Thursday, August 23, 2018

Os Maias 16


Beatriz Pinto & Leonor (11.º 5.ª)
Leonor & Beatriz P. (Muito Bom (-) ou mesmo quase Muito Bom) Pontos fortes Capacidade (e, decerto, muito trabalho) para replicar o estilo cinematográfico (aliás, neste caso, televisivo). Conseguiu-se essa excelente imitação através do ritmo narrativo, muito veloz, que resulta da sucessão de pequenas cenas, em cenários diferentes, separadas por depoimentos de comentário ao que se está a relatar (típicos das séries congéneres), tudo montado proficientemente (legendas, grafismo, ambiente sonoro). Além disso, houve igualmente que fazer a «translação» da intriga do século XIX para o contexto do nosso tempo (atualização da linguagem; referências a novos objetos e locais). A própria distribuição de vários papéis por duas atrizes apenas contribui para essa sensação de diversidade e rapidez inerentes à televisão do século XXI. Para que fosse esta a aparência final, teve de haver boa escrita do guião, planificação das filmagens, ensaios de representação, saber técnico. Aspetos melhoráveis Por vezes, texto está tão bem decorado (ou bem lido), que sai demasiado seguido, sem as pausas que fazemos na vida real (como se a expressividade se tornasse automática). A corrigir: «*iria-lhe partir o coração» (ir-lhe-ia); «Como é que é suposto eu contar tal coisa a Carlos?» seria mais «Sendo suposto [necessário] que o faça, como é que vou contar isto ao Carlos?»; «Maria Eduarda Maia» é preferível a «Maria Eduarda da Maia» (a primeira forma é a que surge sempre no livro, salvo erro); nas referências finais, falta uma letra em «Leonor».

Marianas (11.º 9.ª)
Marianas (Bom+/Muito Bom-  ou mesmo quase Muito Bom-)) Pontos fortes O trailer/filme de promoção de série é um género que implica seleção das informações mais chamativas, criatividade na forma de apresentar os destaques, ritmo na construção dessa espécie de narrativa concentrada (que incluirá também momentos de aparente apaziguamento, sabiamente intercalados na euforia maioritária). Quanto a estas exigências, as autoras estiveram muito bem, o que inclui o plano textual, a locução, a representação, a originalidade das abordagens (como costuma suceder nos trailers, há mini-narrativas que, encadeadas, dão ideia da história que se pretende publicitar, e as Marianas souberam idealizar muito bem esses segmentos, tratando de que transpusessem para a nossa época, sempre com ironia, o enredo de Os Maias). É claro que, por outro lado, este subgénero (trailer, pequeno documentário de promoção), enquanto recurso decisivo da indústria do cinema e da televisão, nos foi habituando a uma sofisticação enorme (efeitos visuais e de som rebuscados, montagem muito pensada e cortada quase segundo a segundo), difícil de replicar por quem não tem os meios e o saber técnico dos profissionais do cinema/publicidade (mostraram, mesmo assim, ter boa intuição de como se faz a pós-produção de um filme destes; diferença mais notória será a do fundo musical). Aspetos melhoráveis A corrigir: «mal-entendidos» (julgo que se ouve «*maus entendidos»; ora, o singular é «mal-entendido», o advérbio «mal» não pode ser flexionado, logo...); «fazer uma questão» (preferível: «pôr uma questão»; «fazer uma pergunta»).

Ângelo & Pedro P. (11.º 2.ª)

Pedro P. & Ângelo (Bom-) Pontos fortes Naturalidade da transposição para o nosso tempo dos diálogos Guimarães-Vilaça e Ega-Vilaça (linguagem verosímil, representação convincente, se bem que Ângelo, a certa altura, esteja quase a rir). Capacidade técnica, bom acabamento do filme. Adereços (cuidado havido em escolher instrumentos de escrita, suporte, faca, cofre, que, com efeito, poderiam ser os da época e de Os Maias). Aspetos melhoráveis Tendo em conta que se trata de trabalho por dois autores, esperar-se-ia mais tempo de discurso oral (tempo total foi de 3.47, o que já era pouco para dois elementos, mas até aos 2.15 não há falas...). No original, foi com Ega que o Guimarães falou e a quem entregou o cofre; e é Ega que procura Vilaça aquando da sua hesitação em contar tudo a Carlos (admito que a troca fosse propositada, porém, e que tivessem noção do que está no livro). Nas legendas dos créditos, til de «João» ficou na primeira sílaba.

Francisca (11.º 4.ª)

Francisca (Bom+/Muito Bom- ou quase Muito Bom-) Pontos fortes Foco nos dilemas de Ega permite concentrar num discurso único uma série de alusões ao capítulo, e à obra, intercalando trechos de ironia original (assentes na boa escrita da autora). Muito boa representação (salvo erro, facilitada pela fragmentação do monólogo em vários pequenos «takes», depois eficientemente justapostos). Estilização gráfica (quer a relativa ao tratamento da imagem na pós-produção do filme, quer logo na caracterização de personagem e nos adereços — fui confirmar que as máquinas de escrever surgem ainda no quartel final de século XIX, ainda que, é claro, tivessem aparência diferente da que vemos no vídeo). Bom gosto e boa técnica. Aspetos melhoráveis Texto acaba por não se afastar muito do do original, exceto nos inteligentes comentários irónicos/disparatados. A corrigir: «É um estimado amigo» (preferível: «é um amigo estimado»).

Adriana (11.º 9.ª)

Adriana ([É difícil definir uma classificação, porque o tempo mínimo não foi atingido; mas o trabalho revela boas capacidades]) Pontos fortes Transposição para o nosso tempo dos acontecimentos no livro relativos a este capítulo feita com inteligência (sarau no Teatro da Trindade-noite na discoteca «Mil Amores»; cofre-pen; etc.). Introdução, não sendo necessária, acaba por ser útil e foi bem escrita e bem lida. Representação de Adriana (nem tanto a da colega que colaborou). Bom domínio técnico. Aspetos melhoráveis Não se ter atingido tempo mínimo. Há oscilação das formas de tratamento: ora na 2.ª pessoa («tu») ora na terceira.

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