Saturday, August 26, 2017

Viagens do 10.º 3.ª


Ficam as crónicas de viagem (por vezes, mais relatos de viagem do que crónicas) cujas reformulações me foram enviadas. As classificações — que acabam por se reportar à primeira versão, a não ser quando pude notar que não foram lançadas as emendas que introduzira — ficam junto do nome dos autores. Nesta versão não pus, em geral, as fotografias.

Sardenha – um postal com vida
Sentada num muro de pedra espera Fabrizio, que nos daria as chaves do nosso apartamento, enquanto observava com uma pontinha de incredulidade e deslumbramento a paisagem desconhecida à minha volta, com o leve barulho de fundo das ondas a embaterem nas rochas, metros abaixo dos meus pés. Acho que ainda não tinha interiorizado totalmente que estava ali, onde parecia que tudo, desde o ar que respirava até ao chão que me suportava, era diferente e simultaneamente estranhamente familiar, como se tivesse um eco daquela paisagem presente na minha memória. Entretanto Fabrizio lá se fez aparecer dobrando calmamente a curva na sua vespa branca e apresentando-se com um pedido de desculpas em inglês macarrónico e um grande sorriso na cara.
A vila era, de facto, muito bonita desde o seu pequeno, mas imponente castelo lá no alto, até às vielas que pareciam multiplicar-se a cada passo dado. O pequeno conjunto de casas, repleto de cores vivas em tons alaranjados, encontrava-se voltado para a praia, lá em baixo. Esta tinha sempre uns poucos turistas e um ou outro local, mas nunca estava completamente cheia, o que confirmou a minha feliz suspeita de que a nossa vila ainda não tinha sido totalmente “descoberta” (como já o tinham sido muitas outras que visitamos a seguir, e cujas praias se tornavam, por isso mesmo, quase impossíveis de desfrutar). A minha parte favorita do dia era o por do sol: aqueles finais de tarde passados na piscina, com um grupo alegre e barulhento de espanhóis ou umas crianças sorridentes a chapinhar na água, todos a aproveitar os últimos raios de um sol que se ia escondendo languidamente no horizonte, deixaram certamente saudades.
Passámos também uns dias em Porto Cervo, na Costa Esmeralda, que é de grande fama e, por isso, com praias, ruas e esplanadas mais cheias, mas nem por isso menos encantadoras. A vila não tinha aquela rusticidade de Catelsardo, mas compensava-o com umas praias lindíssimas, provavelmente as mais bonitas que já vi, que me faziam sentir como se estivesse a experienciar um postal ao vivo.
Mas a Sardenha não é só praia, e houve um dia em que nos aventuramos mais para o    meio da ilha, onde acabámos por descobrir um sítio chamado Nuraghe Santu Antine. O local estava repleto de variadíssimas construções pré-históricas como antas e pequenas casas de pedra, que nunca deixam de me impressionar. Acho impossível não pensar em toda a história contida naquelas paredes, não questionar o que foi vivido naquele local, do qual nada ou quase nada sabemos ao certo, mas que, ainda assim, nos esforçamos por descobrir, com a pouca informação que temos, como se montássemos um puzzle.
Num dos últimos dias decidimos ir até à Ilha de La Maddalena, ilha vizinha da Sardenha, a que se liga por uma ponte. Aí encontrei mais um pequeno paraíso, mas descrevê-lo, admito, pode soar estereotipado (praia semi-deserta, fina areia branca, águas cristalinas…), embora saiba que era exatamente isso que procurava naquela tarde algures em fins de agosto. Enquanto o sol já ia dando sinais de que começava a afrouxar e preparávamos as coisas para ir embora, lembro-me de tentar ao máximo capturar o momento em toda a sua plenitude: um veleiro no horizonte, um casal alemão a aproveitar os últimos banhos de sol do verão antes de voltar para a sua  cidade fria e escura, a cor daquele mar azul turquesa, mais intenso no horizonte e mais suave junto à costa, uma família italiana cuja conversa se faz ouvir levemente (como é bom ouvir italiano!) e, mais uma vez, aquela sensação – a viver dentro de um postal.
Ana T. [MB]

A viagem de sonho
A ideia desta viagem surgiu juntamente com a minha melhor amiga. Já vinha desde há muito tempo, mas nunca tivemos a possibilidade de a concretizar. Nós falávamos disto desde pequenas, por volta do 7º ano. É claro que duas jovens nunca poderiam sair do país e ir para a América assim, “do nada”. Então, ficávamo-nos só pelo sonho.
O nosso sonho era conhecer bandas famosas por toda a América, irmos a todos os parques aquáticos possíveis, a todas as praias e divertirmo-nos como se não houvesse amanhã.
Tivemos de esperar exatamente dez anos para tudo isto se concretizar. A ideia de viajar parecia fantástica porque, quando éramos pequenas, nunca pensámos que fosse preciso preencher tantos documentos. Mas preenchemos os papéis o mais depressa possível com o medo de perdermos as vagas no avião pois as viagens feitas em agosto costumavam acabar muito depressa.
Ao entrar no avião nem acreditávamos que estávamos finalmente a concretizar o nosso maior sonho, e, no entanto, lá estávamos nós.
Era a primeira vez que estávamos as duas a andar de avião, as pessoas até olhavam para toda a nossa excitação, que desapareceu assim que o avião começou a funcionar. Depois de nos habituarmos ao facto de estarmos num avião, sossegámos e fomos observando as pessoas a adormecer à medida que a viagem se tornava mais longa. Nós nem durante cinco minutos fechámos os olhos: é verdade que também não fomos a conversar durante a viagem porque já tínhamos falado todas as conversas existentes no mundo mas para isso é que servem os telemóveis.
 Quando chegámos a Los Angeles, fomos guardar as malas no quarto, esquecemos o cansaço e começámos logo a nossa aventura. Andámos de montanha russa, e ficámos a tirar fotos até o sol se pôr. Voltámos para o hotel e adormecemos. Na manhã do dia seguinte, experimentámos fazer surf e foi a melhor sensação das nossas vidas, parecíamos duas crianças a querer experimentar tudo ao mesmo tempo.
Na semana seguinte fomos a Seattle, vimos todos os monumentos, fomos a várias festas e conhecemos várias pessoas. A meio da semana tivemos de comprar um cartão de memória porque, com todas as fotos que tirámos, o cartão já não tinha espaço.
No fim da semana partimos para Miami, onde andámos de barco. As paisagens eram todas maravilhosas e nós estávamos cheias de pena porque a viagem dos nossos sonhos estava quase a terminar mas, antes disso, eu tive de planear a melhor festa de aniversário para a minha melhor amiga, que fazia anos na última semana dos nossos sonhos.
Com a festa já toda planeada, o dia de anos dela aproximava-se tal como a nossa semana em Orlando. Nos primeiros dias limitámo-nos a ir a algumas praias, mais no meio da semana fomos à Disneyland e ao Seaworld e, no penúltimo dia (o dia de anos da minha melhor amiga), fomos a um concerto do nosso maior ídolo. Dei-lhe várias prendas como o bilhete do concerto. Mas pensam que fiquei por aqui? Não, combinei com o meu e o namorado dela encontrarem-se no concerto connosco porque o namorado dela já há muito tempo se queria declarar mas nunca tinha encontrado a altura certa para tal. Então, em pleno concerto, o namorado dela aparece no palco e declara-se.
No regresso a casa, senti que, por muito inalcançáveis que os nossos sonhos pareçam ser, é sempre possível realizá-los.
Carlota [S]

