Aula 107-108
Aula 107-108
(16/mar [1.ª, 3.ª]) Correção do trabalho sobre «Adeus». [solução possível:]
No seu diálogo com um tu a que corresponde
o vocativo «meu amor», o sujeito poético mostra-se desiludido, o que se traduz
sinteticamente em «já gastámos as palavras». Assim, no presente o eu já
desistiu («Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada»), o que fica
realçado por, ao longo do poema, estes momentos de disforia alternarem com
recordações de um passado em que «todas as coisas eram possíveis».
Conotando a anterioridade mas também a
duração de um tempo que parecia glorioso, as alusões ao passado assentam em
formas verbais do imperfeito («Antigamente tínhamos», «dava», «tinha»,
«dizias», «acreditava», «era um aquário», «eram peixes verdes», «todas as
coisas estremeciam»). Nos trechos do «hoje», marcado pelo ceticismo, predominam
verbos no Presente do Indicativo (que remete para a inconsequência, para o
despojamento — «não temos», «já não se passa absolutamente nada», «são apenas
[...] uns olhos como todos os outros»; «não encontro nada») e no Pretérito
Perfeito (que assinada a perda, a irreversibilidade associável ao aspeto
perfetivo; «já gastámos», «já te disse: as palavras estão gastas»).
Vai lendo «Esta coisa
obscura que é ser português» (pp. 237-238), uma apreciação crítica de Clara
Ferreira Alves a O ano da morte de
Ricardo Reis, de José Saramago, e circunda a melhor alínea de cada item.
(Em raros casos, o conhecimento da obra de Saramago pode facilitar a resposta,
mas, no essencial, só estará em causa a leitura deste texto de recensão.)
O
ano da morte de Ricardo Reis
é um livro cheio «de autores e atores acotovelando-se com o autor» (ll. 3-4),
porque
a) os vários heterónimos de Pessoa são
também personagens.
b) a intertextualidade com outras obras é
nele decisiva.
c) Alberto Caeiro e Ricardo Reis são os
protagonistas.
d) Fernando Pessoa e Ricardo Reis são os
heróis do livro.
Quanto a O ano da morte de Ricardo Reis, a cronista (ll. 4-5)
a) hesita em considerá-lo o romance
português mais importante a seguir a Os
Maias.
b) não tem dúvidas de que se trata do
romance português mais importante a seguir a Os Maias.
c) não sabe de que trata o livro, o que a
faz considerá-lo o romance mais importante depois de Os Maias.
d) não consegue dizer, de repente, se é o
melhor romance português depois de Os
Maias.
«um que escreve e um que é pelo outro
descrito» (ll. 6-7) correspondem, respetivamente, a
a) Ricardo Reis e Fernando Pessoa.
b) Ricardo Reis e José Saramago.
c) Fernando Pessoa e Ricardo Reis.
d) José Saramago e Ricardo Reis.
«Quando o livro começa» (l. 8) é
a) modificador de frase.
b) modificador do grupo verbal.
c) predicado.
d) complemento oblíquo.
Quando Ricardo Reis regressa (ll. 10-11),
a) Pessoa morrera há pouco.
b) Pessoa ainda é vivo, embora acabe por
morrer no final desse ano.
c) Saramago ainda não não nascera.
d) Saramago já morrera.
Os pronomes pessoais na l. 13 desempenham
as funções de
a) complemento direto, complemento
indireto.
b) complemento indireto, complemento
direto.
c) complemento direto, complemento direto.
d) complemento indireto, complemento
indireto.
«onde se perfilam estátuas de gigantes»
(ll. 15-16) é uma oração subordinada
a) substantiva relativa.
b) substantiva completiva.
c) adjetiva relativa explicativa.
d) adjetiva relativa restritiva.
