Tuesday, September 07, 2021

Aula 107-108

Aula 107-108 (16/mar [1.ª, 3.ª]) Correção do trabalho sobre «Adeus». [solução possível:]

No seu diálogo com um tu a que corresponde o vocativo «meu amor», o sujeito poético mostra-se desiludido, o que se traduz sinteticamente em «já gastámos as palavras». Assim, no presente o eu já desistiu («Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada»), o que fica realçado por, ao longo do poema, estes momentos de disforia alternarem com recordações de um passado em que «todas as coisas eram possíveis».

Conotando a anterioridade mas também a duração de um tempo que parecia glorioso, as alusões ao passado assentam em formas verbais do imperfeito («Antigamente tínhamos», «dava», «tinha», «dizias», «acreditava», «era um aquário», «eram peixes verdes», «todas as coisas estremeciam»). Nos trechos do «hoje», marcado pelo ceticismo, predominam verbos no Presente do Indicativo (que remete para a inconsequência, para o despojamento — «não temos», «já não se passa absolutamente nada», «são apenas [...] uns olhos como todos os outros»; «não encontro nada») e no Pretérito Perfeito (que assinada a perda, a irreversibilidade associável ao aspeto perfetivo; «já gastámos», «já te disse: as palavras estão gastas»).

Vai lendo «Esta coisa obscura que é ser português» (pp. 237-238), uma apreciação crítica de Clara Ferreira Alves a O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago, e circunda a melhor alínea de cada item. (Em raros casos, o conhecimento da obra de Saramago pode facilitar a resposta, mas, no essencial, só estará em causa a leitura deste texto de recensão.)

 

O ano da morte de Ricardo Reis é um livro cheio «de autores e atores acotovelando-se com o autor» (ll. 3-4), porque

a) os vários heterónimos de Pessoa são também personagens.

b) a intertextualidade com outras obras é nele decisiva.

c) Alberto Caeiro e Ricardo Reis são os protagonistas.

d) Fernando Pessoa e Ricardo Reis são os heróis do livro.

 

Quanto a O ano da morte de Ricardo Reis, a cronista (ll. 4-5)

a) hesita em considerá-lo o romance português mais importante a seguir a Os Maias.

b) não tem dúvidas de que se trata do romance português mais importante a seguir a Os Maias.

c) não sabe de que trata o livro, o que a faz considerá-lo o romance mais importante depois de Os Maias.

d) não consegue dizer, de repente, se é o melhor romance português depois de Os Maias.

 

«um que escreve e um que é pelo outro descrito» (ll. 6-7) correspondem, respetivamente, a

a) Ricardo Reis e Fernando Pessoa.

b) Ricardo Reis e José Saramago.

c) Fernando Pessoa e Ricardo Reis.

d) José Saramago e Ricardo Reis.

 

«Quando o livro começa» (l. 8) é

a) modificador de frase.

b) modificador do grupo verbal.

c) predicado.

d) complemento oblíquo.

 

Quando Ricardo Reis regressa (ll. 10-11),

a) Pessoa morrera há pouco.

b) Pessoa ainda é vivo, embora acabe por morrer no final desse ano.

c) Saramago ainda não não nascera.

d) Saramago já morrera.

 

Os pronomes pessoais na l. 13 desempenham as funções de

a) complemento direto, complemento indireto.

b) complemento indireto, complemento direto.

c) complemento direto, complemento direto.

d) complemento indireto, complemento indireto.

 

«onde se perfilam estátuas de gigantes» (ll. 15-16) é uma oração subordinada

a) substantiva relativa.

b) substantiva completiva.

c) adjetiva relativa explicativa.

d) adjetiva relativa restritiva.

 

O «brônzeo Pessoa ainda não acolhia turistas e criancinhas ao Chiado» (l. 19) significa que

a) ainda não havia tantos turistas em Lisboa como hoje.

b) ainda não fora construída a escultura de Pessoa na Brasileira do Chiado.

c) Pessoa ainda não era famoso, pelo que a estátua na Brasileira ainda era pouco conhecida.

d) Pessoa, sempre bronzeado pelo sol, pouco ia ao Chiado por esses dias.

 

«ainda não acolhia» (l. 19) tem os valores (aspetual e temporal)

a) imperfetivo; de simultaneidade.

b) perfetivo; de anterioridade.

c) imperfetivo; de anterioridade.

d) perfetivo; de posterioridade.

 

Pessoa «aparece e desaparece num quarto do Hotel Bragança» (l. 21) quer dizer que

a) Reis (Pessoa) nem sempre está no seu quarto.

b) Fernando Pessoa, por vezes, visita Ricardo Reis.

c) Pessoa vivia nesse quarto de hotel, saindo, por vezes, para visitar Reis.

d) os vários heterónimos de Pessoa iam visitando Reis.

 

Em «prefigurando a guerra que há de vir» (ll. 30-31) o valor temporal é de

a) anterioridade.

b) futuro.

c) simultaneidade.

d) posterioridade.

 

O referente do pronome pessoal na l. 34 é

a) o imperador Salazar.

b) Portugal.

c) o Estado Novo.

d) Adolfo Coelho.

 

«[o] homem neutro, que observa o espetáculo do mundo» (l. 35) é

a) um moço chamado Adolfo.

b) Hitler.

c) Salazar.

d) Ricardo Reis.

 

No final do 4.º parágrafo (l. 36), percebemos que

a) o livro talvez se devesse intitular O ano da morte de Fernando Pessoa.

b) o ano da morte a que se reporta o livro é o da morte de Fernando Pessoa.

c) a história se passa sobretudo em outro ano que não o da morte de Fernando Pessoa.

d) Ricardo Reis morreu em 1935.

