Saturday, August 25, 2018

Cesário pelo 11.º 9.ª


Ivânia (Bom (+))
Vi no quadro “O Grito’’ (1893), de Edvard Munch, características presentes também na poesia de Cesário Verde. “O Grito” é uma série de quatro pinturas de Edvard Munch. A obra representa uma figura num momento de profunda angústia e desespero existencial. Apesar de não serem contemporâneos, e de não partilharem o mesmo movimento artístico (Cesário fez parte do impressionismo, enquanto Munch seguiu o expressionismo), ambos expressam através das suas obras uma profunda tristeza, desespero e angústia.
Desde cedo confrontado com a doença (a sua mãe morreu quando ele tinha cinco anos, a irmã mais velha faleceu aos quinze anos, a irmã mais nova sofria de doença mental, uma outra irmã morreu meses depois de casar; e o próprio estava constantemente doente), Edvard Munch deixou transparecer nas suas obras a fragilidade e a brevidade da vida. Também esta perspetiva sobre a doença e a morte é abordada por Cesário que, nos seus poemas, quis sempre passar a sensação de doença que o acompanhava desde 1877, e que o viria a matar em 1886. Esta sensação de doença é passada para o leitor através dos sintomas que iam ocorrendo e que, de certa maneira, eram ampliados pela cidade (“O céu parece baixo e de neblina, / o gás extravasado enjoa-me, perturba”— I, vv. 5-6). Já no quadro de Munch a sensação de doença pode ser passada através do azul, cor fria que representa a dor e a angústia, com que é pintada a figura principal do quadro.
A referência à cor é também muito importante em Cesário já que nos permite visualizar o contraste existente entre o campo, que transmite ao sujeito poético calma e felicidade e é retratado com uma paleta de cores alegres e vivas (“Foste colher, sem imposturas tolas, / A um granzoal azul de grão-de-bico / Um ramalhete rubro de papoulas’’ — “De tarde’’, vv. 6-8; “Os transparentes / Matizam uma casa apalaçada; / Pelos jardins estancam-se as nascentes, / E fere a vista, com brancuras quentes, / A larga rua macadamizada’’ — “Num Bairro Moderno’’, vv. 1-5); e a cidade, que provoca ao sujeito poético uma sensação de agonia e é retratada com uma paleta de tons escuros (“Nas nossas ruas, ao anoitecer, / Há tal soturnidade, há tal melancolia, / Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia / Despertam-me um desejo absurdo de sofrer’’, ‘’E os edifícios, com as chaminés, e a turba / Toldam-se duma cor monótona e londrina’’ — “O Sentimento dum Ocidental’’, I, vv. 1-4 e vv. 7-8).
No seu quadro, Munch retrata a sua própria experiência interior ao ser abandonado pelos seus dois companheiros que seguem, ao fundo, para o lado oposto. Este sentimento de solidão está também muito presente e é característico dos poemas de Cesário, onde o “eu” ao deambular pela cidade se encontra sempre sozinho, como podemos ver no poema “O Sentimento dum Ocidental’’ (“Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos, / Ou erro pelos cais a que se atracam botes’’— I, vv. 19-20), o que, possivelmente, terá contribuído para a sua visão tão negra da noite na cidade.
Ao retratarem as suas experiências e exprimirem as visões do que os rodeia, apresentando-se Cesário como um observador deambulante e Munch como o próprio sofredor, os dois artistas deparam-se com a realidade da sociedade em que vivem, onde a tristeza, a angústia, o medo, a dor e o sofrimento aprisionam as pessoas que não parecem conseguir escapar-lhes. Munch entorta a figura e quase tudo o que a rodeia como que a  reproduzir o grito dado, dando-nos uma ideia da força das ondas sonoras que o grito desencadiaria.Tudo que se abalou com o grito e com a cena presenciada está torto; o que não se abalou, as duas figuras ao fundo e a ponte, que não é um elemento natural como os outros elementos, continua reto. Cesário chega às conclusões da realidade em que vive na última estrofe de “O Sentimento dum Ocidental’’: “E,enorme, nesta massa irregular / De prédio sepulcrais, com dimensões de montes, / A dor humana busca os amplos horizontes, / E tem marés, de fel, como um sinistro mar!” (IV, vv. 41-44).

Mariana M. (Bom-/Suf+)

Este quadro de Amedeo Modigliani – «Nu assis sur un divan (La belle romaine)» (1917) traça uma figura com conteúdo erótico, tal como Cesário Verde, nos seus poemas, muitas vezes erotiza a figura feminina. É igualmente notável a modernidade e o à-vontade com a nudez do pintor ainda no início do século XX, poucos anos após a morte de Cesário, em 1886.
O poema «A Débil» aborda um dos temas mais comuns de Cesário Verde, a figura feminina. Porém, neste poema em particular a figura feminina retratada contrasta com a típica mulher provocante e deslumbrante. A mulher desse poema representa alguém que sobressai no meio citadino, não pela sua extravagância, mas pela sua pureza e simplicidade. «A ti, que és bela, frágil, assustada.», «Adorável! Tu, muito natural, / Seguias a pensar no teu bordado»; são versos representativos da delicadeza da que o poeta deseja como «Débil». O quadro retrata a modéstia e fragilidade da figura feminina, na medida em que esta se encontra seminua, apenas com um simples tecido que cai sobre as suas curvas do seu corpo. O poema sobre a dita Débil, apresenta numa fase inicial um importante contraste entre o sujeito poético e a figura feminina («Eu, que sou feio, sólido, leal, / A ti, que és bela, frágil, assustada»). Na pintura de Modigliani há, também um importante contraste entre um fundo definido por um vermelho quente e a mulher de pernas cruzadas sobre o divã. No poema «Cristalizações» a cor vermelha associada ao amor e à paixão já não pode ser confrontada com o poema, na medida em que este poema descreve um clima chuvoso e melancólico («Faz frio. Mas depois de uns dias de aguaceiros / Vibra uma imensa claridade crua»). No contexto deste mesmo poema surge uma mulher que é vista enquanto estímulo dos sentidos carnais, sensuais como impulso erótico. Mais uma vez está presente uma comparação, desta vez entre a mulher amada, que quebrou a monotonia da pobreza em contraste com o povo das diferentes regiões do país: ribatejanos, alentejanos e transmontanos («E aos outros eu admiro os dorsos, os costados/ Como lajões. Os bons trabalhadores! / Os filhos das lezírias, dos montados: / Os das planícies, altos, aprumados; / Os das montanhas, baixos, trepadores!»).
Cesário representa dois tipos de mulher nos seus escritos, como podemos observar no poema «A Débil» e em «Cristalizações»; no entanto, revela um grande interesse e desejo por ambas. O quadro de Modigliani relaciona-se mais com a simplicidade e inocência da figura feminina presente no poema «A Débil» pela forma como aí está exposta a nudez da rapariga, ficando implícita a ideia de delicadeza e fragilidade da mulher.

