Viagens do 10.º 3.ª
Ficam as crónicas de viagem (por vezes, mais
relatos de viagem do que crónicas) cujas reformulações me foram enviadas. As
classificações — que acabam por se reportar à primeira versão, a não ser quando
pude notar que não foram lançadas as emendas que introduzira — ficam junto do
nome dos autores. Nesta versão não pus, em geral, as fotografias.
Sardenha –
um postal com vida
Sentada num muro de pedra espera Fabrizio, que
nos daria as chaves do nosso apartamento, enquanto observava com uma pontinha
de incredulidade e deslumbramento a paisagem desconhecida à minha volta, com o
leve barulho de fundo das ondas a embaterem nas rochas, metros abaixo dos meus
pés. Acho que ainda não tinha interiorizado totalmente que estava ali, onde
parecia que tudo, desde o ar que respirava até ao chão que me suportava, era
diferente e simultaneamente estranhamente familiar, como se tivesse um eco
daquela paisagem presente na minha memória. Entretanto Fabrizio lá se fez
aparecer dobrando calmamente a curva na sua vespa branca e apresentando-se com
um pedido de desculpas em inglês macarrónico e um grande sorriso na cara.
A vila era, de facto, muito bonita desde o seu
pequeno, mas imponente castelo lá no alto, até às vielas que pareciam
multiplicar-se a cada passo dado. O pequeno conjunto de casas, repleto de cores
vivas em tons alaranjados, encontrava-se voltado para a praia, lá em baixo.
Esta tinha sempre uns poucos turistas e um ou outro local, mas nunca estava
completamente cheia, o que confirmou a minha feliz suspeita de que a nossa vila
ainda não tinha sido totalmente “descoberta” (como já o tinham sido muitas
outras que visitamos a seguir, e cujas praias se tornavam, por isso mesmo,
quase impossíveis de desfrutar). A minha parte favorita do dia era o por do
sol: aqueles finais de tarde passados na piscina, com um grupo alegre e
barulhento de espanhóis ou umas crianças sorridentes a chapinhar na água, todos
a aproveitar os últimos raios de um sol que se ia escondendo languidamente no
horizonte, deixaram certamente saudades.
Passámos também uns dias em Porto Cervo, na
Costa Esmeralda, que é de grande fama e, por isso, com praias, ruas e
esplanadas mais cheias, mas nem por isso menos encantadoras. A vila não tinha
aquela rusticidade de Catelsardo, mas compensava-o com umas praias lindíssimas,
provavelmente as mais bonitas que já vi, que me faziam sentir como se estivesse
a experienciar um postal ao vivo.
Mas a Sardenha não é só praia, e houve um dia em
que nos aventuramos mais para o meio
da ilha, onde acabámos por descobrir um sítio chamado Nuraghe Santu Antine. O local estava repleto de variadíssimas
construções pré-históricas como antas e pequenas casas de pedra, que nunca
deixam de me impressionar. Acho impossível não pensar em toda a história
contida naquelas paredes, não questionar o que foi vivido naquele local, do
qual nada ou quase nada sabemos ao certo, mas que, ainda assim, nos esforçamos
por descobrir, com a pouca informação que temos, como se montássemos um puzzle.
Num dos últimos dias decidimos ir até à Ilha de
La Maddalena, ilha vizinha da Sardenha, a que se liga por uma ponte. Aí
encontrei mais um pequeno paraíso, mas descrevê-lo, admito, pode soar
estereotipado (praia semi-deserta, fina areia branca, águas cristalinas…),
embora saiba que era exatamente isso que procurava naquela tarde algures em
fins de agosto. Enquanto o sol já ia dando sinais de que começava a afrouxar e
preparávamos as coisas para ir embora, lembro-me de tentar ao máximo capturar o
momento em toda a sua plenitude: um veleiro no horizonte, um casal alemão a
aproveitar os últimos banhos de sol do verão antes de voltar para a sua cidade fria e escura, a cor daquele mar azul
turquesa, mais intenso no horizonte e mais suave junto à costa, uma família
italiana cuja conversa se faz ouvir levemente (como é bom ouvir italiano!) e,
mais uma vez, aquela sensação – a viver dentro de um postal.
Ana T. [MB]
A viagem
de sonho
A ideia desta viagem surgiu juntamente com a
minha melhor amiga. Já vinha desde há muito tempo, mas nunca tivemos a
possibilidade de a concretizar. Nós falávamos disto desde pequenas, por volta
do 7º ano. É claro que duas jovens nunca poderiam sair do país e ir para a
América assim, “do nada”. Então, ficávamo-nos só pelo sonho.
O nosso sonho era conhecer bandas famosas por
toda a América, irmos a todos os parques aquáticos possíveis, a todas as praias
e divertirmo-nos como se não houvesse amanhã.
Tivemos de esperar exatamente dez anos para tudo
isto se concretizar. A ideia de viajar parecia fantástica porque, quando éramos
pequenas, nunca pensámos que fosse preciso preencher tantos documentos. Mas
preenchemos os papéis o mais depressa possível com o medo de perdermos as vagas
no avião pois as viagens feitas em agosto costumavam acabar muito depressa.
Ao entrar no avião nem acreditávamos que estávamos
finalmente a concretizar o nosso maior sonho, e, no entanto, lá estávamos nós.
Era a primeira vez que estávamos as duas a andar
de avião, as pessoas até olhavam para toda a nossa excitação, que desapareceu
assim que o avião começou a funcionar. Depois de nos habituarmos ao facto de
estarmos num avião, sossegámos e fomos observando as pessoas a adormecer à
medida que a viagem se tornava mais longa. Nós nem durante cinco minutos
fechámos os olhos: é verdade que também não fomos a conversar durante a viagem
porque já tínhamos falado todas as conversas existentes no mundo mas para isso
é que servem os telemóveis.
Quando
chegámos a Los Angeles, fomos guardar as malas no quarto, esquecemos o cansaço
e começámos logo a nossa aventura. Andámos de montanha russa, e ficámos a tirar
fotos até o sol se pôr. Voltámos para o hotel e adormecemos. Na manhã do dia
seguinte, experimentámos fazer surf e foi a melhor sensação das nossas vidas,
parecíamos duas crianças a querer experimentar tudo ao mesmo tempo.
Na semana seguinte fomos a Seattle, vimos todos
os monumentos, fomos a várias festas e conhecemos várias pessoas. A meio da
semana tivemos de comprar um cartão de memória porque, com todas as fotos que
tirámos, o cartão já não tinha espaço.
No fim da semana partimos para Miami, onde
andámos de barco. As paisagens eram todas maravilhosas e nós estávamos cheias
de pena porque a viagem dos nossos sonhos estava quase a terminar mas, antes
disso, eu tive de planear a melhor festa de aniversário para a minha melhor
amiga, que fazia anos na última semana dos nossos sonhos.
Com a festa já toda planeada, o dia de anos dela
aproximava-se tal como a nossa semana em Orlando. Nos primeiros dias
limitámo-nos a ir a algumas praias, mais no meio da semana fomos à Disneyland e
ao Seaworld e, no penúltimo dia (o dia de anos da minha melhor amiga), fomos a
um concerto do nosso maior ídolo. Dei-lhe várias prendas como o bilhete do
concerto. Mas pensam que fiquei por aqui? Não, combinei com o meu e o namorado
dela encontrarem-se no concerto connosco porque o namorado dela já há muito
tempo se queria declarar mas nunca tinha encontrado a altura certa para tal.
Então, em pleno concerto, o namorado dela aparece no palco e declara-se.
No regresso a casa, senti que, por muito
inalcançáveis que os nossos sonhos pareçam ser, é sempre possível realizá-los.
Carlota [S]
Com vista
para o mar Cantábrico
O dia amanhecera chuvoso mas a guia recebia os
turistas com entusiasmo. Iam partir em viagem de grupo por alguns dias, a boa
disposição era essencial. Do Ribatejo rumo à Cantábria, o percurso
avizinhava-se moroso.
Sorri-lhe e sentei-me à janela. Acenei lá para
fora e aconcheguei-me, já o autocarro percorria a A23. A paisagem não me era
desconhecida, por isso, até Vilar Formoso os olhos semicerraram-se várias
vezes. Perto de Salamanca, a paragem para almoço foi breve, prosseguindo o
itinerário por Tordesilhas/Valladolid, ladeando-se os Picos da Europa, que se
vislumbravam ao longe cheios de neve. A chegada à capital cantábrica aconteceu
ao final do dia. Aqui pernoitámos no hotel que nos acolheria durante esta
estadia.
