Aula 107-108
Aula 107-108 (5 [1.ª], 6 [5.ª, 2.ª, 3.ª],
7/mai [4.ª]) Lê «A uma transeunte» (p. 330), poema de Baudelaire que procuraremos
comparar com «A débil» (p. 328), de Cesário
Verde. Lê primeiro a tradução no manual, mas lê também a tradução de Maria
Gabriela Llansol, que ponho a seguir. Qual preferes?
Depois, dá uma vista de
olhos ao original francês, que é útil para percebermos o esquema rimático.
Tradução por Maria Gabriela
Llansol (Charles Baudelaire, As Flores do
Mal, Lisboa, Relógio D’Água, 2003, pp. 213 e 215):
A uma transeunte
A rua ensurdecedora em meu redor berrava
Alta,
esguia, de luto carregado, dor majestosa,
Uma
mulher passou, com sua mão faustosa
Erguendo,
baloiçando o ramo e a bainha
Ágil
e nobre, com sua perna de estátua.
Eu
bebia, crispado como extravagante,
No
seu olhar, céu lívido onde nasce o furacão,
A
doçura que fascina e o prazer que mata.
Um
raio... em seguida, a noite! — Beleza fugitiva
Cujo
olhar me fez repentinamente renascer,
Só
voltarei a ver-te na eternidade?
Algures,
bem longe daqui! Demasiado tarde! Nunca talvez!
Eu
não sei para onde fugiste, tu não sabes para onde vou,
Tu
que eu teria amado, tu que sabias que sim!
Versão original:
A une passante
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d’une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;
Agile
et noble, avec sa jambe de statue.
Moi,
je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans
son œil, ciel livide où germe l’ouragan,
La
douceur qui fascine et le plaisir qui tue.
Un
éclair... puis la nuit! — Fugitive beauté
Dont le regard m’a fait soudainement renaître,
Ne
te verrai-je plus que dans l’éternité?
Ailleurs, bien loin d’ici! trop tard! jamais peut-être!
Car
j’ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
O
toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais!
Preenche as lacunas na
tabela.
AUTOR |
|
Cesário Verde (1855-1886) |
Charles Baudelaire (1821-1867) |
naturalidade: Lisboa (Portugal) |
naturalidade: Paris (_____) |
TEXTO |
|
«A débil» |
«A uma
transeunte»
(fr.: «A une passante») |
publicado no periódico A Evolução, em 1876 |
publicado na revista L’Artiste, em 1855 |
coligido em O
Livro de Cesário Verde (1901) |
coligido em Les
Fleurs du Mal, 2.ª ed. (1861) |
FORMA |
|
treze _____ |
um soneto (= duas quadras e dois _____) |
________ |
dodecassílabos |
a-b-b-a || ____ || e-f-f-e || g-h-h-g || etc. |
a-b-b-a || ____ || e-f-e || f-g-g |
O SUJEITO
LÍRICO |
|
observador e _____ (talvez
apaixonado) |
_____ e apaixonado |
admira a mulher, ______ com ela («Mas se a
atropela o povo turbulento / Se fosse por acaso ali pisada!», vv. 41-42) |
admira a mulher, ______ por ela («Um raio...»,
v. 9; «Tu que eu teria amado», v. 14) |
vê na mulher que passa a esperança de uma
transformação regeneradora («sinto / que me tornas prestante, bom, ____», vv.
11-12) |
vê na mulher que passa a esperança de um amor
regenerador («cujo olhar me fez ____», v. 10) |
no final, quer «dedicar[-lhe] a [sua] pobre
vida» (v. 50) e revela-se já transformado («sou hábil, _____, viril», v. 52) |
no final, revela-se resignado por a ter perdido
(«e depois noite!», v. 9; «Só te verei de novo na ______?», v. 11; «Noutro
lugar, bem longe! é tarde! talvez nunca!», v. 12) |
A
MULHER |
|
é o «tu» do poema («_____», v. 2; passim) |
é o ____ do poema («Só te verei», v. 11; «sabes»,
«ias», v. 13; «Tu», «tu», «sabias», v. 14) |
é ______; mas frágil («A débil»), discreta («recatada»,
«honesta», «recolhida»), «simples», inocente (cfr. «A tua boa mãe»), bondosa («socorreste um miserável») |
é bela; «majestosa» (v. 2), com mãos «_______»
(v. 3), «nobre e ágil», talvez extrovertida («Erguia e agitava a orla do vestido»,
v. 4) |
O
ESPAÇO |
|
rua citadina, ruidosa, movimentada, cheia de _____
|
rua decerto citadina, ______ («A rua ia gritando
e eu ensurdecia», v. 1) |
Vamos rever
as orações
(no manual, este assunto está entre as pp. 381 e 385).