O «brônzeo Pessoa ainda não acolhia
turistas e criancinhas ao Chiado» (l. 19) significa que
a) ainda não havia tantos turistas em
Lisboa como hoje.
b) ainda não fora construída a escultura de
Pessoa na Brasileira do Chiado.
c) Pessoa ainda não era famoso, pelo que a
estátua na Brasileira ainda era pouco conhecida.
d) Pessoa, sempre bronzeado pelo sol, pouco
ia ao Chiado por esses dias.
«ainda não acolhia» (l. 19) tem os valores
(aspetual e temporal)
a) imperfetivo; de simultaneidade.
b) perfetivo; de anterioridade.
c) imperfetivo; de anterioridade.
d) perfetivo; de posterioridade.
Pessoa «aparece e desaparece num quarto do
Hotel Bragança» (l. 21) quer dizer que
a) Reis (Pessoa) nem sempre está no seu
quarto.
b) Fernando Pessoa, por vezes, visita
Ricardo Reis.
c) Pessoa vivia nesse quarto de hotel,
saindo, por vezes, para visitar Reis.
d) os vários heterónimos de Pessoa iam
visitando Reis.
Em «prefigurando a guerra que há de vir»
(ll. 30-31) o valor temporal é de
a) anterioridade.
b) futuro.
c) simultaneidade.
d) posterioridade.
O referente do pronome pessoal na l. 34 é
a) o imperador Salazar.
b) Portugal.
c) o Estado Novo.
d) Adolfo Coelho.
«[o] homem neutro, que observa o espetáculo
do mundo» (l. 35) é
a) um moço chamado Adolfo.
b) Hitler.
c) Salazar.
d) Ricardo Reis.
No final do 4.º parágrafo (l. 36), percebemos que
a) o livro talvez se devesse intitular O ano da morte de Fernando Pessoa.
b) o ano da morte a que se reporta o livro é o da
morte de Fernando Pessoa.
c) a história se passa sobretudo em outro ano que
não o da morte de Fernando Pessoa.
d) Ricardo Reis morreu em 1935.
As formas verbais nas linhas 37-38 («desliza»,
«acoita-se», «desobriga») têm valores temporal e aspetual de
a) anterioridade, perfetivo.
b) simultaneidade, imperfetivo.
c) simultaneidade, genérico.
d) posterioridade, habitual.
Em «Não perca a festa no Jockey Clube para fazer
bem aos ribatejanos inundados» (ll. 39-40), «para fazer bem aos ribatejanos
inundados» desempenha a função sintática de
a) modificador do grupo verbal.
b) modificador de frase.
c) complemento oblíquo.
d) complemento do adjetivo.
Em «O narrador espera que não morram de fome
antes» (ll. 40-41), a oração subordinada é
a) substantiva relativa.
b) substantiva completiva.
c) adjetiva relativa restritiva.
d) adjetiva relativa explicativa.
«o de Portugal e o de uma Europa a ferver» (ll.
44-45) desempenha a função sintática de
a) modificador restritivo do nome.
b) predicativo do sujeito.
c) modificador apositivo do nome.
d) complemento direto.
O período «Neste livro de Saramago estão todos os
livros que se seguiram» (l. 48) implica um ato ilocutório
a) compromissivo.
b) declarativo.
c) assertivo.
d) expressivo.
«que se seguiram» (l. 48) é
a) oração adjetiva relativa apositiva e
modificador apositivo do nome.
b) oração adjetiva relativa restritiva e
modificador restritivo do nome.
c) oração substantiva relativa e complemento
direto.
d) oração substantiva completiva e complemento
direto.
«Dicionário
Português-Manuelmachadês» (da série Diz
que é uma espécie de magazine) caricatura a linguagem de alguém do meio
desportivo. O tipo de discurso designado como «manuelmachadês» caracteriza-se
pela complexificação da sintaxe e do léxico, por pretensiosismo do enunciador.
Essa exibição de linguagem empolada acaba por prejudicar a clareza da mensagem.
Quais
são os recursos expressivos (as _______
de estilo) usados por Manuel Machado e que resultam no tal estilo complicativo?
