Friday, August 28, 2020

Aula 107-108

Aula 107-108 (5 [1.ª], 6 [5.ª, 2.ª, 3.ª], 7/mai [4.ª]) Lê «A uma transeunte» (p. 330), poema de Baudelaire que procuraremos comparar com «A débil» (p. 328), de Cesário Verde. Lê primeiro a tradução no manual, mas lê também a tradução de Maria Gabriela Llansol, que ponho a seguir. Qual preferes?

Depois, dá uma vista de olhos ao original francês, que é útil para percebermos o esquema rimático.

Tradução por Maria Gabriela Llansol (Charles Baudelaire, As Flores do Mal, Lisboa, Relógio D’Água, 2003, pp. 213 e 215):

A uma transeunte

A rua ensurdecedora em meu redor berrava

Alta, esguia, de luto carregado, dor majestosa,

Uma mulher passou, com sua mão faustosa

Erguendo, baloiçando o ramo e a bainha

 

Ágil e nobre, com sua perna de estátua.

Eu bebia, crispado como extravagante,

No seu olhar, céu lívido onde nasce o furacão,

A doçura que fascina e o prazer que mata.

 

Um raio... em seguida, a noite! — Beleza fugitiva

Cujo olhar me fez repentinamente renascer,

Só voltarei a ver-te na eternidade?

 

Algures, bem longe daqui! Demasiado tarde! Nunca talvez!

Eu não sei para onde fugiste, tu não sabes para onde vou,

Tu que eu teria amado, tu que sabias que sim!

Versão original:

A une passante

La rue assourdissante autour de moi hurlait.

Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,

Une femme passa, d’une main fastueuse

Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;

 

Agile et noble, avec sa jambe de statue.

Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,

Dans son œil, ciel livide où germe l’ouragan,

La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

 

Un éclair... puis la nuit! — Fugitive beauté

Dont le regard m’a fait soudainement renaître,

Ne te verrai-je plus que dans l’éternité?

 

Ailleurs, bien loin d’ici! trop tard! jamais peut-être!

Car j’ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,

O toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais!

Preenche as lacunas na tabela.

AUTOR

Cesário Verde (1855-1886)

Charles Baudelaire (1821-1867)

naturalidade: Lisboa (Portugal)

naturalidade: Paris (_____)

TEXTO

«A débil»

«A uma transeunte» (fr.: «A une passante»)

publicado no periódico A Evolução, em 1876

publicado na revista L’Artiste, em 1855

coligido em O Livro de Cesário Verde (1901)

coligido em Les Fleurs du Mal, 2.ª ed. (1861)

FORMA

treze _____

um soneto (= duas quadras e dois _____)

________

dodecassílabos

a-b-b-a || ____ || e-f-f-e || g-h-h-g || etc.

a-b-b-a || ____ || e-f-e || f-g-g

O SUJEITO LÍRICO

observador e _____ (talvez apaixonado)

_____ e apaixonado

admira a mulher, ______ com ela («Mas se a atropela o povo turbulento / Se fosse por acaso ali pisada!», vv. 41-42)

admira a mulher, ______ por ela («Um raio...», v. 9; «Tu que eu teria amado», v. 14)

vê na mulher que passa a esperança de uma transformação regeneradora («sinto / que me tornas prestante, bom, ____», vv. 11-12)

vê na mulher que passa a esperança de um amor regenerador («cujo olhar me fez ____», v. 10)

no final, quer «dedicar[-lhe] a [sua] pobre vida» (v. 50) e revela-se já transformado («sou hábil, _____, viril», v. 52)

no final, revela-se resignado por a ter perdido («e depois noite!», v. 9; «Só te verei de novo na ______?», v. 11; «Noutro lugar, bem longe! é tarde! talvez nunca!», v. 12)

A MULHER

é o «tu» do poema («_____», v. 2; passim)

é o ____ do poema («Só te verei», v. 11; «sabes», «ias», v. 13; «Tu», «tu», «sabias», v. 14)

é ______; mas frágil («A débil»), discreta («recatada», «honesta», «recolhida»), «simples», inocente (cfr. «A tua boa mãe»), bondosa («socorreste um miserável»)

é bela; «majestosa» (v. 2), com mãos «_______» (v. 3), «nobre e ágil», talvez extrovertida («Erguia e agitava a orla do vestido», v. 4)

O ESPAÇO

rua citadina, ruidosa, movimentada, cheia de _____

rua decerto citadina, ______ («A rua ia gritando e eu ensurdecia», v. 1)

Vamos rever as orações (no manual, este assunto está entre as pp. 381 e 385).