Quanto às coordenadas,
distinguimos as assindéticas (sem
conjunção, ou seja, ligadas por vírgulas) e as sindéticas, que são classificadas em função da conjunção coordenativa que as introduza: copulativa, adversativa,
disjuntiva, explicativa, conclusiva.
Ainda as teremos de estudar melhor, mas devem ir tendo em memória as referidas
conjunções (cfr. p. 371, mas há listas melhores).
Na subordinação,
distinguimos subordinantes e subordinadas. Consoante o tipo de
função sintática que desempenham (à sua subordinante), as subordinadas
agrupam-se em substantivas, adjetivas, adverbiais.
Nas orações subordinadas
adverbiais (cfr. p. 385) temos a causal, a temporal, a final (que funcionam como modificadores
do grupo verbal), a condicional, a concessiva* (que são modificadores de frase), a comparativa, a consecutiva.
[ * No quadro na p. 385, o exemplo da
concessiva está incorreto.]
Vamos sobrevoar agora as adjetivas
e as substantivas
(cfr. p. 384).
As orações subordinadas adjetivas
desempenham funções sintáticas típicas de adjetivos e são orações relativas, por serem introduzidas por palavras relativas (pronomes relativos,
sobretudo — «que», «onde», «cujo», ...). Estas orações podem ter valor restritivo (e desempenharão a função de
modificador restritivo do nome) ou explicativo (e corresponderão a um modificador apositivo do nome).
Exemplos (marquei a negro o pronome
relativo):
modificador restritivo
Ela
tem um gato dócil
de olhos azuis
Ela tem um gato que mia angustiadamente
subordinante subordinada
adjetiva relativa restritiva
modificador apositivo
O
gato da Heliodora, um pastor alemão, fala francês.
O
gato da Heliodora, que é um
pastor alemão, fala francês.
s u b o r d i subordinada adjetiva relativa explicativa n a n t e
{Classifica tu:}
O gato da Heliodora que é um
pastor alemão fala francês.
______________________________
Classifica
as orações nas linhas sob as frases — do início do episódio 6 da 2.ª temporada de O Programa do Aleixo. (Já classifiquei algumas
das orações talvez mais complicadas.)
Só
faço ‘Revista de imprensa’ / quando não foste com o jornal para a casa de
banho.
_______________ /
______________
Achas / que as regras dos jornais são as / que se
aplicam ao Brick Game.
Subordinante
/ Subordinada
substantiva completiva / Subordinada adjetiva relativa
(e Subordinante
da seguinte)
Viseu
ganha em Portugal / mas Lisboa ganha no mundo.
____________ / _____________
É
um ranking só para as cidades / que estão sempre em obras.
_____________ / _____________
É
um ranking para as cidades / onde é tudo mais longe e mais caro / do que é nas
outras.
__________ / ___________ / Subordinada
adverbial comparativa
É um ranking de cidades / que
acham / que um pastel de nata e um pastel de Belém
são coisas diferentes.
Subordinante /Subordinada
adjetiva relativa/ Subordinada substantiva completiva
Aqui
diz / que
foram analisadas duzentas e vinte e uma cidades de todo o mundo.
Subordinante / Subordinada
substantiva completiva
Busto, costumas ter tanto
azar nos sorteios, / que te escolhemos já.
_____________ / ______________
As orações
subordinadas substantivas exercem funções sintáticas típicas de
grupos nominais. Podem ser completivas ou relativas (sem antecedente).