Pedro (Bom +)

O contraste de cores desta impressionante pintura — “Night Peace [Paz Noturna]” (2011) —, de Leonid Afremov, um artista contemporâneo, de nacionalidade israelita, nascido na Bielorrússia, em 1955, captou-me imediatamente a atenção. Além de ser uma pintura apelativa aos nossos olhos, também serve para mencionar variadas semelhanças ao estilo de escrita de Cesário Verde.
A cidade, cenário de muitos poemas de Cesário, é frequentemente caracterizada como depressiva, e a vida doentia, entediante, opressiva, vazia. O sujeito poético andante atravessa este lugar de miséria, exprimindo as suas emoções sobre ele e relatando acontecimentos que dão ao leitor um sentimento de melancolia. Em «O Sentimento dum Ocidental», o céu escuro de fim da tarde e da noite, amplifica esta sensação, juntamente com as personagens com que o «eu» se cruza, que mostram a miséria e a desigualdade vivida na capital portuguesa (a menção de um velho professor de Latim é um exemplo destas diferenças sociais e da pobreza: III, vv. 43-44).
No entanto, as cores reluzentes da pintura dão-nos uma impressão diferente, quando primeiro a olhamos, da da escrita de Cesário Verde. Inicialmente, até nos pode dar sensações vibrantes, felizes, contraditórias do «desejo absurdo de sofrer» (I, v. 4), exprimido pelo sujeito poético em «O Sentimento dum Ocidental»; mas, após uma inspeção do sentido desta pintura, podemos divisar o contraste entre a luz e a sombra, que nos transmite o mesmo sentimento de tristeza e sofrimento característico do poeta português. Esta luminosidade pode até ser apenas uma ilusão da realidade, escondendo a tristeza da cidade, presente somente em lugares obscuros, e não à primeira vista. A sombra projetada pela árvore e a figura (que me parece um homem) também podem ter características semelhantes à poesia de Cesário. Por um lado, há a luz, representando a ilusão da vida citadina «feliz»; por outro, há a sombra: a sombra da árvore representa a dura realidade de viver na cidade, mas é oculta pela luz, ou seja, a ideia da melhor qualidade da vida urbana. As roupas e o chapéu de chuva escuros do homem podem representar a tristeza da população, que tem de suportar o trabalho diário por mais cansativo que seja, vivendo na miséria ou tendo de recorrer à esmola ou ao roubo. A pequena dimensão do homem em comparação com a rua e edifícios pode também fazer referência à insignificância do ser humano citadino, que, simplesmente, tenta sobreviver e não tem oportunidade para desfrutar da sua vida.
Acrescente-se que é possível fazer a comparação entre o sujeito poético solitário e caminhante de Cesário Verde e a figura presente na pintura. Embora não saibamos o que esta figura sente ou pensa, dado o seu escuro vestuário, é possível que esses pensamentos sejam semelhantes ao vazio sentido pelo «eu» do poeta lusitano.
Leonid Afremov, com esta pintura, aproxima-se assim, a meu ver, da caracterização da cidade de Cesário. Ambos dão um ar melancólico às suas obras, provocando sentimentos depressivos no leitor/visualizador (claramente têm o propósito de tal), revelando a magnificência artística destes dois homens.

Francisco (Suficiente)
Este quadro — «[Terraço de Café à Noite]» — (1888) é de Vincent Van Gogh. É quase como a representação do poema «O Sentimento dum Ocidental»: ambos representam um cenário urbano e a supremacia do mundo exterior e do materialismo dos objectos, apesar de terem também características muito diferentes. Ambas as obras expressam o mundo exterior da maneira que o veem. Van Gogh pertence ao movimento impressionista. Os impressionistas valorizam a impressão pura, a percepção imediata, quer isto dizer que, ao observar a realidade, os impressionistas não fazem uma descrição fiel e perfeita do cenário, antes pintam e escrevem a impressão não filtrada daquilo que observam. Daí o nome impressionismo, pois valoriza-se a impressão imediata da realidade e não a realidade em si.
A relação entre Cesário Verde e a pintura começa logo  no ambiente citadino, que é representado pelo café (na frente da visão do pintor) onde várias pessoas estão sentadas em frente ao café, estando o empregado, de branco, no meio delas. Algumas mesas e cadeiras encontram-se vazias na entrada. Outras estão espalhadas pela rua. Alguns  conversam parados na rua. Um cavalo, que parece puxar uma carruagem, surge no centro da composição, em direção ao café.  Em «O Sentimento dum Ocidental», o ''eu'' vai vagueando pela cidade, triste com uma certa melancolia («Nas nossas ruas […] há tal melancolia», I, vv.1-2) que vai descrevendo ao pormenor tal como na pintura de Van Gogh («[…] As edificações somente emadeiradas […]»; «Voltam os calafates, aos magotes»; «Duas igrejas, num saudoso largo» (I, v.14; I, v.17; II, v.13).
Outra característica presente em ambas as obras, além do cenário retratado já mencionado, é o mesmo tempo. No quadro vemos uma noite estrelada, no poema o texto começa com o anoitecer mas acaba com «A noite pesa, esmaga» (III, v.1).
No entanto, apesar de várias características semelhantes entre o quadro e a poesia de Cesário, existe uma diferença importante. Enquanto Van Gogh pinta o quadro com cores vivas de modo a iluminar a cidade, pois gostava dela, Cesário descrevia uma cidade com cores monótonas e tristes pois não gostava dela, nem do movimentado ambiente em que vivia («E os edifícios, com as chaminés, e a turba»;«Toldam-se duma cor monótona e londrina» (I, v. 7; I, v. 8).

Francisca (Bom-/Suficiente+)

A presente pintura — «L'Absinthe [O absinto]» (1876) — de Edgar Degas, um pintor impressionista do séc. XIX, apresenta diversas semelhanças com a poesia de Cesário Verde (o que é de esperar, visto que são contemporâneos e também Cesário se pode considerar um impressionista, à sua maneira).
As pinceladas deste artista francês transpõem-nos para um café, lugar com um importante valor social, onde se encontravam distintas pessoas e eram discutidas não só as novas ideias como também assuntos políticos, económicos e temas da vida quotidiana. Neste quadro, encontramos um bom exemplo disso pois vemos uma mulher e um homem muito diferentes no mesmo espaço. Estes não mostram um contacto, uma vez que os seus olhos fixam direções opostas.
Esta tela lembra-me «A débil», poesia de Cesário Verde que alude também a um café, onde o sujeito poético está sentado a observar uma mulher: «Sentado à mesa dum café devasso / Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura» (vv. 5-6).
Associo também o sujeito poético ao homem presente na pintura, que é representado como o poeta se auto-representa («Eu, que sou feio, sólido, leal, / […] Eu, que sou hábil, prático, viril.», vv. 1 e 52). Este homem da pintura, de certa forma, sente-se igualmente atraído pela mulher ao seu lado, todavia olha para o sentido contrário de modo a não a incomodar.
A mulher é outro elemento que identifico com a poesia de Cesário. O poeta representava várias vezes nos seus poemas as mulheres que encontrava: por um lado, as que passavam rapidamente na rua, que vemos em poemas como «Num bairro moderno» ou «Contrariedades»; por outro lado, as que ficava a observar e que encontramos em poemas como «De tarde», «A débil» ou «Vaidosa».
Interessa-me especialmente «A débil», dado que neste poema vemos a mesma oposição que existe no quadro: um homem que se apresenta como feio e uma mulher que está arranjada e cuidada: «A ti, que és bela, frágil, assustada,» (v. 2).
Há outro aspecto que realço: as bebidas em cima da mesa. Do lado da mulher está um absinto pálido semelhante às suas cores; do lado do homem está uma bebida castanha, chá possivelmente. Este fator mostra que o «excesso» está do lado da mulher e a «moderação» do lado do homem, o que contradiz a poesia de Cesário na medida em que o poeta é que se encontrava a beber «cálices de absinto» (v. 10).
Por outro lado, o facto de o homem estar a beber chá pode representar uma relação com o sujeito poético, visto que em poemas como «Sentimento de um Ocidental», «A débil» ou «Contrariedades», é evidenciada a doença que sofre e o mal que passa, o que seria assinalado pelo chá, que ajuda os doentes.
A poesia de Cesário Verde relaciona-se com a pintura de Edgar Degas pelo espaço, personagens e características destas apresentadas. É interessante ver como o impressionismo está presente em diferentes áreas da arte, como são literatura e pintura.