Não são muitos. Em geral, pode dizer-se que se socorre de perífrases
(circunlóquios; isto é, diz em muitas palavras o que poderia ser dito em
poucas). Vendo mais de perto, essas perífrases resultam de:
(1)
troca de palavras/expressões por outras suas sinónimas mas de registo
mais cuidado (nestes casos, pode surgir uma ou outra expressão com origem
em metáfora);
(2)
troca de palavras/expressões por outras mais abrangentes, ou mesmo inadequadas,
por eufemismo (evitando ‘ferir
susceptibilidades’).
{Completa
a tabela, registando 1 ou 2 na coluna da direita.}
sentido denotativo |
manuelmachadês |
recurso |
como ganhámos, fizemos
bem em jogar assim |
a pontuação obtida, de
alguma maneira, ratifica as opções tomadas |
|
corrigiu os erros |
retificou alguns
procedimentos que tinha denunciado como deficitários |
|
uma estratégia atacante |
uma estratégia que não pressupunha
uma metodologia muito defensiva |
|
fim do jogo |
parte terminal do
encontro |
|
últimos lugares do
campeonato |
lugares da parte terminal
da tabela |
|
o árbitro decidiu mal |
o
critério disciplinar foi extremamente agudo |
|
não digo que o árbitro
seja desonesto |
nada
do que eu disse vai no sentido de melindrar essa cidadania e os seus
direitos, tudo o que eu disse é contextualizado a um processo desportivo |
|
tentar não perder o jogo |
obstar
a que o Porto leve os pontos em disputa |
|
Na
última fala — «este tipo que andou no meio do terreno não presta» —, o
inesperado é Machado não ter recorrido a um ______ que adocicasse a crítica ao
árbitro.
Reproduzem-se
algumas estrofes da tradução — por Maria Fernanda Borges — do poema «Daddy» (Sylvia Plath, Ariel, Lisboa, Relógio d’Água, 1996
[original inglês: 1965]), que ouviremos também no filme Sylvia.
Paizinho
Já não serves, já não serves
Nunca mais, sapato preto,
No qual tenho vivido como
um pé
Durante trinta anos, pobre
e branca,
Mal me
atrevendo a respirar ou a dar um Atchim.
Paizinho, tinha de ser eu a
matar-te
Mas morreste antes de eu
ter tido tempo —
Pesado
como mármore, um saco cheio de Deus,
Estátua lívida com um dedo do
pé cinzento
Grande como uma foca de S.
Francisco
Com a cabeça no caprichoso
Atlântico
Onde o verde-feijão se
derrama sobre o azul
Nas águas da maravilhosa
Nauset.
Costumava rezar para te
recuperar.
Ach, du.
Na língua alemã, na vila
polaca
Reduzida a nada pelo
cilindro
Da guerra, da guerra, da
guerra.
Mas o nome da vila é
vulgar.
O meu amigo polaco
Diz-me que há uma dúzia ou
duas.
E por
isso nunca lhe soube dizer onde é que tu
Puseste o teu pé, onde as
tuas raízes,
Nunca pude falar-te.
A língua prendia-se no
maxilar.
[...]
Se já
matei um homem também posso matar dois —
O vampiro que disse que
eras tu
E que bebeu o meu sangue
durante um ano,
Sete anos, se queres saber.
Paizinho, agora podes
voltar a deitar-te.
Tens uma
estaca nesse teu gordo coração negro
A gente da aldeia nunca
gostou de ti.
Dança e bate o pé em cima
de ti.
Sempre souberam que foste tu.
Paizinho, paizinho, meu
sacana, acabou-se.
Contrasta
a perspetiva, sobre pai e mãe, do poema de Plath e do texto de Eugénio de Andrade
(na p. 203; não deixes de atentar na explicação em «Antes de ler»).
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TPC — Lê a ficha corrigida sobre ‘Étimo,palavras convergentes e divergentes’, que porei em Gaveta de Nuvens.
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