Com vista para o mar Cantábrico
O dia amanhecera chuvoso mas a guia recebia os turistas com entusiasmo. Iam partir em viagem de grupo por alguns dias, a boa disposição era essencial. Do Ribatejo rumo à Cantábria, o percurso avizinhava-se moroso.
Sorri-lhe e sentei-me à janela. Acenei lá para fora e aconcheguei-me, já o autocarro percorria a A23. A paisagem não me era desconhecida, por isso, até Vilar Formoso os olhos semicerraram-se várias vezes. Perto de Salamanca, a paragem para almoço foi breve, prosseguindo o itinerário por Tordesilhas/Valladolid, ladeando-se os Picos da Europa, que se vislumbravam ao longe cheios de neve. A chegada à capital cantábrica aconteceu ao final do dia. Aqui pernoitámos no hotel que nos acolheria durante esta estadia.
A visita a Santander, na manhã seguinte, foi o início de cinco dias inesquecíveis. Espraiando-se por uma larga baía, os seus jardins Pereda, a Catedral e a Península de la Magdalena encheram-me os olhos de beleza e de história! A tarde foi também de contemplação, no exterior da Pontificia Universidad e nos interiores do Sobrellano Palácio e do El Capricho, de Gaudi, o arquiteto catalão modernista, na aldeia histórica de Comillas. Outras visitas muito enriquecedoras continuaram pela costa cantábrica — em Santillana del Mar, um passeio a pé pela cidade velha, admirando o património de pedra dourada; em San Vicente de la Barquera, o castelo e a esplêndida vista da altaneira Igreja de Santa Maria de los Angeles; em Liérganes, uma das aldeias mais bonitas de Espanha, a lenda do homem-peixe.
Na província da Biscaia, Guecho, Portugalete e a capital Bilbao eram também pontos da agenda turística. Confesso que entrar no País Basco gerara em mim um misto de sentimentos. Afinal, não fora há muito tempo que a ETA terminara o conflito armado de seis décadas. Quem sabe se, impulsionados com o independentismo da Catalunha, os nacionalistas da ETA não desrespeitam a trégua acordada? Para compensar pensamentos negativos, veio-me à memória a coragem de Hans ao vencer as tempestades do Golfo de Biscaia, na sua fuga de Vig.
A famosa Ponte da Biscaia, Património Mundial da Unesco, que une as duas margens da ria de Bilbau, a primeira do seu género a ser construída no mundo, deixou-me boquiaberta, pela sua singularidade. Sobrevoar a ria, de barco, foi igualmente uma experiência única. E as obras de arte à volta do Museu Guggenheim (com exposição de Joana Vasconcelos no próximo agosto) deslumbraram-me pela imponência. A escultura floral do cachorro gigante “Puppy”, de Jeff Knoons, colocada na entrada principal da praça para nos dar as boas vindas, e a aranha “Mamá”, com seus ovos, da escultora Louise Borgoise, simbolizando a força e a fragilidade da maternidade, são dois exemplos dessas obras impressionantes. O projeto do Museu fez parte de um esforço de revitalização de Bilbao, após a decadência das indústrias nos anos oitenta, tornando-se numa referência da arquitetura contemporânea. Desenhado por Frank Gehry, construído em vidro e titânio e com a forma de navio ancorado no rio, foi inaugurado em 1997, logo se transformando em símbolo da cidade. Ainda em Bilbao, não pudemos deixar de provar os Pintxos, uma especialidade basca, admirar o Barrio Deusto e passear pela Cidade Velha e as Sete Ruas.
E foi assim que, de alma e sentidos cheios de cultura e aventura, regressei a Portugal, não sem antes fazer a paragem obrigatória em Salamanca para revisitar a Catedral, afluir à Plaza Mayor por uma das suas doze entradas e sentir a agitação estudantil da Universidade.
Inês S. [MB-]

Sonhos em altitude
Desde que me lembro estava à espera deste dia. O dia em que finalmente andei de avião.
“Inesquecível” é a única palavra que me ocorre para aquela experiência com que sonhei toda a minha vida. Voar faz-nos sentir estranhos, não por estarmos a literalmente a 11.000 metros do chão mas pelo simples facto de estarmos a voar. Atravessamos as nuvens e vemos aquele magnífico e puro pôr do sol e, alguns minutos depois, a escuridão aparece. E seria de esperar que fosse assustadora, mas não: ver aquelas luzes ao longe formando “pequenas” cidades é absolutamente de cortar a respiração, é mágico.
O primeiro destino foi Londres, o lugar onde mais desejava ir pois adoro toda a cultura inglesa e tudo o que tenha a ver com o Reino Unido. Londres foi tudo aquilo que eu sonhava e mesmo mais. As pessoas foram simpáticas e prestáveis e, mesmo com a minha pronúncia não muito boa conseguiram ajudar-me. Adorei cada segundo que lá passei, andar pelas ruas e só ouvir inglês. Andar no London Eye foi inesquecível. Londres é, sem dúvida, um sítio a que quero muito voltar.
 Quase sem dar conta estava novamente num avião desta vez para outro continente.
Como não havia voos diretos para os Estados Unidos, fiz escala no Canadá, o que foi ótimo porque, apesar de ter pouco tempo para estar lá é sempre mais um país e mais uma cultura.
O meu penúltimo destino foi então os Estados Unidos da América, sítio a que eu e a minha melhor amiga sempre desejámos ir. Portanto, não fazia sentido ir lá sem ela. Os dias que lá passámos foram incríveis e ter feito aquilo com ela foi ainda melhor.
Aterrámos em Nova Iorque no mesmo dia e o nosso reencontro foi deveras sentimental mas, por causa do jet lag fomos direitinhas para o hotel. Passámos dois dias na cidade que nunca dorme, fomos ao Central Park, Empire State Building, com uma das vistas mais bonitas que já vi em toda a minha vida, e à famosa Times Square.
Como surpresa no dia anterior ao aniversário da minha melhor amiga, apanhámos um avião para Orlando, Flórida, o nosso destino de sonho desde que temos doze anos. Ficámos lá três dias, celebrando o seu 23º aniversário na Disney. Os restantes dias foram passados a passear na praia e a ir ao maior número de parques de diversões que pudéssemos encontrar.
Entrámos noutro avião, este com destino a Las Vegas onde apenas passámos a noite e, de seguida, partimos naquela que seria sem dúvida a maior aventura das nossas vidas.
O nosso último destino foi o Havai o plano era ficar uma semana mas simplesmente não conseguíamos sair de lá. Aquela ilha foi como um íman que ao passar do tempo nos ia atraindo mais um pouco, tudo desde as barulhentas mas pacificas praias até às montanhas e vulcões aparentemente pacíficos mas sem dúvida assustadores, nos faziam querer ficar sempre mais um dia. Um dia deparámo-nos com uma senhora idosa que ao aperceber-se que estávamos a apaixonar-nos pela ilha ofereceu-nos lugar para ficar, esta relação foi benéfica para ambas as partes pois a senhora mostrava-nos a ilha e nós fazíamos lhe companhia e ajudava-mos com as tarefas domésticas.
Infelizmente a senhora faleceu um mês depois de a termos conhecido e como não tinha mais ninguém deixou-nos a casa, o que foi algo que nos chocou bastante mas a partir desse momento soubemos que tínhamos de ficar lá.
Portanto aquilo que seria uma estadia de uma semana prolongou-se para três meses e não creio que vá acabar num futuro próximo, pelo que estou a escrever isto diretamente de Oahu.
Beatriz P. [S(-)/S-]