A visita a Santander, na manhã seguinte, foi o
início de cinco dias inesquecíveis. Espraiando-se por uma larga baía, os seus
jardins Pereda, a Catedral e a Península de la Magdalena encheram-me os olhos
de beleza e de história! A tarde foi também de contemplação, no exterior da
Pontificia Universidad e nos interiores do Sobrellano Palácio e do El Capricho,
de Gaudi, o arquiteto catalão modernista, na aldeia histórica de Comillas.
Outras visitas muito enriquecedoras continuaram pela costa cantábrica — em
Santillana del Mar, um passeio a pé pela cidade velha, admirando o património
de pedra dourada; em San Vicente de la Barquera, o castelo e a esplêndida vista
da altaneira Igreja de Santa Maria de los Angeles; em Liérganes, uma das
aldeias mais bonitas de Espanha, a lenda do homem-peixe.
Na província da Biscaia, Guecho, Portugalete e a
capital Bilbao eram também pontos da agenda turística. Confesso que entrar no
País Basco gerara em mim um misto de sentimentos. Afinal, não fora há muito
tempo que a ETA terminara o conflito armado de seis décadas. Quem sabe se,
impulsionados com o independentismo da Catalunha, os nacionalistas da ETA não
desrespeitam a trégua acordada? Para compensar pensamentos negativos, veio-me à
memória a coragem de Hans ao vencer as tempestades do Golfo de Biscaia, na sua
fuga de Vig.
A famosa Ponte da Biscaia, Património Mundial da
Unesco, que une as duas margens da ria de Bilbau, a primeira do seu género a
ser construída no mundo, deixou-me boquiaberta, pela sua singularidade.
Sobrevoar a ria, de barco, foi igualmente uma experiência única. E as obras de
arte à volta do Museu Guggenheim (com exposição de Joana Vasconcelos no próximo
agosto) deslumbraram-me pela imponência. A escultura floral do cachorro gigante
“Puppy”, de Jeff Knoons, colocada na entrada principal da praça para nos dar as
boas vindas, e a aranha “Mamá”, com seus ovos, da escultora Louise Borgoise,
simbolizando a força e a fragilidade da maternidade, são dois exemplos dessas
obras impressionantes. O projeto do Museu fez parte de um esforço de
revitalização de Bilbao, após a decadência das indústrias nos anos oitenta,
tornando-se numa referência da arquitetura contemporânea. Desenhado por Frank
Gehry, construído em vidro e titânio e com a forma de navio ancorado no rio,
foi inaugurado em 1997, logo se transformando em símbolo da cidade. Ainda em
Bilbao, não pudemos deixar de provar os Pintxos, uma especialidade basca,
admirar o Barrio Deusto e passear pela Cidade Velha e as Sete Ruas.
E foi assim que, de alma e sentidos cheios de
cultura e aventura, regressei a Portugal, não sem antes fazer a paragem
obrigatória em Salamanca para revisitar a Catedral, afluir à Plaza Mayor por
uma das suas doze entradas e sentir a agitação estudantil da Universidade.
Inês S. [MB-]
Sonhos em
altitude
Desde que me lembro estava à espera deste dia. O
dia em que finalmente andei de avião.
“Inesquecível” é a única palavra que me ocorre
para aquela experiência com que sonhei toda a minha vida. Voar faz-nos sentir
estranhos, não por estarmos a literalmente a 11.000 metros do chão mas pelo
simples facto de estarmos a voar. Atravessamos as nuvens e vemos aquele
magnífico e puro pôr do sol e, alguns minutos depois, a escuridão aparece. E seria
de esperar que fosse assustadora, mas não: ver aquelas luzes ao longe formando
“pequenas” cidades é absolutamente de cortar a respiração, é mágico.
O primeiro destino foi Londres, o lugar onde
mais desejava ir pois adoro toda a cultura inglesa e tudo o que tenha a ver com
o Reino Unido. Londres foi tudo aquilo que eu sonhava e mesmo mais. As pessoas
foram simpáticas e prestáveis e, mesmo com a minha pronúncia não muito boa
conseguiram ajudar-me. Adorei cada segundo que lá passei, andar pelas ruas e só
ouvir inglês. Andar no London Eye foi inesquecível. Londres é, sem dúvida, um
sítio a que quero muito voltar.
Quase sem
dar conta estava novamente num avião desta vez para outro continente.
Como não havia voos diretos para os Estados
Unidos, fiz escala no Canadá, o que foi ótimo porque, apesar de ter pouco tempo
para estar lá é sempre mais um país e mais uma cultura.
O meu penúltimo destino foi então os Estados
Unidos da América, sítio a que eu e a minha melhor amiga sempre desejámos ir.
Portanto, não fazia sentido ir lá sem ela. Os dias que lá passámos foram
incríveis e ter feito aquilo com ela foi ainda melhor.
Aterrámos em Nova Iorque no mesmo dia e o nosso
reencontro foi deveras sentimental mas, por causa do jet lag fomos direitinhas
para o hotel. Passámos dois dias na cidade que nunca dorme, fomos ao Central
Park, Empire State Building, com uma das vistas mais bonitas que já vi em toda
a minha vida, e à famosa Times Square.
Como surpresa no dia anterior ao aniversário da
minha melhor amiga, apanhámos um avião para Orlando, Flórida, o nosso destino
de sonho desde que temos doze anos. Ficámos lá três dias, celebrando o seu 23º
aniversário na Disney. Os restantes dias foram passados a passear na praia e a
ir ao maior número de parques de diversões que pudéssemos encontrar.
Entrámos noutro avião, este com destino a Las
Vegas onde apenas passámos a noite e, de seguida, partimos naquela que seria
sem dúvida a maior aventura das nossas vidas.
O nosso último destino foi o Havai o plano era
ficar uma semana mas simplesmente não conseguíamos sair de lá. Aquela ilha foi
como um íman que ao passar do tempo nos ia atraindo mais um pouco, tudo desde
as barulhentas mas pacificas praias até às montanhas e vulcões aparentemente
pacíficos mas sem dúvida assustadores, nos faziam querer ficar sempre mais um
dia. Um dia deparámo-nos com uma senhora idosa que ao aperceber-se que
estávamos a apaixonar-nos pela ilha ofereceu-nos lugar para ficar, esta relação
foi benéfica para ambas as partes pois a senhora mostrava-nos a ilha e nós fazíamos
lhe companhia e ajudava-mos com as tarefas domésticas.
Infelizmente a senhora faleceu um mês depois de
a termos conhecido e como não tinha mais ninguém deixou-nos a casa, o que foi
algo que nos chocou bastante mas a partir desse momento soubemos que tínhamos
de ficar lá.
Portanto aquilo que seria uma estadia de uma
semana prolongou-se para três meses e não creio que vá acabar num futuro
próximo, pelo que estou a escrever isto diretamente de Oahu.
Beatriz P. [S(-)/S-]
{Eu pedira
um título expressivo}
Esta viagem surgiu a convite dos meus avós,
quando eu tinha apenas seis anos. Na altura, sendo os meus irmãos muito
pequenos, levaram-me só a mim a Paris. Foi a maior viagem da minha vida e foi
excecional. Como na altura era muito novo, lembro-me só de algumas coisas, que,
juntamente com aquilo que os meus avós me foram recordando durante todos estes
anos, passarei a contar.
Lembro-me que fomos de avião, por volta do
verão. Partimos do aeroporto de Lisboa e fizemos um voo direto até ao aeroporto
de Paris. Antes de ter partido, os meus pais avisaram-me de que seria provável
que sentisse dor de ouvidos, mas, felizmente, isso não aconteceu.
Quando chegámos a Paris, apanhámos um autocarro
até ao hotel, que ficava perto da Disneyland. Passámos uns dois ou três dias
nesse hotel. A única coisa que fizemos nesses dias foi ir ao parque de
diversões. Este é o lugar de que tenho mais memórias, provavelmente por este
ser um dos sítios que as crianças mais querem visitar. Lembro-me de dar um
passeio de barco por um grande lago e de ter ido àquele tão conhecido palácio.
