Aula 105-106
Aula 105-106 (11/mar [1.ª, 3.ª]) Correção do trabalho
devolvido (feito na aula anterior: redação com narração, em alternância, de
«vidas em português»).
Iremos hoje ler poemas de Eugénio
de Andrade, talvez um poeta mais virado para si próprio e para o
amor do que Miguel Torga e Ana Luísa Amaral.
Depois de leres «Adeus», p. 201, mostra como o poema se pode esquematizar em dois
momentos, «antigamente» e «hoje». Comprova ainda que os valores das formas
verbais, em termos de aspeto e de tempo, acompanham esses dois estados de alma
do «eu» e do «tu» do texto. (Escreve a tinta.)
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O trecho do documentário que vamos ver — Eugénio de Andrade. O poeta — inclui uma
declamação, pelo autor, de «As palavras
interditas» (v. p. 205 do manual).
Também ouviremos poemas à mãe (cfr. com o que temos na p. 203 e «Casa
na chuva», p. 204»). {Aqui só consigo reproduzir os primeiros minutos do
documentário}
O último poema de Ariel, de Sylvia Plath, tem o título «Words».
Copio a tradução de Maria Fernanda Borges (Lisboa, Relógio d’Água, 1996):
Palavras
Machados,
Após cada pancada sua a
madeira range,
E os ecos!
São ecos que viajam
Do centro para fora como
cavalos.
A seiva
Brota como lágrimas, como a
Água a esforçar-se
Por recompor o seu espelho
Sobre a rocha
Que pinga e se transforma,
Uma caveira branca
Comida pelas ervas
daninhas.
Anos mais tarde
Encontro-as no caminho —
Palavras secas e
indomáveis,
Infatigável som de cascos no
chão.
Enquanto
Do fundo do charco estrelas
fixas
Governam uma vida.
Embora o tópico seja semelhante
— «palavras interditas» (Andrade) vs.
«palavras» (Plath) —, o foco último de cada um dos poemas talvez não seja o
mesmo:
[Copiámos esta solução:] embora o
contexto exterior pareça dececionar o sujeito lírico de «As palavras
interditas» e remeta, talvez, para situações de guerra ou de falta de liberdade
(«um horizonte de cidades bombardeadas», «hospitais», «[navios] sem nenhum
destino», «este ar que se respira»), percebe-se que — e apesar de dificuldades
postas à comunicação («As palavras que te envio são interditas») — subsiste um
espaço íntimo a que o «eu» se acolhe («Amo-te...»); entretanto, a preocupação
no poema de Sylvia Plath tem mais que ver com as próprias palavras, que já não
são vistas apenas como utensílios da comunicação mas como elementos atuantes,
governando vidas («ecos que viajam», «Anos mais tarde / Encontro-as no
caminho»).
Classifica quanto à função sintática o que
está sublinhado. (Quando os constituintes sublinhados são também uma oração,
dou a sua classificação entre parênteses.)
Sei lá
(Bárbara Tinoco)
Eu sei lá em que dia da semana vamos.
Sei lá qual é a estação do ano. | __________
(subordinada substantiva relativa)
Sei lá — talvez nem sequer queira saber
—, | __________ (sub. subst. completiva
infinitiva)
Eu sei lá porque dizem que estou louca.
| __________ (sub. substantiva completiva)
Sei lá... Já não sou quem fui, sou
outra. | __________ (sub. substantiva relativa)
Sei lá... Pergunta-me amanhã,
Talvez eu saiba responder. | __________
(sub. subst. completiva infinitiva)
E eu juro, eu prometo e eu faço, e eu rezo,
Mas, no fim, o que sobra de mim? |
__________
E tu dizes coisas belas, histórias de
telenovelas,
Mas, no fim, tiras mais um pouco de mim.
Então, força, leva mais um bocado,
Que eu não vou a nenhum lado, | ___________
Leva todo o bom que há em mim,
Que eu não fujo, eu
prometo, eu perdoo e eu esqueço,
Mas, no fim, o que sobra de mim?
Mas tu sabes lá as guerras que eu
tenho! | ___________
Tu sabes lá das canções que eu componho!
Tu sabes lá — talvez
nem sequer queiras saber —,
Mas tu sabes lá da maneira que eu te
amo! | __________
Tu sabes lá... Digo a todos que é
engano. | _________
Tu sabes lá... Pergunto-te amanhã,
| ____________
Mas não vais saber responder.
E eu juro, eu prometo e eu faço, e eu rezo,
Mas, no fim, o que sobra de mim?
E tu dizes coisas belas, histórias de
telenovelas,
Mas, no fim, tiras mais um pouco de mim.
Então, força, leva mais um bocado,
Que eu não vou a nenhum lado.
Leva todo o bom que há em mim, | ____________
(sub. adj. rel. restrit.)
Que eu não fujo, eu
prometo, eu perdoo e eu esqueço,
Mas, no fim, o que sobra de mim? |
___________
Sim, eu juro...
Sim, eu juro...
TPC — Aproveita para ler os textos ensaísticos
e as sínteses (estas estão nas pp. 194, 207, 225) no manual acerca dos três poetas
que temos vindo a analisar (Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Ana Luísa
Amaral).
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