Thursday, August 23, 2018

Os Maias 13



Beatriz M. & Margarida V. (11.º 9.ª)
Margarida V. & Beatriz M. (Muito Bom -/Bom +) Pontos fortes Muito boa criação e boa realização, de paródia de um «formato» (que já não sei se é autónomo se parte de um desses programas da tarde — reverei quando puder; creio que o som na altura do escrutínio é relevante, e não era fácil reproduzi-lo). As autoras revelam capacidade de imitar o original e inteligência a pervertê-lo (não caindo em situações sem graça, o que acontece quando o humor não é bem pensado); despique final resulta muito bem. Boas representações (muito boa a de Maria Eduarda, também a da Gouvarinho — mas, na apresentação, demasiado visível a leitura de papel —, um pouco menos a de Fátima Lopes, mas só no momento das perguntas — a leitura não é extraordinária). Aspetos melhoráveis Nas legendas: em «pôr os pontos nos is», «pôr» tem de ter acento. Pronúncia de «condessa» saiu nasalada («cond[en]sa»), pelo menos cerca de 3.40 e de 4.25. Leituras das perguntas pela apresntadora por vezes pouco convicta (na televisão, as locutoras podem falhar mas fazem-no com convicção). Condessa implica o determinante («Relação *de condessa» seria «Relação da condessa»; «Condessa respondeu sim» seria «A condessa respondeu sim»). «Maria Eduarda Maia» é que é (nem tanto «Maria Eduarda da Maia»: influência de sketch dos Gato Fedorento?); «Maria» presta-se a equívocos (cfr. Maria Monforte).

Margarida P. (11.º 9.ª)

Margarida P. (Muito Bom-) Pontos fortes A transposição da intriga do cap. XIII — que não é apenas para a nossa época mas também para outro meio, o das mensagens escritas em telemóvel, aliás conjugado com o depoimento de personagem face à câmara, como é típico, por exemplo, do género televisivo documentário sobre personalidade — está muito bem executada, porque houve sensibilidade para as características (linguísticas, sociais) da nossa época e leitura inteligente do passo em causa na obra de Eça. Série de mensagens (e de comentários orais que se seguem) confere ao filme ritmo rápido, o estilo sintético que é tão importante no cinema. Muito boa representação. Bom domínio técnico. Aspetos melhoráveis A corrigir (num dos textos do telemóvel): «*não acredito que me deixaste [...]» (não acredito que me deixasses / tivesses deixado). A leitura das mensagens escritas, para um míope como eu, não é fácil, mas mesmo esse aspeto está aceitável (maior legibilidade implicaria slides parados, o que prejudicava a verosimilhança do conjunto).

Mafalda F. & Natacha (11.º 5.ª)

Natacha & Mafalda F. (Muito Bom) Pontos fortes Ideia de organizar o trabalho em treze razões — é uma solução que permite abordagem variada, que faz que o filme se possa ocupar de muitos assuntos, porque não há o compromisso de os tratar de fio a pavio; assim, não nos maçamos porque há sempre um novo estilo, o ritmo não deixa adormecer; esta estratégia também autoriza que se recorra a um tratamento expositivo, na introdução a cada razão, sem que isso pareça convencional, até porque se segue alguma ilustração da razão em outros moldes (e este momento é sempre criativo, inteligente e, como convém em cinema, sintético e impressivo). Devo dizer que ainda não conheço a série inspiradora mas que vou tratar de conhecer (outro mérito do trabalho, estimular curosiosidade pelo que não é apenas a matéria direta). Domínio técnico e bom acabamento de tudo. Atuações de Ralph (no papel, transespécie, de Reverendo Bonifácio) e de Guilherme. Aspetos melhoráveis Ao corte vertical do ecrã (que estará relacionado com os meios técnicos) é preferível, quanto a mim, o uso clássico, o na horizontal, ainda que a diferença de formato relativamente aos slides de cada razão funcione quase como explicitação de vai surgir uma narrativa encaixada (o que até é verdade). Leitura em voz alta de Mafalda, pelo menos numa das razões, podia ser menos rápida, embora se perceba que os momentos de leitura a partir do caderno são também encenações de quem não tem de ler como se fosse um locutor exterior à ficção.

