Wednesday, September 08, 2021

Aula 69R-69

Aula 69R-69 (19 [1.ª], 20/jan [3.ª]) A parte B do exame nacional de há quatro anos (2018, 1.ª fase) tinha como texto a analisar a cena X do ato II de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.

Como sabes, o ato II passa-se já no palácio que fora do primeiro marido de Madalena, João de Portugal. A deslocação para esta casa (tornada necessária porque Manuel incendiara o palácio onde viviam, também em Almada, contribuíra para aumentar as angústias de Madalena, que já não eram poucas). Esta cena X acontece depois de Manuel, Maria e Telmo saírem para Lisboa (iam visitar uma parenta e Manuel ia tratar da sua posição perante o poder) e antes da entrada de João de Portugal (identificado só como Romeiro). (A cena IX fora um pequeno aparte de Jorge — só com este em palco — e a cena XI incluirá o criado Miranda, que virá anunciar a chegada de um romeiro.)

Vê só entre o minuto 4 e o minuto 10:

[Responde à pergunta 5; copiarás depois um modelo de resposta ao item 6.]

Grupo I, Parte B

Leia o texto.

Madalena (falando ao bastidor) — Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres chegar o bergantim; e quando desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (Vem para a cena.) Não há vento e o dia está lindo. Ao menos não tenho sustos com a viagem. Mas a volta... quem sabe? o tempo muda tão depressa...

Jorge — Não, hoje não tem perigo.

Madalena — Hoje... hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado... que ainda temo que não acabe sem muito grande desgraça... É um dia fatal para mim: faz hoje anos que... que casei a primeira vez; faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião; faz anos também que... vi pela primeira vez a Manuel de Sousa.

Jorge — Pois contais essa entre as infelicidades de vossa vida?

Madalena — Conto. Este amor — que hoje está santificado e bendito no Céu, porque Manuel de Sousa é meu marido — começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi... e quando o vi — hoje, hoje... foi em tal dia como hoje! — D. João de Portugal ainda era vivo. O pecado estava-me no coração; a boca não o disse... os olhos não sei o que fizeram; mas dentro da alma eu já não tinha outra imagem senão a do amante... já não guardava a meu marido, a meu bom... a meu generoso marido... senão a grosseira fidelidade que uma mulher bem nascida quase que mais deve a si do que a seu esposo. — Permitiu Deus... quem sabe se para me tentar?... que naquela funesta batalha de Alcácer, entre tantos, ficasse também D. João...

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, edição de Maria João Brilhante, Lisboa, Comunicação, 1982.

5. Explique em que medida a afirmação «o tempo muda tão depressa...» (linhas 5 e 6), proferida por Madalena, pode constituir um presságio de tragédia.

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6. Ao longo do excerto, Madalena repete oito vezes a palavra «hoje». Justifique os sentimentos manifestados por Madalena na sua última fala e relacione-os com a repetição dessa palavra.

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Na coluna à direita, escreve o nome do princípio infringido (não tautologia; não contradição; relevância) — todos de ordem lógico-conceptual — ou assinala, se for esta a afetada, coerência pragmático-funcional. Se a coerência textual não estiver prejudicada, nada escrevas. (Para o caso de ser necessário, vê o esquema em baixo.)

Trecho (que infringe...

princípio de... ou área)

Na última quadra o poeta conclui o poema.

 

O maneta foi à manicura para tratar das suas dez belas unhas de gel.

 

Sob o sol da meia-noite, o cego lia um jornal sem letras.

 

O poema é constituído por quadras. A esse tipo de estrofes chamamos quartetos.

 

Os três mosqueteiros eram quatro.

 

Não choveu, porque houve seca.

 

Segundo Pennac, com efeito, «os leitores têm o direito de amar os protagonistas dos livros». [Pouco depois do enunciado da pergunta respetiva.]

Não tautologia

[A meio de um comentário a um texto, opiniões próprias sobre o mesmo assunto ou paralelos com a vida corrente.]

 

Exmo. senhor Diretor de Finanças. | O requerente vem informar que está chateado com a situação criada pelo art.º 3, do decreto 45678, de 31 de março. Ainda falou com a sua querida Belinha ontem sobre o mesmo assunto.

 

Ganhámos, mas é preciso é levantar a cabeça e continuar a trabalhar.

 

Coerência textual

coerência lógico-conceptual observa três princípios:

princípio da não-contradição:

não deve haver a afirmação de uma ideia e, em simultâneo, o seu oposto.

princípio da não-tautologia ou não-redundância:

as ideias não devem ser repetidas.

princípio da relevância:

as ideias devem estar relacionadas com a temática do texto.

coerência pragmático-funcional versa a relação texto-situação.

Aproveito uns exercícios sobre Coesão textual tirados da Nova Gramática didática de português (Carnaxide, Santillana, 2011), pp. 306-307, em que introduzi pouquíssimas reformulações:

1. Lê o texto e repara nas formas que dizem respeito aos «dinossauros». Em baixo, completa os itens, referindo qual é a relação entre aquelas formas e dinossauros, determinando ainda se o seu uso corresponde a um mecanismo de coesão lexical ou de coesão referencial.

Os Dinossauros

Em tempos, já houve a «mania dos dinossauros».

Então, toda a gente adorava esses monstros e não parava de dizer «— Que seres fantásticos!», que os peluches desses répteis eram «queridos», «fofinhos» e mais uma série de inutilidades.