{Eu pedira um título expressivo}
Esta viagem surgiu a convite dos meus avós, quando eu tinha apenas seis anos. Na altura, sendo os meus irmãos muito pequenos, levaram-me só a mim a Paris. Foi a maior viagem da minha vida e foi excecional. Como na altura era muito novo, lembro-me só de algumas coisas, que, juntamente com aquilo que os meus avós me foram recordando durante todos estes anos, passarei a contar.
Lembro-me que fomos de avião, por volta do verão. Partimos do aeroporto de Lisboa e fizemos um voo direto até ao aeroporto de Paris. Antes de ter partido, os meus pais avisaram-me de que seria provável que sentisse dor de ouvidos, mas, felizmente, isso não aconteceu.
Quando chegámos a Paris, apanhámos um autocarro até ao hotel, que ficava perto da Disneyland. Passámos uns dois ou três dias nesse hotel. A única coisa que fizemos nesses dias foi ir ao parque de diversões. Este é o lugar de que tenho mais memórias, provavelmente por este ser um dos sítios que as crianças mais querem visitar. Lembro-me de dar um passeio de barco por um grande lago e de ter ido àquele tão conhecido palácio. Vimos também um desfile magnífico com todas as personagens dos filmes da Disney. Vi ainda um espetáculo de que a única coisa que me lembro foi ter acabado com um homem em chamas a andar de moto. Gostei tanto deste espetáculo que, no dia seguinte, antes de termos de deixar o hotel, voltei a vê-lo.
Nessa tarde apanhámos um comboio para o centro de Paris. Ficámos num outro hotel, não muito grande, num pequeno quarto onde dormi na cama de cima de um beliche. Ficámos neste hotel mais duas noites, o que permitiu para vermos bastante da zona turística de Paris.
Obviamente que não pudemos deixar de ir à Torre Eiffel, um dos locais mais importantes da capital francesa. Lembro-me que apenas ficámos no segundo andar porque eu tinha medo de ir ao topo.  Fomos também ao Arco do Triunfo e à catedral de Notre Dame. Numa das tardes que lá passámos demos um passeio de barco pelo rio Sena. No último dia que estivemos em Paris fomos a um café onde pela primeira vez falei em francês com alguém. Eu tinha sede e pedi ao meu avô um copo de água, mas ele disse-me para ser eu a pedir. Atrapalhadíssimo, perguntei-lhe como é que isso seria possível, uma vez que eu não falava francês. Ele disse-me o que é que eu tinha de dizer e lá fui eu, sozinho, bastante inseguro, pedir um copo de água ao empregado do café. E acho que não correu assim tão mal, pelo menos voltei com um copo de água nas mãos.
Mais tarde partimos para Lisboa, tendo chegado ao final da tarde. Durante a aterragem doeram-me os ouvidos, o que estragou ligeiramente o final da viagem. Acho que os meus pais estavam lá à nossa espera.
Apesar de não me lembrar muito desta viagem, acho que se pode dizer que foi uma das magníficas que alguma vez tive. Em primeiro lugar, porque Paris foi a única capital europeia que visitei até hoje, para além, claro, de Lisboa. Em segundo lugar, porque fui com os meus avós e foi muito bom ter podido partilhar esta viagem com eles. Por último, porque gostei imenso do que vi e adquiri uma série de novas experiências. Ainda hoje me lembro das duas primeiras palavras francesas que aprendi durante o tempo que estive em Paris, «bonjour» e «merci».
Francisco [B/B(+)]

Roma, um emblemático museu ao ar livre
Desde sempre que sonhara viajar para Roma. E, finalmente, essa oportunidade chegara, chegara o grande dia, o dia em que ia conhecer a minha cidade predileta.
Fui ao encontro de uma cidade que pode ser considerada um museu de dimensões gigantescas e ao ar livre: por cada esquina, um monumento, uma estátua ou um edifício emblemático, mas sem aqueles seguranças aborrecidos mas com legitimidade para pedir para fazermos silêncio. É uma cidade com grandes histórias escondidas em cada um dos seus recantos, histórias maravilhosas e encantadoras, cheias de emoções que mexem connosco, aliás capazes de nos envolver de tal maneira que nos deixam embrenhados no seu enredo. Estamos sempre a dar de caras com algum local importante quer nas estradas principais quer, até mesmo, naquelas ruazitas estreitas onde há apenas um sentido para a circulação de viaturas.
Roma, capital de Itália, é uma cidade para ser visitada a pé não sendo necessário utilizar o metropolitano, que é constituído por apenas duas linhas, tão frequentemente como seria necessário noutra das grandes capitais europeias. É uma cidade na qual por meio daquelas ruas, que me remetem para uma época semelhante às da minha cidade natal - Lisboa, procuramos pelo desconhecido enquanto observamos o movimento nas estradas, desde os carros a alta velocidade aos autocarros nos quais, pela minha experiência, devemos ter cuidado.
Cada vez que me lembro daquele autocarro apinhado de pessoas ao ponto de começarmos a sentir uma certa claustrofobia, lembro-me também do primeiro e único assalto a que assisti. Estava eu com a minha família a tentar sobreviver à nuvem de calor que nos acompanhava no autocarro quando, de repente, oiço gritos e percebo que vinham de umas pessoas muito perto de mim, estavam a ser assaltadas, levaram-lhes o telemóvel e todo o dinheiro que traziam. Foi aterrorizador, até para mim que apenas assistia e rezava para não ser o próximo alvo. Felizmente, saí logo na paragem seguinte com todos os meus pertences bem seguros nas minhas mãos. Estas foram apenas algumas memórias que esta viagem trouxe e que vou guardar para sempre.
O ponto forte da viagem fica em todos os lugares visitados, desde o Coliseu aos museus do Vaticano, não esquecendo o Panteão e as menos conhecidas mas igualmente belas Termas de Caracala. Tradições, costumes e todos os pequenos pormenores desta grande cidade vão ficar na minha memória.
No final, fica um sentimento de satisfação e um desejo imenso de encontrar um novo destino para uma futura viagem. Fica, também, o orgulho em ter conseguido pedir uma faca que cortasse decentemente mesmo quando o dono da casa não percebia nada do que eu dizia e um agradecimento especial a todos os portugueses encontrados que nos facilitaram a vida. Já para não falar das saudades de todos os momentos vividos nesta cidade que eu tanto estimo. Foram sete dias em busca do desconhecido que merecem ser recordados por mim e por todos os que me acompanharam nesta bela aventura.
Inês C. [B+]

Um dia no paraíso escondido
A casa é pequena e acolhedora. Pertence a um primo, Pedro, que convidou a família toda a passar uns dias na sua terra natal, Idanha-a-Nova. No total, somos nove pessoas, entre os nove e os trinta e seis anos. Os meus pais não vieram e, embora tenha adultos a tomar conta de mim, a sensação de liberdade é muito maior.
O Pedro é o nosso guia. Delineou um itinerário para cada dia, de modo a que possamos desfrutar destas pequenas férias da melhor maneira possível. O de hoje começa com uma visita à histórica aldeia de Monsanto, a cerca de 30 km da vila de Idanha. A dita aldeia mais portuguesa de Portugal tem uma vida que eu nunca imaginaria. Enquanto subimos as ruelas estreitas e inclinadas, há restaurantes típicos que emanam um cheiro maravilhoso, lojas de artesanato típico, até uma pequena gruta escavada na rocha.
Chegamos ao topo do monte, onde se situa o castelo. A vista deslumbrante com que nos deparamos deixa-nos boquiabertos. Percebemos que este é um daqueles momentos que ficarão na nossa memória para sempre. Estamos em Julho e, enquanto descemos, o calor já se faz sentir. Compramos gelados a um senhor muito simpático que os vende no meio da rua.
A próxima paragem são as piscinas naturais de Penha Garcia. Chegamos lá após uma curta mas animada viagem de carro, e as inúmeras vezes que o Pedro nos descreveu como o sítio era bonito não nos prepararam para a paisagem que nos esperava. A água fria e cristalina, com uns dois metros de profundidade no sítio mais fundo, uma pequena cascata, as sombras de árvores perfeitas para pousarmos as toalhas e o silêncio contrastante com o ruidoso mundo exterior tornam esta paisagem numa das mais paradisíacas em que já estive. As crianças deliram, os três adultos tentam em vão disfarçar os sorrisos de êxtase. Não trouxemos almoço de casa, e já passa da hora de almoçar, mas ninguém pensa sequer em abandonar este sítio sem dar um pequeno mergulho para abrir o apetite. Concordamos ficar só um pouco, para nos instalarmos, e depois irmos procurar um restaurante nas redondezas.
À medida que as horas vão passando, a fome vai apertando, mas vai sendo tenuemente saciada pelas bolachas e peças de fruta que trouxemos com o intuito de servirem de lanche. Ainda não almoçámos, mas ninguém tem vontade de abandonar este local, por isso vamo-nos deixando estar a brincar na piscina. Penso que todos partilhamos o receio de que, se formos embora, quando voltarmos este lugar já não esteja cá, como se fosse agora fruto da nossa imaginação, um delírio apenas, talvez resultante da ingestão de gelados em estado de conservação duvidoso.
Para além de lúdico, este lugar tem também uma componente histórico-cultural. Mesmo ao lado da piscina há uns trilhos que enveredam pela serra, pelos quais quatro de nós decidimos aventurar-nos. Chamam a estes trilhos a rota dos fósseis, por causa da enorme quantidade de restos de animais pré-históricos que podemos identificar nas rochas que ladeiam o caminho.
Acabamos por não almoçar, mas, graças às bolachas, ninguém está muito preocupado. Sabemos que vamos comer quando chegarmos a casa. Por volta das seis da tarde, levantamos acampamento e vamos embora, com a barriga vazia e o coração cheio.
Teresa [MB]