Vimos também um desfile magnífico com todas as personagens dos filmes da
Disney. Vi ainda um espetáculo de que a única coisa que me lembro foi ter
acabado com um homem em chamas a andar de moto. Gostei tanto deste espetáculo
que, no dia seguinte, antes de termos de deixar o hotel, voltei a vê-lo.
Nessa tarde apanhámos um comboio para o centro
de Paris. Ficámos num outro hotel, não muito grande, num pequeno quarto onde
dormi na cama de cima de um beliche. Ficámos neste hotel mais duas noites, o
que permitiu para vermos bastante da zona turística de Paris.
Obviamente que não pudemos deixar de ir à Torre
Eiffel, um dos locais mais importantes da capital francesa. Lembro-me que
apenas ficámos no segundo andar porque eu tinha medo de ir ao topo. Fomos também ao Arco do Triunfo e à catedral
de Notre Dame. Numa das tardes que lá passámos demos um passeio de barco pelo
rio Sena. No último dia que estivemos em Paris fomos a um café onde pela
primeira vez falei em francês com alguém. Eu tinha sede e pedi ao meu avô um
copo de água, mas ele disse-me para ser eu a pedir. Atrapalhadíssimo,
perguntei-lhe como é que isso seria possível, uma vez que eu não falava
francês. Ele disse-me o que é que eu tinha de dizer e lá fui eu, sozinho,
bastante inseguro, pedir um copo de água ao empregado do café. E acho que não
correu assim tão mal, pelo menos voltei com um copo de água nas mãos.
Mais tarde partimos para Lisboa, tendo chegado
ao final da tarde. Durante a aterragem doeram-me os ouvidos, o que estragou
ligeiramente o final da viagem. Acho que os meus pais estavam lá à nossa
espera.
Apesar de não me lembrar muito desta viagem,
acho que se pode dizer que foi uma das magníficas que alguma vez tive. Em
primeiro lugar, porque Paris foi a única capital europeia que visitei até hoje,
para além, claro, de Lisboa. Em segundo lugar, porque fui com os meus avós e
foi muito bom ter podido partilhar esta viagem com eles. Por último, porque
gostei imenso do que vi e adquiri uma série de novas experiências. Ainda hoje
me lembro das duas primeiras palavras francesas que aprendi durante o tempo que
estive em Paris, «bonjour» e «merci».
Francisco [B/B(+)]
Roma, um emblemático museu ao ar livre
Desde sempre que
sonhara viajar para Roma. E, finalmente, essa oportunidade chegara, chegara o
grande dia, o dia em que ia conhecer a minha cidade predileta.
Fui ao encontro de
uma cidade que pode ser considerada um museu de dimensões gigantescas e ao ar
livre: por cada esquina, um monumento, uma estátua ou um edifício emblemático,
mas sem aqueles seguranças aborrecidos mas com legitimidade para pedir para
fazermos silêncio. É uma cidade com grandes histórias escondidas em cada um dos
seus recantos, histórias maravilhosas e encantadoras, cheias de emoções que
mexem connosco, aliás capazes de nos envolver de tal maneira que nos deixam
embrenhados no seu enredo. Estamos sempre a dar de caras com algum local
importante quer nas estradas principais quer, até mesmo, naquelas ruazitas
estreitas onde há apenas um sentido para a circulação de viaturas.
Roma, capital de
Itália, é uma cidade para ser visitada a pé não sendo necessário utilizar o
metropolitano, que é constituído por apenas duas linhas, tão frequentemente
como seria necessário noutra das grandes capitais europeias. É uma cidade na
qual por meio daquelas ruas, que me remetem para uma época semelhante às da
minha cidade natal - Lisboa, procuramos pelo desconhecido enquanto observamos o
movimento nas estradas, desde os carros a alta velocidade aos autocarros nos
quais, pela minha experiência, devemos ter cuidado.
Cada vez que me
lembro daquele autocarro apinhado de pessoas ao ponto de começarmos a sentir
uma certa claustrofobia, lembro-me também do primeiro e único assalto a que
assisti. Estava eu com a minha família a tentar sobreviver à nuvem de calor que
nos acompanhava no autocarro quando, de repente, oiço gritos e percebo que
vinham de umas pessoas muito perto de mim, estavam a ser assaltadas,
levaram-lhes o telemóvel e todo o dinheiro que traziam. Foi aterrorizador, até
para mim que apenas assistia e rezava para não ser o próximo alvo. Felizmente,
saí logo na paragem seguinte com todos os meus pertences bem seguros nas minhas
mãos. Estas foram apenas algumas memórias que esta viagem trouxe e que vou guardar
para sempre.
O ponto forte da
viagem fica em todos os lugares visitados, desde o Coliseu aos museus do
Vaticano, não esquecendo o Panteão e as menos conhecidas mas igualmente belas
Termas de Caracala. Tradições, costumes e todos os pequenos pormenores desta
grande cidade vão ficar na minha memória.
No final, fica um
sentimento de satisfação e um desejo imenso de encontrar um novo destino para
uma futura viagem. Fica, também, o orgulho em ter conseguido pedir uma faca que
cortasse decentemente mesmo quando o dono da casa não percebia nada do que eu
dizia e um agradecimento especial a todos os portugueses encontrados que nos
facilitaram a vida. Já para não falar das saudades de todos os momentos vividos
nesta cidade que eu tanto estimo. Foram sete dias em busca do desconhecido que
merecem ser recordados por mim e por todos os que me acompanharam nesta bela
aventura.
Inês C. [B+]
Um dia no
paraíso escondido
A casa é pequena e acolhedora. Pertence a um
primo, Pedro, que convidou a família toda a passar uns dias na sua terra natal,
Idanha-a-Nova. No total, somos nove pessoas, entre os nove e os trinta e seis
anos. Os meus pais não vieram e, embora tenha adultos a tomar conta de mim, a
sensação de liberdade é muito maior.
O Pedro é o nosso guia. Delineou um itinerário
para cada dia, de modo a que possamos desfrutar destas pequenas férias da
melhor maneira possível. O de hoje começa com uma visita à histórica aldeia de
Monsanto, a cerca de 30 km da vila de Idanha. A dita aldeia mais portuguesa de
Portugal tem uma vida que eu nunca imaginaria. Enquanto subimos as ruelas
estreitas e inclinadas, há restaurantes típicos que emanam um cheiro
maravilhoso, lojas de artesanato típico, até uma pequena gruta escavada na
rocha.
Chegamos ao topo do monte, onde se situa o castelo.
A vista deslumbrante com que nos deparamos deixa-nos boquiabertos. Percebemos
que este é um daqueles momentos que ficarão na nossa memória para sempre.
Estamos em Julho e, enquanto descemos, o calor já se faz sentir. Compramos
gelados a um senhor muito simpático que os vende no meio da rua.
A próxima paragem são as piscinas naturais de
Penha Garcia. Chegamos lá após uma curta mas animada viagem de carro, e as
inúmeras vezes que o Pedro nos descreveu como o sítio era bonito não nos
prepararam para a paisagem que nos esperava. A água fria e cristalina, com uns
dois metros de profundidade no sítio mais fundo, uma pequena cascata, as
sombras de árvores perfeitas para pousarmos as toalhas e o silêncio
contrastante com o ruidoso mundo exterior tornam esta paisagem numa das mais
paradisíacas em que já estive. As crianças deliram, os três adultos tentam em
vão disfarçar os sorrisos de êxtase. Não trouxemos almoço de casa, e já passa
da hora de almoçar, mas ninguém pensa sequer em abandonar este sítio sem dar um
pequeno mergulho para abrir o apetite. Concordamos ficar só um pouco, para nos
instalarmos, e depois irmos procurar um restaurante nas redondezas.
À medida que as horas vão passando, a fome vai
apertando, mas vai sendo tenuemente saciada pelas bolachas e peças de fruta que
trouxemos com o intuito de servirem de lanche. Ainda não almoçámos, mas ninguém
tem vontade de abandonar este local, por isso vamo-nos deixando estar a brincar
na piscina. Penso que todos partilhamos o receio de que, se formos embora,
quando voltarmos este lugar já não esteja cá, como se fosse agora fruto da
nossa imaginação, um delírio apenas, talvez resultante da ingestão de gelados
em estado de conservação duvidoso.