Margarida V. (Bom)
Este quadro, “Bal du moulin de la Galette”, foi pintado por Pierre-Auguste Renoir em 1876. Este pintor francês, nascido no seio de uma família humilde em 1841, é considerado um dos líderes do impressionismo. Renoir, ao longo da sua carreira, fez diversos retratos para muitas figuras importantes do seu tempo e, apesar de um começo difícil, prosperou ao longo da sua carreira e viveu o suficiente para ter um dos seus quadros comprados pelo Louvre, ao contrário do seu contemporâneo Cesário Verde, cuja obra só foi reconhecida anos depois da sua morte. Curiosamente, tanto o pintor como o escritor, nasceram no dia 25 de fevereiro, embora com catorze anos de diferença.
O moulin de la Galette, mais do que o próprio moinho, era a zona junto do dito, onde os parisienses passavam as tardes para se divertirem e entreterem, no século XIX. Nesta pintura, Renoir imortaliza um dos muitos bailes que lá aconteciam.
No quadro está retratado um ambiente festivo, vemos muitos casais a dançarem juntos. São destacadas duas raparigas, uma sentada no banco e outra com o braço à volta dos seus ombros. A de preto fala animadamente com o rapaz sentado no banco castanho, enquanto outro rapaz que usa um chapéu amarelo, sentado na mesma mesa (no canto direito do quadro), observa, sonhadoramente, a jovem de preto.
Este último rapaz lembra-me o “eu” do poema de Cesário Verde “A débil”. Também esse está apaixonado por uma rapariga que observa no meio de uma multidão e de muita agitação. As raparigas em questão, na pintura e no quadro, são loiras: “Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura” (v. 6). E os dois jovens (o do quadro e o do poema) estão sentados numa mesa de um café enquanto a contemplam: “Sentado à mesa dum café devasso” (v. 5).
Em “A débil” sabemos que o sujeito poético não tem para si a frágil rapariga que tanto estima, embora saibamos que a pretende e que ela o torna “prestante, bom, saudável” (v. 12). É nos dada a confirmação de que o “eu” do poema está apaixonado pela jovem que vê passar, na última quadra: “Quis dedicar-te a minha pobre vida” (v. 50). Podemos comparar a situação do sujeito poético com a do jovem da pintura de Renoir, visto que o último também não conquistou a jovem que contempla mas, supomos, quer tê-la, pela maneira como olha para ela. Calculamos que a rapariga não lhe pertence pois ela é representada a falar com outro homem sentado na mesma mesa.
Outra semelhança que posso apontar é o facto de o rapaz do quadro sorrir com a presença da jovem de preto, ela deixa-o mais feliz, tal como em “A débil, onde o “eu”, de início, se apresenta como “feio” e “miserável” e, no fim do poema, já é “hábil, prático, viril” (v. 52), isto depois de a ter observado.
Para concluir, acrescento que estas duas obras de arte, embora a pintura seja mais alegre e viva e o poema mais melancólico, demonstram a eternidade dos amores não correspondidos.

Marta (Suficiente)
Optei por escolher um quadro de um artista célebre, Claude Monet – «La femme à l'ombrelle [Mulher com uma sombrinha]» (1886) –, para comparação com os poemas de Cesário Verde, já que são perceptíveis características idênticas.
A priori, o mais chamativo na pintura a óleo de Monet seriam os contrastes de cor, com destaque para a figura no centro. É notável o realismo da pintura, também presente nos poemas de Cesário Verde – a forma como o sujeito poético é capaz de captar as impressões causadas pela realidade que o rodeia, tal como o seu pormenor descritivo –, e o impressionismo da mesma – a realidade é retratada através das perceções sensoriais e há uma importância focada para o quotidiano. Na obra de Monet há claramente uma atenção ao espaço onde é situada a ação, o espaço rural, que é descrito pelo poeta como um lugar de fertilidade, vitalidade e refúgio – bem representado no poema «De Tarde» ou «Eu e Ela» – e a mulher campesina, representada pela sua fragilidade, ternura e ingenuidade em «A Débil». É importante salientar que nesta pintura as cores e as imagens transmitem ao poeta diferentes sonhos e estados de alma.
Em «De tarde», o dístico inicial – «Naquele «pic-nic» de burguesas, / Houve uma coisa simplesmente bela» (vv. 1-2) – vinca que se trata de uma recordação do sujeito poético de uma tarde passada no campo, salientando o seu gosto pela natureza, acompanhado de uma figura feminina que é caracterizada pela sua sensualidade, que desperta ao poeta uma certa atração, como fica claro nos versos «Mas, todo púrpuro, a sair da renda / Dos teus dois seios como duas rolas» (vv. 13-14), onde é utilizada uma comparação. Já o conjunto de termos caracterizadores usado em «A débil», «A ti, que és bela, frágil, assustada» (v. 2) e «A ti, que és ténue, dócil, recolhida» (v. 51) – alude ao retrato moral da destinatária, enquanto os versos «Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura», «O teu corpo que pulsa, alegre e brando», «Nessa cintura tenra, imaculada» (vv. 6, 15 e 20) remetem para o seu aspeto físico, através de uma adjetivação dupla e de uma hipálage. Neste poema, a figura feminina desperta no poeta uma sensação de fragilidade, necessitando de proteção masculina, ao que o poeta responde, afirmando ser «hábil, prático, viril» (v. 52). É este contraste entre ambos que caracteriza o poema, tal como no quadro também nos apercebemos de que o pintor admira a delicadeza e fragilidade da mulher que retrata.
Quer para o poeta quer para o pintor, a realidade é vista como um processo, onde as ações estão em movimento contínuo. É uma arte sensorial, que se procura registar os objetos através de impressões, normalmente pictóricas.