 

As formas verbais nas linhas 37-38 («desliza», «acoita-se», «desobriga») têm valores temporal e aspetual de

a) anterioridade, perfetivo.

b) simultaneidade, imperfetivo.

c) simultaneidade, genérico.

d) posterioridade, habitual.

 

Em «Não perca a festa no Jockey Clube para fazer bem aos ribatejanos inundados» (ll. 39-40), «para fazer bem aos ribatejanos inundados» desempenha a função sintática de

a) modificador do grupo verbal.

b) modificador de frase.

c) complemento oblíquo.

d) complemento do adjetivo.

 

Em «O narrador espera que não morram de fome antes» (ll. 40-41), a oração subordinada é

a) substantiva relativa.

b) substantiva completiva.

c) adjetiva relativa restritiva.

d) adjetiva relativa explicativa.

 

«o de Portugal e o de uma Europa a ferver» (ll. 44-45) desempenha a função sintática de

a) modificador restritivo do nome.

b) predicativo do sujeito.

c) modificador apositivo do nome.

d) complemento direto.

 

O período «Neste livro de Saramago estão todos os livros que se seguiram» (l. 48) implica um ato ilocutório

a) compromissivo.

b) declarativo.

c) assertivo.

d) expressivo.

 

«que se seguiram» (l. 48) é

a) oração adjetiva relativa apositiva e modificador apositivo do nome.

b) oração adjetiva relativa restritiva e modificador restritivo do nome.

c) oração substantiva relativa e complemento direto.

d) oração substantiva completiva e complemento direto.

 

«Dicionário Português-Manuelmachadês» (da série Diz que é uma espécie de magazine) caricatura a linguagem de alguém do meio desportivo. O tipo de discurso designado como «manuelmachadês» caracteriza-se pela complexificação da sintaxe e do léxico, por pretensiosismo do enunciador. Essa exibição de linguagem empolada acaba por prejudicar a clareza da mensagem.

Quais são os recursos expressivos (as _______ de estilo) usados por Manuel Machado e que resultam no tal estilo complicativo? Não são muitos. Em geral, pode dizer-se que se socorre de perífrases (circunlóquios; isto é, diz em muitas palavras o que poderia ser dito em poucas). Vendo mais de perto, essas perífrases resultam de:

(1) troca de palavras/expressões por outras suas sinónimas mas de registo mais cuidado (nestes casos, pode surgir uma ou outra expressão com origem em metáfora);

(2) troca de palavras/expressões por outras mais abrangentes, ou mesmo inadequadas, por eufemismo (evitando ‘ferir susceptibilidades’).

{Completa a tabela, registando 1 ou 2 na coluna da direita.}

sentido denotativo

manuelmachadês

recurso

como ganhámos, fizemos bem em jogar assim

a pontuação obtida, de alguma maneira, ratifica as opções tomadas

 

corrigiu os erros

retificou alguns procedimentos que tinha denunciado como deficitários

 

uma estratégia atacante

uma estratégia que não pressupunha uma metodologia muito defensiva

 

fim do jogo

parte terminal do encontro

 

últimos lugares do campeonato

lugares da parte terminal da tabela

 

o árbitro decidiu mal

o critério disciplinar foi extremamente agudo

 

não digo que o árbitro seja desonesto

nada do que eu disse vai no sentido de melindrar essa cidadania e os seus direitos, tudo o que eu disse é contextualizado a um processo desportivo

 

tentar não perder o jogo

obstar a que o Porto leve os pontos em disputa

 

Na última fala — «este tipo que andou no meio do terreno não presta» —, o inesperado é Machado não ter recorrido a um ______ que adocicasse a crítica ao árbitro.

Reproduzem-se algumas estrofes da tradução — por Maria Fernanda Borges — do poema «Daddy» (Sylvia Plath, Ariel, Lisboa, Relógio d’Água, 1996 [original inglês: 1965]), que ouviremos também no filme Sylvia.

Paizinho

Já não serves, já não serves

Nunca mais, sapato preto,

No qual tenho vivido como um pé

Durante trinta anos, pobre e branca,

Mal me atrevendo a respirar ou a dar um Atchim.

 

Paizinho, tinha de ser eu a matar-te

Mas morreste antes de eu ter tido tempo —

Pesado como mármore, um saco cheio de Deus,

Estátua lívida com um dedo do pé cinzento

Grande como uma foca de S. Francisco

 

Com a cabeça no caprichoso Atlântico

Onde o verde-feijão se derrama sobre o azul

Nas águas da maravilhosa Nauset.

Costumava rezar para te recuperar.

Ach, du.

 

Na língua alemã, na vila polaca

Reduzida a nada pelo cilindro

Da guerra, da guerra, da guerra.

Mas o nome da vila é vulgar.

O meu amigo polaco

 

Diz-me que há uma dúzia ou duas.

E por isso nunca lhe soube dizer onde é que tu

Puseste o teu pé, onde as tuas raízes,

Nunca pude falar-te.

A língua prendia-se no maxilar.

 

[...]

 

Se já matei um homem também posso matar dois —

O vampiro que disse que eras tu

E que bebeu o meu sangue durante um ano,

Sete anos, se queres saber.

Paizinho, agora podes voltar a deitar-te.

 

Tens uma estaca nesse teu gordo coração negro

A gente da aldeia nunca gostou de ti.

Dança e bate o pé em cima de ti.

Sempre souberam que foste tu.

Paizinho, paizinho, meu sacana, acabou-se.

Contrasta a perspetiva, sobre pai e mãe, do poema de Plath e do texto de Eugénio de Andrade (na p. 203; não deixes de atentar na explicação em «Antes de ler»).

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TPC — Lê a ficha corrigida sobre ‘Étimo,palavras convergentes e divergentes’, que porei em Gaveta de Nuvens.

 

 

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