Para além de lúdico, este lugar tem também uma
componente histórico-cultural. Mesmo ao lado da piscina há uns trilhos que
enveredam pela serra, pelos quais quatro de nós decidimos aventurar-nos. Chamam
a estes trilhos a rota dos fósseis, por causa da enorme quantidade de restos de
animais pré-históricos que podemos identificar nas rochas que ladeiam o
caminho.
Acabamos por não almoçar, mas, graças às
bolachas, ninguém está muito preocupado. Sabemos que vamos comer quando
chegarmos a casa. Por volta das seis da tarde, levantamos acampamento e vamos
embora, com a barriga vazia e o coração cheio.
Teresa [MB]
Paris, uma
viagem de sonho...
A viagem a Paris é uma daquelas que ficam sempre
guardada na memória e em que se eternizam todas as sensações vividas.
Em um passeio por Paris somos envolvidos por
muitas experiências únicas para nossos olhos e não só. Foi a minha primeira
aventura no estrangeiro, mas vivi momentos especiais, vi imagens emocionantes e
tive sentimentos difíceis de serem explicados verbalmente, mas fáceis de serem
sentidos…
Mas nem tudo é um mar de rosas!... Quem teria
coragem de pensar em tudo isto? Quem diria que, por vezes, atrás das fotos que
são publicadas nas redes sociais, jornais, etc., há alguém irritado com o resto
do mundo porque o voo atrasou, porque se esqueceu de algo, porque a comida do
sítio onde se ficou hospedado não prestava.
Para ser mesmo verdadeira, o único pormenor que
me deixou dececionada foi a comida que nos era apresentada para quem iria ter
um dia longo de passeio.
Estão a imaginar levantarem-se cedo, com algum
sono e fome à mistura, e depararmo-nos com pouca comida para podermos começar
um dia de muitos quilómetros? Dava quase vontade de sair e ir ao primeiro café
com os belíssimos croissants de que tão bem se fala em Paris…. Mas, como íamos
com os “euros” contados, teríamos de ficar e habituarmo-nos à ideia de
aproveitar bem o que nos davam para pequeno-almoço.
No entanto, nem tudo foi mau. Lembro-me de ter
saído de casa com O nervosismo causado por toda a aventura toda a aventura que
iria ser: já tinha andado de avião uma vez mas sem ser com a escola… Cheguei ao
aeroporto, vi onde estavam os meus amigos e professores e tivemos que ficar um
bom bocado à espera para fazer o check-in.
Estávamos todos ansiosos, uma vez que nem toda a
gente tem a oportunidade de fazer estas viagens com os colegas de turma.
Eis que chega a hora de voarmos e correu tudo
bem. Quando chegámos à tão famosa cidade de Paris, ficaram todos maravilhado e
seguimos para o hotel, nos arredores da cidade, já tinha visto fotos e era tudo
o que imaginava, mas ainda melhor porque eu estava lá. Deixámos as coisas no
quarto e, logo de seguida, fomos passear até à Tour Eiffel. Estavam todos
maravilhados no autocarro a ver as belas paisagens e a tentarmos acreditar que
realmente éramos nós que estávamos ali…
Passeámos o mais que pudemos e depois, quando a
fome apertou, fomos ao Mac Donalds, que fastfood por fastfood, o nosso é bem
melhor e mais barato.
Regressámos ao hotel e cada um foi para os seus
quartos para que, assim que o despertador tocasse, seguíssemos a tão
maravilhosa aventura que estávamos ainda a começar.
Nos restantes dias, ainda foi mais maravilhoso
porque conhecemos o Sacré-Coeur, a Notre Dame, Palácio de Versailhes e muito
mais.
Mas o que me fascinou mais foi a tão esperada
ida à Disneyland Paris, um mundo à parte no qual eu gostaria de viver. Não
deixem de realizar a vossa viagem de sonho…
Margarida T. [S/S(+)]
Uma viagem
destinada a acontecer
A cidade de Nova Iorque é vista pela cultura
ocidental como um dos melhores sítios do mundo. Talvez pelos seus aranha-céus
magníficos, talvez pela sua riqueza cultural, com monumentos e museus em todas
as ruas, talvez por ter um parque verde quase em cada esquina, e um deles ser
maior que muitas das aldeias em Portugal. Mas, mais provavelmente, por ser o
local onde se passam inúmeras séries e filmes que se viram em televisões e
cinemas no mundo inteiro.
Uma viagem a Nova Iorque é considerada por parte
da população como uma viagem obrigatória na vida de qualquer pessoa. Eu nem
discordo nem concordo, visto que foi a única viagem que fiz para fora de Lisboa
na minha vida toda. Assim, não tenho maneira de comparar Nova Iorque a outras
cidades. Para mim, os três melhores sítios do mundo são Estocolmo, Nova Iorque
e Lisboa, cada um deles com a sua razão de estar na minha lista.
Desde que entrei para o meu primeiro emprego,
aos vinte anos, comecei a poupar dinheiro para fazer uma viagem, cujo destino
ainda não estava definido na altura. Aos vinte e cinco anos decidi ir sozinho
para Nova Iorque durante um mês para ver se a cidade era tao boa como os meus
pais diziam.
É certo que os meus pais não estavam errados
quando diziam que as ruas estavam constantemente cheias de pessoas de
diferentes culturas, e que a cidade tem uma certa beleza inexplicável para quem
nunca a visitou, uma beleza proveniente do cimento dos passeios e dos vidros
dos edifícios que, incrivelmente, dão uma cor vívida à cidade.
Passei um dos primeiros dias em Brooklyn, a
apreciar todos os grafittis pintados nas paredes, grafittis que na minha
opinião não deviam ser considerados vandalismo, por terem tanta qualidade.
Depois dessa manhã e tarde fiquei a adorar arte e decidi ir ao museu da arte
moderna à noite mas, enquanto caminhava para lá, vi um clube de jazz e decidi
entrar. Acabei por não ir ao museu nessa noite. Mas foi a primeira coisa que
fiz na manha do próximo dia.
Talvez fosse o destino ter entrado naquele
estabelecimento onde se tocava jazz e se bebia whiskey, em vez de ir ao museu.
Já dentro do museu, apreciava uma obra abstrata enquanto fingia que percebia
alguma coisa daquilo, quando uma rapariga loira de olhos azuis me veio
perguntar qual era o pintor. Obviamente que eu não sabia a resposta, e
obviamente que ela queria falar comigo e não sabia o que dizer, porque o nome
do pintor estava escrito na parede. Independentemente das suas intenções, foi o
suficiente para se criar uma conversa interessante entre mim e ela, Mais tarde,
fomos beber café juntos ao starbucks.
Acabámos por gostar muito um do outro, e
perceber que temos muito em comum apesar de sermos naturais de cidades muito
diferentes. Ela viveu a vida toda em Estocolmo, na Suécia. Falou-me tão bem do
seu país e da sua cidade que eu fiquei o fã número um de Estocolmo mesmo sem
nunca ter ido lá. Talvez o facto de eu me ter apaixonado por ela afetasse o que
eu penso sobre Estocolmo, mas, por outro lado, talvez não.
Ela tinha estado lá em Nova Iorque há quatro
meses por razões de trabalho e disse que só queria voltar para casa. Disse
também que ia embora no mesmo dia que eu e ia fazer escala em Lisboa. Acabámos
por verificar que ela ia no mesmo voo que eu e, por fruto do destino, tínhamos
lugar um ao pé do outro. Passámos o resto do nosso tempo em Nova Iorque juntos,
como amantes a aproveitar a vida ao máximo. Foi o melhor mês da minha vida.
Depois de chegar a Lisboa, marquei um voo para
Estocolmo para a visitar. Nunca estivera com tanta ansiedade antes, mas, quando
me lembro do mês que passámos juntos em Nova Iorque, todas as minhas
preocupações desaparecem.
Miguel [S+/B-]
Ampulhetas finitas
Estávamos no final de
agosto, a água movia-se sobre a forma de ondas, rapidamente e de forma
aprazível aos sentidos, como se quisesse que setembro chegasse naquele
instante. Do local onde me encontrava, conseguia observar rostos desconhecidos
a passear pela praia e a aproveitar aqueles que seriam os últimos raios de sol
do dia. Lembro-me de olhar para aquele panorama e refletir sobre tudo o que
tinha realizado naqueles meses de verão caraterizados pela velocidade
estonteante dos dias e por terem sido extremamente felizes. E de como tudo isso
tinha acabado da noite para o dia. Os tons de amarelo misturavam-se com os de
rosa claro como em aguarelas, à medida que me afastava do local que agora,
parece ter sido inventado na minha cabeça.