Quanto às coordenadas, distinguimos as assindéticas (sem conjunção, ou seja, ligadas por vírgulas) e as sindéticas, que são classificadas em função da conjunção coordenativa que as introduza: copulativa, adversativa, disjuntiva, explicativa, conclusiva. Ainda as teremos de estudar melhor, mas devem ir tendo em memória as referidas conjunções (cfr. p. 371, mas há listas melhores).

Na subordinação, distinguimos subordinantes e subordinadas. Consoante o tipo de função sintática que desempenham (à sua subordinante), as subordinadas agrupam-se em substantivas, adjetivas, adverbiais.

Nas orações subordinadas adverbiais (cfr. p. 385) temos a causal, a temporal, a final (que funcionam como modificadores do grupo verbal), a condicional, a concessiva* (que são modificadores de frase), a comparativa, a consecutiva.

[ * No quadro na p. 385, o exemplo da concessiva está incorreto.]

Vamos sobrevoar agora as adjetivas e as substantivas (cfr. p. 384).

As orações subordinadas adjetivas desempenham funções sintáticas típicas de adjetivos e são orações relativas, por serem introduzidas por palavras relativas (pronomes relativos, sobretudo — «que», «onde», «cujo», ...). Estas orações podem ter valor restritivo (e desempenharão a função de modificador restritivo do nome) ou explicativo (e corresponderão a um modificador apositivo do nome).

Exemplos (marquei a negro o pronome relativo):

                          modificador restritivo

Ela tem um gato dócil

                          de olhos azuis

Ela tem um gato que mia angustiadamente

 subordinante    subordinada adjetiva relativa restritiva

 

                                  modificador apositivo

O gato da Heliodora,  um pastor alemão,  fala francês.

 

O gato da Heliodora,  que é um pastor alemão,  fala francês.

        s u b o r d i            subordinada adjetiva relativa explicativa     n a n t e

{Classifica tu:}

O gato da Heliodora que é um pastor alemão fala francês.

______________________________

Classifica as orações nas linhas sob as frases — do início do episódio 6 da 2.ª temporada de O Programa do Aleixo. (Já classifiquei algumas das orações talvez mais complicadas.)

Só faço ‘Revista de imprensa’  /  quando não foste com o jornal para a casa de banho.

_______________ / ______________

Achas     /   que as regras dos jornais são as / que se aplicam ao Brick Game.

Subordinante /  Subordinada substantiva completiva  / Subordinada adjetiva relativa

                   (e Subordinante da seguinte)

Viseu ganha em Portugal / mas Lisboa ganha no mundo.

____________ / _____________

É um ranking só para as cidades / que estão sempre em obras.

_____________ / _____________

É um ranking para as cidades / onde é tudo mais longe e mais caro / do que é nas outras.

__________ / ___________ / Subordinada adverbial comparativa

É um ranking de cidades /   que   acham  /  que um pastel de nata e um pastel de Belém são coisas diferentes.

Subordinante            /Subordinada adjetiva relativa/           Subordinada substantiva completiva

Aqui diz   /  que foram analisadas duzentas e vinte e uma cidades de todo o mundo.

Subordinante /  Subordinada substantiva completiva

Busto, costumas ter tanto azar nos sorteios, / que te escolhemos já.

_____________ / ______________

As orações subordinadas substantivas exercem funções sintáticas típicas de grupos nominais. Podem ser completivas ou relativas (sem antecedente).