Paris, uma viagem de sonho...
A viagem a Paris é uma daquelas que ficam sempre guardada na memória e em que se eternizam todas as sensações vividas.
Em um passeio por Paris somos envolvidos por muitas experiências únicas para nossos olhos e não só. Foi a minha primeira aventura no estrangeiro, mas vivi momentos especiais, vi imagens emocionantes e tive sentimentos difíceis de serem explicados verbalmente, mas fáceis de serem sentidos…
Mas nem tudo é um mar de rosas!... Quem teria coragem de pensar em tudo isto? Quem diria que, por vezes, atrás das fotos que são publicadas nas redes sociais, jornais, etc., há alguém irritado com o resto do mundo porque o voo atrasou, porque se esqueceu de algo, porque a comida do sítio onde se ficou hospedado não prestava.
Para ser mesmo verdadeira, o único pormenor que me deixou dececionada foi a comida que nos era apresentada para quem iria ter um dia longo de passeio.
Estão a imaginar levantarem-se cedo, com algum sono e fome à mistura, e depararmo-nos com pouca comida para podermos começar um dia de muitos quilómetros? Dava quase vontade de sair e ir ao primeiro café com os belíssimos croissants de que tão bem se fala em Paris…. Mas, como íamos com os “euros” contados, teríamos de ficar e habituarmo-nos à ideia de aproveitar bem o que nos davam para pequeno-almoço.
No entanto, nem tudo foi mau. Lembro-me de ter saído de casa com O nervosismo causado por toda a aventura toda a aventura que iria ser: já tinha andado de avião uma vez mas sem ser com a escola… Cheguei ao aeroporto, vi onde estavam os meus amigos e professores e tivemos que ficar um bom bocado à espera para fazer o check-in.
Estávamos todos ansiosos, uma vez que nem toda a gente tem a oportunidade de fazer estas viagens com os colegas de turma.
Eis que chega a hora de voarmos e correu tudo bem. Quando chegámos à tão famosa cidade de Paris, ficaram todos maravilhado e seguimos para o hotel, nos arredores da cidade, já tinha visto fotos e era tudo o que imaginava, mas ainda melhor porque eu estava lá. Deixámos as coisas no quarto e, logo de seguida, fomos passear até à Tour Eiffel. Estavam todos maravilhados no autocarro a ver as belas paisagens e a tentarmos acreditar que realmente éramos nós que estávamos ali…
Passeámos o mais que pudemos e depois, quando a fome apertou, fomos ao Mac Donalds, que fastfood por fastfood, o nosso é bem melhor e mais barato.
Regressámos ao hotel e cada um foi para os seus quartos para que, assim que o despertador tocasse, seguíssemos a tão maravilhosa aventura que estávamos ainda a começar.
Nos restantes dias, ainda foi mais maravilhoso porque conhecemos o Sacré-Coeur, a Notre Dame, Palácio de Versailhes e muito mais.
Mas o que me fascinou mais foi a tão esperada ida à Disneyland Paris, um mundo à parte no qual eu gostaria de viver. Não deixem de realizar a vossa viagem de sonho…
Margarida T. [S/S(+)]

Uma viagem destinada a acontecer
A cidade de Nova Iorque é vista pela cultura ocidental como um dos melhores sítios do mundo. Talvez pelos seus aranha-céus magníficos, talvez pela sua riqueza cultural, com monumentos e museus em todas as ruas, talvez por ter um parque verde quase em cada esquina, e um deles ser maior que muitas das aldeias em Portugal. Mas, mais provavelmente, por ser o local onde se passam inúmeras séries e filmes que se viram em televisões e cinemas no mundo inteiro.
Uma viagem a Nova Iorque é considerada por parte da população como uma viagem obrigatória na vida de qualquer pessoa. Eu nem discordo nem concordo, visto que foi a única viagem que fiz para fora de Lisboa na minha vida toda. Assim, não tenho maneira de comparar Nova Iorque a outras cidades. Para mim, os três melhores sítios do mundo são Estocolmo, Nova Iorque e Lisboa, cada um deles com a sua razão de estar na minha lista.
Desde que entrei para o meu primeiro emprego, aos vinte anos, comecei a poupar dinheiro para fazer uma viagem, cujo destino ainda não estava definido na altura. Aos vinte e cinco anos decidi ir sozinho para Nova Iorque durante um mês para ver se a cidade era tao boa como os meus pais diziam.
É certo que os meus pais não estavam errados quando diziam que as ruas estavam constantemente cheias de pessoas de diferentes culturas, e que a cidade tem uma certa beleza inexplicável para quem nunca a visitou, uma beleza proveniente do cimento dos passeios e dos vidros dos edifícios que, incrivelmente, dão uma cor vívida à cidade.
Passei um dos primeiros dias em Brooklyn, a apreciar todos os grafittis pintados nas paredes, grafittis que na minha opinião não deviam ser considerados vandalismo, por terem tanta qualidade. Depois dessa manhã e tarde fiquei a adorar arte e decidi ir ao museu da arte moderna à noite mas, enquanto caminhava para lá, vi um clube de jazz e decidi entrar. Acabei por não ir ao museu nessa noite. Mas foi a primeira coisa que fiz na manha do próximo dia.
Talvez fosse o destino ter entrado naquele estabelecimento onde se tocava jazz e se bebia whiskey, em vez de ir ao museu. Já dentro do museu, apreciava uma obra abstrata enquanto fingia que percebia alguma coisa daquilo, quando uma rapariga loira de olhos azuis me veio perguntar qual era o pintor. Obviamente que eu não sabia a resposta, e obviamente que ela queria falar comigo e não sabia o que dizer, porque o nome do pintor estava escrito na parede. Independentemente das suas intenções, foi o suficiente para se criar uma conversa interessante entre mim e ela, Mais tarde, fomos beber café juntos ao starbucks.
Acabámos por gostar muito um do outro, e perceber que temos muito em comum apesar de sermos naturais de cidades muito diferentes. Ela viveu a vida toda em Estocolmo, na Suécia. Falou-me tão bem do seu país e da sua cidade que eu fiquei o fã número um de Estocolmo mesmo sem nunca ter ido lá. Talvez o facto de eu me ter apaixonado por ela afetasse o que eu penso sobre Estocolmo, mas, por outro lado, talvez não.
Ela tinha estado lá em Nova Iorque há quatro meses por razões de trabalho e disse que só queria voltar para casa. Disse também que ia embora no mesmo dia que eu e ia fazer escala em Lisboa. Acabámos por verificar que ela ia no mesmo voo que eu e, por fruto do destino, tínhamos lugar um ao pé do outro. Passámos o resto do nosso tempo em Nova Iorque juntos, como amantes a aproveitar a vida ao máximo. Foi o melhor mês da minha vida.
Depois de chegar a Lisboa, marquei um voo para Estocolmo para a visitar. Nunca estivera com tanta ansiedade antes, mas, quando me lembro do mês que passámos juntos em Nova Iorque, todas as minhas preocupações desaparecem.
Miguel [S+/B-]

