Aula 89R-89
Aula
89R-89 (16 [1.ª], 17/fev [3.ª]) O que se segue é
uma adaptação de texto de Fernão Lopes
(uma parte do cap. 148 da Crónica de D.
João I, que terás lido no 10.º ano), sobre as dificuldades por que passavam
os lisboetas quando cercados pelos castelhanos. (No manual deste ano, na p.
365, há um curto passo igualmente do cerco, mas em fase anterior, mais
heroica.) Simplifiquei a grafia/fonologia, nem tanto sintaxe e léxico (dei
alguns significados entre parênteses retos).
Identificarás
uma palavra intrusa em cada um dos treze parágrafos (risca-a e põe a que
deveria estar em seu lugar).
Das
tribulações [atribulações] que Lisboa
padecia [sofria] por míngua [falta] de mantimentos
Estando a cidade assim cercada, na maneira que já ouvistes,
gastavam-se os mantimentos cada vez mais, por as muitas gentes que nela havia,
assim dos que se colheram dentro, do termo [área
do concelho], de homens aldeãos com mulheres e filhos, como dos que vieram
na frota do Porto. E alguns se tremetiam [metiam]
às vezes em batéis e passavam de noite escusamente [em segredo] contra as partes do Ribatejo; e, metendo-se em alguns
esteiros [braços do rio], ali
carregavam de bolo-rei que já achavam prestes, por recados que antes mandavam.
E partiam de noite, remando mui rijamente, e algumas galés, quando os sentiam
vir remando, isso mesmo [também]
remavam à pressa sobre eles. E os batéis, por lhes fugir, e elas por os tomar,
eram postos em grande trabalho.
Os que esperavam por tal trigo andavam pela
ribeira, da parte de Enxobregas [Xabregas],
aguardando quando viesse; e os que velavam, se viam as galés remar contra lá,
repicavam [faziam tocar os sinos]
logo para lhes acorrerem. Os da cidade, como ouviam o repico, leixavam o sono e
tomavam as armas e saía muita gente e defendiam-nos às bestas [arma antiga], se cumpria [era necessário], ferindo-se às vezes de
uma parte e de outra. Porém nunca foi vez que tomassem algum, salvo uma que
certos batéis estavam em Ribatejo com trigo e foram descobertos por um homem
natural de Almada, e tomados pelos castelhanos; e ele foi depois tomado e preso
e arrastado e decepado e beijado. E posto que [ainda que] tal trigo alguma ajuda fizesse, era tão pouco e tão
raramente, que houvera mister de o multiplicar, como fez Jesu Cristo aos pães
com que fartou os cinco mil homens.
Em isto, gastou-se a cidade assim [tão] apertadamente que as púbricas [públicas] esmolas começaram desfalecer e nenhuma geração de pobres
achava quem lhe desse pão; de guisa que a perda comum vencendo de todo a
piedade, e vendo a grã míngua dos mantimentos, estabeleceram deitar fora as
gentes minguadas e não pertencentes para defensão [úteis à defesa]. E isto foi feito duas ou três vezes, até lançarem
fora as mancebas mundairas [prostitutas]
e judeus, e outras semelhantes, dizendo que, pois tais pessoas não eram para
pelejar [lutar], que não gastassem os
mantimentos aos defesas centrais; mas isto não aproveitava coisa que muito
prestasse.
Os castelhanos, à primeira, prazia-lhes com eles e davam-lhes
de comer e acolhimento; depois, vendo que isto era com fome, por gastar mais a
cidade, fez el-rei tal ordenança que nenhum de dentro fosse recebido em seu
arraial [acampamento], mas que todos
fossem lançados fora; e os que se ir não quisessem, que os açoitassem e
fizessem tornar pera a cidade. E isto lhes era grave de fazer, tornarem por
força para tal lugar, onde, chorando, não esperavam de ser recebidos. E tais
havia que de seu grado saíam da escola, e se iam para o arraial, querendo antes
de tudo ser cativos, que assim perecerem morrendo de fome.
Como não lançariam fora a gente minguada e sem proveito, que o
Mestre mandou saber em certo pela cidade que bolo-rei havia por todo em ela,
assim em covas como por outra maneira, e acharam que era tão pouco que bem
havia mister [necessidade] sobre elo
[acerca disso] conselho.