Em «Reunião de condóminos com o Drácula» há subordinadas substantivas completivas (são as que já sublinhei; ao lado, sem sublinha, a oração subordinante). Escreve a função sintática (sujeito, complemento direto, indireto, oblíquo, etc.) que cada uma destas completivas desempenha relativamente à sua subordinante.

Subordinante        Subordinada substantiva completiva

A porteira disse-me que o vizinho do sétimo andar tem um gato.

        função sintática: _____________

[nota que a oração é substituível pelo pronome «o»: ‘A porteira disse-mo’]

 

Todos sabemos que os animais não são permitidos neste prédio.

                              _____________________

 

Não quer que eu ponha o gatinho na rua...

                  _________________________

 

Perguntou-lhe se queria o gatinho na rua.

                         _____________________

É um escândalo que me falem em gritos.

                              __________________

                              [= Isso é um escândalo.]

As subordinadas substantivas completivas finitas são introduzidas pelas conjunções completivas que ou se.

Mas também há subordinadas substantivas completivas não finitas, com o verbo no infinitivo, e essas não precisam de conjunção:

Subordinante   Subordinada substantiva completiva não finita

Todos sabemos não serem os animais permitidos neste prédio.

Troca a completiva finita por uma completiva não finita:

É um escândalo que me falem em gritos.

                              __________________________________

Vejamos agora casos de subordinadas substantivas relativas. Escreve a função sintática desempenhada pela oração que sublinhei:

Subordinante | Subordinada substantiva relativa sem antecedente

         Sabes   onde há sangue fresquinho?

                      ___________________

Fugiam-lhe quantas velhas ou crianças acorrentasse à parede.

                     ____________________

Quem sobe pela escada fica com as cabeças dos cadáveres todas moídas.

__________________

Portanto, as subordinadas substantivas relativas são introduzidas por palavras relativas (pronomes relativos, advérbios relativos, quantificador relativo) que, ao contrário do que acontecia nas subordinadas adjetivas relativas, não se reportam a um antecedente (por isso estas orações se dizem «subordinadas substantivas relativas sem antecedente»).

As subordinadas substantivas relativas podem ser não finitas (infinitivas):

Subordinante |Subordinada substantiva relativa sem antecedente não finita

         Sabes   onde encontrar sangue fresquinho?

Substitui o trecho sublinhado por uma oração subordinada completiva:

  lhe  digo isto: «animais dentro de casa é nojento»!

Só lhe digo   _______________

Subordinante | Subordinada substantiva completiva (finita / não finita)

Atenta agora na frase seguinte, sabendo já que a subordinada não é substantiva e que a função que desempenha é antes típica de um adjetivo. Classifica a oração.

Subordinante| ________________

É um cheiro que se entranha nas rendas.

                   modificador restritivo do nome

Classifica as orações sublinhadas (a propósito de trecho de Último a sair).

Foi um momento chocante, teve a entrada do INEM, porque a situação estava complicada.

Vou fazer uma cena que ainda não mostrei a ninguém.

É um salto muito complicado, mas tens de o ver.

Quero que dês um mortal e que te partas todo.

Quero que dês um mortal e que te partas todo.

Se te partisses todo, deixavas-me em paz.

Vês o mortal ou não vês o mortal.

É um mortal que eu vi num filme.

A produção já contactou o 112 e o Inem está a chegar à casa.

Nuno Lopes perguntou se não o queriam no programa.

Não tenho trabalho até setembro, portanto faço aí umas macacadas.

Nuno Lopes entrará na casa, pois Bruno Nogueira partiu a perna.

Mal saia Bruno, entrará Nuno.

Como Sónia não lhe ligava, Bruno fez um mortal.

Para que voltes a falar comigo, é preciso o quê?

Bruno quer Sónia, embora esta pouco lhe ligue.

Nuno Lopes representa tão bem como canta Luciana Abreu.

Bruno Nogueira, que é também o argumentista, partiu a perna.

Saltou tão mal que partiu a perna.

Quem se porta mal na casa recebe más votações.

TPC — Lembro apenas o tepecê da aula passada, que lhes disse poderem entregar ao longo destas duas semanas.

 

 

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