Ampulhetas finitas
Estávamos no final de agosto, a água movia-se sobre a forma de ondas, rapidamente e de forma aprazível aos sentidos, como se quisesse que setembro chegasse naquele instante. Do local onde me encontrava, conseguia observar rostos desconhecidos a passear pela praia e a aproveitar aqueles que seriam os últimos raios de sol do dia. Lembro-me de olhar para aquele panorama e refletir sobre tudo o que tinha realizado naqueles meses de verão caraterizados pela velocidade estonteante dos dias e por terem sido extremamente felizes. E de como tudo isso tinha acabado da noite para o dia. Os tons de amarelo misturavam-se com os de rosa claro como em aguarelas, à medida que me afastava do local que agora, parece ter sido inventado na minha cabeça.
O dia seguinte foi um sobressalto. Mal eu sabia que, ao chegar a casa, os meus pais estariam, juntamente com malas e tudo preparado para uma viagem no mínimo inesperada, à nossa espera, minha e do meu irmão mais velho, prontos para arrancar para um local, que naquele momento, ainda era uma incógnita para nós. Foi um momento em que todos partilhámos uma sensação exclusiva, que só se sente debaixo da pele, entre ossos, músculos e artérias, um tal sentido de aventura incomparável, pois o futuro era nosso e cabia apenas a nós escrevê-lo. Sim, pelo menos até chegarmos à primeira de muitas bombas de gasolina, termos de parar para inúmeras idas à casa de banho, a fome apertar e estarmos proibidos de comer no carro novinho do pai e fazermos conclusões surpreendentes: não existem posições favoráveis para dormir naquele automóvel e as rádios espanholas não são estimulantes de todo. A partir do Google Maps, que foi a nossa salvação durante este percurso, decidimos fazer a nossa primeira paragem em Mérida. Antes de fazermos a nossa própria história e tornarmo-nos gladiadores ou atores de comédias e tragédias, ao passarmos pelo anfiteatro, tivemos de vencer um obstáculo ainda maior, na minha opinião quase digno da atenção dos deuses do Olimpo, o inglês da senhorita Emilía que, por mais que tentasse, não nos conseguia dizer o preço dos bilhetes. Só com uma mistura invulgar de português e espanhol, um portunhol do meu pai, é que nos desenvencilhámos.
Já não conseguia ver mais tapas à frente quando chegámos à Cidade Real: parece uma religião inventada pelos espanhóis e torna-se realmente um desafio ao tentarmos ler o menu dos cem montaditos em espanhol. Depois desta pequena cidade, onde todos se deslocavam casualmente, numa intimidade digna da utilização de chinelos, nós movíamo-nos à velocidade da luz para chegar a tempo do check-in no hotel em La Manga, ao qual chegámos após uma viagem de cinco horas. Vou apenas resumir aquilo que se passou: engordámos três quilos, a água estava cheia de algas, fui picada por melgas em diversas localizações no meu corpo, incluindo no meu olho. A foto de família no último dia ficou cómica graças a isso. Posso dizer que a minha definição de ostentação passou a ser: estar ao sol, a beber a minha Coca Cola e a ver as senhoras já com alguma idade a fazer hidroginástica na piscina do hotel. Após uma semana muito longe da perfeição, passámos ainda por Cartagena e Granada, duas cidades que devem ser exploradas e descobertas (só tenho pena de não ter havido mais tempo para isso). Porque afinal toda a nossa vida gira em redor do tempo: passado, presente e futuro. Eu agora, estou aqui, mas irei tornar-me futura e fico triste por saber que fui a sítios a que, provavelmente, não voltarei a ir e conheci pessoas que também não voltarei a ver. No entanto, por agora, aqui, neste momento, estou deitada na areia, a sorrir contra a toalha. Contaram-me uma piada. Oiço o mar. Estou livre e feliz à medida que o sol desce e sei que tudo ficará bem.
Margarida O. [B+]

Ilha da paz
Era a minha primeira vez a andar de avião. Até então tinha ido de carro para todos os países que visitara e só por isso já sentia um frio na barriga. Enquanto sobrevoava aquelas ilhas lindas rodeadas por aquele mar azul esverdeado, o friozinho aumentava e as dores de ouvidos também. O avião era enorme, mas o que me fascinou mais foi perceber a quantidade de línguas diferentes que se falavam ali e as diferentes maneiras de aqueles aventureiros como nós lidarem com as situações mais banais e improváveis.
Quando aterrámos, fomos recebidos em primeira mão por uma quantidade exorbitante de insetos que invadiram completamente o nosso espaço pessoal, juntamente com uma onda intensa de calor abrasador, típico daquela região. Fomos guiados durante sete dias por um casal local que nos deu a conhecer os principais monumentos e os pontos turísticos mais interessantes. A simplicidade e beleza de tudo o que nos mostraram eram extraordinários. Não havia nada de muito precioso, nada que desse muito nas vistas pelo dinheiro ou pela excentricidade. Tudo era realçado pela sua beleza natural, de origem geológica ou da mais simples intervenção do homem.
Percorremos todos os trilhos de madeira e de pedra que havia na ilha, subimos todas a montanhas, que naquela altura estavam verdes e cheias de flores, entrámos em inúmeras casas locais, experimentámos a sua gastronomia completamente diferente da nossa e absorvermos o máximo de cultura que conseguimos nesses dias. O casal finalmente mostrou-nos o que eu mais aguardava enquanto amante do mar. Mostrou-nos as praias mais incríveis que alguma vez vi, com uma beleza indiscutível e com as melhores ondas que surfei até agora. A areia era branca e finíssima. A água era transparente e com uma vida que me arrepiava. Onda após onda a minha paixão por aquele mar aumentava.
Após esses sete dias com o casal que nos guiara, ficámos mais dois a aproveitar as praias e a descobrir por nós próprios tudo o que conseguimos. Desde grutas magníficas feitas pela força do mar até aos mais diferentes peixes que até então só tínhamos visto nos filmes.
Passámos por pessoas espetaculares que nos ensinaram muito e nos fizeram sentir mesmo que pertencíamos ali, quando, por outro lado, tudo aquilo era tão diferente e distante da nossa realidade. Fizemos amigos para a vida, uns com gostos surpreendentemente bastante parecidos com os nossos e outros com gostos completamente diferentes, o que ainda foi mais engraçado. A principal razão da viagem era isso: divertirmo-nos, surfarmos muito e aprendermos o máximo sobre outra realidade e outra cultura.
Algo que me marcou muito foi a atitude daquelas pessoas perante a vida. A sua cultura encantou-me mais do que qualquer praia. A maneira como lidavam com as situações e tomavam decisões conscientes e tranquilas fez-me querer ser como elas. Encarar a vida de cabeça para cima, não ter medo de enfrentar as suas adversidades e aproveitar cada segundo ao máximo. Eram pessoas simples, sem muitos bens, sem muito dinheiro, mas com a alma recheada. Cheios de vida, cheios de amor para dar, cheios de esperança e com a cabeça livre para novas experiências. Sempre prontos a ajudar, sempre com um sorriso na cara e com uma vontade incrível de viver.
Sofia [B(+)/B+]