Beatriz B. (Suficiente +)
Recorro a este quadro de Leonid Afremov – «Kiss after the rain» [O beijo depois da chuva] –, nascido em 1955, exatamente cem anos após o nascimento de Cesário Verde. Embora os dois tenham vivido em épocas completamente diferentes, apresentam perspetivas simultaneamente iguais e diferentes. Originário de Israel, é conhecido pelos seus quadros compostos de cores vibrantes mas também pela sua técnica de pintura utilizando uma espátula quando se trata de tinta a óleo.  
Um dos elementos que mais é descrito na poesia de Cesário é a figura feminina, maioritariamente retratada como a típica mulher provocante e deslumbrante. Em “A Débil” encontram-se fatores de contraste com a pintura de Leonid. O sujeito poético refere uma mulher que sobressai no meio citadino, não pela sua excentridade, mas pela sua pureza e simplicidade. Caracteriza-a como «bela, frágil, assutada» (v. 2). No entanto, ela sente-se perdida, necessitando de proteção masculina pois encontra-se desnorteada num espaço que não está adequado à sua fragilidade («Julguei ver, com a vista de poeta, / Uma pombinha tímida e quieta / Num bando ameaçador de corvos pretos» (vv. 46-48). À semelhança da mulher, o sujeito poético também participa de uma forma ativa mostrando-se ansioso para chegar perto e consequentemente envolver-se de forma apaixonante com esta fascinante mulher «Desejava beijar sobre o teu peito» (v. 36).
Num outro poema, “Eu e Ela”, o sujeito poético dedica toda a sua descrição à imagem feminina. Encontra-se apaixonado e ela é caracterizada como mulher frágil, inocente e pura que vai despertar um sentido de proteção e de vida a dois («Gozaremos assim dias inteiros, / Formando unicamente um coração», vv.19-20). Dito isto, a obra de Afremov relaciona-se igualmente com este poema porque evidencia, mais uma vez, a vontade que o sujeito poético demonstra de ter contacto físico com a mulher, que, como se pode observar, encontra-se enrolada nos seus braços («O teu braço ao redor do meu pescoço, / O teu fato sem ter um só destroço, O meu braço apertando-te a cintura», vv.2-4).
Talvez o principal e mais interessante contraste entre a pintura e a escrita de Cesário Verde seja o cenário. Enquanto que, na pintura, a vivacidade transmitida pelas cores escolhidas nos dá um sentimento de felicidade, este encontra-se ausente em “O Sentimento dum Ocidental”, onde o sujeito poético descreve a cidade como um espaço escuro e coberto de maldade («Nas nossas ruas, ao anoitecer, / Há tal soturnidade, há tal melancolia», vv.1-2). Ao mesmo tempo que escreve isto, sente se infeliz e com um «desejo absurdo de sofrer» (v. 4).
Podemos concluir que as obras de Leonid Afremov e os versos de Cesário Verde não têm nada a ver uma com a outra ao primeiro olhar mas ambas nos levam para diferentes realidades, onde o amor sempre prevalece.

Carolina D. (Suficiente (-))

Escolhi a pintura «O Beijo», que é um quadro do pintor austríaco Gustav Klimt (1862-1918). Associado ao simbolismo, destacou-se dentro do movimento art nouveau austríaco. Este quadro foi executado a óleo sobre tela, entre 1907 e 1908, e é um dos mais conhecidos de Klimt.
Penso que será uma boa pintura para comparar com poemas de Cesário Verde, pois, apesar de muitos pensarem que esta pintura transmite felicidade, há também quem a veja como uma cena trágica, onde estão dois amantes a despedirem-se, tornando-se, por isso, um momento memorável pela negativa. E o facto de o quadro poder transmitir essa mensagem mostra que coincide com alguns dos poemas de Cesário Verde, onde o eu fala sobre uma mulher e como se sente quando está com ela como no poema «Eu e Ela» («Cobertos de folhagem, na verdura, / O teu braço ao redor do meu pescoço, / O teu fato sem ter um só destroço, / O meu braço apertando-te a cintura.»). No entanto, não só se observa que o poeta está a referir mulheres nos poemas, como também se apercebe de que, muitas vezes, escreve de uma maneira triste e depressiva, ao ver tudo a preto e branco e descrever as situações e ações todas de uma maneira mais escura e triste do que na verdade são. Vê-se essa tristeza, por exemplo, no poema «Contrariedades» («Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos: / Tanta depravação nos usos, nos costumes! / Amo, insensatamente os ácidos, os gumes / E os ângulos agudos») e com isso pode-se relacionar a pintura pelo facto de também ser uma despedida, é um momento triste de acordo a perspetiva de muita gente. Também pode ser comparado o facto de Cesário, em muitos poemas, juntar a trsiteza à sua visão perante algumas mulheres. Observa-se, portanto, uma angústia e ceticismo quer no poema quer na pintura. No entanto, no poema é bem claro que se consegue observar tristeza, e na pintura, depende da perspetiva de quem estiver a ver, da mesma maneira que como Cesário Verde vê, por vezes, as situações como uma cena horrível, outra pessoa, que veja de uma perspetiva diferente, pode achar que se trata de uma boa situação. Tudo depende da visão de quem estiver a interpretar.

Cardita (Suficiente (+))
O quadro «Terraço do Café à noite» (1888) é de Vincent van Gogh, que nasceu em 1853, dois anos antes de Cesário Verde (1855-1886), e que morreu precocemente (1890), tal como Cesário, com trinta e sete anos. O pintor nascido nos Países Baixos levou uma vida atribulada, relativamente à sua sanidade mental e física, algo semelhante a Cesário Verde, no que se refere à parte física.
Apresentam características semelhantes nas suas obras (solidão e o medo). Penso que esta obra de Van Gogh tem semelhanças com «A Débil», de Cesário Verde, porque ambas fazem crítica à sociedade, que está presente no poema «A Débil», (“Uma pombinha tímida e quieta/ Num bando ameaçador de corvos pretos”, vv. 47 e 48)e que está também latente no óleo de Van Gogh, que, numa carta enviada ao seu irmão, explicou o propósito da sua obra e disse que aquilo que nela constava tinha um sentido figurativo ou simbólico da sociedade contemporânea, era o espelho de uma sociedade precária, depressiva e que o preocupava: “[…] tentei exprimir a ideia de que o café é um lugar onde todos se podem perder, tornar-se loucos, cometer crimes.”
O sujeito poético de «A débil», “[s]entado à mesa dum café devasso”, observa tudo o que a sua visão alcança e reflete acerca daquilo que vê. Aquando a chegada de uma moça, recorre a uma antítese para fazer um contraste entre si próprio e a “protagonista”: “Eu, que sou feio, sólido, leal /, A ti, que és bela, frágil, assustada,”. O eu do texto encontra de novo o seu equilíbrio quando visa esta mulher que, indiretamente, o ajudou a livrar-se da depressão que o “consumia”. (“E, quando socorreste um miserável”). O sujeito descobre naquela rapariga o caminho de que se perdera naquele café.
Também é de referir o fascínio que ambos têm pelo divino, pelo céu, pelo mistério. Cesário Verde, em «O Sentimento dum Ocidental», mostra que as sensações auditivas (“Como morcegos, ao cair das badaladas”), as sensações visuais( “E os edifícios, com as chaminés, e a turba / Toldam-se duma cor monótona e londrina.”) e as sensações olfativas (“O gás extravasado enjoa-me”) moldam-lhe os sentimentos. Van Gogh utiliza a variação de cores, para exprimir aquilo que sente. Na sua pintura a as diversas cores, entre os tons de azul e os tons de laranja, têm vários significados: a cor laranja ou amarela exprime alegria, a modernidade ou inovação, enquanto que a cor que varia entre o azul e o preto exprime o mistério e o desconhecido,e o céu exprime a ideia de sonho, do infinito.
Ambos os artistas refletiam sobre os fenómenos naturais, e utilizavam o seu talento para repreenderem a sua sociedade.

