Aula 69R-69
Aula 69R-69 (19 [1.ª], 20/jan [3.ª]) A parte B do exame nacional de há quatro anos (2018,
1.ª fase) tinha como texto a analisar a cena X do ato II de Frei Luís
de Sousa, de Almeida
Garrett.
Como sabes, o ato II
passa-se já no palácio que fora do primeiro marido de Madalena, João de Portugal.
A deslocação para esta casa (tornada necessária porque Manuel incendiara o
palácio onde viviam, também em Almada, contribuíra para aumentar as angústias
de Madalena, que já não eram poucas). Esta cena X acontece depois de Manuel,
Maria e Telmo saírem para Lisboa (iam visitar uma parenta e Manuel ia tratar da
sua posição perante o poder) e antes da entrada de João de Portugal (identificado
só como Romeiro). (A cena IX fora um pequeno aparte de Jorge — só com este em
palco — e a cena XI incluirá o criado Miranda, que virá anunciar a chegada de
um romeiro.)
Vê só entre o minuto 4 e
o minuto 10:
[Responde à pergunta 5; copiarás
depois um modelo de resposta ao item 6.]
Grupo
I, Parte B
Leia o texto.
Madalena (falando ao bastidor) —
Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres chegar o bergantim; e
quando desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (Vem para a
cena.) Não há vento e o dia está lindo. Ao menos não tenho sustos com a
viagem. Mas a volta... quem sabe? o tempo muda tão depressa...
Jorge — Não, hoje não tem perigo.
Madalena — Hoje... hoje! Pois hoje é o dia da
minha vida que mais tenho receado... que ainda temo que não acabe sem muito
grande desgraça... É um dia fatal para mim: faz hoje anos que... que casei a primeira
vez; faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião; faz anos também que... vi pela
primeira vez a Manuel de Sousa.
Jorge — Pois contais essa entre as
infelicidades de vossa vida?
Madalena — Conto. Este amor — que hoje está
santificado e bendito no Céu, porque Manuel de Sousa é meu marido — começou com
um crime, porque eu amei-o assim que o vi... e quando o vi — hoje, hoje... foi
em tal dia como hoje! — D. João de Portugal ainda era vivo. O pecado estava-me
no coração; a boca não o disse... os olhos não sei o que fizeram; mas dentro da
alma eu já não tinha outra imagem senão a do amante... já não guardava a meu marido,
a meu bom... a meu generoso marido... senão a grosseira fidelidade que uma mulher
bem nascida quase que mais deve a si do que a seu esposo. — Permitiu Deus...
quem sabe se para me tentar?... que naquela funesta batalha de Alcácer, entre
tantos, ficasse também D. João...
Almeida
Garrett, Frei Luís de Sousa, edição
de Maria João Brilhante, Lisboa, Comunicação, 1982.
5. Explique em que medida a afirmação «o tempo muda
tão depressa...» (linhas 5 e 6), proferida por Madalena, pode constituir um presságio
de tragédia.
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6. Ao longo do excerto, Madalena repete oito vezes a
palavra «hoje». Justifique os sentimentos manifestados por Madalena na sua última
fala e relacione-os com a repetição dessa palavra.
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Na coluna à direita,
escreve o nome do princípio infringido (não
tautologia; não contradição; relevância) — todos de ordem
lógico-conceptual — ou assinala, se for esta a afetada, coerência pragmático-funcional. Se a coerência textual não
estiver prejudicada, nada escrevas. (Para o caso de ser necessário, vê o
esquema em baixo.)
Trecho (que infringe... |
princípio de... ou área) |
Na última quadra o poeta conclui o poema. |
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O maneta foi à manicura para tratar das suas dez belas unhas
de gel. |
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Sob o sol da meia-noite, o cego lia um jornal sem letras. |
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O poema é constituído por quadras. A esse tipo de estrofes
chamamos quartetos. |
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Os três mosqueteiros eram quatro. |
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Não choveu, porque houve seca. |
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Segundo Pennac, com efeito, «os leitores têm o direito de
amar os protagonistas dos livros». [Pouco
depois do enunciado da pergunta respetiva.] |
Não tautologia |
[A meio de um comentário
a um texto, opiniões próprias sobre o mesmo assunto ou paralelos com a vida
corrente.] |
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Exmo. senhor Diretor de Finanças. | O requerente vem informar
que está chateado com a situação criada pelo art.º 3, do decreto 45678, de 31
de março. Ainda falou com a sua querida Belinha ontem sobre o mesmo assunto. |
|
Ganhámos, mas é preciso é levantar a cabeça e continuar a trabalhar. |
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Coerência textual
coerência
lógico-conceptual observa
três princípios:
princípio
da não-contradição:
não deve haver a afirmação de
uma ideia e, em simultâneo, o seu oposto.
princípio
da não-tautologia ou não-redundância:
as ideias não devem ser
repetidas.
princípio
da relevância:
as ideias devem estar relacionadas
com a temática do texto.
coerência
pragmático-funcional versa
a relação texto-situação.
Aproveito
uns exercícios sobre Coesão textual tirados da Nova Gramática didática de português (Carnaxide, Santillana, 2011), pp. 306-307, em
que introduzi pouquíssimas reformulações:
1.
Lê o texto e repara nas formas que dizem respeito aos «dinossauros». Em baixo,
completa os itens, referindo qual é a relação entre aquelas formas e
dinossauros, determinando ainda se o seu uso corresponde a um mecanismo de coesão
lexical ou de coesão referencial.
Os Dinossauros
Em tempos, já houve a «mania dos dinossauros».
Então, toda a gente adorava esses monstros e não parava de dizer «— Que seres fantásticos!», que os peluches desses répteis eram «queridos», «fofinhos»
e mais uma série de inutilidades.