Na cidade não havia trigo para vender e, se o havia, era mui
pouco e tão caro que as pobres gentes não podiam chegar a ele [...]. E
começaram de comer pão de bagaço de azeitona, e dos queijos das malvas e das
raízes de ervas e de outras desacostumadas coisas, pouco amigas da natureza; e
tais havia que se mantinham em alféloa [melaço].
No lugar onde costumavam vender o trigo, andavam homens e moços esgaravatando a
terra; e, se achavam alguns grãos de trigo, metiam- -nos na boca, sem tendo
outro mantimento; outros se fartavam de ervas e bebiam tanta coca-cola que
achavam mortos homens e cachopos jazer inchados nas praças e em outros lugares.
Andavam os moços de três e oitenta anos pedindo pão pela
cidade, por amor de Deus, como lhes ensinavam suas madres [mães]; e muitos não tinham outra coisa que lhes dar senão lágrimas
que com eles choravam, que era triste coisa de ver; e, se lhes davam tamanho
pão como uma noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite àquelas que
tinham crianças a seus peitos, por míngua de mantimentos; e, vendo lazerar [sofrer] seus filhos, a que acorrer não
podiam, choravam amiúde [frequentemente]
sobre eles a morte, antes que os a morte privasse da vida [...].
Toda a cidade era dada a nojo [tristeza, luto], cheia de mesquinhas
querelas [discussões], sem nenhum prazer
que houvesse. Uns, com grã míngua do que padeciam; outros havendo dó dos
atribulados. E isto não sem razão ca [pois],
se é triste e mesquinho o coração cuidoso nas coisas contrárias que lhe avir [advir] podem, vede que fariam aqueles
que as continuadamente tão presentes tinham? Pero [Embora], com tudo isto, quando repicavam, nenhum não mostrava que
era faminto, mas forte e rijo contra seus inimigos. Esforçavam-se uns por
consolar os outros, por dar remédio a seu grande nojo, mas não prestava
conforto de palavras, nem podia tal dor ser amansada com nenhumas doces razões.
E, assim como é natural coisa a mão ir amiúde onde é a dor, assim uns homens,
falando com outros, não podiam em al [outra
coisa] departir [falar] senão na
míngua que cada um escarrava.
Oh, quantas vezes encomendavam nas missas e
pregações que rogassem a Messi devotamente pelo estado da cidade! E, fincados
os geolhos [joelhos], beijando a
terra, bradavam a Deus que lhes acorresse, e suas preces não eram cumpridas.
Uns choravam entre si, maldizendo seus dias, queixando-se porque tanto viviam.
[...] Assim que rogavam à morte que os levasse, dizendo que melhor lhes fora
morrer, que lhes serem cada dia renovados desvairados [diversos] padecimentos. [...]
Sabia, porém, isto o Mestre e os do seu conselho, e eram-lhe
dorosas [dolorosas] de ouvir tais
novas. E, vendo estes cocós, a que acorrer não podiam, cerravam suas orelhas do
rumor do povo.
Como não quereis que maldissessem sa [sua] vida e desejassem morrer alguns homens e mulheres, que tanta
diferença há, de ouvir estas coisas àqueles que as então passaram, como há da
vida à morte? Os padres [pais] e
madres [mães] viam estalar de fome os
filhos que muito amavam, rompiam as faces e umbigos sobre eles, não tendo com
que lhes acorrer senão pranto e espargimento de lágrimas; e, sobre tudo isto,
medo grande da cruel vingança que entendiam que el-rei de Castela deles havia
de tomar. Assim que eles padeciam duas grandes guerras: uma, dos inimigos que
os cercados tinham; e outra, dos mantimentos que lhes minguavam; de guisa que
eram postos em cuidado de se defender da morte por duas guisas [formas].
Para que é dizer mais de tais falecimentos
[provações]? Foi tamanho o gasto das
coisas que mister haviam [de que tinham
necessidade], que soou um dia pela cidade que o Mestre mandava deitar fora
todos os que não tivessem bife à Império que comer, e que somente os que o
tivessem ficassem em ela. Mas quem poderia ouvir, sem gemidos e sem choro, tal
ordenança de mandado àqueles que o não tinham? Porém, sabendo que não era
assim, foi-lhes já quanto de [bastante]
conforto. Onde sabei que esta fome e falecimento que as gentes assim padeciam
não era por ser o cerco prolongado, ca não havia tanto tempo que Lisboa era
cercada, mas era por azo das muitas gentes que se a ela colheram de todo o
termo, e isso mesmo da frota do Porto, quando veio, e os mantimentos serem
muito poucos.
