Tuesday, September 07, 2021

Aula 105-106

Aula 105-106 (11/mar [1.ª, 3.ª]) Correção do trabalho devolvido (feito na aula anterior: redação com narração, em alternância, de «vidas em português»).

Iremos hoje ler poemas de Eugénio de Andrade, talvez um poeta mais virado para si próprio e para o amor do que Miguel Torga e Ana Luísa Amaral.

Depois de leres «Adeus», p. 201, mostra como o poema se pode esquematizar em dois momentos, «antigamente» e «hoje». Comprova ainda que os valores das formas verbais, em termos de aspeto e de tempo, acompanham esses dois estados de alma do «eu» e do «tu» do texto. (Escreve a tinta.)

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O trecho do documentário que vamos ver — Eugénio de Andrade. O poeta — inclui uma declamação, pelo autor, de «As palavras interditas» (v. p. 205 do manual). Também ouviremos poemas à mãe (cfr. com o que temos na p. 203 e «Casa na chuva», p. 204»). {Aqui só consigo reproduzir os primeiros minutos do documentário}

O último poema de Ariel, de Sylvia Plath, tem o título «Words». Copio a tradução de Maria Fernanda Borges (Lisboa, Relógio d’Água, 1996):

Palavras

 

Machados,

Após cada pancada sua a madeira range,

E os ecos!

São ecos que viajam

Do centro para fora como cavalos.

 

A seiva

Brota como lágrimas, como a

Água a esforçar-se

Por recompor o seu espelho

Sobre a rocha

 

Que pinga e se transforma,

Uma caveira branca

Comida pelas ervas daninhas.

Anos mais tarde

Encontro-as no caminho —

 

Palavras secas e indomáveis,

Infatigável som de cascos no chão.

Enquanto

Do fundo do charco estrelas fixas

Governam uma vida.

Embora o tópico seja semelhante — «palavras interditas» (Andrade) vs. «palavras» (Plath) —, o foco último de cada um dos poemas talvez não seja o mesmo:

[Copiámos esta solução:] embora o contexto exterior pareça dececionar o sujeito lírico de «As palavras interditas» e remeta, talvez, para situações de guerra ou de falta de liberdade («um horizonte de cidades bombardeadas», «hospitais», «[navios] sem nenhum destino», «este ar que se respira»), percebe-se que — e apesar de dificuldades postas à comunicação («As palavras que te envio são interditas») — subsiste um espaço íntimo a que o «eu» se acolhe («Amo-te...»); entretanto, a preocupação no poema de Sylvia Plath tem mais que ver com as próprias palavras, que já não são vistas apenas como utensílios da comunicação mas como elementos atuantes, governando vidas («ecos que viajam», «Anos mais tarde / Encontro-as no caminho»).

Classifica quanto à função sintática o que está sublinhado. (Quando os constituintes sublinhados são também uma oração, dou a sua classificação entre parênteses.)

Sei lá

(Bárbara Tinoco)

Eu sei lá em que dia da semana vamos.

Sei lá qual é a estação do ano. | __________ (subordinada substantiva relativa)

Sei lá — talvez nem sequer queira saber —, | __________ (sub. subst. completiva infinitiva)

Eu sei lá porque dizem que estou louca. | __________ (sub. substantiva completiva)

Sei lá... Já não sou quem fui, sou outra. | __________ (sub. substantiva relativa)

Sei lá... Pergunta-me amanhã,

Talvez eu saiba responder. | __________ (sub. subst. completiva infinitiva)

 

E eu juro, eu prometo e eu faço, e eu rezo,

Mas, no fim, o que sobra de mim? | __________

E tu dizes coisas belas, histórias de telenovelas,

Mas, no fim, tiras mais um pouco de mim.

Então, força, leva mais um bocado,

Que eu não vou a nenhum lado, | ___________

Leva todo o bom que há em mim,

Que eu não fujo, eu prometo, eu perdoo e eu esqueço,

Mas, no fim, o que sobra de mim?

 

Mas tu sabes lá as guerras que eu tenho! | ___________

Tu sabes lá das canções que eu componho!

Tu sabes lá — talvez nem sequer queiras saber —,

Mas tu sabes lá da maneira que eu te amo! | __________

Tu sabes lá... Digo a todos que é engano. | _________

Tu sabes lá... Pergunto-te amanhã, | ____________

Mas não vais saber responder.

 

E eu juro, eu prometo e eu faço, e eu rezo,

Mas, no fim, o que sobra de mim?

E tu dizes coisas belas, histórias de telenovelas,

Mas, no fim, tiras mais um pouco de mim.

Então, força, leva mais um bocado,

Que eu não vou a nenhum lado.

Leva todo o bom que há em mim, | ____________ (sub. adj. rel. restrit.)

Que eu não fujo, eu prometo, eu perdoo e eu esqueço,

Mas, no fim, o que sobra de mim? | ___________

Sim, eu juro...

Sim, eu juro...

TPC — Aproveita para ler os textos ensaísticos e as sínteses (estas estão nas pp. 194, 207, 225) no manual acerca dos três poetas que temos vindo a analisar (Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Ana Luísa Amaral).

 

 

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