Leonor (Suficiente/Suficiente (+))

Optei pelo quadro “La Promenade”, também conhecido como “Mulher com sombrinha”, do famoso pintor francês do século XIX Claude Monet, uma vez que, ao analisar este quadro e comparando-o com a poesia, sua contemporânea, de Cesário Verde, lembrei-me do poema “Num Bairro Moderno” e de diversas características associáveis, não apenas a este poema, mas ao poeta, à sua escrita, à sua criação.
O principal aspeto que me sugere esta comparação é a leveza dos traços da mulher, representada de forma simples, num campo, com um perfil sereno, calmo e angelical. Estes traços são reconhecíveis em certas mulheres presentes em poemas de Cesário Verde (nos textos que estudámos talvez quem mais lhes corresponda sejam a prima de «De Verão», a protagonista de «A Débil» ou mesmo a burguesinha do piquenique em «De tarde»). Outras mulheres — mais populares? — são também admiradas pelo poeta mas por traços bem dissemelhantes. Veja-se, por exemplo, como retrata a jovem regateira de «Num Bairro Moderno»: “Se ela se curva, esguedelhada, feia / E pendurando os seus bracinhos brancos”.
A mulher ilustrada no quadro usa um longo vestido branco que lhe cobre o corpo inteiro e segura uma sombrinha. Pelo movimento das vestes da mulher podemos perceber que o vento comparece no ambiente sereno do campo (que, aliás, abordarei mais à frente). É-nos mostrada também no quadro a figura de uma criança pequena, que podemos adivinhar seja o filho da senhora, também vestida com roupas claras e com uma presença que completa a simplicidade e inocência do quadro. Assim, as vestes de ambas as personagens aludem à pureza e simplicidade devido à sua cor, a que se acrescentaram poucos pequenos detalhes, sobressaindo, claramente, a sombrinha na mão da senhora, que é, de facto, o que dá o título à obra.
No quadro destaca-se também o ambiente atrás da figura feminina representada. Este cenário revela-se deveras importante, tendo em conta as características de Cesário, que contrasta a cidade com o campo bastantes vezes, tornando, assim, o ambiente dos seus poemas um fator decisivo para a compreensão da obra. Ao contrário do que observamos na cidade, no campo compreendemos o ambiente como um lugar de refúgio, de saúde, de fertilidade e de vitalidade, características que encontramos igualmente na obra de Monet.

Luísa (Suficiente/Suficiente (+))

Baseio­-me nesta obra de Camille Pissarro ­— «La Récolte des Foins, Éragny» (1887) —, nascido em 1830, nas Ilhas Virgens americanas. Camille Pissarro e Cesário Verde nunca se cruzaram em vida porém, ambos utilizavam técnicas impressionistas. Este pintor foi co-fundador do impressionismo e, hoje em dia, é considerado um dos paisagistas mais importantes do século XIX. Os seus trabalhos mais conhecidos são pinturas de campos e paisagens verdes (“Le Verger”, “Les châtaigniers à Osny” e “Place du Théâtre Français”). Do mesmo modo alguns poemas de Cesário retratavam o campo.
Na presente obra a óleo, de género histórico, o francês utilizou a técnica do pontilhismo. A utilização de cores vivas e o seu contraste transmitem vitalidade e liberdade, o que vai ao encontro das sensações que o campo provocava no poeta (sentia-se saudável, rejuvenescido e vivo). Caso Cesário e Pissarro se tivessem encontrado em vida, provavelmente formariam uma dupla que o pintor ilustraria os poemas do poeta. Na pintura podemos observar o trabalho de campo executado por mulheres e homens camponeses. O interesse pelo campo despertou, em Pissarro, graças ao seu amigo Monet, com quem saía para pintar ao ar livre. Por sua vez, Cesário Verde também teve um grande amigo, Silva Pinto, que, após a sua morte, reuniu todos os seus poemas e publicou-os num único livro denominado O Livro de Cesário Verde uma vez que, em vida, Cesário nunca fora conhecido pelo seu trabalho.
Cesário escrevia os seus poemas baseando-se em dois cenários, o campo e a cidade. A cidade era uma certeza para a morte, causava-lhe melancolia, monotonia, lembrava-lhe os vícios, a miséria e o sofrimento, como podemos observar no seu poema “O Sentimento dum Ocidental». A cidade ao anoitecer desperta-lhe «um desejo absurdo de sofrer» (v.1), “o céu parece baixo e de neblina / o gás extravasado” (vv. 5-6) enjoa e perturba. Contraditoriamente, o campo era a salvação para a vida.
No quadro de Pissarro, observamos camponesas a trabalharem nos campos de sol a sol. Para o escritor, elas eram frágeis e ternas. Cesário Verde distinguia as mulheres camponesas das burguesinhas, para ele as camponesas eram ingénuas, frágeis e despetavam-lhe um amor puro. No poema “Num Bairro Moderno” o sujeito poético observa uma regateira a pedir auxilio e acede prontamente ao seu pedido “ E, pelas duas asas a quebrar, / Nós levantamos todo aquele peso” (vv. 67-68). A mulher agradece-he fazendo com que o “eu” do poema recebesse “As forças, a alegria, a plenitude, / que brotam d’um excesso de virtude” (vv.73-74). Cesário admira-a quando ela se afasta “D’uma desgraça alegre que me incita, / Ela apregoa, magra, enfezadita, / As suas couves repolhudas, largas” (vv. 93-95).
Contrariamente às camponesas, as mulheres da cidade eram maduras, frias e altivas. Em “A Débil”, o “eu” observa uma mulher formosa e o seu “corpo que pulsa, alegre e brando” (v. 15), “nessa cintura tenra imaculada” (v. 20) e “com elegância e sem ostentação, / atravessavas branca, esbelta e fina” (vv. 37-38).