O dia seguinte foi um
sobressalto. Mal eu sabia que, ao chegar a casa, os meus pais estariam,
juntamente com malas e tudo preparado para uma viagem no mínimo inesperada, à
nossa espera, minha e do meu irmão mais velho, prontos para arrancar para um
local, que naquele momento, ainda era uma incógnita para nós. Foi um momento em
que todos partilhámos uma sensação exclusiva, que só se sente debaixo da pele,
entre ossos, músculos e artérias, um tal sentido de aventura incomparável, pois
o futuro era nosso e cabia apenas a nós escrevê-lo. Sim, pelo menos até
chegarmos à primeira de muitas bombas de gasolina, termos de parar para
inúmeras idas à casa de banho, a fome apertar e estarmos proibidos de comer no
carro novinho do pai e fazermos conclusões surpreendentes: não existem posições
favoráveis para dormir naquele automóvel e as rádios espanholas não são
estimulantes de todo. A partir do Google Maps, que foi a nossa salvação durante
este percurso, decidimos fazer a nossa primeira paragem em Mérida. Antes de
fazermos a nossa própria história e tornarmo-nos gladiadores ou atores de
comédias e tragédias, ao passarmos pelo anfiteatro, tivemos de vencer um
obstáculo ainda maior, na minha opinião quase digno da atenção dos deuses do
Olimpo, o inglês da senhorita Emilía que, por mais que tentasse, não nos conseguia
dizer o preço dos bilhetes. Só com uma mistura invulgar de português e
espanhol, um portunhol do meu pai, é que nos desenvencilhámos.
Já não conseguia ver
mais tapas à frente quando chegámos à Cidade Real: parece uma religião
inventada pelos espanhóis e torna-se realmente um desafio ao tentarmos ler o
menu dos cem montaditos em espanhol. Depois desta pequena cidade, onde todos se
deslocavam casualmente, numa intimidade digna da utilização de chinelos, nós
movíamo-nos à velocidade da luz para chegar a tempo do check-in no hotel em La
Manga, ao qual chegámos após uma viagem de cinco horas. Vou apenas resumir
aquilo que se passou: engordámos três quilos, a água estava cheia de algas, fui
picada por melgas em diversas localizações no meu corpo, incluindo no meu olho.
A foto de família no último dia ficou cómica graças a isso. Posso dizer que a
minha definição de ostentação passou a ser: estar ao sol, a beber a minha Coca
Cola e a ver as senhoras já com alguma idade a fazer hidroginástica na piscina
do hotel. Após uma semana muito longe da perfeição, passámos ainda por
Cartagena e Granada, duas cidades que devem ser exploradas e descobertas (só
tenho pena de não ter havido mais tempo para isso). Porque afinal toda a nossa
vida gira em redor do tempo: passado, presente e futuro. Eu agora, estou aqui,
mas irei tornar-me futura e fico triste por saber que fui a sítios a que,
provavelmente, não voltarei a ir e conheci pessoas que também não voltarei a
ver. No entanto, por agora, aqui, neste momento, estou deitada na areia, a
sorrir contra a toalha. Contaram-me uma piada. Oiço o mar. Estou livre e feliz
à medida que o sol desce e sei que tudo ficará bem.
Margarida O.
[B+]
Ilha da
paz
Era a minha primeira vez a andar de avião. Até
então tinha ido de carro para todos os países que visitara e só por isso já
sentia um frio na barriga. Enquanto sobrevoava aquelas ilhas lindas rodeadas
por aquele mar azul esverdeado, o friozinho aumentava e as dores de ouvidos
também. O avião era enorme, mas o que me fascinou mais foi perceber a
quantidade de línguas diferentes que se falavam ali e as diferentes maneiras de
aqueles aventureiros como nós lidarem com as situações mais banais e
improváveis.
Quando aterrámos, fomos recebidos em primeira
mão por uma quantidade exorbitante de insetos que invadiram completamente o
nosso espaço pessoal, juntamente com uma onda intensa de calor abrasador,
típico daquela região. Fomos guiados durante sete dias por um casal local que
nos deu a conhecer os principais monumentos e os pontos turísticos mais
interessantes. A simplicidade e beleza de tudo o que nos mostraram eram
extraordinários. Não havia nada de muito precioso, nada que desse muito nas
vistas pelo dinheiro ou pela excentricidade. Tudo era realçado pela sua beleza
natural, de origem geológica ou da mais simples intervenção do homem.
Percorremos todos os trilhos de madeira e de
pedra que havia na ilha, subimos todas a montanhas, que naquela altura estavam
verdes e cheias de flores, entrámos em inúmeras casas locais, experimentámos a
sua gastronomia completamente diferente da nossa e absorvermos o máximo de
cultura que conseguimos nesses dias. O casal finalmente mostrou-nos o que eu
mais aguardava enquanto amante do mar. Mostrou-nos as praias mais incríveis que
alguma vez vi, com uma beleza indiscutível e com as melhores ondas que surfei
até agora. A areia era branca e finíssima. A água era transparente e com uma
vida que me arrepiava. Onda após onda a minha paixão por aquele mar aumentava.
Após esses sete dias com o casal que nos guiara,
ficámos mais dois a aproveitar as praias e a descobrir por nós próprios tudo o
que conseguimos. Desde grutas magníficas feitas pela força do mar até aos mais
diferentes peixes que até então só tínhamos visto nos filmes.
Passámos por pessoas espetaculares que nos
ensinaram muito e nos fizeram sentir mesmo que pertencíamos ali, quando, por
outro lado, tudo aquilo era tão diferente e distante da nossa realidade.
Fizemos amigos para a vida, uns com gostos surpreendentemente bastante
parecidos com os nossos e outros com gostos completamente diferentes, o que
ainda foi mais engraçado. A principal razão da viagem era isso: divertirmo-nos,
surfarmos muito e aprendermos o máximo sobre outra realidade e outra cultura.
Algo que me marcou muito foi a atitude daquelas
pessoas perante a vida. A sua cultura encantou-me mais do que qualquer praia. A
maneira como lidavam com as situações e tomavam decisões conscientes e
tranquilas fez-me querer ser como elas. Encarar a vida de cabeça para cima, não
ter medo de enfrentar as suas adversidades e aproveitar cada segundo ao máximo.
Eram pessoas simples, sem muitos bens, sem muito dinheiro, mas com a alma
recheada. Cheios de vida, cheios de amor para dar, cheios de esperança e com a
cabeça livre para novas experiências. Sempre prontos a ajudar, sempre com um
sorriso na cara e com uma vontade incrível de viver.
Sofia [B(+)/B+]
Pela estrada fora
Todos os anos fazia esta viagem, mas,
infelizmente, a última foi há quatro anos e é a única que ainda permanece na
minha memória a quase cem por cento.
Desde pequena que esta viagem anual é uma
“rotina”. Todas estas viagens têm o mesmo destino e o mesmo caminho, mas cada
uma delas apresenta as suas aventuras, diferenciando-se, assim, umas das
outras. Este destino de que falo é a terra dos meus pais, a Moldávia.
A Moldávia é a minha verdadeira casa, é lá que eu
posso estar em contacto com as origens, a cultura dos meus pais, com a infância
que eles tiveram, e é lá que eu posso pensar como seria se tivesse nascido na
mesma aldeia que eles. Para além disto, é neste país do leste que tenho toda a
minha família (avós, primos, tios...). Infelizmente, ter lá a minha família é
algo que me entristece bastante… A
distância é algo difícil de suportar…
Partimos no meu primeiro dia de férias, logo pela
manhãzinha, mal o sol nascera. Carregámos o carro (sim, o carro!) e lá fomos
para mais uma viagem. Sabia que se previam cinco dias difíceis mas como eu
adorava esta aventura, a sua duração era apenas um pequeno pormenor.