Bernardo & Edu (11.º 3.ª)

Edu & Bernardo (Bom (+)) Pontos fortes Capacidade narrativa e intuição para o cinema (o guião foi bem concebido, transpondo-se o essencial do capítulo em termos de filme, o que implica escolher bem três ou quatro cenas e, através delas, conseguir dar toda a intriga; linguagem é que podia ter sido mais trabalhada no texto dos diálogos, já que, como exemplifico em baixo, algumas falas parecem pouco sensíveis ao registo linguístico esperável entre dois/três amigos, nos dias de hoje); ritmo é bom (a tal intuição para o cinema). Bom domínio técnico. Aspetos melhoráveis A corrigir: na escrita da mensagem de telemóvel, falta o hífen em «deixaste-me». No texto do diálogo há frases que são pouco verosímeis (alguém diz «irei fazê-lo»? [sim, vou fazer isso; vou tratar disso]; «esse Dâmaso está sempre a inventar coisas desnecessárias» [esse Dâmaso é um aldrabão]; «que falta de humildade!» [que sacanice!]; aliás, toda a discussão final parece demasiado bem comportada. Podia ter havido caracterização diferente da nova personagem de Edu, que já fizera de Ega e reaparece como Dâmaso Salcede praticamente da mesma maneira.

Ivo (11.º 2.ª)

Ivo (Bom-/Suf+) Pontos fortes Parte inicial, mais pessoal e criativa, parece-me mais interessante do que a parte de simples resumo do capítulo. Nesta parte acho bem pensado, e executado, o momento «em direto», com Francisco e Ivo a atuarem (excelente o papel do Francisco), mas não era necessário repetir depois o mesmo trecho na narração (e, sobretudo, devia mais um ou dois momentos assim, com ação representada). Leitura em voz alta razoável mas que podia ter sido mais preparada. Créditos finais, incluindo autocarro 750. Aspetos melhoráveis Extensão não cumpriu exatamente o que era pedido (eram cerca de três minutos). A corrigir: pronúncias de «*i[n]dêntico» (a primeira sílaba nasalizada resulta de assimilação ao som da segunda, mas deve dizer-se «idêntico»); «*T[ô]ca» (o som é aberto: «T[ó]ca»); em vez de «Carlos passa-se», «Carlos irrita-se muito».

Carolina & Carlota (11.º 3.ª)

Carlota & Carolina (Bom-/Suf+) Pontos fortes Houve cuidado na redação do texto e na preparação de um pretexto para a filmagem (embora, como direi à frente, estes recursos — texto e filme — sejam um pouco desperdiçados). Leituras em voz alta (mas a de Carolina, por vezes, demasiado rápida; mais adequada, pareceu-me, a velocidade de Carlota). Aspetos melhoráveis Abordagem acaba por desaproveitar o facto de haver registo vídeo (na verdade, as imagens pouco concorrem para complementar o texto). Texto não é muito diferente do de um resumo, o que eu pedira para se evitar. A corrigir: «*a casa que chamaríamos-lhe ‘a Toca’» (a casa a que chamaríamos ‘a Toca’ — e, de qualquer modo, a ênclise não seria possível por se tratar de um condicional, teria de ficar «chamar-lhe-íamos» se pudéssemos usar o pronome); «*áurea de mistério» (aura); «*me envies um sinal do céu, na qual [...]» (em que/no qual — não é possível tomar como antecedente ‘carta’, que teria de ficar muito mais perto do pronome relativo)pronúncia de «Cruges» (o som é de gê e não de guê: o antes de ou de representa uma palatal); «*pe[ca]nino» (pequenino).

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