Pela estrada fora
Todos os anos fazia esta viagem, mas, infelizmente, a última foi há quatro anos e é a única que ainda permanece na minha memória a quase cem por cento.
Desde pequena que esta viagem anual é uma “rotina”. Todas estas viagens têm o mesmo destino e o mesmo caminho, mas cada uma delas apresenta as suas aventuras, diferenciando-se, assim, umas das outras. Este destino de que falo é a terra dos meus pais, a Moldávia.
A Moldávia é a minha verdadeira casa, é lá que eu posso estar em contacto com as origens, a cultura dos meus pais, com a infância que eles tiveram, e é lá que eu posso pensar como seria se tivesse nascido na mesma aldeia que eles. Para além disto, é neste país do leste que tenho toda a minha família (avós, primos, tios...). Infelizmente, ter lá a minha família é algo que me entristece bastante…  A distância é algo difícil de suportar…
Partimos no meu primeiro dia de férias, logo pela manhãzinha, mal o sol nascera. Carregámos o carro (sim, o carro!) e lá fomos para mais uma viagem. Sabia que se previam cinco dias difíceis mas como eu adorava esta aventura, a sua duração era apenas um pequeno pormenor.
Era bastante cedo e eu e a minha irmã mais nova quase não dormíramos na noite anterior, pelo que decidimos descansar mais um pouco no início da viagem. Dormir no carro é uma coisa que adoro fazer; estar ali à janela a ver passar tudo tão rápido, mas tão lento ao mesmo tempo, provoca em mim um efeito adormecedor. Quando acordei, já tinham passado duas horas e já estávamos quase a chegar ao primeiro dos muitos países pelos quais iríamos passar: Espanha. Foi neste nosso país vizinho que fizemos a primeira paragem para almoçar e “esticar” as pernas, que já estavam dormentes. A sorte é que o carro era grande, ao estilo de carrinha; havia espaço para nos deitarmos, jogarmos, etc. Após almoçarmos, voltámos à estrada e as paragens eram apenas para ir à casa de banho e não mais que isso!
A noite avizinhava-se e já andávamos à procura de uma bomba de gasolina para jantarmos e fazermos tudo o que tínhamos a fazer antes de nos deitar. Baixámos os bancos de trás de forma a que estes se aproximassem do formato de uma cama; enchemos o colchão, puse-mos em cima dos bancos e eu e a minha irmã deitámo-nos.
Na manhã seguinte, já estávamos em França: o meu pai conduzira a noite inteira! Acordei com os solavancos do carro (que se sentiam muito mais atrás) e com os meus pais a falarem. Esta sensação de acordar de manhã num carro no qual tinha passado a noite toda e que estava em andamento num país desconhecido é uma sensação indefinível.
Novamente, tivemos de “esperar” que aparecesse na beira da estrada uma bomba de gasolina, para que pudéssemos ir à casa de banho e pudéssemos tomar o pequeno almoço.
Foi nesta bomba que uma das primeira peripécias desta viagem se passou. Eu peguei na minha escova de dentes e roupa e dirigi-me para a casa de banho juntamente com a minha mãe e irmã.  Já quando saíra do carro, sentira uma dor de barriga esquisita e umas tonturas estranhas e quando estava na casa de banho, senti que ia desmaiar, não sei como, pois nunca antes tinha desmaiado…
Quando “acordei”, sentia-me como se estivesse num sonho e a última coisa de que me lembrava era de pensar que ia desmaiar. Depois disto, o meu pai já pensava em voltar para trás, mas, felizmente, isso não aconteceu.
Terceiro dia e já tínhamos passado pela Bélgica. Encontrávamo-nos na Alemanha. As pessoas nativas deste país eram bastante rudes com os estrangeiros que lá punham os pés, talvez por causa do seu passado histórico, não é verdade?
Foi aqui que decidimos passar a noite num hostel. Normalmente, fazíamos esta “dormida” para descansarmos e passarmos uma noite mais “normal” que dormir num carro.
Ficámos num hostel muito acolhedor que pertencia a um casal de idosos. O quarto era muito familiarizante e os seus donos foram bastante simpáticos (o que não seria de esperar), apesar de não conseguirmos comunicar na mesma língua. Dizer que queríamos uma noite para quatro pessoas foi bastante difícil; foi uma conversa tudo menos comunicativa, demo-nos a entender por gestos, desenhos, etc. Esta foi outra das aventuras mais marcantes desta viagem, mas felizmente que aconteceu, pois nessa noite chovera imenso e caíra granizo fortíssimo…
Era já o quarto dia de viagem e era a partir daquele momento que o tempo parecia andar mais devagar, o que me irritava profundamente, pois sabia que já faltava pouco para me sentir em casa e os minutos aparentavam durar horas…
Durante grande parte do dia viajámos pela Áustria, que, definitivamente, era o país pelo qual eu mais adorava passar. Era nesta parte da viagem que a minha família nem se apercebia de que estava no carro, pelo facto de eu ir tão calada. Sentada à janela e com os phones nos ouvidos, olhava para aquela paisagem…
Lembro-me deste momento como se fosse hoje… Tudo à volta era cor e aquela que mais predominava era o verde e os seus diferentes tons. À primeira vista, pareciam só existir árvores; árvores de todos os tipos: altas, baixas, com folhas, sem folhas… Mas, com mais atenção, conseguíamos reparar em pormenores, tais como as flores que brotavam, os girassóis que pareciam estar a ser comandados por alguém, as casinhas muito pequeninas que estavam escondidas por entre as árvores, cataventos que pareciam tão altos como arranha-céus, cavalos que corriam pelos campos verdejantes dos lavradores, vacas que pastavam, etc… Tudo isto me encantava e esta imagem permanece e permanecerá sempre na minha memória.
Já se fazia noite e há algum tempo que entráramos na Hungria, mas este é o único país do qual não tenho nenhuma imagem, pois o atravessámos durante a noite e de manhã já nos encontrávamos na Roménia, o país vizinho do nosso destino.
A Roménia, em termos de paisagem, é um país que vale mesmo a pena visitar; as suas montanhas, os seus castelos e palácios, os seus rios e lagos são paisagens excecionais. Infelizmente os romenos, em geral, são pessoas bastante mal-educadas e agressivas e, por causa disso, nunca costumamos parar em nenhum sítio movimentado para comer.
Finalmente, quando já se fazia noite, demos entrada na Moldávia!
Ainda percorremos alguns quilómetros até à aldeia dos meus pais. O facto de já estarmos no país fazia-me sentir muito bem. O reecontro com a minha família é sempre inexplicável e emocionante; os sentimentos estão todos à flor da pele, mas a saudade é o sentimento principal…
Beatriz B. [B(-)/B]

Um mundo visto por outros olhos
Ao completar o meu décimo oitavo aniversário foi-me dado como presente pela minha mãe uma viagem pelo mundo. Era uma viagem com destino a um país de cada continente.
Tinha chegado o meio do ano e a minha viagem pelo mundo aproximava-se. Na madrugada, ainda sem os primeiros raios de sol à vista, era hora de levantar e ir para o aeroporto, para a viagem que ia mudar a minha vida.
Despedi-me apressadamente da minha mãe, tão apressadamente que ainda hoje não me recordo desse momento. Sentei-me nas confortáveis cadeiras que o avião tinha à disposição dos passageiros e fiquei ali, quieta, imóvel, como se estivesse a ter um pequeno ataque. Talvez até o estivesse a ter, mas de entusiasmo. Era a primeira vez que ia ver o chão a uns longos metros de distância dos meus pés.
O avião descolou, foi a sensação mas esquisita que alguma vez tinha sentido. Contudo eu olhava apenas através de um pequeno vidro numa pequena janela e sorria, parecia uma criança feliz! Quando estávamos já lá em cima, onde parecemos conseguir tocar nas nuvens, vi Lisboa pequenina, lá muito em baixo e com os prédios a parecerem formigueiros. O resto da viagem foi serena.
Ainda nem contei: o primeiro destino era Itália e não ia sozinha, ia acompanhada de outras pessoas que iam para os mesmos destinos que eu. O Tomás, o Rui, o Guilherme e a Raquel foram os primeiros amigos que fiz durante esta grande viagem que durou cinco semanas.
Chegámos a Itália, mais precisamente à sua capital, Roma. Durante esta semana ficámos a conhecer um pouco sobre a cultura e gastronomia italianas. Conhecemos a Torre de Pisa, o Coliseu e refrescámo-nos nas extensas costas das praias italianas.
Seguimos para a Austrália. Na verdade, para Sidney, uma das capitais que tinha mais interesse em conhecer. Sempre me fascinou Sydney, talvez pelos seus monumentos ou até por estar perdida no meio dos oceanos Índico e Pacífico. Ao longo de sete dias pudemos conhecer a cidade mais populosa de toda a Oceânia e, confesso, adorei.
No decorrer desta maravilhosa viagem aprendi que esta não era apenas uma viagem mas uma lição, uma aprendizagem que ia levar para a vida. Um dos meus amigos, o Rui, era surdo-mudo e a sua única maneira de falar connosco era através da língua gestual. Na verdade, eu já tinha conhecimento do que era a língua gestual pois na minha escola havia alunos surdos-mudos cujo único modo de conseguirem falar era essa língua. Admito: eu sempre adorei a língua gestual e desde pequenina que tinha curiosidade em aprendê-la.
Esta era a história de Rui, adequava-se literalmente a esta viagem de fazer novas descobertas, à qual chamei “o mundo visto por outros olhos”. Era exatamente isso que sentia e vivenciava naquelas curtas cinco semanas. O mundo e as descobertas de Rui eram muito diferentes do que imaginava e do que para mim era conhecer o mundo.
A viagem seguiu. Desta vez fiz um safari por África onde conheci as mais diversas espécies de animais.
O próximo destino era Miami. O que mais me fascinou foram as suas bonitas praias e uma viagem de barco que fiz, em que consegui ver golfinhos e baleias.
O último destino era a Amazónia, aquele cantinho no mundo que considerei mágico. Por momentos, dei por mim numa bonita floresta tropical junto das mais diversas e distintas espécies de seres vivos.
E, finalmente, depois de cinco semanas a conhecer uma parte daquele que é o grande planeta em que vivemos, cheguei. Durante toda a viagem de avião vim calada, como se me tivessem tirado a voz, como se algo de mim tivesse ficado em cada lugar que visitara. Senti-me como se fosse expulsa da minha própria casa, como se o mundo e cada cantinho agora me pertencessem, fossem agora também meus. Quando me aproximei da minha mãe, depois de cinco semanas sem a ver, tive um misto de reações, mas estas desapareceram quando ela me abraçou e eu senti o seu coração. E percebi que ali, sim, era a minha verdadeira casa!
Carolina [B-]