Laura (Suficiente +)

O quadro apresentado, “Ceci n’est pas une pipe”, de René Magritte, um dos principais artistas surrealistas belgas, foi pintado entre 1928 e 1929 e está atualmente exposto no Museu de Arte de Los Angeles.
Apesar de, à primeira vista, não ser uma obra que nos recorde das palavras de Cesário Verde, há nela componentes que se aproximam de várias perspetivas de poemas do autor português.
Olhando para a figura, vemos um cachimbo, algo bastante controverso, porque a ação de fumar tanto pode ser praticada a solo, o que nos aproxima de Cesário, uma vez que é recorrente nas suas obras o uso do “eu”, sozinho pelas ruas de Lisboa, como pode ser praticada em grupo, transformando-se numa ação de contraste com o que normalmente é descrito pelos “eus” de Cesário relativamente à sua forma de estar. Ao mesmo tempo, quando visto da perspetiva de quem observa, ou seja da mesma perspectiva de Cesário, a ação de fumar poderia encaixar-se sem grande esforço em “Num Bairro Moderno”, “A Débil”, “O Sentimento dum Ocidental”, entre outros poemas, onde existe uma forte descrição do espaço, ações e pessoas em redor.
Um pouco por toda a sua obra mas especialmente no poema “O Sentimento dum Ocidental” (“Nas nossas ruas, ao anoitecer, / Há tal soturnidade, há tal melancolia, / Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia / Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. / O céu parece baixo e de neblina, / O gás extravasado enjoa-me, perturba; / E os edifícios, com as chaminés, e a turba / Toldam-se duma cor monótona e londrina”, I, vv. 1 a 8), o poeta faz referência à sua doença e mal-estar. Também na peça “Ceci n’est pas une pipe” fumar está associado a doenças, que, por sua vez, levam a uma melancolia, a uma visão mais negra da vida e a constante sofrimento. Ou seja apesar do incómodo representado nos poemas não ser o mesmo dos efeitos causados pelo fumo, ambos remetem para estados de espírito semelhantes.
Os versos de “O Sentimento dum Ocidental” “Na parte que abateu no terramoto, / Muram-me as construções retas, iguais, crescidas; / Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas, / E os sinos dum tanger monástico e devoto.” (II, vv. 17 a 20) são versos elucidativos da cidade de Lisboa, tal como acontece em muitos outros poemas, sendo característico da cidade que lá se encontrem profissões e cargos de maior importância e, por isso, homens com mais posses, cosmopolitas e, mais uma vez, com necessidade de atividades de convívio profissional onde é recorrente o uso de bebidas alcoólicas, cachimbos, charutos ou algo do género. Para além disso, as atividades de uma cidade daquele tempo assemelham-se a esta imagem de um cachimbo.  Por exemplo, o fumo das fábricas, que tanto enjoa e perturba o poeta, poderia ser, noutra situação, o fumo do cachimbo aquando de uma reunião de trabalho.
Assim, apesar de em tão diferentes cenários, fascinou-me esta ligação entre os trabalhos de Cesário Verde e de René Magritte, principalmente o que é tão obviamente diferente, mas, ao mesmo tempo, possibilitando analogias entre pintor e poeta.

Mariana S. (Bom -/Bom (-))

Decidi escolher este quadro de Pablo Picasso – “Ciência e Caridade” –, artista nascido a 25 de outubro de 1881 e falecido a 8 de abril de 1973. Com apenas quatro anos de diferença de Cesário Verde, este artista destacou-se pelas suas inovações técnicas, desenvolvimento e influência nas artes. Em oposição a Cesário, cujos poemas, em grande parte, se baseiam no amor, na doença e na dor, Picasso não se focou apenas num tema, até investindo noutras artes que não a pintura. Este quadro, dada a aflição que transmite, consegue ser associado a, principalmente, “O Sentimento dum Ocidental”.
Cesário apresenta uma imagem por vezes quase surrealista da cidade de Lisboa e dos cidadãos que, atualmente, na sua maioria, não podemos concordar. Em “A Débil”, a população é caracterizada como negra – “Uma turba ruidosa, negra, espessa” (v. 23) – o eu sente-se imediatamente doente – “Doía-me a cabeça” (v. 22) –, sendo a sua única distração de tudo o que o rodeava a senhora que observava e por quem mostrava estar apaixonado, o que se relaciona com a senhora deitada na cama na pintura, pálida e também débil, que olha para a criança como se ela fosse a sua única satisfação e esquecimento da situação em que se encontrava. Em “O Sentimento dum Ocidental”, o sujeito poético descreve Lisboa como grosseira (“arrastam-se as impuras”), suja, novamente doente, pouco iluminada (“lojas tépidas”), sombria, monótona, depressiva e causadora de claustrofobia (“Semelham-se a gaiolas”). O sujeito sente-se preso, a viver numa cidade onde os cultos e inteligentes são ignorados, onde há grandes diferenças sociais e onde a noite assusta. A noite na cidade fá-lo sentir enfermo e melancólico, dando-lhe vontade de sofrer – “Nas nossas ruas, ao anoitecer, / Há tal soturnidade, há tal melancolia, / Que as sombras, o bulício, o Teja, a maresia / Despertam-se um desejo absurdo de sofrer.” –; o gás das indústrias e dos carros penetra nos pulmões e enjoa, fá-lo pensar numa sugestão de doença; por todas as sensações de aprisionamento e doença que a escuridão lhe transmite, começa a achar que tem um aneurisma. A realidade em que vive encarcera o sujeito poético e torna-o mórbido – “Chora-me o coração que se enche e que se abisma”.
Todos estes sentimentos remetem para “Ciência e Caridade”, onde a rapariga enferma, talvez até tuberculosa, como o sujeito poético, revela estar em sofrimento e, através da figura masculina, que olha para um relógio a contar o tempo, parece à beira da morte, como o sujeito poético se sentia na cidade impura. A posição da senhora, perante a criança e a freira, inculca desespero e angústia, à semelhança do que sucedia ao sujeito lírico. O título da pintura “Ciência e Caridade”, por sua vez, dá a entender que a arte tem um fator intelectual, em oposição à opinião do sujeito sobre as pessoas de Lisboa, onde o saber era desprezado e a ostentação valorizada – “Pede-me esmola um homenzinho idoso, / Meu velho professor nas aulas de Latim!”.

Tiago (Bom -)

Na pintura que se segue — «Noite Estrelada Sobre o Ródano» (1888) — há características que me saltam à vista de imediato e me permitem associá-la a Cesário Verde. Esta pintura, de Vincent Van Gogh, é feita com os mesmos propósitos de Cesário na escrita do poema «O Sentimento dum Ocidental», descrever o anoitecer e como o seu ambiente é vivido nas ruas de Lisboa. Na primeira estrofe do poema, o rio que faz a foz na cidade de Lisboa, o Tejo, dá ao «eu» uma certa melancolia e uma vontade de sofrer; «Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia / Despertam-me um desejo absurdo de sofrer» (I, vv. 3 e 4). Na pintura do holandês nascido em 1853 o rio representado é o Ródano, que nasce na Suíça e acaba em França e acaba por ser o principal destaque devido à reflexão da luz das estrelas sobre si e ao casal representado que o aprecia a ele e à restante paisagem. No poema, o «eu» descreve a cidade de forma negativa, apontando cada um dos seus defeitos; os carros barulhentos e poluidores, os fumos, os edifícios e os diversos tipos de pessoas que vagueiam pelas ruas de Lisboa.
No quadro de Van Gogh, o pintor utiliza várias cores, no rio, no céu, nas estrelas, nos pequenos barcos à vela, no casal que se encontra junto do rio e nos espaços representados para lá do rio. Cesário Verde segue o mesmo estilo nos poemas «De tarde» e «Num Bairro Moderno», ou seja, faz muitas referências e descrições de objetos e à sua cor; «Foste colher, sem imposturas tolas, / A um granzoal azul de grão-de-bico /  Um ramalhete rubro de papoulas» — «De tarde» (vv. 6-8); «E abre-se-lhe o algodão azul da meia, / Se ela se curva, esguedelhada, feia / E pendurando os seus bracinhos brancos.» — «Num Bairro Moderno» (vv. 23-25).
Em «A Débil», o sujeito poético começa por descrever a rapariga como «bela, frágil, assustada» (v.2) e revela que se sente bem com a sua presença. («Mandei ir a garrafa, porque sinto / Que me tornas prestante, bom, saudável.», vv. 11 e 12). Relaciono este poema com a pintura de Van Gogh devido às duas pessoas que estão junto ao rio (que devem constituir um casal) e a ideia de alegria e felicidade pela presença um do outro, que associo ao bem-estar do sujeito poético no poema de Cesário.

