hérnias umbilicais! Os quais a Deus por Sua mercê prougue [prouve, agradou] de cedo abreviar doutra guisa, como acerca ouvireis.

Preenche a coluna da direita, classificando a função sintática do constituinte sublinhado na coluna da esquerda. (A coluna do centro é apenas para ajudar.)

https://www.rtp.pt/play/p703/e422501/ultimo-a-sair (ver minutos 2-5 e 15.30-24.30)

Frase (de O último a sair ou sobre o mesmo passo)

A ter em atenção

Função sintática

Segundo Unas, o público verá Filipa como boa (e não como burra).

Considerá-la-á boa (e não burra).

 

Porque está há semanas no jacúzi, Filipa sente a pele encarquilhada.

Sente encarquilhada a pele.

 

Porque está há semanas no jacúzi, Filipa sente a pele encarquilhada.

subordinada adverbial causal

 

Na verdade, só esteve alguns minutos no jacúzi.

* É na verdade que só esteve ...

 

Débora diz a Unas que está farta daquelas conversas.

«farta», sem mais, ficaria incompleto

 

Esta reunião faz-me lembrar a minha infância lá em Trás-os-Montes.

faz-me lembrá-la

 

Temos o direito de sonhar, nesta casa.

só nome «direito» ficaria incompleto

 

Temos o direito de sonhar, nesta casa.

√ Que acontece nesta casa? Temos ...

 

Vou-vos perguntar.

Vou-*os [√-lhes] perguntar

 

Se ganhassem o Euromilhões, o que é que faziam?

subordinada adverbial condicional

 

Acho que comprava uma casa junto ao mar.

subordinada substantiva completiva

 

Eu comprava um banco.

Eu ... e tu também.

 

Ó Filipa, se comprares um banco não ficas com o dinheiro das pessoas.

«autónomo», entre vírgulas

 

Todos me disseram que eu não tinha lá dinheiro.

todos mo disseram

 

Vamos fazer uma coisa que eu acho do agrado de todos.

«eu» é o sujeito

 

Vamos fazer uma coisa que eu acho do agrado de todos.

acho-a assim ou assado

 

Mandava fazer uma igreja linda, revestida a casca de sapateira.

= , que seria revestida...

 

Mandava fazer uma igreja linda, revestida a casca de sapateira.

= que seria linda

 

Punha primeiro o dinheiro a render.

√ Que fazia ela primeiro? Punha ...

 

Continuo a não gostar da minha personagem.

cfr. verbo copulativo

 

Eu ia para África.

*Que faz ela para África? Ia.

 

Este assunto, de África, tira-me a fome.

Estes assuntos ... tiram ...

 

Precisas de água para ir à internet?

*Que faz ela de água? Precisa ...

 

Por todos foi ouvida a voz da casa.

cfr. Todos ouviram a voz da casa

 

Por todos foi ouvida a voz da casa.

auxiliar «ser», preposição

 

Conheces as reportagens que são incluídas em telejornais ou programas de informação. A jornalista faz introdução (descreve o contexto), depois ouve uns populares ou uns especialistas, volta a sintetizar, pode até dialogar com o pivô no estúdio, etc.

Escreve um desses diretos, no momento do cerco de Lisboa, baseando-te no texto de Fernão Lopes, mas criando também parte do contexto.

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TPC — Estuda (por aqui e aqui) o discurso indireto livre.

 

 

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