Os Maias 18
João Pedro
& Sebastião
(11.º 2.ª)
Sebastião & João
Pedro (Muito Bom/Muito
Bom (-)) Pontos fortes Sentido narrativo
como exige o cinema (ação é dada em poucos takes, escolhidos cirurgicamente). História, bem criada, consegue associar o que sabemos no cap. XVIII com dados inventados
mas relativamente verosímeis; e a intriga é conduzida de modo a permitir a
contemplar uma vertente de roteiro; final, com saída em elétrico, alude ao
americano com que fecha o livro. Muito boa representação. Muito bom acabamento
técnico. Aspetos melhoráveis «*Não
tenho-a aqui» (seria «Não a tenho aqui», porque a negação implica que o pronome
tem de ficar em próclise; mas podemos dizer que na vida real, na oralidade,
fazemos estes erros). A «Rosières», na carta, falta o «s»; a pronúncia de termos
franceses nem sempre é perfeita; nos créditos, «prazer» tem gralha.
Ivânia (11.º 9.ª)
Ivânia (Bom (+)) Pontos fortes Redação muito boa, ainda
que com, aqui e ali, alguns lugares comuns (a preocupação de tudo adjetivar...).
Leitura em voz alta também muito bem em termos «sintáticos», mas nem sempre de «fonética»
tão clara quanto a Ivânia conseguiria fazer (nem tanto por velocidade, mas mais
pela nossa maneira lisboeta de falar, comem-se sons, certas sílabas são ditas com
pouca nitidez). Há eficiência na simplicidade da solução adotada (imagens de
Lisboa, texto de Carlos, música de fundo triste, tudo agregado de modo que
revela domínio técnico), que, no entanto, me parece iludir as características
do capítulo XVIII, o qual não trata propriamente da desilusão amorosa, antes da
frustração duma vida, aliás de uma geração (a própria Lisboa que vemos nas
imagens, a Lisboa turística desta nossa última década, não conota o discurso de
reconhecimento da decadência predominante no final do livro). Imagem com que o filme
fecha muito bem escolhida. Aspetos
melhoráveis Certo desaproveitamento da índole do final de Os Maias (que aflorei em cima). A
corrigir: «*sob a rua de São Francisco paira uma nuvem» (seria: «sobre a rua de São
Francisco paira uma nuvem»).
Eduardo,
Francisco & Miguel (11.º 3.ª)
Miguel, Eduardo,
Francisco (Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Filme criado é, por um
lado, uma exata metáfora do cap. 18 de Os
Maias (os amigos regressam a um espaço que conheceram, aproveitam para
recordar o seu passado, vão subindo Lisboa ou a ESJGF, notando que tudo continua
afinal igual); por outro lado, o trabalho tem também bastante de antítese face
ao final do livro de Eça, já que, se nas últimas páginas de Os Maias havia frustração, a perceção de
que tudo falhara, pessimismo e ressentimento relativamente a um país, no filme
de agora (aliás, de daqui a anos...), temos nostalgia, saudade, recordação de
tempos passados que são olhados com simpatia, mesmo que com ironia também. Este
trabalho fecha muito bem o conjunto de trabalhos sobre Os Maias, porque é generoso, é um testemunho de amigos feito com
amizade pela escola que frequentaram (e «escola» agrega, é claro, muita gente).
Aspetos melhoráveis Som do minuto e
meio final, por causa do vento, creio (no resto, revelam muito saber técnico).
Representação (a de Eduardo é tão má que até faz que Francisco e Miguel pareçam
atores razoáveis) — problema, porém, é outro: é que o texto está excessivamente
bem escrito, de um modo que não é representável (as falas são de um português
que não é o português falado, logo tornam a dramatização dificílima; teriam de ter
escrito «pior», imitando mais o verdadeiro português oral). No final, podiam
ter aproveitado o «Ainda o apanhamos!» (não em demanda do «americano» do livro,
mas, por exemplo, de um tuc-tuc, o da promoção do Auchan em frente ao Califa em
que alguns de vocês ainda se transportaram).
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