{Devo ter pedido um título expressivo ou esqueci-me?}
Faltava aproximadamente uma hora para aterrar em Amesterdão um dos meus dois destinos, onde iria ficar um dia antes de partir para a Islândia. Quando cheguei, sabia que não tinha lá muito tempo, por isso antes de partir tinha preparado um plano infalível. Primeiro de tudo, apanhei um autocarro para Prinsengracht, local onde se localizava a casa de Anne Frank.
Aproveitei aquela meia hora de autocarro para olhar para as paisagens. Fiquei encantada pela beleza da cidade, mas o que me chamo logo a atenção foram as casas, pois tinham uma cor e uma inclinação particular. Tendo então ido pesquisar a sua história, fiquei a saber que, como os solos ficavam a baixo do nível do mar, são movediços, fazendo com que os edifícios precisam de acompanhar a movimentação dos terrenos para mão desabar. Logo os prédios estão inclinados para um lado, ora para o outro.
Quando cheguei ao museu da casa de Anne Frank, não sabia o que me esperava, ficando espantada por pensar que ali viveram duas famílias durante dois anos, escondidos para fugirem da perseguição nazista. Fiquei admirada ao ver as condições em que viveram. No escuro, com cortinas a tapar todas as janelas para evitar que alguém os visse e o cuidado para não fazer qualquer tipo de barulho que os pudesse denunciar. Anne Frank conta como era viver escondida e com medo, sem poder frequentar a escola, sair à luz do sol ou caminhar na rua. 0 diário era uma forma de tirar um pouco do sofrimento dentro de si e colocá-lo dentro da casa. Anne Frank, ao escrever o seu diário, parecia que sabia que um dia milhares de pessoas o iriam ler, rescrevendo-o. No entanto, não conseguiu finalizá-lo foram descobertos e presos. Alguém os tinha denunciado. Anne Frank, a sua mãe e a sua irmã foram levadas para Aushwitz, acabando por morrer aos 15 anos. 0 pai de Anne foi o único sobrevivente, retornando para Amesterdão, para cumprir o seu último desejo, publicar o diário de sua filha.
Faltava-me só mais uma paragem. Que ficava exactamente do outro lado da ponte em frente à casa de Anne Frank, o famoso museu das tulipas de Amesterdão. Fiquei a saber que antigamente eram tão valiosas que um bolbo de uma variedade famosa poderia custar milhares de florins neerlandeses, Mas isto tudo começou quando um médico e botânico, que trabalhava para o Imperador da Áustria, teve contacto com as tulipas. Ao regressar à Holanda, plantou-as no jardim da Universidade de Leiden, onde era professor. A beleza das flores. O que aconteceu? Roubaram-nas, começando assim o comércio das tulipas na Holanda, que é conhecida atualmente pelas suas tulipas e outras flores, sendo chamada "floricultura do mundo".
Regressando, já no aeroporto, apercebi-me de que fora uma das paragens mais bonitas que já fizera, mesmo tendo só durado um dia.
Nicole [S]

Berlim e "Ich"
Cheguei a Berlim dia 22 de dezembro, e imediatamente depois de sair do aeroporto, senti o frio que me ia perseguir durante toda a semana. Foram precisos apenas dois minutos para que entrasse em desespero e chamasse um táxi, sem sequer pensar no custo de uma viagem até ao meu hotel no centro da cidade.
Deixei as malas, vesti toda a roupa que consegui, peguei nos mapas do metropolitano da cidade e dirigi-me à estação de Friedrichstrasse, onde estranhei não ver cancelas antes de entrar no metro. Durante toda a semana não encontrei uma única estação de metro com cancelas, coisa que em Lisboa seria impensável, pois, mesmo havendo cancelas, veem-se tanto adultos como jovens a passar "à pica", como diria um bom português. Só mostra a confiança e o civismo que os alemães têm uns para com os outros.
Talvez por ser época natalícia, nunca passei fome. Era fácil encontrar feiras onde se vendessem as famosas canecas de vinho tinto quente com especiarias — Gluehwine — e as clássicas salsichas alemãs extremamente calóricas para enfrentar o frio, mas ao fim de dois dias já não conseguia pensar nem em vinho nem em salsichas, pelo que decidi ir a um supermercado comprar iogurtes simples e bananas, que viriam a ser a base da minha alimentação durante o resto da semana.
Todas as pessoas com quem me cruzei, quer fosse em lojas, quando estava perdido e precisava de ajuda ou quando ia jantar fora, foram simpáticas e fizeram-me sentir confortável, como se estivesse em Lisboa. A comunicação nunca foi um problema porque todos sabem falar inglês razoavelmente e eu sabia o básico do alemão. A única situação em que me senti desconfortável ou mesmo irritado, foi quando no check-in para voltar para Lisboa mudaram a porta de embarque e só o comunicaram aos passageiros em alemão. Percebi pelas feições das pessoas que algo se passava e, para não correr o risco de perder o voo, dirigi-me ao balcão onde chamaram alguém que falava fluentemente inglês para me explicar a situação.
Durante toda a viagem visitei vários monumentos históricos e emblemáticos de Berlim, sendo que o que mais me comoveu foi o memorial do Holocausto perto do Parlamento. Os relatos, as fotografias, os pertences e as cartas escritas que estavam expostas, despertaram o meu lado mais emocional, levando-me a fazer um desvio de curso e apanhar um táxi para o Muro de Berlim. Mal saí do táxi, senti o pesado ambiente. Não se ouvia uma palavra e todos os que lá passavam, passavam sem expressão. Senti que aquilo que acontecera há mais de meio século ainda estava fresco na memória de todos. Tal ambiente não era para mim.
Andei até à estação mais próxima e apanhei o metropolitano até à famosa Weinmeisterstrasse com o intuito de fazer compras. Percebi de imediato que tudo era mais caro, mas a vontade de levar lembranças era tanta que fechei os olhos a este problema e deixei-me comprar.
De todas as cidades que já visitei, Berlim foi sem dúvida uma das melhores e com mais história para contar. Tenciono voltar no futuro.
Pedro [B+]

