Aula 1-2
Aula 1-2
(21 [1.ª] e 22/set [3.ª]) Poucas indicações úteis ao trabalho ao longo do ano (cfr.
Apresentação e Preceitos).
Os parágrafos que se seguem tratam do autor
de que este ano mais falaremos, Fernando Pessoa. Deves assinalar a sua
veracidade (V) ou falsidade (F). Estão escondidas subtis
impossibilidades, anacronias, mas também é preciso ter em conta que Fernando
Pessoa tinha efetivamente muitas idiossincrasias.
Fernando Pessoa chamava-se
António porque nasceu no dia de Santo António (em Lisboa, no Largo de São
Carlos, a 13 de junho de 1888).
Estudou em Durban (na atual África do Sul,
na região de Natal, então uma colónia inglesa), onde o padrasto era cônsul.
Aprendeu a dominar tão bem o inglês, que venceu prémios literários e se
distinguiu como o melhor aluno da região (o que aliás, em princípio, lhe
deveria ter dado acesso a Oxford — era o prémio oficial —, mas não aconteceu).
Fernando Pessoa e o Mahatma Gandhi viveram
ambos na África do Sul pela mesma época (no início do século XX).
Fazendo-se passar por psiquiatra, com o
nome de Faustino Antunes, por razões clínicas interessado em informar-se sobre
a saúde mental de um seu paciente — precisamente, o próprio Pessoa —, já em
Lisboa, em 1907, Fernando Pessoa escreveu a antigos professores e condiscípulos
da Durban High School, a pedir-lhes um retrato psicológico daquele seu suposto
doente. Houve respostas, cuidadosas e detalhadas.
Com vinte um anos, em agosto de 1909,
Pessoa viajou até Portalegre, para ir comprar maquinaria de tipografia. É
provável que nos vinte e seis anos anos que se seguiram, até à sua morte, nunca
mais tenha saído para lá dos arredores de Lisboa. Quanto à tipografia que foi
comprar (para a Empresa Íbis, Tipográfica e Editora), quase nada nela se
imprimiu.
Na Olisipo, editora que criou, Pessoa
publicou livros considerados escandalosos, como as Canções, de António Botto, poeta, homossexual (e assumido frequentador
dos urinóis de Lisboa), ou Sodoma
divinizada, de Raul Leal, que tinha «uma pulsão irresistível para o bizarro
e o excessivo». Pessoa defendeu sempre a liberdade de expressão, sem receio de
afrontar as indignações e os movimentos de censura.
O poema em inglês Antinous (1918), raro caso de livro de Pessoa publicado em vida,
dir-se-ia hoje ser de apologia da pedofilia e o próprio poeta o considerava
obsceno.
Os heterónimos são autores fictícios, com
biografias inventadas por Pessoa, cujos nomes subscrevem textos concebidos pelo
poeta nos estilos de cada um. Os mais importantes, os verdadeiros heterónimos,
serão Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis. Costuma ser referido como
semi-heterónimo Bernardo Soares. No entanto, se quisermos considerar os vários
autores fictícios criados por Pessoa, contabilizaremos cento e trinta e seis.
Um dos heterónimos de Pessoa — e que é autor
de contos policiais em inglês — chama-se Cocó.
Nos primeiros trinta e dois anos de vida Pessoa
mudou de residência mais de vinte vezes, tendo chegado a morar na área do
Agrupamento de escolas de Benfica.
«Amorzinho», «Terrível Bebé», «Vespa
vespíssima», «Bebé fera», «Bebezinho mau», «Ophelinha pequena», «Bombom»,
«Boquinha doce», «Minha bonequinha»,
«Meu Íbis chamado Ophélia», «Íbis do Íbis da Íbis do Íbis», «Bebé
rabino», «Bebé do Nininho», «Anjinho bebé», «Anjinha bué lindinha» e
«Nenuquinho fofinho» são nomes carinhosos por que Fernando (Pessoa), nas suas
cartas de amor, trata Ofélia (Queirós), com quem namoriscou em 1920 e no final
de 1929.
Há poemas de Pessoa escritos em sessões de
espiritismo e a meias com espíritos. A letra de Pessoa surge-nos então com um
desenho diferente.
O aforismo «Penso logo existo» é da autoria
de Pessoa.
O texto «Ultimatum», do heterónimo Álvaro
de Campos, publicado em 1917 no número único da Portugal Futurista, inclui, a letras garrafais, a exclamação «Cocó!».
Pessoa teve intervenção decisiva num
episódio espetacular que envolveu o mágico internacional, e espião, Aleister
Crowley, que se teria suicidado (ou teria sido assassinado) na Boca do Inferno.
O poema de Álvaro de Campos cujo primeiro
verso é «Ao volante do Chevrolet pela estrada de Cintra», de 1928, teve que ver
com a promoção de um modelo daquela marca de automóveis que acabava de ser
comercializado em Portugal.
Fernando Pessoa deu-se sempre bem com
padrasto, com o irmão do padrasto e com o cunhado com que teve de coabitar.
Ia aos escritórios em que trabalhava também
ao domingo.
Foi dispensado da colaboração em O Jornal porque a Associação dos
Motoristas de Lisboa protestou, ofendida com uma referência que Pessoa fizera
numa das suas crónicas aos chauffeurs
(que, segundo ele, guiariam mal).
Já no último ano de vida, em 1935, Pessoa
não compareceu na sessão de entrega de prémios de concurso literário do SPN
(Secretariado de Propaganda Nacional), que vencera na categoria ‘poema’, com o
livro Mensagem, no valor de cinco mil
escudos (correspondente a mais do que um salário anual de um professor).
Como causa da morte de Fernando Pessoa, a
30 de novembro de 1935, tem-se indicado uma crise hepática (teria o fígado
demasiado deteriorado pelo muito que bebia). A última frase que escreveu, já no
Hospital de São Luís dos Franceses, para onde fora levado dois dias antes, foi
«I know not what to tomorrow will bring».
No retângulo, ao canto superior direito (da
folha de caderneta que distribuí): escreve definição telegráfica com o teu nome
(aquele por que queres ser chamado), com verbo + advérbio. Como este para
Pessoa:
Planear
recorrentemente
Escrever sempre
Singularizar-me discretamente
Sair nunca (de Lisboa)
Outrar-me variadamente
Assinar ficticiamente
Escreve no «retângulo» (com cantos
arredondados) uma, duas, três ou quatro quadras ao estilo das de «Sou um
evadido» (p. 31 do manual), de Fernando Pessoa. Primeira palavra será também «Sou
[…]». Esquema rimático será A-B-C-B (mas não têm de ser as mesmas rimas do
poema). Versos têm de ser pentassilábicos.
TPC — Em Gaveta
de Nuvens lê «Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos».
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