Em «Reunião de condóminos
com o Drácula» há subordinadas
substantivas completivas (são as que já sublinhei; ao lado, sem sublinha,
a oração subordinante). Escreve a função sintática (sujeito, complemento direto,
indireto, oblíquo, etc.) que cada uma destas completivas desempenha
relativamente à sua subordinante.
Subordinante Subordinada substantiva completiva
A porteira disse-me que o vizinho do sétimo
andar tem um gato.
função
sintática: _____________
[nota que a
oração é substituível pelo pronome «o»: ‘A porteira disse-mo’]
Todos sabemos que os animais não são permitidos
neste prédio.
_____________________
Não quer que eu ponha o gatinho na rua...
_________________________
Perguntou-lhe se queria o gatinho na rua.
_____________________
É um escândalo que me falem em gritos.
__________________
[=
Isso é um escândalo.]
As subordinadas
substantivas completivas finitas são introduzidas pelas conjunções completivas que ou se.
Mas também há subordinadas
substantivas completivas não finitas, com o verbo no
infinitivo, e essas não precisam de conjunção:
Subordinante Subordinada
substantiva completiva não finita
Todos sabemos não serem os animais permitidos neste
prédio.
Troca a completiva finita
por uma completiva não finita:
É um escândalo que me
falem em gritos.
__________________________________
Vejamos agora
casos de subordinadas substantivas
relativas. Escreve a função sintática desempenhada pela oração que
sublinhei:
Subordinante | Subordinada
substantiva relativa sem antecedente
Sabes onde há sangue fresquinho?
___________________
Fugiam-lhe quantas
velhas ou crianças acorrentasse à parede.
____________________
Quem sobe pela escada fica com as cabeças dos
cadáveres todas moídas.
__________________
Portanto, as subordinadas
substantivas relativas são introduzidas por palavras relativas (pronomes relativos, advérbios relativos, quantificador
relativo) que, ao contrário do que acontecia nas subordinadas adjetivas
relativas, não se reportam a um antecedente (por isso estas orações se dizem «subordinadas
substantivas relativas sem antecedente»).
As subordinadas
substantivas relativas podem ser não finitas (infinitivas):
Subordinante |Subordinada
substantiva relativa sem antecedente não finita
Sabes onde encontrar sangue fresquinho?
Substitui o trecho
sublinhado por uma oração subordinada completiva:
Só lhe
digo isto: «animais dentro de casa é nojento»!
Só lhe digo
_______________
Subordinante | Subordinada substantiva
completiva (finita / não finita)
Atenta agora na frase seguinte, sabendo já
que a subordinada não é substantiva
e que a função que desempenha é antes típica de um adjetivo. Classifica a
oração.
Subordinante| ________________
É um cheiro que se entranha nas rendas.
modificador restritivo do nome
Classifica
as orações
sublinhadas (a propósito de trecho de Último
a sair).
Foi
um momento chocante, teve a entrada do INEM, porque a situação estava complicada.
Vou fazer uma cena que
ainda não mostrei a ninguém.
É um salto muito
complicado, mas tens de o ver.
Quero que dês um
mortal e que te partas todo.
Quero
que dês um mortal e que te partas todo.
Se te partisses todo,
deixavas-me em paz.
Vês o mortal ou
não vês o mortal.
É um mortal que
eu vi num filme.
A produção já
contactou o 112 e o Inem está a chegar à casa.
Nuno Lopes perguntou
se não o queriam no programa.
Não tenho trabalho
até setembro, portanto faço aí umas macacadas.
Nuno Lopes entrará
na casa, pois Bruno Nogueira partiu a perna.
Mal saia Bruno,
entrará Nuno.
Como Sónia não lhe ligava,
Bruno fez um mortal.
Para que voltes a
falar comigo, é preciso o quê?
Bruno quer Sónia, embora
esta pouco lhe ligue.
Nuno Lopes representa
tão bem como canta Luciana Abreu.
Bruno Nogueira, que
é também o argumentista, partiu a perna.
Saltou tão mal que
partiu a perna.
Quem se porta mal na
casa recebe más votações.
TPC
— Lembro apenas o tepecê da aula passada, que lhes disse poderem entregar ao
longo destas duas semanas.
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