Margarida P. (Bom)
Este quadro de Leonid Afremov — «Running Towards Love [A correr em direção ao amor]» — inspirou-me a comentar sobre o trabalho literário de Cesário Verde que, devo dizer, pouco tem em comum com o trabalho artístico do pintor. Afremov, de sessenta e três anos, é conhecido pelas suas pinturas radiantes e cheias de vida que transmitem, de imediato, aos olhos do público uma intensa sensação de preenchimento da alma, algo que raramente encontramos nos poemas de Cesário.
O poeta, lisboeta e do século XIX, apresenta, em muitas das suas obras, a mulher como o centro do seu pensamento; contudo, o modelo em que esta se encaixa varia consoante o meio que a envolve. Em poemas como «A Débil», a mulher aparece caracterizada como “bela, frágil, assustada” (v. 2) e “ténue, doce, recolhida” (v. 51), fugindo à caracterização do modelo feminino da cidade que se revela interesseira, de estatuto superior e sem sentimentos. Assim, a débil rapariga poderia pertencer ao povo do campo que, para Cesário, é visto como “objeto de admiração”.
O pintor bielorusso chega até nós com um quadro que, inesperadamente, remete para a poesia do lisboeta. A rapariga que vemos correr por entre as árvores parece estar a fugir de um sítio onde não se sente bem e anseia por encontrar outro que lhe traga liberdade, paz e amor («A correr em direção ao amor»). Esta figura feminina pode ser comparada a algumas dos poemas de Cesário Verde como é o caso da vendedora em «Num Bairro Moderno» ou até d’«A Débil», que apresentavam características claras da mulher do campo, ainda que fossem da cidade.
Contrariando a poesia de Cesário Verde, as coloridas obras de Leonid Afremov dão sentido à vida, com cores mais vivas que as usadas pelo poeta (seguramente devido à doença que levou à sua morte, em 1886). É principalmente através do poema «O Sentimento dum Ocidental» que Cesário nos mostra a sua ideia da cidade como um lugar triste, obscuro, do qual ele quer escapar. No que toca ao campo, a sua abordagem é completamente diferente. Em «De Tarde», Cesário apresenta uma paisagem pacífica do espaço rural. Conseguimos, finalmente, espreitar uma versão do poeta em paz, num lugar que lhe transmite harmonia e liberdade.
Na pintura de Afremov, o ponto de fuga é mais claro transmitindo a ideia de que a rapariga corre em direção ao que lhe acalma o espírito — o campo, numa realidade de Cesário Verde — e as cores das bordas do óleo são, nitidamente, mais escuras (ela foge da cidade, lugar de dor e desgraça). Para o seu criador, a rapariga corre em direção ao amor, que há-de estar no fundo daquela rua colorida.

Lúcia (Suficiente)

Aproveito esta pintura a óleo de Paul Cézanne — «L'Estaque [Neve derretida]» (1871) —, para a relacionar com o estilo de escrita de Cesário Verde.
Paul Cézanne, artista francês e pós-impressionista, nasceu em 1839, quase vinte anos antes de Cesário Verde (1855-1886) e morreu em 1906. Paul Cézanne nasceu em Aix-en-Provence, no sul de França, foi um pintor importantíssimo para a inovação, criou uma ponte de ligação entre o impressionismo (final do séc. XIX) e o cubismo (início do séc. XX).
Já Cesário Verde foi considerado um dos pioneiros da poesia que seria feita em Portugal no início do século XX.
Ambos deram, com o seu trabalho, um contributo inovador para a sociedade da época. No quadro, podemos observar um céu sombrio, uma colina de neve que atravessa a pintura da esquerda para a direita, dividindo, assim, a neve derretida, de um lado, da cidade, do outro. As árvores que se encontram localizadas ao longo da avalanche estão pintadas a partir de tons castanhos escuros e apresentam alguns troncos partidos deitados num terreno pouco estável, enquanto que as árvores no chão estão pintadas de preto. Com uma emoção intensa, as cores utilizadas são maioritariamente escuras e sombrias, remetendo-nos para um estado de tristeza inexplicável, depressivo e uma certa melancolia; já as pinceladas foram rápidas e grossas, e transmitem-nos sensação de agressividade. O mesmo acontece no estilo de Cesário Verde, uma poesia que possui uma forte componente visual, combinação de sensações e a capacidade de descrever de modo realista as paisagens.
Com este quadro podemos relacionar o binómio campo/cidade abordado pelo poeta, que carateriza a realidade da cidade em contraste com o campo. Talvez o pintor francês tenha a mesma interpretação em relação à cidade, para ele o campo era um espaço que lhe concedia liberdade, felicidade, uma vida saudável e beleza, enquanto, a cidade era caracterizada como um ambiente com imensos contrastes, com edifícios sujos e velhos sem cores vivas, a poluição do ar.
Todo este conjunto de sensações pode ser relacionado com o poema «O Sentimento dum Ocidental». Podemos comparar a paisagem deprimente do pintor com o poeta a descrever cidade no início do poema: «ao anoitecer, / Há tal soturnidade, há tal melancolia» (I, vv.1 a 2) e podemos, também, relacionar o céu de ambos, que parecem ter a mesma visão.: «O céu parece baixo e de neblina, / O gás atravessado enjoa-me, perturba» (I, vv. 5 a 6).