Pergunto-me: o que é que se achou de tão espetacular nesses bichos? Eles são feios até dizer basta e, ainda por cima, estão extintos. Em vez de se adorar tais criaturas, porque não se olha para espécies em vias de extinção? Pensemos no Tamagochi, no Nenuco e em tantas outras coisas pelas quais muitas pessoas perderam a cabeça. Agora, estão esquecidos nos armários ou mesmo «extintos de brincadeiras». Os dinossauros foram pelo mesmo caminho...

Enfim, foram febres da nossa sociedade que já passaram e que deram muitos lucros, que é o que parece interessar!

a) «monstros» — substituição por um hiperónimo; mecanismo de coesão lexical;

b) «seres» — substituição por um ______; mecanismo de coesão lexical;

c) «répteis» — substituição por um hiperónimo; mecanismo de coesão _____;

d) «bichos» — substituição por um ______; mecanismo de coesão _____;

e) «eles» — pronominalização (uso de uma _____); mecanismo de coesão referencial;

f) Ø [estão extintos] — recurso a uma elipse; mecanismo de coesão ______;

g) «criaturas» — substituição por um hiperónimo; mecanismo de coesão _____;

h) «dinossauros» — repetição; mecanismo de coesão ______.

2. Os pronomes destacados nas frases seguintes asseguram a sua coesão referencial. Diz a que se refere cada um dos pronomes.

a) O Jaime conhecia muito bem o Eleutério. Ele conhecia-o tão bem que lhe ofereceu um presente invulgar.

b) O rapaz viu a carrinha que estava estacionada à beira da estrada.

c) O Marcelino viu o Acácio no cinema e este disse-lhe que já tinha visto aquele filme.

d) O teu computador e o meu deviam ser substituídos.

e) Quaisquer que sejam as dúvidas, esclarecê-las-ei!

f) Gosto muito de ler Eça de Queirós. Tenho vários livros dele.

3. Assegura a coesão interfrásica dos enunciados seguintes, ligando as orações com os conectores adequados.

a) Fui cedo para a bilheteira. Consegui bilhete.

b) Eram oito horas. Ele chegou a casa.

c) Ele estava maldisposto. Comera uma salada russa.

d) Comi um bolo. Bebi um sumo.

e) Consegui marcar os bilhetes para o concerto na Casa da Música. Não arranjei lugares para Guimarães.

4. Seleciona do quadro abaixo os marcadores discursivos adequados para completar os enunciados que se seguem.

efetivamente | depois | antigamente | agora | primeiro | ou seja

a) _____ tomei o pequeno-almoço, _____ escovei os dentes.

b) _____ pensava que tudo era fácil, mas, ______, penso que é mais complicado.

c) Adoro citrinos, _____, laranjas, limões, limas. _______, são os meus frutos preferidos.

5. Conjuga os verbos entre parênteses por forma a assegurar a coesão temporo-aspetual.

a) Ontem não saí de casa. ______ (ficar) o dia inteiro a descansar e a trabalhar, porque _______ (ter) uma semana complicada. ________ (dormir), _________ (ver) televisão, _______ (ler) um pouco e _________ (estudar) bastante, exceto a porcaria do Português.

b) Um dia, ___________ (visitar) a Islândia para ________ (assistir) a uma aurora boreal. É claro que _________ (haver) muito mais para ver.

E, de novo, uma tarefa sobre coerência textual (da Nova Gramática didática de português, Carnaxide, Santillana, 2011, p. 306):

Restabelece a coerência nos enunciados apresentados.

a) Deite a gelatina numa cama, de modo a ficar com cerca de 1 cm de descanso. Prepare a gelatina de morango de acordo com as instruções da perfumaria, mas utilizando apenas 1 dl de sopa a ferver e 2 dl de água fria.

b) Primeiro, entrei em casa da Etelvina; depois, cheguei lá.

c) Têm duas hipóteses: ou calam-se ou calam-se!

d) O dueto a solo foi fantástico!

e) D. Afonso Henriques foi o primeiro rei do Condado Portucalense.

f) Venci, vi e cheguei.

Classifica os constituintes sublinhados quanto à função sintática que desempenham.

Quanto é que falta? (João Só)

Se eu te fosse buscar ___________

Para dançar e jantar fora

A tua mãe não nos ia ___________

Marcar hora

E se eu pedisse licença

Para te levar à lua

O teu pai não me ia pôr na rua ___________

 

Mas não é a preferência

Da tua ascendência ___________

Que vai fazer que olhes para mim com paixão

E é isso que eu quero

E é por isso que espero

Que as estrelas entrem em conjugação ___________

 

Quanto é que falta para chegar a noite

Quanto é que falta para chegar o verão ___________

Quanto é que falta para chegar a hora

Em que o tempo para e dispara o coração

 

Se eu te levasse a um concerto                    ____________

Não se dava o desconcerto

De discordares da minha opção ____________

Nascemos do lado errado

E acusam-nos do pecado ____________

De ouvirmos outra canção

 

Mas não é a trivialidade

De uma ou outra afinidade ___________

Que vai fazer que olhes para mim com paixão

E é só isso que eu quero

E é por isso que espero

Que as estrelas entrem em conjugação

 

Quanto é que falta para chegar a noite

Quanto é que falta para chegar o verão

Quanto é que falta para chegar a hora

Em que o tempo para e dispara o coração ____________

TPC — Relanceia, em Gaveta de Nuvens, páginas de uma gramática, sobre coerência e coesão textual. Também podes usar o anexo do manual, pp. 18-19 e 21.

 

 

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