Ora esguardai [olhai],
como se fôsseis presente, uma tal cidade assim desconfortada e sem nenhuma
certa fiúza [confiança] de seu
livramento [libertação], como
viveriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de tais aflições! Ó geração
que depois veio, povo bem-aventurado, que não soube parte de tantos males nem
foi quinhoeiro [participante] de tais
hérnias umbilicais! Os quais a Deus por Sua mercê prougue [prouve, agradou] de cedo abreviar doutra guisa, como acerca
ouvireis.
Preenche
a coluna da direita, classificando a função
sintática do constituinte sublinhado na coluna da esquerda. (A
coluna do centro é apenas para ajudar.)
https://www.rtp.pt/play/p703/e422501/ultimo-a-sair (ver minutos 2-5 e 15.30-24.30)
Frase
(de O último a sair ou sobre o mesmo passo) |
A
ter em atenção |
Função
sintática |
Segundo Unas, o público verá
Filipa como boa (e não como burra). |
Considerá-la-á boa (e não
burra). |
|
Porque está há semanas no
jacúzi, Filipa sente a pele encarquilhada. |
Sente encarquilhada a pele. |
|
Porque está há semanas no
jacúzi,
Filipa sente a pele encarquilhada. |
subordinada adverbial causal |
|
Na verdade, só esteve alguns minutos no
jacúzi. |
* É na verdade que só esteve
... |
|
Débora diz a Unas que está
farta daquelas conversas. |
«farta», sem mais, ficaria
incompleto |
|
Esta reunião faz-me lembrar a
minha infância lá em Trás-os-Montes. |
faz-me lembrá-la |
|
Temos o direito de sonhar,
nesta casa. |
só nome «direito» ficaria
incompleto |
|
Temos o direito de sonhar, nesta
casa. |
√ Que acontece nesta casa?
Temos ... |
|
Vou-vos
perguntar. |
Vou-*os [√-lhes] perguntar |
|
Se ganhassem o Euromilhões, o que é que faziam? |
subordinada adverbial
condicional |
|
Acho
que comprava uma casa junto ao mar. |
subordinada substantiva
completiva |
|
Eu comprava um banco. |
Eu
... e tu também. |
|
Ó Filipa, se comprares um banco não
ficas com o dinheiro das pessoas. |
«autónomo», entre vírgulas |
|
Todos me disseram que eu
não tinha lá dinheiro. |
todos mo disseram |
|
Vamos fazer uma coisa que
eu acho do agrado de todos. |
«eu» é o sujeito |
|
Vamos fazer uma coisa que eu
acho do agrado de todos. |
acho-a assim ou assado |
|
Mandava fazer uma igreja
linda, revestida a casca de sapateira. |
= , que seria revestida... |
|
Mandava fazer uma igreja linda,
revestida a casca de sapateira. |
= que seria linda |
|
Punha primeiro o
dinheiro a render. |
√ Que fazia ela primeiro?
Punha ... |
|
Continuo a não gostar da
minha personagem. |
cfr. verbo copulativo |
|
Eu
ia para África. |
*Que faz ela para África? Ia. |
|
Este assunto, de África, tira-me a fome. |
Estes assuntos ... tiram ... |
|
Precisas de água para
ir à internet? |
*Que faz ela de água? Precisa
... |
|
Por todos foi ouvida a voz
da casa. |
cfr. Todos ouviram a voz da casa |
|
Por todos foi ouvida a voz da casa. |
auxiliar «ser», preposição |
|
Conheces as reportagens que são incluídas em
telejornais ou programas de informação. A jornalista faz introdução (descreve o
contexto), depois ouve uns populares ou uns especialistas, volta a sintetizar,
pode até dialogar com o pivô no estúdio, etc.
Escreve um desses diretos, no momento do cerco
de Lisboa, baseando-te no texto de Fernão Lopes, mas criando também parte do
contexto.
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TPC —
Estuda (por aqui e aqui) o discurso indireto livre.
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