Catarina (Suficiente)

Esta pintura − «Mona Lisa» −, iniciada em 1503, foi realizada pelo famoso Leonardo Da Vinci, que nasceu a 1452 e morreu a 1519, muito antes de Cesário Verde (1855-1886). Apesar dos tempos diferentes, ambos têm algo em comum, ambos eram poetas. Leonardo Da Vinci teve uma vida muito mais preenchida, sendo pintor, cientista, matemático, anatomista, arquiteto, botânico, escultor, engenheiro, músico e inventor, enquanto que Cesário Verde só exerceu a atividade poética propriamente dita.
Nesta pintura, a óleo− naquela época (época renascentista) a pintura a óleo era muito utilizada e foi uma invenção muito produtiva para aquele tempo − , podemos apreciar a «Mona Lisa» discreta, conservadora e sedutora, que era o que Leonardo Da Vinci queria que se notasse pois estava mesmo a «Mona Lisa». Cesário Verde, múltiplas vezes, nos seus poemas, sendo o «eu» a observar uma mulher um bom exemplo disso é o poema «A Débil», em que o «eu» do texto tenta tudo para a conquistar e promete-lhe cuidar dela para o resto da sua vida pois, logo assim que a vê, ele se apaixona por ela («Sentado à mesa de um café, / Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura, / Nesta Babel tão velha e corruptora, / Tive tenções de oferecer-te o braço, vv. 5-8), e continua a observá-la e a descrevê-la (« Via-te pela porta envidraçada; / E invejada, − talvez não o suspeites! − / Esse vestido simples, sem enfeites, / Nessa cintura tenra e maculada», vv.17-20). Para o «eu», ela era perfeita, assim como, a “Mona Lisa” o era, para Leonardo Da Vinci.
Tal como Leonardo Da Vinci mostra os seus vários lados nas suas pinturas com mulheres ou homens, mais alegres ou mais tristes, Cesário Verde também tinha o seu lado mórbido de ver as coisas, e isso notasse bem nos poemas “O Sentimento dum Ocidental” em que o «eu» se sente sozinho e melancólico («Nas nossas ruas, ao anoitecer, / Há tal soturnidade, há tal melancolia, / Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia / Despertaram-me um desejo absurdo  de sofrer.», I, vv. 1-4), mas, mesmo assim, os poemas de Cesário vencem com a sua típica descrição e paixão por várias mulheres, como se pode ver nos poemas « De Tarde» e «Num Bairro Moderno». No poema «De Tarde» o «eu» está a observar uma mulher parecendo querer conhecê-la («Foi quando tu, descendo do burrico, / Foste colher, sem imposturas tolas, / A um granzoal azul de grão-de-bico / Um ramalhete rubro de papoulas.»). o mesmo acontece no texto «Num Bairro Moderno»: «E eu, apesar do sol, examinei-a; / pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos; / E abre-se-lhe o algodão azul da meia / Se ela se curva, esguedelhada, feia / E pendurando os seus bracinhos brancos.», vv. 21-25).

Soraia (Suficiente (-))
Este quadro de Louis Anquetin — «Avenida de Clichy, cinco horas da tarde» (1887) —, que foi pintado um ano após a morte de Cesário Verde, fez-me de imediato lembrar a sua poesia, pelo facto de este retratar a noite e existirem diversas referências à mesma nos textos de Cesário.
Este quadro remete-me essencialmente para o poema «O sentimento dum ocidental», em que o «eu» anda a vaguear pelas ruas da capital (Lisboa), mais concretamente entre a Sé e o Bairro Alto.
Os tons escuros da pintura acabam por dar ênfase à tristeza e depressão que o «eu» sente ao percorrer as ruas da cidade («despertam-me um desejo absurdo de sofrer» v. 4). A tristeza e a melancolia são algo bastante presente na poesia de Cesário, por exemplo no poema «A débil», o «eu» dizia-nos «Triste eu saí» (v. 22).
A doença era outra característica que também estava presente na composição de Verde. É conhecido que a sua irmã faleceu de tuberculose e que, mais tarde, vários familiares foram igualmente afetados pela mesma doença. Em «A débil» é feita uma alusão à doença e ao mal-   -estar do «eu» («Doía-me a cabeça», v. 22), assim como em «O sentimento dum ocidental» («O céu parece baixo e de neblina//O gás extravasado enjoa-me, perturba», vv. 5 e 6). A doença e o seu significado no quadro são igualmente sugeridos pelos tons azuis-escuros e carregados.
Neste quadro encontramos também em destaque uma mulher, que é um dos principais tópicos da poesia de Cesário. Em todos os poemas em que a figura feminina é abordada, esta acaba sempre por mudar algo no «eu». A mulher de Cesário é descrita de uma maneira muito diferente da que era usada na sua época, o que acabou por criar alguma controvérsia na altura.
Novamente no poema «A débil», existe uma figura feminina interpela o «eu» por ser diferente de todas as outras da cidade, por ser frágil e delicada («A ti, que és bela., frágil, assustada», v. 2). O «eu», que, no início, era «feio, sólido, leal», acaba por se transformar devido à influência da débil, e torna-se «hábil, prático, viril».
Apesar de a tristeza e solidão aparentarem ser uma parte da vida de ambos os artistas, estes dão-nos a entender que a figura feminina consegue de, alguma forma, trazer um pouco de felicidade e de luz, e transformá-los enquanto pessoas, seja ao mudar a forma como estes veem o mundo seja ao tornar a sua personalidade mais positiva.

Beatriz M. (Suficiente -)
Penso que seja correto dizer que Cesário Verde era um poeta cuja poesia tinha bastante presente o impressionismo. Este foi um dos estilos artísticos que vemos vigorar no seculo XIX, século do nascimento e falecimento do poeta.
Uma das características deste estilo de que falo é transmitir sensações a quem vê o quadro, mais do que dar-lhe uma imagem imutável e definida. Procura-se mostrar a realidade através de impressões como a cor, a luz e o movimento. Nos quadros daquela época podemos vê-la e nos poemas de Cesário podemos lê-la. “Vazam-se os arsenais e as oficinas/ Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras” (I, vv. 33 e 34 “O Sentimento dum Ocidental”)
Falando agora de quadros, este que escolhi é, propositadamente, um quadro impressionista —“Estrada com Cipestres e Estrelas” —, pintado por Vincent Van Gogh que é dois anos mais velho que Cesário e morre quatro anos depois do poeta português (foram, portanto, os dois muito influenciados pelo estilo artístico a que já me referi).  Este pintor holandês teve uma influência profunda sobre a arte do século XX pelo uso de cores vivas, com impacto emocional. Tal como Cesário, o seu trabalho foi reconhecido já depois da sua morte.
Vejo neste quadro parecenças com a poesia de Cesário na medida da presença do impressionismo, mas também porque o relaciono com o poema “O Sentimento dum Ocidental” que fala do anoitecer/ entardecer numa cidade (embora de uma forma deprimida) ”Nas nossas ruas, ao anoitecer/ Há tal soturnidade, há tal melancolia” (I, vv. 1 e 2). No quadro podemos ver o mesmo a acontecer, não vemos a noite nem a tarde, vemos o anoitecer (cuja descrição lemos no poema), conseguimos vê-lo a acontecer. É aqui que vejo o impressionismo nas obras deste poeta: há uma descrição tão detalhada de tudo, mencionando cores, estado do tempo, ações praticadas, que nos põe mesmo a viver o que ele escreve e que quer que vivamos, com ele. Esta obra de Van Gogh captou a minha atenção também pela história de vida, tanto artística como pessoal do pintor, que considero ser muito parecida com a do poeta.
Com estas duas obras de arte, os dois artistas tentam fazer-nos captar aquilo que eles estavam a captar na altura em que as conceberam e acredito que têm os dois uma maneira de se expressar muito parecida. Há um objeto conjunto: retratar no papel / tela aquilo que verdadeiramente está a acontecer de maneira a que consigamos mesmo presenciar o acontecimento, ainda que de formas artísticas diferentes.

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