Pergunto-me: o que é que se achou de tão espetacular nesses bichos? Eles são feios até dizer basta e, ainda por cima, estão
extintos. Em vez de se adorar tais criaturas,
porque não se olha para espécies em vias de extinção? Pensemos no Tamagochi, no
Nenuco e em tantas outras coisas pelas quais muitas pessoas perderam a cabeça.
Agora, estão esquecidos nos armários ou mesmo «extintos de brincadeiras». Os dinossauros foram pelo mesmo caminho...
Enfim, foram febres da nossa sociedade que já passaram e que
deram muitos lucros, que é o que parece interessar!
a)
«monstros» — substituição por um hiperónimo; mecanismo de coesão lexical;
b)
«seres» — substituição por um ______; mecanismo de coesão lexical;
c)
«répteis» — substituição por um hiperónimo; mecanismo de coesão _____;
d)
«bichos» — substituição por um ______; mecanismo de coesão _____;
e)
«eles» — pronominalização (uso de uma _____); mecanismo de coesão referencial;
f)
Ø [estão extintos] — recurso a uma elipse; mecanismo de coesão ______;
g)
«criaturas» — substituição por um hiperónimo; mecanismo de coesão _____;
h)
«dinossauros» — repetição; mecanismo de coesão ______.
2.
Os pronomes destacados nas frases seguintes asseguram a sua coesão
referencial. Diz a que se refere cada um dos pronomes.
a)
O Jaime conhecia muito bem o Eleutério. Ele
conhecia-o tão bem que lhe
ofereceu um presente invulgar.
b)
O rapaz viu a carrinha que
estava estacionada à beira da estrada.
c) O
Marcelino viu o Acácio no cinema e este
disse-lhe que já tinha visto aquele filme.
d)
O teu computador e o meu deviam
ser substituídos.
e)
Quaisquer que sejam as dúvidas, esclarecê-las-ei!
f)
Gosto muito de ler Eça de Queirós. Tenho vários livros dele.
3.
Assegura a coesão interfrásica dos enunciados seguintes, ligando as
orações com os conectores adequados.
a) Fui
cedo para a bilheteira. Consegui bilhete.
b) Eram
oito horas. Ele chegou a casa.
c)
Ele estava maldisposto. Comera uma salada russa.
d)
Comi um bolo. Bebi um sumo.
e) Consegui marcar os bilhetes para o concerto na Casa da
Música. Não arranjei lugares para Guimarães.
4.
Seleciona do quadro abaixo os marcadores discursivos adequados para completar
os enunciados que se seguem.
efetivamente | depois | antigamente | agora | primeiro | ou seja
a)
_____ tomei o pequeno-almoço, _____ escovei os dentes.
b)
_____ pensava que tudo era fácil, mas, ______, penso que é mais complicado.
c) Adoro
citrinos, _____, laranjas, limões, limas. _______, são os meus frutos
preferidos.
5.
Conjuga os verbos entre parênteses por forma a assegurar a coesão temporo-aspetual.
a)
Ontem não saí de casa. ______ (ficar)
o dia inteiro a descansar e a trabalhar, porque _______ (ter) uma semana complicada. ________ (dormir), _________ (ver)
televisão, _______ (ler) um pouco e
_________ (estudar) bastante, exceto
a porcaria do Português.
b)
Um dia, ___________ (visitar) a Islândia
para ________ (assistir) a uma aurora
boreal. É claro que _________ (haver)
muito mais para ver.
E,
de novo, uma tarefa sobre coerência textual (da Nova Gramática didática de português, Carnaxide, Santillana, 2011, p. 306):
Restabelece a coerência nos
enunciados apresentados.
a)
Deite a gelatina numa cama, de modo a ficar com cerca de 1 cm de descanso.
Prepare a gelatina de morango de acordo com as instruções da perfumaria, mas
utilizando apenas 1 dl de sopa a ferver e 2 dl de água fria.
b)
Primeiro, entrei em casa da Etelvina; depois, cheguei lá.
c) Têm duas hipóteses: ou
calam-se ou calam-se!
d) O dueto a solo foi
fantástico!
e) D. Afonso Henriques foi
o primeiro rei do Condado Portucalense.
f) Venci, vi e cheguei.
Classifica os
constituintes sublinhados quanto à função sintática que desempenham.
Quanto é que falta? (João
Só)
Se
eu te fosse buscar ___________
Para dançar e jantar fora
A tua mãe não nos ia ___________
Marcar hora
E se eu pedisse licença
Para te levar à lua
O teu pai não me ia pôr na rua ___________
Mas não é a preferência
Da tua ascendência ___________
Que vai fazer que olhes para
mim com paixão
E é isso que eu quero
E é por isso que espero
Que as estrelas entrem em conjugação ___________
Quanto é que falta para chegar a noite
Quanto é que falta para chegar o verão ___________
Quanto é que falta para chegar a hora
Em que o tempo para e
dispara o coração
Se eu te levasse a um concerto ____________
Não se dava o desconcerto
De discordares da minha opção ____________
Nascemos do lado errado
E acusam-nos do pecado ____________
De ouvirmos outra canção
Mas não é a trivialidade
De uma ou outra afinidade ___________
Que vai fazer que olhes para
mim com paixão
E é só isso que eu quero
E é por isso que espero
Que as estrelas entrem em conjugação
Quanto é que falta para chegar a noite
Quanto é que falta para chegar o verão
Quanto é que falta para chegar a hora
Em que o tempo para e
dispara o coração ____________
TPC — Relanceia, em Gaveta de Nuvens, páginas de uma gramática, sobre coerência e coesão textual. Também podes usar o anexo do manual, pp. 18-19 e
21.
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