Era bastante cedo e eu e a minha irmã mais nova
quase não dormíramos na noite anterior, pelo que decidimos descansar mais um
pouco no início da viagem. Dormir no carro é uma coisa que adoro fazer; estar
ali à janela a ver passar tudo tão rápido, mas tão lento ao mesmo tempo,
provoca em mim um efeito adormecedor. Quando acordei, já tinham passado duas
horas e já estávamos quase a chegar ao primeiro dos muitos países pelos quais
iríamos passar: Espanha. Foi neste nosso país vizinho que fizemos a primeira
paragem para almoçar e “esticar” as pernas, que já estavam dormentes. A sorte é
que o carro era grande, ao estilo de carrinha; havia espaço para nos deitarmos,
jogarmos, etc. Após almoçarmos, voltámos à estrada e as paragens eram apenas
para ir à casa de banho e não mais que isso!
A noite avizinhava-se e já andávamos à procura de
uma bomba de gasolina para jantarmos e fazermos tudo o que tínhamos a fazer
antes de nos deitar. Baixámos os bancos de trás de forma a que estes se
aproximassem do formato de uma cama; enchemos o colchão, puse-mos em cima dos bancos
e eu e a minha irmã deitámo-nos.
Na manhã seguinte, já estávamos em França: o meu
pai conduzira a noite inteira! Acordei com os solavancos do carro (que se
sentiam muito mais atrás) e com os meus pais a falarem. Esta sensação de
acordar de manhã num carro no qual tinha passado a noite toda e que estava em
andamento num país desconhecido é uma sensação indefinível.
Novamente, tivemos de “esperar” que aparecesse na
beira da estrada uma bomba de gasolina, para que pudéssemos ir à casa de banho
e pudéssemos tomar o pequeno almoço.
Foi nesta bomba que uma das primeira peripécias
desta viagem se passou. Eu peguei na minha escova de dentes e roupa e dirigi-me
para a casa de banho juntamente com a minha mãe e irmã. Já quando saíra do carro, sentira uma dor de
barriga esquisita e umas tonturas estranhas e quando estava na casa de banho,
senti que ia desmaiar, não sei como, pois nunca antes tinha desmaiado…
Quando “acordei”, sentia-me como se estivesse num
sonho e a última coisa de que me lembrava era de pensar que ia desmaiar. Depois
disto, o meu pai já pensava em voltar para trás, mas, felizmente, isso não
aconteceu.
Terceiro dia e já tínhamos passado pela Bélgica.
Encontrávamo-nos na Alemanha. As pessoas nativas deste país eram bastante rudes
com os estrangeiros que lá punham os pés, talvez por causa do seu passado
histórico, não é verdade?
Foi aqui que decidimos passar a noite num hostel.
Normalmente, fazíamos esta “dormida” para descansarmos e passarmos uma noite
mais “normal” que dormir num carro.
Ficámos num hostel muito acolhedor que pertencia
a um casal de idosos. O quarto era muito familiarizante e os seus donos foram
bastante simpáticos (o que não seria de esperar), apesar de não conseguirmos
comunicar na mesma língua. Dizer que queríamos uma noite para quatro pessoas
foi bastante difícil; foi uma conversa tudo menos comunicativa, demo-nos a
entender por gestos, desenhos, etc. Esta foi outra das aventuras mais marcantes
desta viagem, mas felizmente que aconteceu, pois nessa noite chovera imenso e
caíra granizo fortíssimo…
Era já o quarto dia de viagem e era a partir
daquele momento que o tempo parecia andar mais devagar, o que me irritava
profundamente, pois sabia que já faltava pouco para me sentir em casa e os
minutos aparentavam durar horas…
Durante grande parte do dia viajámos pela
Áustria, que, definitivamente, era o país pelo qual eu mais adorava passar. Era
nesta parte da viagem que a minha família nem se apercebia de que estava no
carro, pelo facto de eu ir tão calada. Sentada à janela e com os phones nos
ouvidos, olhava para aquela paisagem…
Lembro-me deste momento como se fosse hoje… Tudo
à volta era cor e aquela que mais predominava era o verde e os seus diferentes
tons. À primeira vista, pareciam só existir árvores; árvores de todos os tipos:
altas, baixas, com folhas, sem folhas… Mas, com mais atenção, conseguíamos
reparar em pormenores, tais como as flores que brotavam, os girassóis que
pareciam estar a ser comandados por alguém, as casinhas muito pequeninas que
estavam escondidas por entre as árvores, cataventos que pareciam tão altos como
arranha-céus, cavalos que corriam pelos campos verdejantes dos lavradores,
vacas que pastavam, etc… Tudo isto me encantava e esta imagem permanece e
permanecerá sempre na minha memória.
Já se fazia noite e há algum tempo que entráramos
na Hungria, mas este é o único país do qual não tenho nenhuma imagem, pois o
atravessámos durante a noite e de manhã já nos encontrávamos na Roménia, o país
vizinho do nosso destino.
A Roménia, em termos de paisagem, é um país que
vale mesmo a pena visitar; as suas montanhas, os seus castelos e palácios, os
seus rios e lagos são paisagens excecionais. Infelizmente os romenos, em geral,
são pessoas bastante mal-educadas e agressivas e, por causa disso, nunca
costumamos parar em nenhum sítio movimentado para comer.
Finalmente, quando já se fazia noite, demos
entrada na Moldávia!
Ainda percorremos alguns quilómetros até à aldeia
dos meus pais. O facto de já estarmos no país fazia-me sentir muito bem. O
reecontro com a minha família é sempre inexplicável e emocionante; os
sentimentos estão todos à flor da pele, mas a saudade é o sentimento principal…
Beatriz B. [B(-)/B]
Um mundo
visto por outros olhos
Ao completar o meu décimo oitavo aniversário
foi-me dado como presente pela minha mãe uma viagem pelo mundo. Era uma viagem
com destino a um país de cada continente.
Tinha chegado o meio do ano e a minha viagem
pelo mundo aproximava-se. Na madrugada, ainda sem os primeiros raios de sol à
vista, era hora de levantar e ir para o aeroporto, para a viagem que ia mudar a
minha vida.
Despedi-me apressadamente da minha mãe, tão
apressadamente que ainda hoje não me recordo desse momento. Sentei-me nas
confortáveis cadeiras que o avião tinha à disposição dos passageiros e fiquei
ali, quieta, imóvel, como se estivesse a ter um pequeno ataque. Talvez até o
estivesse a ter, mas de entusiasmo. Era a primeira vez que ia ver o chão a uns
longos metros de distância dos meus pés.
O avião descolou, foi a sensação mas esquisita
que alguma vez tinha sentido. Contudo eu olhava apenas através de um pequeno
vidro numa pequena janela e sorria, parecia uma criança feliz! Quando estávamos
já lá em cima, onde parecemos conseguir tocar nas nuvens, vi Lisboa pequenina,
lá muito em baixo e com os prédios a parecerem formigueiros. O resto da viagem
foi serena.
Ainda nem contei: o primeiro destino era Itália
e não ia sozinha, ia acompanhada de outras pessoas que iam para os mesmos
destinos que eu. O Tomás, o Rui, o Guilherme e a Raquel foram os primeiros
amigos que fiz durante esta grande viagem que durou cinco semanas.
Chegámos a Itália, mais precisamente à sua
capital, Roma. Durante esta semana ficámos a conhecer um pouco sobre a cultura
e gastronomia italianas. Conhecemos a Torre de Pisa, o Coliseu e refrescámo-nos
nas extensas costas das praias italianas.
Seguimos para a Austrália. Na verdade, para
Sidney, uma das capitais que tinha mais interesse em conhecer. Sempre me
fascinou Sydney, talvez pelos seus monumentos ou até por estar perdida no meio
dos oceanos Índico e Pacífico. Ao longo de sete dias pudemos conhecer a cidade
mais populosa de toda a Oceânia e, confesso, adorei.
No decorrer desta maravilhosa viagem aprendi que
esta não era apenas uma viagem mas uma lição, uma aprendizagem que ia levar
para a vida. Um dos meus amigos, o Rui, era surdo-mudo e a sua única maneira de
falar connosco era através da língua gestual. Na verdade, eu já tinha
conhecimento do que era a língua gestual pois na minha escola havia alunos
surdos-mudos cujo único modo de conseguirem falar era essa língua. Admito: eu
sempre adorei a língua gestual e desde pequenina que tinha curiosidade em
aprendê-la.
Esta era a história de Rui, adequava-se
literalmente a esta viagem de fazer novas descobertas, à qual chamei “o mundo
visto por outros olhos”. Era exatamente isso que sentia e vivenciava naquelas
curtas cinco semanas. O mundo e as descobertas de Rui eram muito diferentes do
que imaginava e do que para mim era conhecer o mundo.