Uma viagem relaxante

Precisava de fazer uma viagem mental. Pedi aos meus pais para que no verão fôssemos a um lugar onde nunca tivéssemos estado mas que fosse perto de nós. Viajámos para os Açores, São Miguel mais propriamente. Nunca tinha ido para tal sítio: calmo, agradável e relaxante. Fez me sentir uma coisa diferente, como se nunca tivesse tido um sentimento como aquele.
Acho que todos precisamos, às vezes, de ter uma fuga dos nossos pensamentos e viajar para um sítio em que nos esqueçamos deles! Confesso que, no início, não acreditava que uma viagem com a minha família me pudesse fazer abstrair de tanta coisa, mas foi a descoberta de algo que me fez esquecer tudo o resto. Só queria aproveitar as férias com a minha família.
Chegámos à ilha às sete da manhã e fomos à procura de um bom sítio para tomar o pequeno almoço. Como somos cinco, tivemos de alugar um carro. Por isso íamos um pouco à descoberta de um bom lugar para a refeição. Estava com expectativa de um pequeno almoço diferente, porque não estávamos em Lisboa e, então, é claro que pensei que haveria coisas diferentes. Resumindo, acabámos por comer torradas e beber café.
Ao almoço, tivemos de ir experimentar o famoso cozido! Era muito bom mas eu não queria comer, queria era ver as paisagens de que todos falavam, de que todos punham fotografias e que me faziam ficar com um enorme desejo de lá ir.
Chegamos a ir à Lagoa das Sete Cidades, que, de um lado, é azul e, do outro, verde. Fomos à vista do rei que tem uma paisagem lindíssima: vê-se a lagoa e uma enorme mancha verde que nos dava vontade de ficarmos lá durante muito tempo a apreciar aquela vista.
A minha parte preferida foi quando fomos a um parque chamado “Parque Terra Nostra”. Esse parque tem um tanque de pedra com água termal que está sempre com uma temperatura entre os trinta e cinco e os quarenta graus. Foi mesmo relaxante nadar por aquele tanque, era como se estivéssemos numa piscina interior. Fascinou-me muito pois ainda penso como é possível que aquela água esteja mais quente que a temperatura do ar.
Claro que gostei de tudo o que vi ou comi… mas aquilo de que mais gostei foi de sentir a minha família unida. Todas as famílias têm as suas zangas mas, durante aquela viagem não houve nenhum mal entendido, estávamos todos em paz. Acho que todos queríamos o que eu desejava: fazer uma viagem mental e esquecer tudo o resto. Foi uma viagem em que deu para sentir um pouco o que há de bom. Espero que toda a gente um dia sinta aquilo que todos nós sentimos naquela viagem. Estávamos todos felizes e mais tranquilos.
Matilde [S]

Para quê sair de onde estamos?

Imaginem uma carreira de formigas a entrar para o formigueiro, todas umas atrás das outras, incontáveis devido ao seu elevado número. Agora imaginem esse mesmo cenário, mas com cada formiga a tentar contar à formiga da frente como decorreram as suas férias, ou o que planeavam fazer no fim-de-semana seguinte, ignorando que seria impossível ouvirem-se umas às outras naquele chinfrim.
Era mais ou menos assim que eu me sentia naquele momento: uma longa fila de pessoas estendia-se à minha frente, para entrar na sala de aula, todos a falar – eu era a única excepção. Conversas superficiais não me impressionam, considero-as uma perda de saliva, então fico de parte. Não que me importe, claro. Estar sozinha dá-me tempo para pensar nas coisas mais extraordinárias.
Uns minutos depois, dei por mim já dentro da sala, sentada na fila de trás, num dos lugares que tanto convida a minha mente a passeios que em nada se relacionam com a matéria dada nas aulas. E, com isto, já todos os meus colegas tinham acalmado os ânimos e a professora começado o seu habitual relato acerca do metamorfismo das rochas, e da metamorfose das borboletas, e sabe-se lá o que mais.
Estendi a mão ao interior da minha mochila e tirei de lá uma uva. Como sabia que a professora nunca iria olhar para mim de qualquer maneira, pu-la na boca e saboreei. Estava tão fresca! Sabia-me a Grécia. Fechei os olhos e deixei-me embalar pelas palavras. “Sedimentos. Areias.” Mexi os dedos dos pés, e senti areia quente. Já não ouvia Biologia, mas um guia turístico. “Nesta altura do Ciclo das Rochas, a temperatura ultrapassa o ponto de fusão das rochas…”
A Grécia era linda. Rodeavam-me pequenas casas brancas e azuis, e já nem ouvia a voz do guia turístico cuja voz me soava um pouco como a da professora de Biologia. Ouvia agora o som do mar, suavemente a banhar a praia. O cheiro a vinho fresco invadiu-me as narinas, e suspirei, satisfeita.
Não é que foi nesse preciso momento, em que finalmente me sentia livre das responsabilidades mínimas exigidas a uma aluna, que fui bruscamente devolvida à realidade por uma cotovelada do meu colega da frente. Irritei-me um pouco. No entanto, ele desculpou-se atrapalhadamente logo depois e, sendo assim, voltei a encontrar uma posição confortável da cabeça nos braços e a deixar as pálpebras baixarem-se-me sobre os olhos como os cortinados no fim de uma peça de teatro. O burburinho que se havia entretanto instalado na sala de aula, com as conversas dos meus colegas, transformava-se agora no motor de um avião a aterrar. Pouco tempo depois, encontrava-me já eu no centro de uma grande cidade, levada pela multidão a espreitar as vitrinas das maiores lojas, mas sem nunca entrar devido à quantidade exagerada de curiosos no seu interior. Cheirava-me agora a sushi. Tóquio, talvez? Nunca tive muito sucesso a Geografia.
De repente, ouvi aquele barulho sobre o qual ainda não decidi o que penso. Querendo ou não, tenho de me conformar com a campainha da escola. Sendo assim, abri os olhos, e tive quase a certeza de que vi ao fundo da sala uma pequena réplica da Torre Eiffel.
Margarita [B+/MB-]

O metropolitano de Copenhaga
Como na maioria dos anos, pelo menos desde que me lembro, o meu pai leva-nos a um lugar diferente para que possamos aprender outros hábitos e culturas espalhadas por todo o mundo. Nós gostamos muito desses momentos e, especialmente eu e o meu irmão, desfrutamos ao máximo pois sabemos a sorte que temos de podermos fazer estas viagens.
Uma das mais recentes foi a Copenhaga, capital de Dinamarca. Como em todas as outras, o meu maior receio eram as horas dentro do avião. Não é que tenha medo mas é uma insegurança estranha por não poder controlar nada do que se passa em meu redor e ter de confiar a minha vida a alguém que não conheço. Esta viagem a que me refiro foi diferente. Desta vez, não fomos apenas os quatro, fomos com um amigo meu de infância e seus pais. Cada um com as suas características e maneira de pensar, opinávamos todos na hora da decisão do sítio a visitar a seguir, até o mais novo, o meu irmão, tinha sempre uma palavra a dizer e por muito incrível que pareça, não foram poucas as vezes que conseguiu levar a sua avante.
Visitámos tudo o que pretendíamos pois os adultos já tinham muita coisa pensada de antemão, mas um dos episódios de que não me esquecerei assim tão facilmente por muito banal que seja foi no metropolitano. ‘Banal’ não pelo conteúdo em si, mas porque podia ter acontecido a qualquer pessoa e em qualquer lugar do planeta que possua metro. Aquela paragem era o cruzamento de três linhas de metro, o que provocou alguma confusão em nós pois ainda não estávamos familiarizados com o sistema. Daí termo-nos enganado ao entrar no metro. Ao apercebermo-nos de que não estávamos na linha correta, os adultos conseguiram sair deste a tempo e nós, as crianças, acabámos por ficar estáticos dentro da carruagem sem saber o que fazer.
   Saímos na paragem a seguir e lá ficámos à espera dos nossos pais, não tínhamos a certeza se seria a melhor opção mas, no momento, não tínhamos sequer bom senso quanto mais poder para pensar sobre a melhor decisão a tomar. Passados alguns minutos, chegaria um metro ao qual nos acenámos para o interior caso eles lá estivessem. Felizmente para todos, eles estavam e repararam nas três crianças no exterior que acenavam desesperadas e tudo acabou em bem!
Digamos que até foi algo divertido, tirando o desespero e lágrimas do meu irmão que duraram alguns minutos, mesmo até, depois de eles chegarem ao pé de nós e tudo se ter resolvido. Acabou por se tornar num exemplo de algo negativo que poderia ter sido evitado e em algo bom para ser refletido e pensado de forma a que não se repita, tanto por nós como por parte dos adultos envolvidos.
Hoje em dia, continuamos a viajar sem nunca perder essa memória tão trágica e, ao mesmo tempo, tão proveitosa para que, enquanto haja uma próxima, seja sempre melhor que a anterior e não tão boa como a seguinte.
Afonso [B(-)]

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Não me enviaram a reformulação Mafalda, Edu, Eduardo, Bernardo.