A viagem seguiu. Desta vez fiz um safari por
África onde conheci as mais diversas espécies de animais.
O próximo destino era Miami. O que mais me
fascinou foram as suas bonitas praias e uma viagem de barco que fiz, em que
consegui ver golfinhos e baleias.
O último destino era a Amazónia, aquele cantinho
no mundo que considerei mágico. Por momentos, dei por mim numa bonita floresta
tropical junto das mais diversas e distintas espécies de seres vivos.
E, finalmente, depois de cinco semanas a
conhecer uma parte daquele que é o grande planeta em que vivemos, cheguei. Durante
toda a viagem de avião vim calada, como se me tivessem tirado a voz, como se
algo de mim tivesse ficado em cada lugar que visitara. Senti-me como se fosse
expulsa da minha própria casa, como se o mundo e cada cantinho agora me
pertencessem, fossem agora também meus. Quando me aproximei da minha mãe,
depois de cinco semanas sem a ver, tive um misto de reações, mas estas
desapareceram quando ela me abraçou e eu senti o seu coração. E percebi que
ali, sim, era a minha verdadeira casa!
Carolina [B-]
{Devo ter
pedido um título expressivo ou esqueci-me?}
Faltava aproximadamente uma hora para aterrar em
Amesterdão um dos meus dois destinos, onde iria ficar um dia antes de partir
para a Islândia. Quando cheguei, sabia que não tinha lá muito tempo, por isso
antes de partir tinha preparado um plano infalível. Primeiro de tudo, apanhei
um autocarro para Prinsengracht, local onde se localizava a casa de Anne Frank.
Aproveitei aquela meia hora de autocarro para
olhar para as paisagens. Fiquei encantada pela beleza da cidade, mas o que me
chamo logo a atenção foram as casas, pois tinham uma cor e uma inclinação
particular. Tendo então ido pesquisar a sua história, fiquei a saber que, como
os solos ficavam a baixo do nível do mar, são movediços, fazendo com que os edifícios
precisam de acompanhar a movimentação dos terrenos para mão desabar. Logo os
prédios estão inclinados para um lado, ora para o outro.
Quando cheguei ao museu da casa de Anne Frank,
não sabia o que me esperava, ficando espantada por pensar que ali viveram duas
famílias durante dois anos, escondidos para fugirem da perseguição nazista.
Fiquei admirada ao ver as condições em que viveram. No escuro, com cortinas a
tapar todas as janelas para evitar que alguém os visse e o cuidado para não
fazer qualquer tipo de barulho que os pudesse denunciar. Anne Frank conta como
era viver escondida e com medo, sem poder frequentar a escola, sair à luz do
sol ou caminhar na rua. 0 diário era uma forma de tirar um pouco do sofrimento
dentro de si e colocá-lo dentro da casa. Anne Frank, ao escrever o seu diário,
parecia que sabia que um dia milhares de pessoas o iriam ler, rescrevendo-o. No
entanto, não conseguiu finalizá-lo foram descobertos e presos. Alguém os tinha
denunciado. Anne Frank, a sua mãe e a sua irmã foram levadas para Aushwitz,
acabando por morrer aos 15 anos. 0 pai de Anne foi o único sobrevivente,
retornando para Amesterdão, para cumprir o seu último desejo, publicar o diário
de sua filha.
Faltava-me só mais uma paragem. Que ficava
exactamente do outro lado da ponte em frente à casa de Anne Frank, o famoso
museu das tulipas de Amesterdão. Fiquei a saber que antigamente eram tão
valiosas que um bolbo de uma variedade famosa poderia custar milhares de
florins neerlandeses, Mas isto tudo começou quando um médico e botânico, que
trabalhava para o Imperador da Áustria, teve contacto com as tulipas. Ao
regressar à Holanda, plantou-as no jardim da Universidade de Leiden, onde era
professor. A beleza das flores. O que aconteceu? Roubaram-nas, começando assim
o comércio das tulipas na Holanda, que é conhecida atualmente pelas suas
tulipas e outras flores, sendo chamada "floricultura do mundo".
Regressando, já no aeroporto, apercebi-me de que
fora uma das paragens mais bonitas que já fizera, mesmo tendo só durado um dia.
Nicole [S]
Berlim e "Ich"
Cheguei a Berlim dia 22 de dezembro, e
imediatamente depois de sair do aeroporto, senti o frio que me ia perseguir
durante toda a semana. Foram precisos apenas dois minutos para que entrasse em
desespero e chamasse um táxi, sem sequer pensar no custo de uma viagem até ao
meu hotel no centro da cidade.
Deixei as malas, vesti toda a roupa que
consegui, peguei nos mapas do metropolitano da cidade e dirigi-me à estação de
Friedrichstrasse, onde estranhei não ver cancelas antes de entrar no metro.
Durante toda a semana não encontrei uma única estação de metro com cancelas,
coisa que em Lisboa seria impensável, pois, mesmo havendo cancelas, veem-se
tanto adultos como jovens a passar "à pica", como diria um bom
português. Só mostra a confiança e o civismo que os alemães têm uns para com os
outros.
Talvez por ser época natalícia, nunca passei
fome. Era fácil encontrar feiras onde se vendessem as famosas canecas de vinho
tinto quente com especiarias — Gluehwine — e as clássicas salsichas alemãs
extremamente calóricas para enfrentar o frio, mas ao fim de dois dias já não
conseguia pensar nem em vinho nem em salsichas, pelo que decidi ir a um
supermercado comprar iogurtes simples e bananas, que viriam a ser a base da
minha alimentação durante o resto da semana.
Todas as pessoas com quem me cruzei, quer fosse
em lojas, quando estava perdido e precisava de ajuda ou quando ia jantar fora,
foram simpáticas e fizeram-me sentir confortável, como se estivesse em Lisboa.
A comunicação nunca foi um problema porque todos sabem falar inglês
razoavelmente e eu sabia o básico do alemão. A única situação em que me senti
desconfortável ou mesmo irritado, foi quando no check-in para voltar para
Lisboa mudaram a porta de embarque e só o comunicaram aos passageiros em
alemão. Percebi pelas feições das pessoas que algo se passava e, para não
correr o risco de perder o voo, dirigi-me ao balcão onde chamaram alguém que
falava fluentemente inglês para me explicar a situação.
Durante toda a viagem visitei vários monumentos
históricos e emblemáticos de Berlim, sendo que o que mais me comoveu foi o
memorial do Holocausto perto do Parlamento. Os relatos, as fotografias, os
pertences e as cartas escritas que estavam expostas, despertaram o meu lado
mais emocional, levando-me a fazer um desvio de curso e apanhar um táxi para o
Muro de Berlim. Mal saí do táxi, senti o pesado ambiente. Não se ouvia uma
palavra e todos os que lá passavam, passavam sem expressão. Senti que aquilo
que acontecera há mais de meio século ainda estava fresco na memória de todos.
Tal ambiente não era para mim.
Andei até à estação mais próxima e apanhei o
metropolitano até à famosa Weinmeisterstrasse com o intuito de fazer compras.
Percebi de imediato que tudo era mais caro, mas a vontade de levar lembranças
era tanta que fechei os olhos a este problema e deixei-me comprar.
De todas as cidades que já visitei, Berlim foi
sem dúvida uma das melhores e com mais história para contar. Tenciono voltar no
futuro.
Pedro [B+]
Uma viagem
relaxante
Precisava de fazer uma viagem mental. Pedi aos
meus pais para que no verão fôssemos a um lugar onde nunca tivéssemos estado
mas que fosse perto de nós. Viajámos para os Açores, São Miguel mais
propriamente. Nunca tinha ido para tal sítio: calmo, agradável e relaxante. Fez
me sentir uma coisa diferente, como se nunca tivesse tido um sentimento como
aquele.
Acho que todos precisamos, às vezes, de ter uma
fuga dos nossos pensamentos e viajar para um sítio em que nos esqueçamos deles!
Confesso que, no início, não acreditava que uma viagem com a minha família me pudesse
fazer abstrair de tanta coisa, mas foi a descoberta de algo que me fez esquecer
tudo o resto. Só queria aproveitar as férias com a minha família.
Chegámos à ilha às sete da manhã e fomos à
procura de um bom sítio para tomar o pequeno almoço. Como somos cinco, tivemos
de alugar um carro. Por isso íamos um pouco à descoberta de um bom lugar para a
refeição. Estava com expectativa de um pequeno almoço diferente, porque não
estávamos em Lisboa e, então, é claro que pensei que haveria coisas diferentes.
Resumindo, acabámos por comer torradas e beber café.
Ao almoço, tivemos de ir experimentar o famoso
cozido! Era muito bom mas eu não queria comer, queria era ver as paisagens de
que todos falavam, de que todos punham fotografias e que me faziam ficar com um
enorme desejo de lá ir.
Chegamos a ir à Lagoa das Sete Cidades, que, de
um lado, é azul e, do outro, verde. Fomos à vista do rei que tem uma paisagem
lindíssima: vê-se a lagoa e uma enorme mancha verde que nos dava vontade de
ficarmos lá durante muito tempo a apreciar aquela vista.
A minha parte preferida foi quando fomos a um
parque chamado “Parque Terra Nostra”. Esse parque tem um tanque de pedra com água
termal que está sempre com uma temperatura entre os trinta e cinco e os
quarenta graus. Foi mesmo relaxante nadar por aquele tanque, era como se estivéssemos
numa piscina interior. Fascinou-me muito pois ainda penso como é possível que
aquela água esteja mais quente que a temperatura do ar.
Claro que gostei de tudo o que vi ou comi… mas aquilo
de que mais gostei foi de sentir a minha família unida. Todas as famílias têm
as suas zangas mas, durante aquela viagem não houve nenhum mal entendido,
estávamos todos em paz. Acho que todos queríamos o que eu desejava: fazer uma
viagem mental e esquecer tudo o resto. Foi uma viagem em que deu para sentir um
pouco o que há de bom. Espero que toda a gente um dia sinta aquilo que todos
nós sentimos naquela viagem. Estávamos todos felizes e mais tranquilos.
Matilde [S]
Para quê sair de onde estamos?
Imaginem uma carreira
de formigas a entrar para o formigueiro, todas umas atrás das outras,
incontáveis devido ao seu elevado número. Agora imaginem esse mesmo cenário,
mas com cada formiga a tentar contar à formiga da frente como decorreram as
suas férias, ou o que planeavam fazer no fim-de-semana seguinte, ignorando que
seria impossível ouvirem-se umas às outras
naquele chinfrim.
Era
mais ou menos assim que eu me sentia naquele momento: uma longa fila de pessoas
estendia-se à minha frente, para entrar na sala de aula, todos a falar – eu era
a única excepção. Conversas superficiais não me impressionam, considero-as uma
perda de saliva, então fico de parte. Não que me importe, claro. Estar sozinha
dá-me tempo para pensar nas coisas mais extraordinárias.
Uns minutos depois,
dei por mim já dentro da sala, sentada na fila de trás, num dos lugares que
tanto convida a minha mente a passeios que em nada se relacionam com a matéria
dada nas aulas. E, com isto, já todos os meus colegas tinham acalmado os ânimos
e a professora começado o seu habitual relato acerca do metamorfismo das
rochas, e da metamorfose das borboletas, e sabe-se lá o que mais.
Estendi a mão ao
interior da minha mochila e tirei de lá uma uva. Como sabia que a professora
nunca iria olhar para mim de qualquer maneira, pu-la na boca e saboreei. Estava
tão fresca! Sabia-me a Grécia. Fechei os olhos e deixei-me embalar pelas
palavras. “Sedimentos. Areias.” Mexi os dedos dos pés, e senti areia quente. Já
não ouvia Biologia, mas um guia turístico. “Nesta altura do Ciclo das Rochas, a
temperatura ultrapassa o ponto de fusão das rochas…”
A Grécia era linda.
Rodeavam-me pequenas casas brancas e azuis, e já nem ouvia a voz do guia
turístico cuja voz me soava um pouco como a da professora de Biologia. Ouvia
agora o som do mar, suavemente a banhar a praia. O cheiro a vinho fresco
invadiu-me as narinas, e suspirei, satisfeita.
Não é que foi nesse
preciso momento, em que finalmente me sentia livre das responsabilidades
mínimas exigidas a uma aluna, que fui bruscamente devolvida à realidade por uma
cotovelada do meu colega da frente. Irritei-me um pouco. No entanto, ele
desculpou-se atrapalhadamente logo depois e, sendo assim, voltei a encontrar
uma posição confortável da cabeça nos braços e a deixar as pálpebras
baixarem-se-me sobre os olhos como os cortinados no fim de uma peça de teatro.
O burburinho que se havia entretanto instalado na sala de aula, com as
conversas dos meus colegas, transformava-se agora no motor de um avião a
aterrar. Pouco tempo depois, encontrava-me já eu no centro de uma grande
cidade, levada pela multidão a espreitar as vitrinas das maiores lojas, mas sem
nunca entrar devido à quantidade exagerada de curiosos no seu interior.
Cheirava-me agora a sushi. Tóquio, talvez? Nunca tive muito sucesso a Geografia.
De repente, ouvi
aquele barulho sobre o qual ainda não decidi o que penso. Querendo ou não,
tenho de me conformar com a campainha da escola. Sendo assim, abri os olhos, e
tive quase a certeza de que vi ao fundo da sala uma pequena réplica da Torre
Eiffel.
Margarita [B+/MB-]
O metropolitano de Copenhaga
Como na maioria dos
anos, pelo menos desde que me lembro, o meu pai leva-nos a um lugar diferente
para que possamos aprender outros hábitos e culturas espalhadas por todo o
mundo. Nós gostamos muito desses momentos e, especialmente eu e o meu irmão,
desfrutamos ao máximo pois sabemos a sorte que temos de podermos fazer estas
viagens.
Uma das mais recentes
foi a Copenhaga, capital de Dinamarca. Como em todas as outras, o meu maior
receio eram as horas dentro do avião. Não é que tenha medo mas é uma
insegurança estranha por não poder controlar nada do que se passa em meu redor
e ter de confiar a minha vida a alguém que não conheço. Esta viagem a que me
refiro foi diferente. Desta vez, não fomos apenas os quatro, fomos com um amigo
meu de infância e seus pais. Cada um com as suas características e maneira de
pensar, opinávamos todos na hora da decisão do sítio a visitar a seguir, até o
mais novo, o meu irmão, tinha sempre uma palavra a dizer e por muito incrível
que pareça, não foram poucas as vezes que conseguiu levar a sua avante.
Visitámos tudo o que
pretendíamos pois os adultos já tinham muita coisa pensada de antemão, mas um
dos episódios de que não me esquecerei assim tão facilmente por muito banal que
seja foi no metropolitano. ‘Banal’ não pelo conteúdo em si, mas porque podia
ter acontecido a qualquer pessoa e em qualquer lugar do planeta que possua
metro. Aquela paragem era o cruzamento de três linhas de metro, o que provocou
alguma confusão em nós pois ainda não estávamos familiarizados com o sistema.
Daí termo-nos enganado ao entrar no metro. Ao apercebermo-nos de que não
estávamos na linha correta, os adultos conseguiram sair deste a tempo e nós, as
crianças, acabámos por ficar estáticos dentro da carruagem sem saber o que
fazer.
Saímos na paragem a seguir e lá ficámos à
espera dos nossos pais, não tínhamos a certeza se seria a melhor opção mas, no
momento, não tínhamos sequer bom senso quanto mais poder para pensar sobre a
melhor decisão a tomar. Passados alguns minutos, chegaria um metro ao qual nos
acenámos para o interior caso eles lá estivessem. Felizmente para todos, eles
estavam e repararam nas três crianças no exterior que acenavam desesperadas e
tudo acabou em bem!
Digamos que até foi
algo divertido, tirando o desespero e lágrimas do meu irmão que duraram alguns
minutos, mesmo até, depois de eles chegarem ao pé de nós e tudo se ter
resolvido. Acabou por se tornar num exemplo de algo negativo que poderia ter
sido evitado e em algo bom para ser refletido e pensado de forma a que não se
repita, tanto por nós como por parte dos adultos envolvidos.
Hoje em dia,
continuamos a viajar sem nunca perder essa memória tão trágica e, ao mesmo
tempo, tão proveitosa para que, enquanto haja uma próxima, seja sempre melhor
que a anterior e não tão boa como a seguinte.
Afonso [B(-)]
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Não me enviaram a reformulação Mafalda, Edu, Eduardo, Bernardo.
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